
Engenharia Genética: Uma Cronologia
Informações do documento
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 0.91 MB |
Curso | Biotecnologia/Engenharia Genética |
Tipo de documento | Apontamentos de Aula |
Resumo
I.Engenharia Genética e Biotecnologia Uma Visão Geral
Este documento analisa a engenharia genética e sua aplicação na criação de organismos geneticamente modificados (OGMs), também conhecidos como transgênicos. A cronologia apresentada destaca marcos importantes, desde a descoberta da estrutura do DNA em 1953 até a autorização do cultivo de milho GM em Portugal em 2005. Métodos de transferência de ADN para plantas, como plasmídeos, eletroporação e bombardeamento com microprojécteis, são abordados. A situação mundial e portuguesa na produção de transgênicos é descrita, incluindo a suspensão temporária de avaliações de novas variedades em Portugal em 1999.
1. Definição e Conceitos Fundamentais
O documento inicia definindo um organismo geneticamente modificado (OGM) como um organismo, exceto o ser humano, cujo material genético (DNA) foi alterado artificialmente por meio de cruzamentos e/ou recombinação natural. Esta definição estabelece a base para a discussão subsequente sobre engenharia genética e biotecnologia. A distinção entre biotecnologia (qualquer técnica que utilize organismos vivos para modificar produtos, melhorar plantas e animais ou desenvolver microrganismos) e engenharia genética é apresentada, embora de forma superficial, destacando a engenharia genética como um ramo específico e mais preciso da biotecnologia. O texto ainda utiliza o termo transgênicos como sinônimo de OGM, demonstrando a nomenclatura variável presente no campo. Essa introdução contextualiza a discussão sobre os OGM e seus métodos de produção, preparando o terreno para as seções posteriores que abordam os aspectos históricos, tecnológicos, e éticos relacionados à manipulação genética.
2. Cronologia do Desenvolvimento da Engenharia Genética
Uma cronologia detalhada marca os avanços cruciais na engenharia genética e biotecnologia. A descoberta da estrutura em dupla hélice do DNA por Watson e Crick em 1953 é destacada como um ponto de viragem fundamental, seguida pela descoberta do código genético por Marshall Niremberg em 1964. A primeira experiência de engenharia genética aplicada a um microrganismo (Escherichia coli) em 1973 ilustra o rápido progresso da área. A produção do primeiro cereal transgênico (1988), a clonagem da ovelha Dolly (1997), a autorização da comercialização de milho GM pela CE (1997) e a criação da primeira planta GM com um gene humano (1997) demonstram a rápida evolução das tecnologias e a crescente aplicação prática da engenharia genética. A autorização para o cultivo de milho GM em Portugal em 2005, acompanhada da aprovação da regulamentação para 17 espécies pela CE, marca um marco importante para a adoção de transgênicos na agricultura portuguesa. Essa cronologia, organizada de forma linear, evidencia a velocidade do desenvolvimento tecnológico na área de engenharia genética e suas aplicações.
3. Métodos de Transferência de ADN em Plantas
O documento descreve três métodos principais de transferência de ADN para plantas: plasmídeos, eletroporação e bombardeamento com microprojécteis. Os plasmídeos, estruturas circulares de DNA encontradas em bactérias, são frequentemente usados devido à sua capacidade de carregar genes de resistência a antibióticos. A eletroporação utiliza campos magnéticos para criar poros na membrana celular, permitindo a introdução de genes nas células-alvo. O bombardeamento com microprojécteis envolve o disparo de partículas revestidas de DNA em células vegetais. A descrição desses métodos revela a diversidade de técnicas disponíveis para introduzir genes modificados em plantas, sublinhando a complexidade e o desenvolvimento tecnológico da engenharia genética aplicada à agricultura e à produção de organismos geneticamente modificados. A compreensão desses métodos é crucial para entender como os OGM são criados e as implicações tecnológicas envolvidas.
4. Situação Mundial e Portuguesa na Produção de Transgênicos
A seção discute a situação global e portuguesa na produção de transgênicos. Globalmente, observa-se uma concentração de poder nas mãos de empresas que produzem tanto as sementes transgênicas quanto os herbicidas a que as plantas são resistentes, levantando preocupações sobre monopólios e controle do mercado. Até 2003, apenas 18 produtos geneticamente modificados foram aprovados na UE, enquanto que em 1998, o cultivo de quatro espécies (colza, milho, soja e chicória) foi autorizado. Em Portugal, o Ministério da Agricultura suspendeu a avaliação de novas variedades geneticamente modificadas e o cultivo de “Elgina” e “Compa Cb” em 1999, refletindo as preocupações e controvérsias em torno dos OGM. No mesmo ano, porém, houve uma primeira autorização para a comercialização de duas espécies de milho Bt. Os locais de ensaios de transgênicos em Portugal são citados (Alentejo, Ribatejo, Coimbra, Abrantes, Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Póvoa do Varzim), indicando a abrangência geográfica, mesmo com as restrições impostas, refletindo a complexidade política e regulatória em torno do desenvolvimento e implementação de tecnologias de engenharia genética.
II.O Princípio da Precaução e a Biossegurança de OGM
A discussão sobre OGMs é permeada pelo princípio da precaução, enfatizando a necessidade de medidas preventivas, mesmo com incertezas científicas, para proteger o meio ambiente e a saúde humana. O Protocolo de Biossegurança de 2000 estabelece regras para o comércio internacional de OGMs, permitindo que países impeçam importações, mesmo sem provas definitivas de riscos. A segurança alimentar e o impacto na biodiversidade são preocupações centrais.
1. O Princípio da Precaução e a Proteção Ambiental
A seção destaca a importância do princípio da precaução no contexto dos organismos geneticamente modificados (OGMs). Este princípio advoga que, diante de ameaças de riscos sérios ou irreversíveis ao meio ambiente e à saúde humana, a falta de certeza científica total não deve impedir a adoção de medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. A aplicação deste princípio é justificada pela necessidade de proteger o meio ambiente e garantir a qualidade de vida não apenas das gerações presentes, mas também das futuras. Sua origem é traçada até a década de 1970, associada ao direito germânico, onde se preconizava o planejamento cuidadoso para evitar atividades potencialmente danosas. A Declaração de Wingspread, de janeiro de 1998, fornece uma definição abrangente do princípio, enfatizando a necessidade de medidas de precaução mesmo na ausência de conhecimento científico completo sobre as relações causa-efeito. Os principais elementos desse princípio incluem a precaução diante de incertezas científicas, a exploração de alternativas a ações potencialmente prejudiciais e a transferência do ônus da prova para os proponentes de atividades potencialmente danosas. A responsabilidade humana em reconhecer, avaliar e minimizar os efeitos potencialmente nocivos é enfatizada.
2. O Protocolo de Biossegurança e o Comércio Internacional de OGM
O Protocolo de Biossegurança, aprovado em 20 de janeiro de 2000, é apresentado como um instrumento crucial para regular o comércio internacional de OGM. Este protocolo visa garantir um nível adequado de proteção na transferência, manipulação e utilização segura de organismos geneticamente modificados, levando em consideração os potenciais efeitos adversos na conservação e utilização sustentável da biodiversidade, bem como os riscos para a saúde humana. Um ponto-chave é a permissão para que qualquer país impeça a importação de transgênicos, mesmo na ausência de certezas sobre seus efeitos negativos, justificando-se pela ausência de conhecimento científico suficiente sobre os riscos potenciais para a diversidade biológica. Essa disposição legal demonstra a importância atribuída à precaução e à soberania nacional na gestão de riscos associados aos OGM, reconhecendo a complexidade e a incerteza inerentes a essa tecnologia emergente e seu impacto no meio ambiente e saúde pública.
III.OGMs e a Fome Mundial Uma Análise Crítica
O documento refuta a ideia de que os OGMs são a solução definitiva para a fome mundial, argumentando que a questão requer soluções políticas e financeiras além da mera produção e distribuição. A análise contrasta a geração atual de transgênicos, dependente de solos de alta qualidade e grandes investimentos, com o potencial da biotecnologia para o desenvolvimento de culturas mais resistentes a pragas e aptas para solos menos férteis. O potencial de aumento da população nos próximos 30 anos (aproximadamente 2 bilhões de pessoas) reforça a necessidade de inovação na agricultura.
1. OGMs e a Fome Mundial Uma Relação Complexa
O texto refuta a ideia simplista de que os organismos geneticamente modificados (OGMs) são a solução para a fome mundial. Afirma categoricamente: “Se alguém vos disser que os organismos geneticamente modificados vão acabar com a fome no mundo, digam-lhes que não é verdade (…) Acabar com a fome no mundo necessita de vontade política e financeira – não é uma questão de produção e distribuição.” Essa declaração contundente estabelece o tom crítico da seção, argumentando que a erradicação da fome requer soluções que transcendam a simples questão de produção e distribuição de alimentos, envolvendo fatores políticos e econômicos mais amplos. A problemática da fome é apresentada como um desafio multifacetado que não pode ser reduzido a uma única solução tecnológica, por mais promissora que pareça. A complexidade da questão alimentar global é, portanto, posta em relevo, contrapondo a visão otimista e ingênua que frequentemente acompanha a discussão sobre o potencial dos OGM.
2. Comparação entre Agricultura Viável e a Geração Atual de Transgênicos
O documento compara dois modelos agrícolas: um ideal de agricultura viável e a geração atual de transgênicos. A agricultura viável é descrita como um sistema capaz de alimentar uma população crescente, cada vez mais urbana e concentrada, por meio de culturas com maior resistência a pragas, redução no uso de pesticidas e capacidade de crescer em solos pobres e climas adversos. Em contraste, a geração atual de transgênicos é apresentada como dependente de solos de alta qualidade, grandes investimentos em maquinaria e produtos químicos. Essa comparação destaca as limitações dos transgênicos atuais em relação a um sistema agrícola ideal para enfrentar os desafios da segurança alimentar numa população global em expansão. A diferença entre os dois modelos ilustra as preocupações sobre a sustentabilidade e acessibilidade dos atuais cultivos transgênicos, sugerindo a necessidade de inovações tecnológicas que permitam o desenvolvimento de cultivos geneticamente modificados mais adaptados a diferentes condições ambientais e que promovam uma agricultura mais sustentável e economicamente acessível.
3. O Papel da Biotecnologia no Futuro da Segurança Alimentar
Considerando o aumento projetado da população mundial em cerca de 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos, o documento reconhece o papel fundamental da biotecnologia na resposta à fome global. No entanto, aponta para uma questão fundamental: “Terá o Homem a capacidade de utilizar as maravilhosas conquistas deste ramo da ciência, iniciada na pequena horta de Brno, exclusivamente, ao serviço do Homem? O Homem começa a ter nas suas mãos o poder de controlar a sua própria evolução. A medida e os efeitos bons ou não, deste controlo dependerão não tanto da sua ciência mas, muito mais da sua sabedoria”. Essa citação sintetiza a complexidade ética e existencial que acompanha o avanço da biotecnologia e a capacidade humana de manipular a vida. A responsabilidade humana em utilizar a tecnologia de forma ética e consciente é fortemente implicada, contrastando com a abordagem utilitarista e centrada apenas na produtividade que geralmente caracteriza a discussão sobre OGM e sua capacidade de solucionar a fome mundial. A capacidade humana de usar a engenharia genética para o bem ou para o mal é a questão central colocada.
IV.Riscos e Benefícios Ambientais e na Agricultura dos OGM
Os potenciais riscos ambientais de OGMs incluem o surgimento de “super pragas”, polinização cruzada e danos a espécies não-alvo. Benefícios potenciais incluem a produção de matérias-primas mais amigáveis ao meio ambiente (ex: plásticos biodegradáveis) e a introdução de resistência a stresses abióticos. Na agricultura, os riscos incluem a dependência de multinacionais e custos para os agricultores, enquanto os benefícios incluem a redução de custos com pesticidas e a possibilidade de engenharia genética de insecticidas biológicos. A produção de plantas com maior riqueza nutricional (ex: arroz dourado) também é mencionada.
1. Riscos Ambientais Potenciais dos OGM
A seção detalha os potenciais riscos ambientais associados aos organismos geneticamente modificados (OGMs). A possibilidade do surgimento de ‘super pragas’, devido ao aumento do efeito negativo de pragas pré-existentes, é apontada como uma preocupação significativa. A polinização cruzada com variedades ou espécies próximas não transgênicas é destacada como um risco de contaminação genética, comprometendo a integridade genética das espécies nativas. O documento também menciona a possibilidade de danos a espécies não-alvo, indicando que os efeitos dos OGM podem se estender além das plantas modificadas. A incorporação no solo de subprodutos resultantes da manipulação genética é apontada como uma potencial causa de prejuízos para a ecologia e microbiologia do solo. O fenômeno da pleiotropia, onde um gene afeta múltiplas características, é citado como um fator de risco, podendo levar ao surgimento de pragas ou prejuízos na comunidade biótica por competição ou interferência. Esses riscos demonstram a necessidade de estudos aprofundados sobre o impacto ambiental dos OGM antes de sua liberação comercial.
2. Benefícios Ambientais Potenciais dos OGM
Apesar dos riscos, o documento também reconhece os potenciais benefícios ambientais dos OGM. A produção de matérias-primas mais favoráveis ao ambiente, como plásticos biodegradáveis, é mencionada como uma possibilidade. A introdução de resistência ou tolerância a stresses abióticos (frio, seca, salinidade) é destacada como um benefício, permitindo o desenvolvimento de uma agricultura menos consumidora de recursos. Esta capacidade de adaptação a condições ambientais adversas pode reduzir a necessidade de irrigação e o uso de fertilizantes, mitigando o impacto ambiental da agricultura convencional. A redução do consumo de recursos, por sua vez, contribui para uma agricultura mais sustentável. Essa abordagem equilibrada, considerando tanto os riscos quanto os benefícios, sublinha a necessidade de avaliações científicas rigorosas para determinar o balanço final e o impacto efetivo dos OGM no meio ambiente.
3. Riscos e Benefícios dos OGM na Agricultura
A seção analisa os riscos e benefícios dos OGM no contexto da agricultura. Entre os riscos, destaca-se a redução potencial dos rendimentos dos agricultores devido aos contratos com multinacionais e os custos associados. Em alguns casos, a produtividade de culturas transgênicas pode ser inferior às culturas convencionais, o que representa uma desvantagem econômica para os agricultores. No entanto, são destacados também benefícios significativos, como a possibilidade de elaborar insecticidas biológicos via engenharia genética. O cultivo de plantas GM com insecticida incorporado diminui os custos e riscos associados à utilização de pesticidas químicos, impactando positivamente a saúde do agricultor e do meio ambiente. O texto ainda menciona a necessidade de regulamentação para garantir a segurança dos alimentos GM, incluindo testes rigorosos antes da aprovação e rotulagem obrigatória após a aprovação. Essa abordagem ponderada, contrastando riscos e benefícios, ressalta a necessidade de políticas que minimizem os riscos e promovam a adoção sustentável dessa tecnologia.
V.Riscos e Benefícios dos OGM para a Saúde Humana
O documento discute os potenciais riscos à saúde relacionados a OGMs, como a transferência de genes, toxicidade e poluição ambiental devido ao uso excessivo de herbicidas. Por outro lado, destaca-se o potencial para a produção de substâncias de interesse terapêutico (insulina, vacinas) e o aumento da disponibilidade alimentar. Um processo legal nos EUA em 1998, envolvendo a FDA (Food and Drug Administration), é mencionado como exemplo das preocupações sobre a segurança de alimentos GM.
1. Riscos Potenciais dos OGM para a Saúde Humana
A seção aborda os riscos potenciais dos organismos geneticamente modificados (OGMs) para a saúde humana. A transferência de genes para humanos após a ingestão de OGM é apontada como uma preocupação, embora sem evidências concretas apresentadas no documento. A toxicidade é outro risco mencionado, com a possibilidade de um promotor genético causar a expressão excessiva de um gene, levando a uma concentração anormal de proteínas e consequente risco de toxicidade. A resistência a herbicidas, característica principal de muitos OGM, é apresentada como um fator que pode levar à aplicação excessiva desses produtos químicos, causando danos ambientais e à saúde humana. Embora o documento mencione um processo legal nos EUA em 1998 contra a FDA (Food and Drug Administration), ele não detalha os resultados desse processo. A ausência de resultados científicos que comprovem danos causados pelo uso de OGM para humanos é mencionada no final do documento, mas não se aplica diretamente a esta seção.
2. Benefícios Potenciais dos OGM para a Saúde Humana
Apesar dos riscos apontados, a seção também discute os benefícios potenciais dos OGM para a saúde humana. A produção de substâncias de interesse terapêutico, como insulina, vacinas e hormônio do crescimento, é destacada como uma aplicação importante da biotecnologia. A possibilidade de obter plantas com maior riqueza nutricional, exemplificada pelo arroz dourado (Golden Rice) com maior teor de vitamina A, é apresentada como um benefício para a saúde pública, especialmente em populações com deficiência nutricional. A capacidade de desenvolver plantas com menor grau de alergenicidade e toxicidade é mencionada como outra vantagem, melhorando a segurança alimentar e a saúde dos consumidores. O aumento da disponibilidade alimentar, consequência de uma maior produtividade agrícola, é considerado como um benefício que pode contribuir para reduzir a desnutrição em escala global. Essa abordagem balanceada, apresentando tanto os riscos como os benefícios potenciais, sublinha a necessidade de pesquisas contínuas para minimizar os riscos e maximizar os benefícios dos OGM.
VI.Considerações Éticas sobre os OGM
A seção final aborda as considerações éticas envolvendo a manipulação genética, o consumo de alimentos GM, e a questão das patentes de plantas geneticamente modificadas. A discussão se concentra na segurança, justiça e sustentabilidade do uso de OGMs, ponderando os argumentos a favor e contra a sua utilização. A ausência de evidências científicas que comprovem danos causados pelo uso de OGMs para humanos é mencionada.
1. A Manipulação Genética e a Dignidade Humana
A seção inicia com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que afirma que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, justiça e paz do mundo. Essa referência contextualiza a discussão ética sobre a manipulação genética, questionando se o desejo humano de manipular o material genético é compatível com essa dignidade. A questão central levantada é se temos o direito moral de modificar a composição genética dos seres vivos, incluindo a extensão dessa manipulação para a produção de alimentos geneticamente modificados. O documento apresenta a questão como uma ponderação entre o progresso científico e tecnológico e a responsabilidade ética na preservação da dignidade humana e do equilíbrio natural. Essa abordagem coloca a discussão ética no centro, contextualizando-a dentro de um debate mais amplo sobre os limites da intervenção humana na natureza e a sua relação com a própria condição humana.
2. Segurança e Avaliação de Risco dos Alimentos Geneticamente Modificados
Um dos principais focos ético concentra-se na segurança do consumo de alimentos geneticamente modificados. O documento apresenta argumentos contra e a favor, questionando o grau de segurança da avaliação de risco feita pelos cientistas. A discussão explora a ideia da modificação genética como uma extensão natural do desenvolvimento humano, mas contrapõe-a com dúvidas sobre o nível de segurança das avaliações científicas. A argumentação busca confrontar diferentes perspectivas sobre a natureza da inovação e a responsabilidade científica na garantia da segurança alimentar. O debate apresenta a necessidade de uma análise aprofundada que leve em conta o impacto a longo prazo para a saúde pública, a partir de uma perspectiva que privilegia a precaução e a transparência na comunicação dos resultados científicos.
3. Patentes e Controle da Cadeia Alimentar
A questão da justiça e equidade na propriedade intelectual relacionada aos OGM também é abordada. O documento questiona se é justo haver patentes para plantas geneticamente modificadas, e se é aceitável que empresas controlem os genes, processos e produtos químicos envolvidos. A riqueza biológica da Terra é apresentada como herança e propriedade de toda a humanidade, contrastando com o controle corporativo sobre a cadeia alimentar. Argumentos contra e a favor da patentação são apresentados, explorando os potenciais riscos de monopólios e a necessidade de balancear a inovação tecnológica com o acesso equitativo a recursos e alimentos. A questão levantada é se a busca por alimentos melhores e mais baratos justifica o poder e o controle das grandes empresas sobre a produção e distribuição de alimentos, e se isso é compatível com a justiça social e a soberania alimentar.
4. Legitimidade dos OGM e seus Impactos
Finalmente, a legitimidade dos OGM é condicionada pela ausência de danos à saúde humana, ao meio ambiente, às relações sociais e à integridade cultural. O documento reforça a importância da avaliação rigorosa e contínua do impacto dos OGM em todas essas áreas para garantir a sua legitimidade. A ausência de resultados científicos que comprovem danos causados pelo uso de OGM para humanos é mencionada como um dado relevante, mas não suficiente para eliminar completamente as preocupações éticas. O texto sublinha a necessidade de um diálogo amplo e multidisciplinar para avaliar o impacto completo dessa tecnologia e garantir que seu desenvolvimento e utilização sejam responsáveis e socialmente justos.