Análise de populações estelares e subestruturas em aglomerados de galáxias

Populações Estelares em Aglomerados

Informações do documento

Autor

Natthan R. Soares

instructor/editor Prof. Dr. Sandro Barboza Rembold
Escola

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Curso Física
Tipo de documento Dissertação de Mestrado
Local Santa Maria
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 3.33 MB

Resumo

I.Dados e Metodologia Amostra e Detecção de Subestruturas

Este trabalho investiga as diferenças entre as populações estelares de galáxias em aglomerados de galáxias com e sem subestruturas. Utilizou-se dados espectroscópicos óticos do Sloan Digital Sky Survey III DR10 (SDSS) para uma amostra de 1052 aglomerados dos catálogos Wen et al. (2012) e Tempel et al. (2012). O método shifting gapper foi aplicado para excluir galáxias intrusas. A detecção de subestruturas e a estimativa da dispersão de velocidades foram realizadas com o algoritmo LocKE. Foram identificadas subestruturas em 44% da amostra. A massa média das estruturas individuais, estimada pela análise virial, é de 4,5 × 1014 M⊙. O programa Starlight foi empregado para caracterizar as populações estelares, comparando-se os resultados médios entre estruturas com e sem subestruturas. A idade estelar média da amostra é de 8,7 ± 2,0 × 109 anos e a metalicidade média é Z = 0,023 ± 0,009.

1. Amostra de Aglomerados e Catálogos Utilizados

A pesquisa analisou as diferenças entre populações estelares de galáxias em aglomerados de galáxias com e sem subestruturas. Foram utilizados espectros óticos do Sloan Digital Sky Survey III DR10 (SDSS) para uma amostra de 1052 aglomerados, selecionados dos catálogos Wen et al. (2012) e Tempel et al. (2012). O catálogo Wen et al. (2012) (WHL) contém 132684 grupos e aglomerados de galáxias, com redshifts de 0,05 a 0,8, apresentando completeza superior a 95% para aglomerados com M200 = 1014 M⊙ entre redshift 0,05 e 0,42. Já o catálogo Tempel et al. (2012) (TTL) possui 77858 grupos e aglomerados, com redshifts entre 0,09 e 0,2. A seleção dos aglomerados em ambos os catálogos levou em consideração critérios como número mínimo de galáxias membro, magnitude aparente e incerteza no redshift. A escolha destes catálogos forneceu uma base robusta para a análise de populações estelares em diferentes ambientes de aglomerados, permitindo uma investigação mais ampla das subestruturas presentes. A diversidade de redshift dos catálogos permitiu analisar diferentes épocas cosmológicas, enriquendo a compreensão da evolução galáctica.

2. Método de Exclusão de Galáxias Intrusas Shifting Gapper

Para garantir a precisão da análise, foi necessário eliminar galáxias intrusas, ou seja, aquelas que, apesar de estarem na mesma linha de visada, não são fisicamente parte do aglomerado. Para isso, utilizou-se o método shifting gapper (Fadda et al., 1996) para os dados do catálogo WHL, analisando as coordenadas e redshifts de todas as fontes extensas até 5 Mpc do centro de cada sistema. Este método identifica 'buracos' (gaps) na distribuição de velocidades das galáxias, permitindo distinguir entre membros do aglomerado e intrusas. A aplicação do shifting gapper resultou numa amostra final de 639 aglomerados do catálogo WHL, contendo cada um pelo menos 30 galáxias confirmadas como membros. A escolha deste método em detrimento de métodos com 'gap fixo' permite maior flexibilidade, mantendo algumas galáxias com velocidades peculiares maiores, embora excluindo mais intrusas. Este procedimento de limpeza dos dados é fundamental para assegurar a confiabilidade da análise subsequente das subestruturas e das populações estelares presentes nos aglomerados.

3. Detecção Automática de Subestruturas com o Algoritmo LocKE

Para a detecção automática de subestruturas nos aglomerados, foi utilizado o algoritmo LocKE (Local Kinematic Estimator) (Rembold & Soares 2015), uma versão automatizada do teste k. O LocKE identifica as regiões onde se localizam as subestruturas e determina seus parâmetros cinemáticos através da convolução do campo do aglomerado no espaço de posição com um kernel gaussiano. Os valores de k, obtidos a partir de análises de velocidade e posição das galáxias, funcionam como pesos estatísticos nesta convolução. O algoritmo classificou os sistemas em estruturas primária e secundária com base na dominância de massa. A utilização do LocKE permitiu a identificação e caracterização das subestruturas, fornecendo informações cruciais sobre sua cinemática e massa, contribuindo para a análise da influência do ambiente na evolução estelar das galáxias. Este método de detecção automatizada é crucial para lidar com a grande quantidade de dados, permitindo uma análise eficiente e objetiva dos 1052 aglomerados.

4. Caracterização das Populações Estelares com o Programa Starlight

Para caracterizar as populações estelares das galáxias em cada estrutura (primária, secundária e sem subestruturas), utilizou-se o programa de síntese de populações estelares Starlight (Cid Fernandes et al., 2005). Este software decompõe o espectro de cada galáxia em combinações de populações estelares simples (SSPs), fornecendo informações sobre idade, metalicidade e massa de diferentes populações estelares. A escolha do Starlight justifica-se pela sua capacidade de separar as contribuições de diferentes tipos de estrelas no espectro observado, revelando a composição estelar de cada galáxia. Os resultados médios obtidos para as diferentes estruturas foram comparados, fornecendo insights sobre a influência da presença de subestruturas nas propriedades das populações estelares. A análise destas informações, combinadas com a identificação das subestruturas pelo algoritmo LocKE, permitiu uma investigação profunda da relação entre o ambiente galáctico e a evolução estelar.

II.Análise das Populações Estelares e a Influência da Subestrutura

A análise das populações estelares em função da luminosidade das galáxias revelou que a idade estelar média cresce com a luminosidade em todos os tipos de estrutura (com e sem subestruturas). Em aglomerados menos massivos (< 1014.5 M⊙), não há diferenças significativas na idade estelar média e luminosidade entre aglomerados sem subestrutura, primários e secundários. Porém, em estruturas mais massivas, a idade estelar média aumenta na sequência secundária-primária-sem subestrutura, sugerindo que, embora a massa da galáxia seja o principal fator, o ambiente (presença de subestruturas) também desempenha um papel importante na evolução estelar.

1. Idade Estelar Média e Luminosidade Uma Relação Consistente

A análise da relação entre idade estelar média e luminosidade das galáxias mostrou uma tendência consistente: em qualquer tipo de estrutura (aglomerados com ou sem subestruturas), a idade estelar média aumenta com o aumento da luminosidade. Simultaneamente, a fração de objetos com idade estelar média inferior a 6 × 109 anos diminui. Este padrão sugere uma forte correlação entre esses dois parâmetros, independente da presença ou ausência de subestruturas. A luminosidade funciona como um bom indicador da massa estelar da galáxia, e este resultado reforça o conceito de que galáxias mais massivas tendem a ter idades maiores. A análise foi realizada considerando as estruturas classificadas como sem subestruturas, primária e secundária, permitindo comparar as diferentes populações de galáxias e suas propriedades estelares em diferentes cenários.

2. Influência da Massa e do Ambiente na Idade Estelar

Para aglomerados com massa inferior a 1014.5 M⊙, a idade estelar média e a luminosidade não apresentam diferenças significativas entre os grupos sem subestruturas, primários e secundários. No entanto, para estruturas mais massivas, observa-se um padrão interessante: a idade estelar média aumenta na sequência secundária-primária-sem subestruturas, enquanto a fração de galáxias com idade estelar média abaixo de 6 × 109 anos diminui. Isto indica que, embora a massa da galáxia seja o principal parâmetro que afeta a idade estelar, o ambiente do aglomerado, particularmente a presença de subestruturas, desempenha um papel significativo, principalmente em sistemas mais massivos. Este resultado destaca a complexa interação entre processos internos (massa da galáxia) e externos (ambiente do aglomerado) na evolução estelar.

III.Resultados e Discussão Frequência de Subestruturas e Comparação com Outros Trabalhos

A aplicação do algoritmo LocKE identificou subestruturas em 44% dos aglomerados. Esta frequência é comparada com resultados de outros autores: Aguerri e Sánchez-Janssen (2010) e Solanes et al. (1999) encontraram frequências menores (33% e 31%, respectivamente), enquanto Einasto et al. (2012) encontraram frequências mais altas (70-80%). A análise da relação entre idade estelar média e metalicidade mostra uma tendência de galáxias mais velhas apresentarem maior metalicidade. A comparação com estudos como Rakos et al. (2008) indica que a massa da galáxia é um fator importante, mas a presença de subestruturas influencia a taxa de formação estelar, especialmente em aglomerados massivos. Os resultados são discutidos no contexto de outros trabalhos relevantes sobre formação estelar em aglomerados de galáxias, incluindo os estudos de Wu et al. (2014), Taranu et al. (2014), Lopes et al. (2014) e Stroe et al. (2015), que abordam a influência de eventos de fusão e ram pressure stripping na evolução galáctica.

1. Frequência de Subestruturas Comparação com Estudos Precedentes

Os resultados mostraram que 44% dos aglomerados de galáxias na amostra apresentavam subestruturas, um dado obtido através do algoritmo LocKE. Esta frequência foi comparada com resultados de outros trabalhos que utilizaram diferentes metodologias e amostras. Aguerri e Sánchez-Janssen (2010) e Solanes et al. (1999), usando testes 3D, encontraram frequências menores, de 33% e 31%, respectivamente. Por outro lado, Einasto et al. (2012), empregando múltiplos testes simultâneos (incluindo testes 2D), reportaram uma frequência muito mais alta, entre 70% e 80%. As diferenças na frequência de detecção de subestruturas refletem provavelmente as diferentes metodologias utilizadas na detecção e nos critérios de seleção das amostras. A metodologia empregada neste estudo, baseada no algoritmo LocKE, apresenta uma frequência intermediária, sugerindo que o método é eficaz na identificação das subestruturas, embora a sua sensibilidade possa ser diferente dos outros métodos utilizados em estudos prévios. A determinação da frequência de subestruturas é crucial para a compreensão da evolução dos aglomerados e sua influência na formação estelar das galáxias que os compõem.

2. Idade Estelar e Metalicidade Tendências e Relação com a Massa

A análise da relação entre idade estelar média e metalicidade média revelou uma tendência geral: galáxias com populações estelares mais velhas tendem a apresentar maior metalicidade, embora com grande dispersão. Essa observação corrobora os resultados de Rakos et al. (2008), que interpretaram essa correlação como um efeito indireto da massa da galáxia. A análise considerou aglomerados sem subestruturas, e estruturas primária e secundária, permitindo investigar a influência do ambiente na evolução estelar. As diferenças encontradas na distribuição da idade estelar média entre esses três grupos são pouco significativas, indicando que, embora exista a tendência da metalicidade aumentar com a idade, a variabilidade é grande, sugerindo a influência de outros fatores, como a massa da galáxia e o ambiente, na determinação da metalicidade e idade estelar. Portanto, mais investigações são necessárias para aprofundar a compreensão da influência da massa, do ambiente e das subestruturas na evolução estelar.

3. Discussão Comparativa com Outros Trabalhos e Perspectivas Futuras

A discussão comparativa dos resultados com estudos precedentes destaca a complexidade na compreensão da relação entre formação estelar e a presença de subestruturas em aglomerados de galáxias. Enquanto alguns estudos, como Hou et al. (2012), mostram uma maior fração de galáxias azuis (indicadoras de alta formação estelar) em grupos com subestruturas, outros, como De Propris et al. (2004), não encontram tal relação. Esta discrepância destaca a necessidade de investigações mais abrangentes, considerando fatores como a massa dos aglomerados, o estágio de sua evolução e os métodos de detecção de subestruturas. A concordância dos resultados com Lopes et al. (2014), que encontraram maior fração de galáxias late-type (população estelar jovem) em aglomerados com subestruturas, reforça a importância de considerar a influência do ambiente galáctico na formação estelar. A pesquisa sugere um cenário complexo de interação entre ram pressure stripping, fusões e ondas de choque em aglomerados jovens e dinamicamente ativos, com a formação estelar sendo influenciada tanto pela massa dos sistemas individuais quanto pelo estágio de evolução do aglomerado e interação com subestruturas. Trabalhos futuros incluem a utilização de múltiplos testes de detecção e dados em raios-X para melhor caracterizar as subestruturas e a utilização de indicadores mais diretos de formação estelar.

IV.Conclusão e Trabalhos Futuros

Os resultados sugerem que em aglomerados de galáxias jovens, a formação estelar é amplificada em subestruturas periféricas devido a processos como ram pressure stripping e fusões. Em aglomerados mais evoluídos, a cessação da formação estelar é mais eficiente em sistemas mais massivos. Para trabalhos futuros, pretende-se utilizar múltiplos testes de detecção de subestruturas, comparar os resultados com dados de raios-X e utilizar indicadores da taxa de formação estelar a partir das linhas de emissão dos espectros, buscando uma melhor compreensão da evolução galáctica em diferentes ambientes.

1. Síntese dos Resultados Formação Estelar e Subestruturas

Os resultados deste estudo sobre a evolução galáctica em aglomerados com e sem subestruturas indicam que a formação estelar é um processo complexo, afetado tanto pela massa intrínseca das galáxias quanto pelo ambiente em que se encontram. Em aglomerados jovens, a formação estelar parece ser amplificada nas subestruturas periféricas, provavelmente devido a processos como ram pressure stripping, fusões e ondas de choque. Próximo à passagem pericêntrica, a taxa de formação estelar diminui devido ao esgotamento do gás. Em aglomerados mais evoluídos, a cessação da formação estelar (quenching) torna-se mais eficiente em sistemas mais massivos, sugerindo que efeitos locais dependentes da massa passam a dominar. Esta conclusão reforça a ideia de que, em fases iniciais da evolução de aglomerados, a dinâmica e a interação entre subestruturas influenciam a formação estelar, enquanto em fases posteriores a massa da galáxia passa a ser o fator preponderante na determinação da idade estelar média das galáxias.

2. Comparação com Outros Estudos e Limitações

A comparação com outros estudos na literatura revela uma variedade de resultados sobre a relação entre formação estelar e subestruturas em aglomerados de galáxias. Enquanto alguns trabalhos encontram uma correlação positiva entre a presença de subestruturas e a taxa de formação estelar, outros não observam tal relação. Esta discrepância pode ser atribuída a diferentes metodologias, amostras e critérios de seleção. No entanto, os resultados obtidos neste estudo são consistentes com aqueles que apontam para a influência do ambiente do aglomerado na evolução estelar, particularmente em sistemas mais massivos. As diferenças observadas na idade estelar média entre os diferentes tipos de estrutura (com e sem subestruturas) sugerem que tanto a massa individual das galáxias quanto o ambiente do aglomerado influenciam a evolução estelar. Uma limitação do estudo é a utilização de um único método de detecção de subestruturas, o que sugere a necessidade de investigações futuras utilizando múltiplos testes para validar e refinar os resultados.

3. Perspectivas para Trabalhos Futuros

Para aprofundar a compreensão da evolução galáctica em diferentes ambientes de aglomerados, investigações futuras serão essenciais. A utilização de múltiplos testes de detecção de subestruturas, combinada com a análise de dados em raios-X, poderá melhorar a identificação e caracterização das subestruturas individuais. Além disso, será importante incorporar estimadores diretos da taxa de formação estelar, utilizando as linhas de emissão dos espectros, permitindo uma avaliação mais precisa da atividade de formação estelar em diferentes estágios evolutivos dos aglomerados. A análise da distribuição espacial projetada das galáxias em aglomerados com diferentes estágios de evolução dinâmica permitirá uma melhor compreensão da influência dos diferentes mecanismos que influenciam a evolução estelar, tais como ram pressure stripping e fusões. A consideração do estágio da interação entre as subestruturas (antes ou depois da passagem pericêntrica) também é crucial para uma interpretação mais completa dos resultados.