Aspectos botânicos e fenológicos da espécie Casearia Syvestris

Casearia sylvestris: Aspectos Botânicos

Informações do documento

Autor

Gilberto Troyjack Junior

Escola

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Cerro Largo

Curso Ciências Biológicas - Licenciatura
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso
Local Cerro Largo
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.37 MB

Resumo

I.Panorama Botânico da Espécie Casearia sylvestris

Este estudo aborda a Casearia sylvestris, pertencente à família Salicaceae, também conhecida por nomes populares como guataçonga, chá-de-bugre, e outras denominações regionais. A espécie apresenta ampla distribuição geográfica no Brasil, incluindo Amapá, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Sua alta capacidade adaptativa a classifica como espécie pioneira ou secundária inicial, rústica e presente em diversas formações florestais. A Casearia sylvestris possui características morfológicas distintivas, como inflorescências em panícula, folhas simples e perenes, e uma gama de propriedades medicinais, comprovadas por estudos científicos, que reforçam sua relevância na descoberta de novos fármacos. Sua importância ecológica é destacada pela indicação para recomposição de matas ciliares devido à resistência à inundação e encharcamento. A espécie já foi identificada como prioritária em estudos de conservação e manejo sustentável.

1. Taxonomia e Nomes Populares

A Casearia sylvestris pertence à família Salicaceae, embora tenha sido previamente classificada na família Flacourtiaceae. A revisão taxonômica, baseada em análises moleculares de DNA, levou à sua reclassificação na família Salicaceae (APG II, 2003; Spandre, 2010). A espécie possui uma ampla variedade de nomes populares, refletindo sua vasta distribuição geográfica no Brasil. Dependendo da região, é conhecida como guataçonga, erva-de-lagarto, chá-de-bugre, café-bravo, carvalhinho e varre-forno, entre outros. Essa diversidade de nomes populares destaca a importância da espécie em diferentes contextos culturais e regionais, mostrando seu uso tradicional em diversas áreas do país.

2. Distribuição Geográfica e Ecologia

A Casearia sylvestris apresenta uma ampla distribuição geográfica no Brasil, sendo encontrada em estados como Amapá, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, entre outros (Facanali, 2004). Sua presença em praticamente todas as formações florestais brasileiras é atribuída à sua alta capacidade adaptativa, classificando-a como uma espécie secundária inicial ou pioneira rústica (Zucchi; Atanasio; Sujii, 2013). A espécie demonstra grande variabilidade morfológica em suas folhas, ramos, flores e frutos, possivelmente em função das diferentes condições ambientais encontradas em sua ampla distribuição geográfica. Essa adaptação a diversos ambientes torna a Casearia sylvestris uma espécie resiliente e importante para a diversidade e equilíbrio dos ecossistemas florestais brasileiros.

3. Características Morfológicas

A Casearia sylvestris apresenta porte arbóreo, atingindo uma altura média de 4 a 6 metros e um diâmetro de tronco entre 20 e 30 centímetros. Suas folhas são simples, perenifólias (persistentes), completas, glabras (sem pelos) e com glândulas translúcidas visíveis em todo o limbo. A filotaxia é alterna e dística, com lâmina foliar oblonga ou lanceolada. O tronco é reto, com ramificação abundante, casca escura e rugosa, e copa verde-escura com folhas dísticas, lembrando folhas compostas. A descrição da fenologia reprodutiva da espécie, segundo Lorenzi (1998), indica floração entre junho e agosto, e frutificação de setembro a meados de novembro (Reitz et al., 1983; Torres; Yamamoto, 1986; Lorenzi, 1998). Esta descrição detalhada da morfologia é essencial para a identificação precisa da espécie em estudos botânicos e ecológicos.

4. Usos Medicinais e Importância Ecológica

Além de sua importância na regeneração de áreas degradadas e na arborização urbana, a Casearia sylvestris possui uma variedade de propriedades medicinais, inicialmente conhecidas pelo saber popular (conhecimento empírico). Estudos científicos subsequentes têm validado a relevância da espécie no desenvolvimento de novos fármacos, confirmando seu potencial medicinal. As folhas são a principal parte utilizada, geralmente na forma de chá, para tratar picadas de cobra, auxiliar na redução de peso, e apresentar propriedades antirreumáticas e depurativas (Howard, 1989; UNESC, 2005; Werle et al., 2009). Outras propriedades incluem ação analgésica, antiviral, antiulcerosa, anestésica e hemostática (Borges, 1997; Borges et al., 2000; TPD, 2006). A espécie também é indicada para a recomposição de matas ciliares devido à sua resistência a inundações e encharcamentos, sendo considerada prioritária em planos de conservação e manejo sustentável (IBAMA, 1998; Vieira; Silva, 2002).

II.Fenologia Reprodutiva e Vegetativa de Casearia sylvestris

A pesquisa caracteriza a fenologia reprodutiva e vegetativa de Casearia sylvestris em um fragmento de Floresta Estacional Decidual próximo à Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Cerro Largo, Rio Grande do Sul (28°07'33.9’S; 54°44'57.1 ‘W; 100m), utilizando o método de Fournier. O estudo, realizado entre agosto de 2016 e setembro de 2017, em 11 indivíduos, analisou as fenofases: botões florais, antese, frutos verdes e maduros, brotamento e queda foliar. Os dados foram correlacionados com fatores abióticos como fotoperíodo, temperatura do ar e precipitação. Os resultados indicaram um padrão fenológico sazonal e anual, com as fenofases reprodutivas (botões florais, antese, frutificação) fortemente influenciadas pela temperatura e fotoperíodo. As fenofases vegetativas (brotamento, queda foliar) mostraram variação de intensidade ao longo do ano, sendo a queda foliar associada aos índices pluviométricos. O estudo contribui para a compreensão da dinâmica da espécie Casearia sylvestris e sua resposta às condições ambientais.

III.Importância dos Estudos Fenológicos

Os estudos fenológicos são fundamentais para a compreensão da organização biológica de comunidades e ecossistemas, permitindo analisar eventos biológicos periódicos e suas relações com fatores bióticos e abióticos. A fenologia vegetal é crucial para a biologia da conservação e o manejo sustentável de espécies florestais, fornecendo informações para programas de recuperação florestal, coleta de sementes e manejo de recursos vegetais. A pesquisa em fenologia é importante para a avaliação dos impactos das mudanças climáticas e para otimizar a produtividade de culturas agroflorestais. No Brasil, os estudos fenológicos vêm crescendo, principalmente na última década, impulsionados por pesquisas que buscam entender os impactos do aquecimento global e das alterações climáticas no desenvolvimento das plantas. Apesar do aumento de estudos, ainda há necessidade de padronização de métodos para facilitar a comparação de resultados entre diferentes pesquisas.

1. A Fenologia como Ferramenta Ecológica

Estudos fenológicos, seguindo uma linha de pesquisa ecológica, investigam eventos biológicos periódicos e repetitivos, analisando suas relações com fatores bióticos e abióticos. A fenologia vegetal é extremamente importante para a compreensão da dinâmica de comunidades florestais e se destaca como ferramenta essencial na biologia da conservação (Lieth, 1974). Morellato (2007) enfatiza a importância fundamental da fenologia na ecologia para entender a organização biológica de comunidades e ecossistemas, incluindo interações como polinização, dispersão e herbivoria. A fenologia também permite avaliar os impactos das mudanças climáticas nos ecossistemas e na biodiversidade, auxiliando na definição de estratégias adequadas de manejo de recursos naturais (Morellato, 2007). O estudo dos ciclos de vida das plantas, incluindo fenofases como brotamento, queda foliar, frutificação e floração, é essencial para compreender essas complexas relações ecológicas.

2. Métodos de Estudo Fenológico

Os estudos fenológicos em espécies vegetais nativas geralmente empregam metodologias qualitativas ou semi-quantitativas. No método qualitativo, registra-se a presença ou ausência das fenofases. Métodos semi-quantitativos, como o de Fournier e Charpantier (1974), utilizam escalas para estimar a intensidade dos eventos fenológicos em cada indivíduo, classificando-os em categorias (0 a 4) com intervalos de 25% entre elas (Cogo, 2014). A escolha do método é crucial para a precisão na descrição e interpretação dos padrões fenológicos. A falta de padronização em termos e métodos de coleta e avaliação de dados em estudos fenológicos (Frankie et al., 1974; Kharin, 1976; Schirone et al., 1990; Newstrom et al., 1994) acarreta imprecisão na descrição dos padrões obtidos e dificulta a comparação entre diferentes pesquisas (Newstrom et al., 1994).

3. Histórico e Importância dos Estudos Fenológicos na América do Sul e no Brasil

Os estudos fenológicos, iniciados há cerca de 1000 anos na China e em Roma com a criação de calendários fenológicos, ganharam impulso na década de 1990 com os trabalhos de Morellato e colaboradores (Morellato et al., 2007). Na América do Sul, os primeiros registros sobre espécies arbóreas datam de 1945 no Brasil, com descrições da fenologia de árvores em florestas e vegetações costeiras (Morellato, 2007; Ferrera, 2012). Em 1964, Alvim descreveu a fenologia da floresta tropical nativa do sul da Bahia, focando no florescimento do cacaueiro e cafeeiro. O Brasil se destaca na produção de trabalhos na área de fenologia em comparação com outros países da América do Sul (Morellato et al., 2007). A crescente importância dos estudos fenológicos está relacionada à necessidade de entender os impactos do aquecimento global e das alterações climáticas no crescimento e desenvolvimento das plantas (Myking).