
Biorredução de Bis-Chalconas
Informações do documento
Autor | Juana Goulart Stollmaier |
instructor | Profª. Drª. Maria Da Graça Nascimento |
Escola | Universidade Federal De Santa Catarina |
Curso | Química - Bacharelado |
Tipo de documento | Projeto De Estágio Supervisionado II |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 2.21 MB |
Resumo
I.Síntese e Caracterização de Bis chalconas
Este trabalho de pesquisa investigou a biorredução de bis-chalconas, compostos simétricos com atividade biológica, incluindo potencial ação antitumoral e anti-tuberculose. Foram sintetizadas cinco bis-chalconas com diferentes ligantes (-H, -2,5-OCH₃, -2-C₆H₅, -3,4-OCH₂O) utilizando duas rotas de condensação de Claisen-Schmidt. A caracterização das bis-chalconas e seus produtos de redução foi realizada por RMN de ¹H e espectroscopia de IV, confirmando a formação dos compostos. A baixa solubilidade de algumas bis-chalconas em diversos solventes orgânicos foi um desafio observado durante a síntese. Juana Goulart Stollmaier, sob orientação da Profª. Drª. Maria da Graça Nascimento na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), conduziu este estudo no Laboratório de Biocatálise da UFSC, com colaboração dos professores Ricardo J. Nunes, Patrícia D. Neuenfeldt e Alexandre Luis Parize.
1. Síntese de Bis chalconas
Cinco bis-chalconas foram sintetizadas com diferentes ligantes (-H, -2,5-OCH₃, -2-C₆H₅, -3,4-OCH₂O) utilizando-se a reação de condensação de Claisen-Schmidt. Duas rotas sintéticas foram empregadas, a primeira utilizando 2 mmol de benzaldeídos substituídos e 1 mmol de 1,4-diacetilbenzeno em meio alcoólico (EtOH) com KOH como catalisador. A segunda rota utilizou 2 mmol de acetofenonas substituídas e 1 mmol de tereftaldeído nas mesmas condições reacionais do primeiro método. O rendimento das sínteses iniciais foi considerado alto, acima de 84%. É importante notar a menção à baixa quantidade de 1,4-diacetilbenzeno disponível, limitando a síntese de apenas uma das séries de bis-chalconas. A coloração amarela das bis-chalconas foi observada, com variações de tonalidade dependendo da presença ou ausência de substituintes. Um ponto crucial destacado é a baixa solubilidade das bis-chalconas em diversos solventes orgânicos (metanol, etanol, clorofórmio, diclorometano, DMSO, n-hexano, acetato de etila e acetona), sendo que a bis-chalcona 8d (-3,4-OCH₂O-) se mostrou insolúvel em todos os solventes testados, o que representou um desafio para os procedimentos subsequentes.
2. Caracterização das Bis chalconas
A caracterização das bis-chalconas sintetizadas e seus respectivos produtos de redução foi realizada empregando-se técnicas espectroscópicas. A ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN de ¹H), utilizando aparelhos de 400 MHz e 200 MHz disponíveis na Central de Análises da UFSC, forneceu informações estruturais importantes. A análise dos espectros de RMN de ¹H permitiu a identificação de dois dubletos característicos dos prótons Hα e Hβ das bis-chalconas, confirmando a formação dos produtos. Os compostos 5a e 8a foram utilizados como exemplos representativos para suas respectivas séries, assim como seus álcoois correspondentes obtidos após redução com NaBH₄. A caracterização dos álcoois resultantes da redução mostrou-se eficiente pela quebra da ligação dupla C=O, com adição de novas ligações C-H e O-H. Observações espectroscópicas, como a do Hα deslocado para direita (~1 ppm), e a sobreposição dos sinais com hidrogênios aromáticos, gerando dificuldades na identificação individual de sinais, foram registradas e analisadas. Além da RMN de ¹H, a espectroscopia de infravermelho (IV) foi utilizada na caracterização das bis-chalconas. A bis-chalcona 8b serviu de exemplo para a análise de espectros de IV, com a identificação de bandas características dos anéis aromáticos, grupos metóxi e o grupo carbonila de uma cetona α,β-insaturada. Uma tabela com valores de número de onda para as bandas características das bis-chalconas, baseada em dados da literatura, foi utilizada para a interpretação dos espectros de IV. A constante de acoplamento J entre os Hα e Hβ também foi analisada, sendo que o valor de J = 16 Hz é característico de chalconas com isomeria E.
II.Biorredução utilizando Saccharomyces cerevisiae
A biorredução das bis-chalconas foi realizada empregando-se Saccharomyces cerevisiae (levedura de pão ou fermento biológico), explorando a atividade de enoato redutase presente neste microorganismo. Para otimizar a reação, foram testados diferentes sistemas de reação: bifásico (n-hexano/tampão) e monofásico com co-solventes (DMSO e CH₂Cl₂) e com o fermento imobilizado em microesferas de alginato de cálcio. A imobilização do fermento em alginato de cálcio visou melhorar a interação com o substrato e evitar a formação de emulsões. A redução com borohidreto de sódio (NaBH₄) serviu como método comparativo para obtenção dos álcoois correspondentes.
1. Escolha do Biocatalisador e Considerações Iniciais
A pesquisa utilizou Saccharomyces cerevisiae (fermento de pão, FP), como biocatalisador para a biorredução das bis-chalconas. A escolha se justifica pela capacidade da levedura em reduzir ligações duplas em compostos carbonílicos α,β-insaturados, como as chalconas, de forma quimiosseletiva. A utilização de S. cerevisiae como biocatalisador oferece vantagens em relação a métodos químicos tradicionais, que frequentemente envolvem catalisadores metálicos tóxicos e de alto custo. A atividade catalítica das enzimas em S. cerevisiae pode ser controlada através da manipulação de parâmetros como temperatura, concentração de substratos e pH, permitindo maior controle da reação e seletividade. O documento menciona o uso de células íntegras de S. cerevisiae, evitando a necessidade de extração e purificação de enzimas específicas, o que reduz custos e simplifica o processo. A utilização de células íntegras é uma alternativa viável e de baixo custo para a redução de compostos carbonílicos α,β-insaturados.
2. Sistemas de Reação para Biorredução
Diferentes sistemas de reação foram testados para otimizar a biorredução das bis-chalconas utilizando S. cerevisiae. Inicialmente, um sistema bifásico, semelhante aos desenvolvidos em trabalhos anteriores do grupo, foi empregado. Este sistema consistia em uma fase aquosa (contendo o fermento) e uma fase orgânica (contendo o substrato). No entanto, a formação de emulsão entre as fases representou um problema significativo, dificultando a extração do produto. Para superar essa dificuldade, o biocatalisador foi imobilizado em microesferas de alginato de cálcio, buscando melhorar a eficiência da reação e minimizar a formação de emulsão. Em seguida, utilizou-se um sistema monofásico, com a adição de co-solventes (DMSO e CH₂Cl₂) para aumentar a solubilidade das bis-chalconas. O sistema monofásico também apresentou desafios, como a aglutinação do FP após agitação na fase de n-hexano e a dificuldade na separação do produto devido à presença de DMSO. Em uma outra abordagem, para a reação em sistema monofásico, a bis-chalcona foi imobilizada em papel filtro antes da adição do fermento de pão e dos solventes (n-hexano e DMSO). O uso de borohidreto de sódio (NaBH4) foi usado em paralelo como método de redução química para comparação.
3. Imobilização do Fermento em Microesferas de Alginato de Cálcio
A imobilização de S. cerevisiae em microesferas de alginato de cálcio foi uma estratégia empregada para otimizar a biorredução. O alginato de cálcio foi escolhido devido ao seu baixo custo, alta afinidade com água, capacidade de formar géis estáveis em condições amenas, além de ser atóxico e não-patogênico. O alginato, um polissacarídeo derivado de algas marinhas, forma um gel estável quando o cátion monovalente Na⁺ é substituído por um cátion divalente Ca²⁺. A preparação das microesferas envolveu duas soluções: uma solução de alginato de sódio (2%) e uma solução de cloreto de cálcio (2%). A formação das microesferas foi realizada utilizando uma seringa com uma agulha curvada acoplada a uma bomba peristáltica, garantindo um volume controlado (60 μL). A microscopia das esferas permitiu a observação do diâmetro médio (2,5 mm) e a confirmação da distribuição do fermento tanto na superfície quanto no interior das microesferas. A utilização de microesferas de menor volume visava aumentar a área superficial das mesmas para maximizar a interação com o substrato e, consequentemente, a atividade catalítica.
III.Resultados e Discussão da Biotransformação
Os resultados da biorredução mostraram que o sistema monofásico com co-solventes e o fermento imobilizado em microesferas de alginato de cálcio apresentaram melhores resultados que o sistema bifásico. A utilização de CH₂Cl₂ como co-solvente inibiu a atividade do fermento. A análise por RMN de ¹H e espectroscopia de IV foram cruciais para monitorar a conversão e seletividade da reação. A redução quimiosseletiva da ligação C=C foi observada em alguns casos, demonstrando o potencial da S. cerevisiae como biocatalisador para a redução de compostos carbonílicos α,β-insaturados. A baixa solubilidade das bis-chalconas, especialmente a 8d (-3,4-OCH₂O-), representou um obstáculo significativo e sugere a necessidade de otimização de condições reacionais e solubilidade para futuras pesquisas, incluindo variações de temperatura, tempo de reação, massa do biocatalisador, grupos substituintes e grau de reticulação das microesferas.
1. Resultados da Biorredução em Sistemas Bifásicos e Monofásicos
O sistema bifásico (n-hexano/tampão fosfato de potássio, pH 6) apresentou baixa conversão, atribuída à baixa solubilidade da bis-chalcona 8a em n-hexano e à formação de emulsão durante a extração. Consequentemente, a interação entre o fermento na fase aquosa e o substrato na fase orgânica foi limitada. Como alternativa, foram testados sistemas monofásicos utilizando co-solventes (DMSO e diclorometano), buscando aumentar a solubilidade do substrato. Embora o sistema monofásico com DMSO tenha mostrado alguma redução, parte do DMSO contaminou o produto após a extração, dificultando sua caracterização por RMN de ¹H e IV. A utilização de diclorometano como co-solvente inibiu completamente a atividade do fermento, demonstrando sua toxicidade para S. cerevisiae. A bis-chalcona 8a foi escolhida para otimização devido à sua ausência de substituintes e maior disponibilidade. A análise por RMN de ¹H indicou a presença de dois tripletos na região de 3,0-3,3 ppm como indicadores de redução da ligação dupla C=C, sendo que a persistência do dubleto característico das bis-chalconas (J = 16 Hz) indicava redução incompleta do substrato.
2. Análise Espectroscópica dos Produtos de Biotransformação
A caracterização dos produtos de biorredução foi realizada por RMN de ¹H e espectroscopia de IV. A RMN de ¹H mostrou o surgimento de dois tripletos na região de 3,0-3,3 ppm, indicando a redução da dupla ligação C=C. A constante de acoplamento J entre os prótons Hα e Hβ foi utilizada para avaliar a extensão da reação, onde a manutenção do valor de 16 Hz indicava a presença de substrato não-reduzido. A espectroscopia de IV, exemplificada pela bis-chalcona 8b, confirmou a presença de bandas características de anéis aromáticos e grupos metóxi. A banda em 1696 cm⁻¹ indicou a presença do grupo carbonila de uma cetona α,β-insaturada. A comparação entre os espectros de RMN de ¹H de reações com DMSO e diclorometano evidenciou a ineficiência da biorredução na presença de solventes clorados. O espectro de IV da bis-chalcona 8a biorreduzida em sistema monofásico com n-hexano e DMSO, utilizando o fermento imobilizado em papel filtro, mostrou a redução parcial da ligação C=C. A metodologia de imobilização da bis-chalcona em papel filtro não foi efetiva em aumentar a conversão da reação.
3. Imobilização do Fermento e Resultados da Biorredução com Microesferas
A imobilização do fermento de pão em microesferas de alginato de cálcio foi realizada com o objetivo de melhorar a eficiência da biorredução. Foram preparados dois tipos de microesferas: uma com volumes variados (feitos manualmente com pipeta Pasteur) e outra com volume controlado (60 μL), utilizando uma bomba peristáltica. A microscopia das microesferas com volume controlado (diâmetro médio de 2,5 mm) confirmou a presença do fermento espalhado na superfície e no interior das esferas. A biorredução da bis-chalcona 8a utilizando o fermento imobilizado em microesferas de alginato de cálcio, em sistema monofásico com n-hexano e DMSO, mostrou redução parcial e seletiva na ligação C=C, conforme evidenciado pela espectroscopia de IV. A presença de trealose nas microesferas foi usada para proteger o fermento. Os resultados obtidos sugerem que a baixa solubilidade dos substratos foi o principal fator limitante da eficiência da biorredução, abrindo caminho para futuros estudos com variações de temperatura, tempo de reação, massa do biocatalisador, grupos substituintes e nível de reticulação das microesferas.