Edson Sabino da Silva

Nanofluidos: Resfriamento em Motores

Informações do documento

Autor

Edson Sabino Da Silva

instructor Prof. José Alberto Dos Reis Parise
Escola

PUC-Rio

Curso Engenharia Mecânica
Tipo de documento Projeto De Graduação
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 2.34 MB

Resumo

I.Simulação de Nanofluidos como Fluido de Arrefecimento em Motores a Gasolina

Este trabalho investiga o uso de nanofluidos como fluido de arrefecimento (FDA) em um motor de 4 cilindros a gasolina, com o objetivo principal de reduzir o tempo de aquecimento (warm-up) do motor. Foram simulados nanofluidos contendo nanopartículas de Al₂O₃, CuO e SiO₂ dispersas em uma solução de 60% de etilenoglicol e 40% de água. As simulações mostraram que nanofluidos com maior concentração de nanopartículas apresentaram melhor desempenho, embora nenhum tenha superado o fluido base (etilenoglicol/água) na redução do tempo de aquecimento. Esses resultados indicam a necessidade de estudos adicionais para otimizar a utilização de nanofluidos como FDA em motores de combustão interna (ICE).

1. Objetivo do Estudo e Metodologia

O estudo principal visa avaliar a eficácia de nanofluidos na redução do tempo de aquecimento de um motor de 4 cilindros a gasolina, desde a partida a frio até a operação em regime permanente. Para tanto, foi desenvolvido um modelo matemático que simula a dinâmica de transferência de calor no sistema de arrefecimento. Esse modelo foi confrontado com dados experimentais da literatura, servindo como base para a validação. Posteriormente, o modelo foi utilizado para simular o desempenho de nanofluidos com diferentes concentrações de nanopartículas (Al₂O₃, CuO e SiO₂) dispersas em uma solução de etilenoglicol e água (60% e 40%, respectivamente). A análise focou na relação entre a concentração de nanopartículas e o tempo de aquecimento, buscando identificar melhorias no desempenho em comparação com o fluido base (etilenoglicol e água). Um dos aspectos cruciais foi a comparação do desempenho dos nanofluidos com o fluido base, para verificar se a adição de nanopartículas realmente traz benefícios significativos na redução do tempo de aquecimento do motor.

2. Desenvolvimento do Modelo Matemático e Considerações

O desenvolvimento do modelo matemático envolveu a consideração de diversos fatores, incluindo as propriedades termofísicas do fluido de arrefecimento (nanofluidos e fluido base), a geometria do sistema de arrefecimento e o fluxo de calor gerado pelo motor. Para o cálculo das propriedades termofísicas dos nanofluidos, foram utilizadas correlações empíricas encontradas na literatura, considerando a influência da concentração, tipo e tamanho das nanopartículas. A validação do modelo se baseou em dados experimentais de estudos anteriores, buscando uma concordância entre os resultados simulados e os dados reais. Um ponto importante foi a escolha de correlações empíricas para condutividade térmica e viscosidade, considerando a complexidade da geometria do sistema. Como não havia correlações adequadas para a geometria específica, utilizaram-se expressões desenvolvidas para outras geometrias, com base no trabalho de Vajjha et al. (2009), que empregou uma mistura de etilenoglicol e água na proporção de 60:40, o que permitiu maior consistência com a realidade da simulação. No entanto, deve-se levar em conta que a adição das nanopartículas aumenta não só a condutividade térmica, mas também a viscosidade do fluido, impactando a eficiência do sistema de arrefecimento. Considerações sobre a massa sensível do bloco do motor também foram relevantes para a calibragem do modelo.

3. Simulações e Análise de Resultados

As simulações foram realizadas utilizando um código desenvolvido em Excel, variando-se o tipo e a concentração de nanopartículas nos nanofluidos. O principal critério de avaliação do desempenho foi o tempo necessário para atingir uma temperatura limite (90°C), a partir da qual a válvula termostática abre e permite a circulação do fluido pelo radiador. Os resultados mostraram que o aumento da concentração de nanopartículas leva a uma melhoria no tempo de aquecimento, indicando uma relação proporcional entre concentração e desempenho. Porém, em nenhum dos casos simulados, os nanofluidos apresentaram desempenho superior ao fluido base (etilenoglicol/água). A análise dos resultados incluiu gráficos da evolução da temperatura do bloco do motor e do fluido de arrefecimento ao longo do tempo, para diferentes concentrações e tipos de nanopartículas. Uma observação importante foi a pouca influência do diâmetro das nanopartículas sobre o desempenho dos nanofluidos, sugerindo que essa variável não é tão crucial quanto a concentração e o tipo de nanopartícula para as propriedades termofísicas estudadas. A análise comparativa entre os resultados obtidos com Al₂O₃, CuO e SiO₂ mostrou que o CuO apresentou o melhor desempenho, seguido pelo Al₂O₃ e, por fim, o SiO₂. Apesar das ligeiras melhorias em relação ao fluido base, estas não foram consideradas significativas em termos práticos.

II.Metodologia Modelagem Matemática e Validação

Um modelo matemático foi desenvolvido para simular a transferência de calor no sistema de arrefecimento. Este modelo foi validado usando dados experimentais da literatura, focando na predição da temperatura do bloco do motor e do FDA durante o período de aquecimento. As propriedades termofísicas dos nanofluidos, incluindo a condutividade térmica e viscosidade, foram calculadas usando correlações empíricas encontradas em estudos anteriores (Vajjha et al., 2009). A massa sensível do bloco do motor foi ajustada para obter resultados consistentes com dados experimentais da literatura (Trapy et al., 1990; Torregrossa et al., 2008).

1. Desenvolvimento do Modelo Matemático

A metodologia iniciou com o desenvolvimento de um modelo matemático para simular o comportamento da transferência de calor no sistema de arrefecimento de um motor de 4 cilindros a gasolina. Este modelo levou em consideração variáveis como as propriedades termofísicas do fluido de arrefecimento (considerando tanto o fluido base – uma mistura de etilenoglicol e água – quanto os nanofluidos), a geometria do sistema e o fluxo de calor gerado durante a operação do motor. A escolha das equações e correlações para descrever o comportamento do sistema foi crucial e, em muitos casos, baseada em trabalhos anteriores, como o de Vajjha et al. (2009), que utilizou uma mistura de etilenoglicol e água em proporção 60:40 em seus experimentos. Para o cálculo das propriedades termofísicas dos nanofluidos, foram empregadas correlações empíricas considerando a influência da concentração, tipo e tamanho das nanopartículas. Como a geometria do sistema de arrefecimento é complexa, e não existem correlações específicas para ela na literatura, utilizaram-se correlações desenvolvidas para outras geometrias, aceitando-se as limitações inerentes a essa aproximação. A complexidade do modelo exigiu a consideração cuidadosa de variáveis como a condutividade térmica e a viscosidade dos nanofluidos, reconhecendo que o aumento da viscosidade com a adição das nanopartículas pode impactar a eficiência do sistema como um todo.

2. Validação do Modelo com Dados Experimentais

Após o desenvolvimento, o modelo matemático precisou ser validado. Devido à impossibilidade de obter dados experimentais próprios, a validação foi realizada utilizando dados experimentais encontrados na literatura. Essa validação permitiu verificar a precisão e a confiabilidade do modelo matemático antes de utilizá-lo para simular o desempenho dos nanofluidos. Os parâmetros do motor utilizados na validação foram extraídos de trabalhos experimentais pré-existentes, como os de Trapy et al. (1990), para garantir a comparabilidade e a replicabilidade dos resultados. A determinação da taxa de calor gerada na combustão (Q̇fonte) também foi crucial para a validação, utilizando-se estimativas do trabalho de Trapy et al. que consideram as parcelas de energia destinadas ao movimento das rodas, dissipadas por atrito, exaustão e transferência de calor. O conceito de massa sensível foi empregado na determinação da massa do bloco do motor que efetivamente participa da troca de calor, com base em estudos como o de Torregrossa et al. (2008). A escolha da massa sensível foi um processo iterativo, visando obter valores de temperatura simulados que fossem plausíveis e compatíveis com a realidade física do sistema. A validação do modelo incluiu a comparação entre as previsões do modelo e os dados experimentais disponíveis na literatura, permitindo avaliar a acurácia das simulações.

3. Propriedades Termofísicas dos Nanofluidos e Fluido Base

A determinação precisa das propriedades termofísicas do fluido de arrefecimento, tanto do fluido base (etilenoglicol e água) quanto dos nanofluidos, foi fundamental para a confiabilidade dos resultados. Para o fluido base, as propriedades foram calculadas utilizando ajustes de curva a partir de uma vasta base de dados do software EES (Engineering Equation Solver). Quanto aos nanofluidos, a condutividade térmica e a viscosidade foram consideradas propriedades-chave. O cálculo dessas propriedades envolveu o uso de correlações empíricas encontradas na literatura, muitas delas baseadas nos trabalhos de Vajjha et al. (2009), considerando a influência do tipo, formato e concentração das nanopartículas (Al₂O₃, CuO e SiO₂). A escolha destas correlações considerou a mistura de etilenoglicol e água em 60% e 40%, respectivamente, buscando maior fidelidade aos fluidos utilizados no estudo. Entretanto, a precisão dessas correlações, desenvolvidas para outras geometrias, impactou os resultados e justifica futuros estudos com correlações mais específicas para a geometria da pesquisa. A influência da temperatura nas propriedades termofísicas também foi considerada nas correlações empregadas. Dados adicionais sobre as propriedades das nanopartículas foram compilados e usados nas correlações.

III.Resultados e Discussão Desempenho dos Nanofluidos

Os resultados das simulações mostraram que o aumento na concentração das nanopartículas (Al₂O₃, CuO e SiO₂) melhora o desempenho do nanofluido na redução do tempo de aquecimento, mas sem alcançar resultados superiores ao fluido base. A análise dos resultados considera o tempo necessário para atingir 90°C. O estudo observou uma pequena influência do diâmetro das nanopartículas no desempenho. Apesar da melhoria em relação ao fluido base, os resultados não foram significativos o suficiente para justificar a utilização de nanofluidos, especialmente considerando o potencial aumento na perda de carga e no consumo de combustível. O modelo precisa de aperfeiçoamentos para simular com precisão o perfil de temperatura do FDA.

1. Desempenho dos Nanofluidos em Diferentes Concentrações

A principal análise dos resultados focou no desempenho dos nanofluidos com diferentes concentrações de nanopartículas. Observou-se uma correlação positiva entre a concentração de nanopartículas (Al₂O₃, CuO e SiO₂) e o desempenho na redução do tempo de aquecimento. Nanofluidos com concentrações mais elevadas apresentaram tempos de aquecimento menores, indicando uma relação proporcional entre a fração volumétrica de nanopartículas e a melhoria no tempo de aquecimento. Entretanto, é importante ressaltar que, mesmo com o aumento da concentração, nenhum dos nanofluidos testados superou o desempenho do fluido base (mistura de etilenoglicol e água), sugerindo a necessidade de investigações adicionais para otimizar a formulação dos nanofluidos. A temperatura limite considerada para a análise foi de 90°C, próxima aos 95°C estabelecidos por Trapy et al. (1990) para água, representando a temperatura de abertura da válvula termostática e o início da circulação do fluido pelo radiador. Apesar de todos os nanofluidos terem apresentado melhor desempenho que o fluido base, a diferença de temperatura alcançada foi inferior a 1°C em todos os casos.

2. Análise Comparativa dos Tipos de Nanopartículas

A pesquisa também comparou o desempenho de nanofluidos contendo diferentes tipos de nanopartículas (Al₂O₃, CuO e SiO₂). Embora se esperasse que o Al₂O₃, com maior condutividade térmica, apresentasse o melhor desempenho, os resultados mostraram que o CuO teve o melhor desempenho, seguido pelo Al₂O₃ e, por fim, pelo SiO₂. Essa observação sugere que a condutividade térmica não é o único fator determinante na eficiência do nanofluido como fluido de arrefecimento. Outros fatores, como o calor específico das nanopartículas, podem influenciar significativamente o desempenho. O CuO, apesar de melhor desempenho, apresentou apenas um espécime (com 6% de concentração) que ultrapassou os 23,5°C. A análise incluiu gráficos detalhados da evolução da temperatura do bloco do motor e do fluido de arrefecimento, permitindo uma visualização clara da influência da concentração e do tipo de nanopartícula no desempenho. A pouca influência do diâmetro das nanopartículas no desempenho final foi outra observação importante, reforçando que a concentração e o tipo de nanopartícula são os fatores mais relevantes.

3. Discussão dos Resultados e Limitações do Modelo

A discussão dos resultados enfatiza a necessidade de estudos complementares, devido à falta de melhorias significativas no tempo de aquecimento em relação ao fluido base, apesar da melhoria observada nos nanofluidos em comparação com este. O modelo matemático utilizado apresentou limitações, principalmente na capacidade de replicar o perfil de temperatura do fluido de arrefecimento encontrado na literatura, indicando a necessidade de aperfeiçoamentos futuros para maior precisão. O aumento da viscosidade dos nanofluidos, como consequência da adição das nanopartículas, foi identificado como um fator crítico que precisa ser analisado em mais detalhe em estudos futuros. O aumento da viscosidade pode resultar em maior perda de carga no sistema, demandando maior potência de bombeamento e consequentemente maior consumo de combustível, o que pode anular ou até mesmo superar o ganho na transferência de calor. A simplicidade do modelo utilizado, que não considera o aumento da potência de bombeamento, representa uma das principais limitações para uma avaliação completa da eficiência do sistema. Assim, o estudo conclui que, apesar de promissor, o uso de nanofluidos como fluido de arrefecimento necessita de mais investigações para comprovar sua viabilidade prática e superar as limitações observadas.

IV.Conclusão e Trabalhos Futuros

A pesquisa concluiu que, embora os nanofluidos apresentem um desempenho ligeiramente melhor que o fluido base em termos de tempo de aquecimento, os resultados não são significativos o suficiente para justificar sua implementação prática. Trabalhos futuros devem investigar o impacto do aumento da viscosidade na perda de carga e no consumo de combustível, além de aperfeiçoar o modelo matemático para melhor simular o perfil de temperatura do FDA e diferentes geometrias de motores de combustão interna. O estudo destaca a importância de analisar a eficiência global do sistema, considerando tanto o ganho na transferência de calor quanto o aumento na potência de bombeamento.

1. Conclusões Principais sobre o Desempenho dos Nanofluidos

A principal conclusão do estudo é que, embora os nanofluidos tenham demonstrado um desempenho ligeiramente melhor que o fluido base na redução do tempo de aquecimento do motor, a diferença não foi significativa o suficiente para justificar sua adoção prática. Apesar de ter sido observada uma relação proporcional entre a concentração de nanopartículas e a melhoria no desempenho, em nenhum caso os nanofluidos superaram o fluido base em termos de redução do tempo de aquecimento para atingir a temperatura limite de 90°C (próxima à temperatura de 95°C utilizada por Trapy et al., 1990, para água). Essa constatação ressalta a necessidade de investigações mais aprofundadas para otimizar a formulação e aplicação de nanofluidos como fluido de arrefecimento em motores de combustão interna. A análise comparativa entre os diferentes tipos de nanopartículas (Al₂O₃, CuO e SiO₂) mostrou que o CuO apresentou o melhor desempenho, embora ainda abaixo do esperado, indicando que a condutividade térmica não é o único fator determinante. O modelo utilizado, embora tenha apontado melhorias, mostrou-se simplista e necessita de refinamentos para uma análise mais completa.

2. Direções para Trabalhos Futuros e Considerações Adicionais

O estudo aponta diversas direções para pesquisas futuras. Uma delas é a investigação detalhada sobre o impacto do aumento da viscosidade dos nanofluidos na perda de carga do sistema de arrefecimento. O aumento da viscosidade, resultante da adição das nanopartículas, pode exigir maior potência de bombeamento, o que pode anular ou mesmo superar os benefícios da melhoria na transferência de calor, levando a um maior consumo de combustível. Portanto, é necessário avaliar a eficiência global do sistema, considerando não apenas a transferência de calor, mas também o consumo de energia pela bomba. Outra recomendação para trabalhos futuros é o aperfeiçoamento do modelo matemático, buscando maior precisão na simulação do perfil de temperatura do fluido de arrefecimento e sua adaptação a diferentes geometrias de sistemas de arrefecimento. A simplicidade do modelo atual, que não calcula o aumento da potência de bombeamento, é uma limitação importante para uma avaliação mais completa da viabilidade da utilização de nanofluidos. Em resumo, embora resultados ligeiramente melhores que o fluido base tenham sido observados, estudos adicionais são imprescindíveis para avaliar a real viabilidade e o custo-benefício da implementação de nanofluidos em sistemas de arrefecimento automotivo.