
Contradomínios Numéricos em Espaços de Krein
Informações do documento
Autor | Ricardo Manuel Cunha Teixeira |
instructor | Professora Doutora Natália Bebiano da Providência, Professora Catedrática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra |
Escola | Universidade dos Açores |
Curso | Matemática |
Tipo de documento | Dissertação de Doutoramento |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 1.72 MB |
Resumo
I.Propriedades Geométricas do Contradomínio Numérico Indefinido
Este trabalho investiga as propriedades geométricas do contradomínio numérico indefinido de operadores lineares em espaços de Krein, com foco em espaços de dimensão 2 e 3. A pesquisa determina a equação em coordenadas homogêneas da curva associada ao contradomínio numérico indefinido, caracterizando suas projeções em retas que passam pela origem do plano complexo. Estuda-se a relação entre a curva associada e o contradomínio numérico em espaços de Krein, contrastando com resultados conhecidos para espaços de Hilbert (Teorema do Contradomínio Elíptico) e estabelecendo o Teorema do Contradomínio Hiperbólico para espaços de Krein de dimensão 2.
1. Introdução ao Contradomínio Numérico Indefinido e Espaços de Krein
A seção inicia estabelecendo o contexto do estudo do contradomínio numérico indefinido, contrastando-o com o contradomínio numérico clássico (ou campo de valores), cuja origem remonta à teoria das formas quadráticas. A notação “W” é apresentada como o símbolo mais utilizado para representar o contradomínio numérico. A importância do contradomínio numérico em fornecer informações sobre o operador, que o espectro sozinho não fornece, é destacada, mencionando sua utilidade na dedução de propriedades algébricas e analíticas do operador, na obtenção de majorantes e minorantes para sua norma e na localização do seu espectro. A riqueza da teoria do contradomínio numérico clássico e suas generalizações é enfatizada, citando suas aplicações em diversas áreas da Matemática Pura e Aplicada (Análise Matricial, Teoria de Operadores, Análise Numérica, Equações Diferenciais, Física e Arquitetura). A seção introduz os espaços de Krein como espaços vetoriais munidos de um produto interno indefinido, destacando seu papel promissor na Análise Funcional e sua importância na extensão do conceito de contradomínio numérico, com trabalhos pioneiros de Bayasgalan [4], Li, Tsing e Uhlig [37] citados. O objetivo principal de sistematizar as propriedades geométricas do contradomínio numérico indefinido é explicitado, justificando o foco em operadores que se reduzem a matrizes de ordem 2 ou 3, por razões de simplificação. A classificação de Newton para cúbicas [3] é mencionada como crucial para a caracterização do contradomínio numérico indefinido para matrizes de ordem 3.
2. Teoremas do Contradomínio Hiperbólico e Elíptico
Esta parte apresenta uma prova geométrica do Teorema do Contradomínio Hiperbólico, que determina o contradomínio numérico de operadores em espaços de Krein bidimensionais. Este teorema é um resultado paralelo ao Teorema do Contradomínio Elíptico para espaços de Hilbert. A mesma técnica geométrica é utilizada para deduzir ambos os teoremas, destacando a similaridade e a diferença entre os resultados para espaços de Krein e Hilbert. O contradomínio numérico indefinido para matrizes de ordem 2 é caracterizado, em contraste com o caso clássico, como sendo determinado por uma hipérbole, cujos ramos delimitam suas duas componentes convexas. A importância da redução de problemas ao caso bidimensional na teoria do contradomínio numérico clássico e suas generalizações é mencionada, com o Teorema do Contradomínio Elíptico desempenhando um papel chave. Trabalhos de Murnaghan [39], Donoghue [19] e Li [34] sobre o Teorema do Contradomínio Elíptico são citados. A distinção entre componentes convexas do contradomínio numérico é apresentada como sendo crucial para a compreensão do comportamento geométrico. A relação entre valores próprios, vetores próprios (anisotrópicos e isotrópicos) e o contradomínio numérico também é abordada, com exemplos que demonstram que nem sempre todos os valores próprios pertencem ao contradomínio numérico.
3. Redução a Matrizes de Ordem 2 e 3 e o Papel da Curva Associada
Esta seção justifica a redução do estudo do contradomínio numérico indefinido a matrizes de ordem 2 e 3, argumentando que, apesar da complexidade do estudo ser proporcional à ordem da matriz, muitas situações se reduzem a esses casos mais simples. A importância da curva associada na caracterização geométrica do contradomínio numérico indefinido é ressaltada. O texto explica a conveniência de reduzir o estudo a contradomínios numéricos induzidos por matrizes de inércia J, sem perda de generalidade. O método de Fiedler [20] para a equação de pontos é destacado como ferramenta útil na representação geométrica da curva associada. A complexidade do estudo para matrizes de ordem superior a 3 é mencionada, mas o trabalho se concentra nos casos base de ordem 2 e 3 para sistematizar as propriedades geométricas. A classificação de Newton para cúbicas é novamente apontada como relevante para a caracterização do contradomínio numérico indefinido em matrizes 3x3. A relação entre o contradomínio numérico e a curva associada em espaços de Krein é explorada, com ênfase em estender resultados válidos para espaços de Hilbert.
II. Curva Associada em Espaços de Krein Dedução e Propriedades
Um método para deduzir a equação da curva associada (em coordenadas de ponto homogêneas) é apresentado e generaliza o método de Fiedler para o caso clássico. As propriedades geométricas da curva associada são estudadas extensivamente, extendendo resultados válidos em espaços de Hilbert para espaços de Krein. A relação entre a curva associada, sua dual e o contradomínio numérico indefinido é analisada, considerando a classificação de Newton para cúbicas e a sua importância na caracterização do contradomínio numérico indefinido para matrizes de ordem 3. A utilização de coordenadas homogêneas e a análise da recta do infinito são cruciais para a compreensão da geometria da curva associada.
1. Equação da Curva Associada e Coordenadas Homogêneas
Esta seção foca na dedução da equação da curva associada ao contradomínio numérico indefinido. A equação é derivada em coordenadas de ponto homogêneas, um sistema de coordenadas que permite representar pontos no plano projetivo complexo. A caracterização das projeções da curva associada em relação às retas que passam pela origem do plano complexo é um ponto crucial, fornecendo informações importantes sobre a geometria da curva. O texto destaca a importância do uso de coordenadas homogêneas, permitindo uma representação mais completa da curva, incluindo os pontos no infinito. A discussão inclui o conceito de curva dual, que é obtida pela dualização da curva associada. A relação entre a curva e sua dual é explorada, e a não unicidade das coordenadas homogêneas é explicitamente mencionada. A seção também introduz o conceito de pontos no infinito e a reta do infinito no plano projetivo, que desempenham um papel importante na análise geométrica. O texto menciona que diferentes vistas afins de uma curva projetiva podem fornecer informações adicionais sobre ela.
2. Método de Fiedler e Propriedades Geométricas da Curva Associada
A seção apresenta um método alternativo para obter a equação de pontos da curva associada, generalizando o método de Fiedler para o caso clássico. Este método é descrito como útil tanto teoricamente, pois fornece uma expressão para o polinómio que caracteriza a curva algébrica em coordenadas homogêneas, mostrando que seus coeficientes dependem unicamente da decomposição cartesiana-J da matriz em estudo, quanto na prática, mostrando que sua implementação no software Mathematica 5.1 é eficaz na determinação da equação para matrizes de ordem relativamente pequena. A discussão abrange a aplicação das fórmulas de Plücker e a classificação de Newton para cúbicas no estudo da curva associada, particularmente para matrizes de ordem 3. A classificação de Newton para cúbicas (72 espécies no plano afim, reduzidas a 5 no plano projetivo) é apresentada como ferramenta essencial na caracterização do contradomínio numérico indefinido. O método de dualização, usado para obter os esboços das curvas no Mathematica 5.1, é descrito, com exemplos ilustrativos dos cinco casos da classificação de Newton. O estudo considera o comportamento padrão das curvas, incluindo componentes ovais, cúspides, pontos de inflexão e tangentes múltiplas. A relação entre pontos no infinito de uma curva e tangentes da sua dual que passam pela origem é explicada.
3. Invólucro Pseudo Convexo e Caracterização Completa do Contradomínio Numérico Indefinido
Nesta seção, o texto discute as dificuldades adicionais na caracterização do contradomínio numérico indefinido (WJ(A)) pela curva associada (CJ(A)) em espaços de Krein. A principal dificuldade reside no conceito de invólucro pseudo-convexo, que introduz uma dicotomia na escolha de segmentos ou retas para definir a fronteira do contradomínio a partir dos pontos da curva associada. Nem sempre é possível obter WJ(A) tomando apenas o invólucro pseudo-convexo de CJ(A). Para contornar isso, a decomposição cartesiana-J da matriz A é novamente mencionada como uma ferramenta essencial. A discussão inclui o conceito de retas de suporte e sua relação com as componentes convexas do contradomínio numérico. A seção menciona que a curva associada gera a fronteira do contradomínio numérico somente em certas condições e que em casos degenerados a curva associada não desempenha um papel tão relevante. A seção conclui enfatizando que o conhecimento da curva associada CJ(A) não é, em geral, suficiente para caracterizar completamente o contradomínio numérico WJ(A), e que a decomposição cartesiana-J da matriz A é fundamental para superar esse obstáculo.
III.Caracterização do Contradomínio Numérico Indefinido para Matrizes de Ordem 2 e 3
O trabalho caracteriza o contradomínio numérico indefinido (WJ(A)) para matrizes de ordem 2 e 3. Para matrizes de ordem 2, o foco está em matrizes hermitianas-J, e a relação entre o contradomínio numérico indefinido e o eixo real é investigada. Para matrizes de ordem 3, a caracterização de WJ(A) é abordada usando a curva associada, considerando casos com porções retilíneas na fronteira do contradomínio numérico. A multiplicidade algébrica dos valores próprios da matriz é fundamental para uma caracterização completa de WJ(A). O método de Kippenhahn, adaptado para o caso indefinido, é aplicado para determinar as regiões que definem as componentes convexas de WJ(A).
1. Caracterização para Matrizes de Ordem 2 O Caso Hermitiano J
Esta seção se concentra na caracterização do contradomínio numérico indefinido para matrizes de ordem 2, especificamente para matrizes hermitianas-J, onde J é uma matriz de inércia de ordem 2. O caso onde a matriz A é igual a zero é excluído, pois o contradomínio numérico se reduz à origem. A análise considera dois cenários: matrizes com dois valores próprios complexos conjugados e matrizes com dois valores próprios reais (coincidentes ou não). A Proposição 2.14 é referenciada para mostrar que a curva associada (CJ(A)) coincide com o eixo real ou se reduz a um ou dois pontos desse eixo. O Teorema 3.3 é apresentado como o resultado principal desta seção, afirmando que, no primeiro cenário (valores próprios complexos conjugados), o contradomínio numérico (WJ(A)) é igual a ℝ. No segundo cenário (valores próprios reais), WJ(A) coincide com o eixo real, exceto por um segmento de reta aberto determinado pelos dois pontos, ou com o eixo real exceto por um dos pontos, caso estes sejam coincidentes. A situação particular onde a matriz hermitiana-J possui traço nulo é estudada em detalhe, sendo analisadas as implicações para os seus valores próprios (simétricos). As expressões (2.6) e (2.8) são mencionadas como podendo ser obtidas diretamente dos Teoremas 3.5 e 3.7, recorrendo à Proposição 3.8, para o caso indefinido.
2. Caracterização para Matrizes de Ordem 3 Método de Kippenhahn e Classificação de Newton
A caracterização do contradomínio numérico indefinido para matrizes de ordem 3 é abordada nesta seção, adaptando o método de Kippenhahn [30] para o caso clássico, e utilizando a classificação de Newton para cúbicas. A classificação de Kippenhahn para o caso clássico (3 pontos, 1 ponto e uma elipse, ou curva irredutível e limitada) é referenciada, e seu paralelo no caso indefinido é discutido. A seção menciona que, ao contrário do caso clássico, o contradomínio numérico indefinido pode apresentar curvas associadas de todos os cinco tipos (C1-C5) da classificação de Newton, mas os tipos C2, C4 e C5 levam a casos degenerados. O método usado para determinar o contradomínio numérico inclui a análise da curva associada (CJ(A)), seu invólucro pseudo-convexo, e a consideração das projeções de WJ(A) em relação a retas que passam pela origem. Matrizes hermitianas-J com três valores próprios reais que determinam uma base de vetores próprios anisotrópicos-J são examinadas, resultando em duas possibilidades para WJ(A): a reta real inteira ou a reta real menos um segmento aberto determinado por dois valores próprios. A multiplicidade algébrica dos valores próprios é apresentada como crucial para uma caracterização uniforme do contradomínio numérico, particularmente nos casos onde a matriz possui um valor próprio em J0(A). O Teorema 3.14 é referido como fornecendo uma caracterização uniforme para WJ(A) a partir da multiplicidade algébrica dos valores próprios.
3. Matrizes de Ordem 3 com Porções Retilíneas na Fronteira e Exemplos
Esta seção foca em matrizes 3x3 cujo contradomínio numérico indefinido apresenta, pelo menos, uma porção retilínea na fronteira. Os resultados obtidos são paralelos aos de Keeler, Rodman e Spitkovsky [29] no contexto do contradomínio numérico clássico. A seção explica que a determinação das regiões correspondentes às componentes convexas de WJ(A) (onde A = HJ + iKJ) se faz pela Proposição 3.13 (se 0 é valor próprio duplo de HJ) ou pelo Teorema 3.11 (se 0 tem multiplicidade 3). A impossibilidade de 0 ser valor próprio triplo de HJ quando HJ é diagonalizável por uma transformação unitária-J é mencionada. A discussão inclui exemplos que ilustram como determinar o contradomínio numérico indefinido de matrizes de ordem 3, usando o conhecimento da curva associada e suas projeções. É destacado que, para matrizes com entradas reais, a consideração de apenas uma projeção (em relação ao eixo real) é suficiente devido à simetria do contradomínio numérico-J em relação ao eixo real. A seção considera matrizes indecomponíveis-J com porções retilíneas em ∂WJ(A) contidas no eixo y, usando a Proposição 3.13 ou o Teorema 3.11 para determinar as regiões correspondentes às componentes convexas. O caso de HJ não ser diagonalizável por uma transformação unitária-J e a forma canônica da matriz A são mencionados.
IV.Considerações Finais e Problemas em Aberto
A dissertação conclui com uma discussão de problemas em aberto. A investigação levanta questões sobre a generalização dos resultados obtidos para matrizes de ordem superior a 3, especificamente para matrizes de ordem 4 e suas curvas associadas (de classe 4). A análise de casos degenerados, onde o contradomínio numérico indefinido coincide com ℂ ou ℂ menos uma reta, e a relação entre o tipo da curva associada (C1-C5) e a natureza do contradomínio numérico indefinido são destacados como pontos importantes para pesquisas futuras.
1. Problemas em aberto Extensão para Matrizes de Ordem Superior
A seção final da dissertação destaca problemas em aberto que surgem a partir da pesquisa realizada. Um ponto principal é a extensão da técnica utilizada para matrizes de ordem 3 para matrizes de ordem superior, especificamente ordem 4. No caso de matrizes de ordem 3, a classificação de Newton para cúbicas, e a análise da curva associada são cruciais; para ordem 4, a análise se torna significativamente mais complexa, envolvendo curvas de classe 4 (quárticas) e sua classificação, sendo a dualização uma possível abordagem. A dissertação observa uma diferença entre o caso clássico e o indefinido: enquanto Kippenhahn [30] demonstrou que no caso clássico não existem curvas associadas dos tipos C2, C4 e C5, os exemplos apresentados na seção 3.2 mostram que contradomínios numéricos indefinidos de matrizes de ordem 3 podem ter curvas associadas de todos os cinco tipos (C1-C5). No entanto, nestes exemplos, os tipos C2, C4 e C5 levam a casos degenerados. A questão da validade geral dessas observações é proposta como um problema relevante para futuras pesquisas. A complexidade da análise aumenta significativamente com o aumento da ordem da matriz, tornando a extensão dos métodos para ordens superiores um desafio considerável.
2. Casos Degenerados e a Natureza da Curva Associada
Outro problema em aberto gira em torno dos casos degenerados observados na caracterização do contradomínio numérico indefinido para matrizes de ordem 3. A dissertação nota que, nos exemplos analisados, curvas associadas dos tipos C2, C4 e C5 conduzem a casos degenerados, onde o contradomínio numérico (WJ(A)) coincide com o plano complexo (ℂ) ou com ℂ menos uma reta. Similarmente, curvas associadas dos tipos C1 ou C3 só originam casos degenerados quando são curvas limitadas. A investigação se essas propriedades são válidas em geral é apresentada como um problema intrigante. A compreensão da relação entre o tipo de curva associada (C1 a C5) e a natureza do contradomínio numérico indefinido é, portanto, uma área que requer investigação adicional, buscando padrões e regras que governam a conexão entre a geometria da curva associada e as propriedades do contradomínio numérico. A identificação das condições que levam a esses casos degenerados é um aspecto central deste problema em aberto.