Mobiliário Multifuncional: Design para Espaços Pequenos

A justificativa central do projeto reside na necessidade de alinhar as tendências dos setores imobiliário e moveleiro. A redução significativa de espaços residenciais urbanos, impulsionada pela superpopulação em centros urbanos e a valorização do metro quadrado, cria uma demanda não atendida pelo mercado de móveis. O mobiliário, como bem de consumo durável e parte das necessidades básicas da população, deve se adaptar a essa nova realidade. A demanda por móveis está intrinsecamente ligada à provisão habitacional e à organização familiar, especialmente para casais jovens, trabalhadores domésticos e moradores de unidades individuais. A falta de sincronia entre a redução de espaços e a oferta de mobiliário adequado justifica a criação de um projeto que solucione essa problemática.

A diminuição dos espaços físicos é uma tendência global, acentuada no Brasil. Analistas de tendência relatam um desejo predominante por simplificação e otimização de espaços (Hudson, 2010). Essa tendência é impulsionada por fatores como o aumento dos preços de imóveis e terrenos em áreas urbanas, tornando unidades maiores inacessíveis para muitas pessoas. Dados do IBGE (2010) demonstram que a maioria da população catarinense reside em áreas urbanas (84%), com crescimento demográfico de 1,6%, contribuindo para a alta demanda por apartamentos menores. Um levantamento da Embraesp para a BBC Brasil mostra um aumento de 16 vezes no lançamento de apartamentos com menos de 34m² nos últimos 5 anos, reforçando a urgência em desenvolver soluções de mobiliário adequadas a essa nova realidade habitacional.

A geração Y (Millennials), com idade inferior a 35 anos, representa o principal público-alvo. Dados da Caixa Econômica Federal (2013 e 2014) indicam que 60% dos imóveis financiados em Santa Catarina foram adquiridos por esse grupo etário. Esses jovens são descritos como idealistas pragmáticos, conectados, e preocupados com novas experiências em detrimento de bens materiais (Stein, 2013). Uma pesquisa da Box1824 revela que 50% deles se identificam com pensamentos mais coletivos. Eles buscam praticidade e funcionalidade nos seus bens e precisam de soluções de armazenamento que se adaptem a seus espaços reduzidos, levando em consideração o uso de cada canto do imóvel. Essa mudança de comportamento gera uma disfunção no mercado moveleiro, que precisa se adaptar para oferecer produtos que atendam às necessidades específicas desse público.

O setor moveleiro brasileiro, impulsionado pela abertura econômica na década de 90, foca majoritariamente na produção em larga escala e baixo custo, muitas vezes sacrificando a qualidade e inovação em design (Nossack, 2014; Franco, 2010). Grandes empresas atendem principalmente a um público de baixa renda, deixando de lado as necessidades de design para um público de classe média e alta que busca por soluções inovadoras para espaços menores. Essa contradição acelera o ciclo de lançamentos e reforça a exclusividade das vendas em segmentos de alto padrão. Munari (2002) alerta para a tendência de se criarem falsas necessidades para vender mais produtos, reforçando a importância de soluções que beneficiem o consumidor e não apenas o lucro da indústria. Há pouca preocupação com as necessidades do usuário final brasileiro em relação às tendências de feiras internacionais e pouca margem para inovação em produtos modulares.

A pesquisa para definir o público-alvo e suas necessidades em relação a mobiliário para espaços reduzidos utilizou múltiplas abordagens. Inicialmente, foram aplicados questionários online através da plataforma Typeform, em dois momentos distintos. Em 2013, apesar de 135 pessoas terem sido abordadas, apenas 25 responderam, revelando que, dentre os que possuem armários, a maioria (89,2%) não utiliza a altura máxima disponível. Já em 2015, um novo questionário obteve 51 respostas, focando na geração Y (18-35 anos) de classe média alta (74,5% das respostas). Além dos questionários, a pesquisa incluiu a análise de vídeos de dois canais do YouTube (Kirsten Dirksen e SpacesTV), com o objetivo de observar soluções de armazenamento em espaços pequenos do movimento 'Tiny Houses', complementando os dados obtidos diretamente com o público alvo.

O estudo se concentra na geração Y, com 98% dos respondentes do questionário de 2015 situados na faixa etária de 18 a 35 anos. A maioria (74,5%) se encontra nas classes A, B e C, indicando uma classe média/alta como público-alvo principal. Quanto ao tipo de moradia, 68% vivem em apartamentos, 24% em casas, e 8% em kitinetes. A maioria (74,5%) reside com outras pessoas, sendo a família o grupo mais comum (31,4%). A pesquisa revela que os armários comuns, não embutidos, são os móveis mais utilizados (66%), porém a maioria não aproveita a altura máxima disponível do pé-direito. Esse dado destaca a necessidade de soluções de mobiliário que otimizem a utilização vertical do espaço e respondam à demanda por armazenamento eficiente em espaços reduzidos.

A pesquisa buscou identificar as preferências dos entrevistados em relação aos móveis e os fatores que influenciam suas escolhas de compra. Apesar da maioria (66%) utilizar armários comuns, não embutidos, uma análise de suas respostas revela a subutilização da altura disponível nos móveis de armazenamento (89,2% não utilizam a altura máxima do pé-direito). A pesquisa também sugere a necessidade de móveis modulares, que permitam a aquisição de novos módulos conforme a necessidade, para otimizar o armazenamento. A estética minimalista é valorizada pelo público-alvo, sendo uma característica a ser considerada no projeto.

A pesquisa realizada com o público-alvo e a análise de soluções existentes demonstram a necessidade premente por móveis de armazenamento que otimizem o espaço vertical. A maioria dos entrevistados, mesmo possuindo armários, não utiliza a altura máxima disponível, revelando uma oportunidade de design significativa. A modularidade também surge como um fator crucial, permitindo a compra de módulos adicionais conforme a necessidade do usuário, adaptando-se às mudanças de espaço e estilo de vida. Essa conclusão se alinha à tendência de redução de espaços habitacionais e ao perfil do público-alvo, a Geração Y, que busca praticidade e soluções inteligentes para seus lares. A pesquisa aponta para a necessidade de verticalização dos móveis de armazenagem, e a modularização do móvel, permitindo a composição ao longo do tempo e respondendo as mudanças das necessidades do cliente.

O público-alvo demonstra uma clara preferência por uma estética minimalista ao escolher seus móveis, um fator que deve ser considerado no design final do produto. A pesquisa de Nossack (2014) indica que as empresas brasileiras que mais investem em design são as que atendem a este público, mostrando um nicho de mercado carente de inovação. O projeto, portanto, tem o potencial de atender a uma demanda reprimida por móveis que combinem funcionalidade, estética moderna e adaptação a espaços reduzidos. A estética minimalista do produto se adequa perfeitamente as preferências do público alvo, complementando a praticidade e funcionalidade do produto.

Os resultados da pesquisa apontam para uma oportunidade significativa no mercado de móveis para espaços reduzidos. A demanda por mobiliário modular, multifuncional e com design minimalista é crescente, especialmente entre a geração Y. O projeto contribui para suprir essa demanda, oferecendo soluções inovadoras de armazenamento que otimizam o espaço e atendem às necessidades estéticas do público-alvo. Porém, o desafio persiste em conciliar a qualidade de design e inovação com a necessidade de custos acessíveis, considerando o poder aquisitivo da maior parte do mercado, sugerindo a possibilidade de comercialização do produto em partes. A pesquisa demonstra a necessidade de uma nova abordagem no mercado moveleiro brasileiro que priorize design e funcionalidade para espaços reduzidos, atendendo às necessidades reais do consumidor.