
Perda de Circulação: Fluidos Não-Newtonianos
Informações do documento
Autor | Cássio Luís Schneider |
instructor/editor | Prof. Dr. Silvio Luiz de Mello Junqueira |
Escola | Universidade Tecnológica Federal do Paraná |
Curso | Engenharia Mecânica |
Tipo de documento | Dissertação |
Local | Curitiba |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 2.19 MB |
Resumo
I.Estudo Experimental da Perda de Circulação de Fluidos Não Newtonianos em Meios Porosos Fraturados
Esta dissertação de mestrado investiga experimentalmente o fenômeno de perda de circulação de fluidos não newtonianos em canais parcialmente porosos e fraturados, um problema crucial na engenharia de petróleo durante a perfuração de poços. O trabalho utiliza uma unidade experimental com uma seção de testes retangular simulando um poço com fratura, monitorando pressão, vazão e temperatura. Soluções aquosas de Carbopol, goma xantana, carboximetilcelulose e glicerina foram empregadas como fluidos de trabalho, representando diferentes comportamentos reológicos. O objetivo principal é analisar a influência de parâmetros como o número de Reynolds, a viscosidade do fluido, a vazão de fuga pela fratura, e a permeabilidade do meio poroso (representado por filtros cerâmicos) no gradiente de pressão gerado durante a perda de fluido.
1. Introdução e Revisão Bibliográfica
Esta seção inicia contextualizando a importância dos estudos sobre escoamento de fluidos não newtonianos em meios porosos, especialmente no contexto da perfuração de poços de petróleo e gás. A perda de circulação é apresentada como um fenômeno crítico que impacta a operação do poço, sendo intensificado pela presença de fraturas na formação rochosa e gradientes de pressão. A dissertação propõe investigar experimentalmente o escoamento de fluidos não newtonianos em um canal parcialmente poroso e fraturado, caracterizando a perda de circulação. A revisão bibliográfica aborda estudos prévios sobre escoamento em meios porosos, destacando trabalhos que analisaram a influência de parâmetros como o número de Reynolds, a viscosidade do fluido, e a permeabilidade do meio poroso na perda de pressão. Diversos autores e suas contribuições são mencionados, incluindo investigações analíticas e experimentais sobre o comportamento de fluidos em canais com regiões porosas e livres, modelagem numérica usando métodos como o Lattice Boltzmann, e estudos sobre a invasão de fluidos em rochas reservatório. A revisão também cobre estudos específicos sobre perda de circulação em perfuração, destacando a escassez de trabalhos experimentais considerando a perda por fratura usando materiais porosos para representar a formação rochosa. Finalmente, são citadas pesquisas que analisam o uso de materiais de controle de perda de circulação (LCM) e a influência de parâmetros de perfuração na perda de fluido.
2. Materiais e Métodos
A seção de materiais e métodos descreve detalhadamente o aparato experimental utilizado no estudo. A unidade experimental consiste em uma seção de testes retangular que simula o conjunto poço-formação com uma fratura, equipada com medidores de pressão, vazão e temperatura para monitorar o escoamento. Os fluidos de trabalho utilizados são soluções aquosas de Carbopol, goma xantana, carboximetilcelulose (CMC) e glicerina, representando diferentes tipos de fluidos não newtonianos, com suas características reológicas detalhadas. A formação rochosa é simulada usando filtros cerâmicos de espuma reticulada, com diferentes aberturas de células para variar a permeabilidade do meio poroso. A metodologia inclui a variação sistemática de parâmetros como o número de Reynolds do escoamento, a vazão de fuga pela fratura, a viscosidade do fluido, o tipo de fluido e a abertura de células do meio poroso. A seção também descreve o procedimento experimental, incluindo o preparo das soluções, a calibração dos equipamentos de medição (transmissores de pressão, medidor de vazão mássica do tipo coriolis e termopar), e a aquisição de dados utilizando uma placa da National Instruments e software LabVIEW. A precisão da medição do número de Reynolds é calculada, indicando uma incerteza de 6,2%. Sugestões para aprimoramento da unidade experimental são apresentadas, como a substituição dos materiais da seção de testes (PVC e acrílico) por aço inox e vidro temperado para suportar pressões mais elevadas.
3. Resultados e Discussão
Nesta seção, os resultados dos experimentos são apresentados e discutidos. São analisados os efeitos da variação de parâmetros do escoamento (número de Reynolds e vazão de fuga), do fluido (viscosidade e tipo de fluido), e do meio poroso (abertura de células) na perda de circulação. Gráficos mostram a evolução temporal da vazão e da pressão diferencial ao longo da fratura para diferentes condições experimentais. A análise inclui a comparação do comportamento de fluidos com diferentes comportamentos reológicos (Newtoniano e não-Newtonianos), modelados pelo modelo Herschel-Bulkley e Lei de Potência. Os resultados demonstram que todos os parâmetros testados influenciam significativamente as configurações de pressão durante a perda de circulação, com impacto direto no gradiente de pressão entre o canal e a fratura. A influência da viscosidade do fluido é evidenciada, assim como o efeito da permeabilidade do meio poroso. Para números de Reynolds mais elevados e vazões de fuga maiores, a influência da abertura de células no meio poroso torna-se mais pronunciada. A seção compara e contrasta os resultados obtidos com diferentes fluidos e meios porosos, discutindo as implicações para o entendimento e controle da perda de circulação.
4. Conclusões e Trabalhos Futuros
As conclusões resumem os principais achados da pesquisa, reforçando a influência de diversos parâmetros (número de Reynolds, viscosidade, tipo de fluido, permeabilidade do meio poroso, e vazão de fuga) na perda de circulação de fluidos não newtonianos em meios porosos fraturados. A pesquisa demonstra a importância de se considerar a reologia dos fluidos e as características do meio poroso para uma predição acurada do comportamento do sistema durante a perfuração. A análise dos resultados contribui para o entendimento do fenômeno de perda de circulação, com implicações para o desenvolvimento de estratégias de mitigação. Finalmente, a seção apresenta sugestões para trabalhos futuros, focando principalmente em expandir a gama de estudos utilizando o aparato experimental, propondo modificações no equipamento para permitir experimentos com pressões mais elevadas, permitindo assim a utilização de soluções mais concentradas de fluidos não newtonianos e vazões mais altas. Isso permitirá uma investigação mais completa do comportamento do sistema em condições mais extremas.
II.Caracterização Reológica dos Fluidos e Modelagem do Escoamento
A dissertação detalha a caracterização reológica dos fluidos utilizados, focando em seus modelos constitutivos. Fluidos não newtonianos, como soluções de Carbopol e goma xantana, foram modelados utilizando o modelo Herschel-Bulkley e o modelo Lei de Potência, respectivamente. O estudo utiliza o número de Reynolds generalizado para comparar o escoamento de fluidos newtonianos e não newtonianos. A análise considerou a influência da viscosidade, tensão limite de escoamento, e índice de consistência na perda de circulação.
1. Caracterização dos Fluidos Não Newtonianos
Esta seção descreve a caracterização reológica dos fluidos não newtonianos utilizados no estudo experimental. São apresentadas as soluções aquosas de Carbopol (CBP), goma xantana (GX), carboximetilcelulose (CMC) e glicerina. A escolha desses fluidos se justifica pela sua ampla aplicação na indústria e seus diferentes comportamentos reológicos. O Carbopol, um polímero de alto peso molecular, e a goma xantana, um polissacarídeo, são destacados como exemplos importantes de fluidos representados pelo modelo Herschel-Bulkley (HB). Suas propriedades como espessantes, agentes de suspensão e estabilizadores são mencionadas, assim como suas aplicações em cosméticos, farmacêuticos e na indústria alimentícia. A goma xantana, em particular, é descrita como um aditivo eficaz para fluidos de perfuração devido à sua capacidade de estabilizar emulsões, reduzir a dispersão, pouca susceptibilidade a variações de temperatura e comportamento pseudoplástico. A CMC é apresentada como um fluido que se ajusta ao modelo Lei de Potência. A seção também aborda metodologias de preparo e manuseio das soluções, essenciais para garantir a reprodutibilidade dos resultados experimentais e a consistência dos testes. A viscosidade das soluções é um parâmetro crucial, ajustado para atingir faixas específicas para comparação entre os diferentes fluidos a uma mesma taxa de cisalhamento.
2. Modelagem do Escoamento e Número de Reynolds Generalizado
Esta parte foca na modelagem do escoamento de fluidos, tanto newtonianos quanto não newtonianos. Para caracterizar o escoamento de forma abrangente, independente do comportamento do fluido, a dissertação utiliza o número de Reynolds generalizado, proposto por Metzner e Reed (1955). Este número é derivado da relação entre o fator de atrito e parâmetros reológicos, sendo aplicável a fluidos não newtonianos descritos pelo modelo Lei de Potência. A importância do número de Reynolds generalizado é ressaltada, pois permite a análise das propriedades reológicas de fluidos não newtonianos em uma mesma escala, comparando-os com fluidos newtonianos. Melton e Saunders (1956) são citados por empregarem essa correlação em um método geral de análise de escoamento de fluidos não newtonianos, avaliando fluidos típicos da indústria de petróleo. A dissertação também menciona o trabalho de Kelessidis et al. (2011), que investigaram a influência da adição de CMC e Carbopol nas propriedades reológicas de fluidos de perfuração, utilizando modelos Herschel-Bulkley e Lei de Potência para representar o comportamento dos fluidos. A influência da concentração de polímero no índice de consistência e tensão limite de escoamento é discutida.
III.Metodologia Experimental e Resultados
A metodologia experimental envolveu testes em uma unidade experimental com medição precisa de vazão, pressão, e temperatura. Foram variadas as condições de escoamento, tipo de fluido, e permeabilidade do meio poroso, analisando-se o impacto na vazão de fuga e no gradiente de pressão. Os resultados demonstram a influência significativa de todos os parâmetros testados na perda de circulação, mostrando como alterações na viscosidade, número de Reynolds, vazão de fuga, e abertura das células do meio poroso afetam as configurações de pressão no sistema fraturado.
1. Descrição da Unidade Experimental
A metodologia empregada na pesquisa se baseou em uma unidade experimental desenvolvida especificamente para simular o escoamento de fluidos em um meio poroso fraturado. A unidade consiste em uma seção de testes retangular, construída em PVC e acrílico, representando a simplificação do espaço anular de um poço com uma fratura discreta. Uma das faces é transparente (acrílico) para visualização do escoamento. O sistema inclui uma bomba para controlar a vazão do fluido, uma válvula para simular a abertura da fratura, e medidores de pressão, vazão e temperatura para monitoramento. O meio poroso é simulado por filtros cerâmicos de espuma reticulada, com diferentes aberturas de células (MP10 e MP20), permitindo a investigação do impacto da permeabilidade na perda de circulação. A faixa de vazão utilizada nos experimentos variou de 90 a 730 l/h, com pressão manométrica de 2,0 bar e rotação de 46 a 278 rpm. O sistema de medição envolve um termopar tipo T (modelo TIM11) para medir a temperatura do fluido, um medidor de vazão mássica coriolis com comunicação serial RS485, e transmissores de pressão relativa e diferencial. A aquisição de dados é feita por uma placa da National Instruments (modelo cDAQ – 9174), com módulos de entrada e saída, conectados a um computador via USB. A calibração dos equipamentos foi rigorosamente verificada, incluindo a comparação da vazão medida pelo medidor coriolis com medições manuais, garantindo a acurácia dos dados.
2. Procedimentos Experimentais e Variáveis
Os experimentos envolveram a variação sistemática de parâmetros para avaliar sua influência na perda de circulação. Foram utilizadas soluções aquosas de Carbopol (CBP05, CBP10, CBP20), goma xantana (GX), carboximetilcelulose (CMC10) e uma mistura água-glicerina (GLI10) como fluidos de trabalho, representando diferentes viscosidades e comportamentos reológicos (Newtoniano e não-Newtoniano). O número de Reynolds do escoamento, a vazão de fuga pela fratura (variando de 5% a 50%), a viscosidade do fluido, o tipo de fluido e a abertura de células do meio poroso foram as variáveis independentes controladas. A vazão é ajustada em tempo real via LabVIEW para atingir o número de Reynolds desejado, considerando as expressões específicas para fluidos representados pelos modelos Lei de Potência e Herschel-Bulkley. Procedimentos de limpeza entre os testes com diferentes fluidos foram implementados para evitar contaminação. A influência da temperatura foi controlada pelo monitoramento da temperatura da solução durante os testes. O objetivo principal foi avaliar como cada parâmetro afeta a vazão de fuga pela fratura, o gradiente de pressão gerado entre o canal e a fratura, e o gradiente de pressão ao longo do canal. A análise da pressão diferencial ao longo do tempo e da vazão em cada teste forneceu dados essenciais para a compreensão do fenômeno.
3. Análise dos Resultados Experimentais
Os resultados obtidos são apresentados e analisados através de gráficos e tabelas. As Figuras 4.4 (a) e (b) mostram, respectivamente, a vazão e a pressão diferencial ao longo da fratura ao longo do tempo, demonstrando o impacto da velocidade de abertura da válvula na cinética do processo. As Figuras 4.6 a 4.10 ilustram curvas de escoamento e viscosidade para as diferentes soluções, mostrando a relação entre a concentração do gel clínico (Carbopol) e a viscosidade resultante, assim como o ajuste aos modelos Herschel-Bulkley (HB) e Lei de Potência (PL). A Figura 4.12 analisa a pressão diferencial em função do tempo para diferentes fluidos, mostrando o efeito da vazão de fuga na queda de pressão. As Figuras 4.16 e 4.19 mostram a influência do número de Reynolds e da viscosidade na vazão e na pressão diferencial, respectivamente, com a vazão final de retorno mantida constante em 30%. A seção também inclui uma análise detalhada dos efeitos da variação do fluido de trabalho (incluindo um fluido Newtoniano – GLI10 – como comparação), da abertura de células do meio poroso (MP10 e MP20) e do número de Reynolds no canal, observando as mudanças na vazão e na pressão diferencial ao longo da fratura. Os resultados mostram que o aumento da abertura de células do meio poroso e do número de Reynolds resulta em maiores pressões diferenciais, especialmente em vazões de fuga elevadas (50%).
IV.Análise dos Resultados e Conclusões
A análise dos dados experimentais demonstra a relação entre os parâmetros de escoamento, propriedades do fluido, características do meio poroso, e a magnitude da perda de circulação. A dissertação destaca a importância de considerar o comportamento reológico complexo dos fluidos não newtonianos na previsão e controle da perda de fluido em reservatórios de petróleo. Os resultados contribuem para uma melhor compreensão do fenômeno e podem auxiliar no desenvolvimento de estratégias para mitigar a perda de circulação durante a perfuração. Sugestões para trabalhos futuros incluem testes com pressões mais elevadas e diferentes tipos de meios porosos.
1. Sumário dos Resultados Experimentais
Esta seção apresenta uma síntese dos resultados obtidos nos experimentos, focando nas relações entre as variáveis controladas (número de Reynolds, vazão de fuga, viscosidade, tipo de fluido e abertura de células do meio poroso) e as variáveis de resposta (vazão e pressão diferencial). Os dados, apresentados graficamente em diversas figuras, demonstram consistentemente que todos os parâmetros influenciam as configurações de pressão durante a perda de circulação, impactando diretamente o gradiente de pressão entre o canal e a fratura. A análise comparativa entre fluidos newtonianos (água-glicerina) e não-newtonianos (Carbopol, Goma Xantana, CMC) revela diferenças significativas no comportamento de escoamento e na pressão diferencial, especialmente em baixas taxas de cisalhamento. A influência da viscosidade é clara, com fluidos mais viscosos exibindo maiores pressões. A abertura das células do meio poroso também demonstra um efeito considerável, sendo que poros menores (MP20) resultam em maior perda de carga e pressões mais elevadas, principalmente em altas vazões de fuga e números de Reynolds mais altos. A análise detalhada das curvas de vazão e pressão diferencial demonstra o impacto da velocidade de abertura da válvula que controla a fratura, bem como a relação entre o número de Reynolds e as pressões medidas, tanto antes como depois da abertura da fratura.
2. Discussão e Interpretação dos Resultados
Nesta seção, os resultados são interpretados à luz dos modelos reológicos e da física do escoamento em meios porosos. A discussão se concentra na relação entre a reologia dos fluidos (Newtonianos e não-Newtonianos), modelados pelos modelos Herschel-Bulkley e Lei de Potência, e o comportamento observado nos testes. A influência da viscosidade, tensão limite de escoamento e índice de consistência na perda de circulação é analisada. A influência da permeabilidade do meio poroso, representada pela abertura das células dos filtros cerâmicos, é detalhada, mostrando que a maior restrição ao fluxo em meios com poros menores (MP20) acarreta maiores perdas de carga e consequentemente maiores pressões diferenciais, especialmente em altas vazões de fuga e altos números de Reynolds. A inconsistência observada na vazão de fuga intermediária para o meio poroso MP10 em certos testes é discutida, atribuída a uma incoerência no funcionamento da válvula de controle. A importância do número de Reynolds generalizado na comparação entre fluidos newtonianos e não-newtonianos é reafirmada. A análise considera os efeitos combinados dos diferentes parâmetros testados e suas interações, buscando uma compreensão holística do fenômeno de perda de circulação.
3. Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros
As conclusões da dissertação resumem os principais achados da pesquisa experimental. A pesquisa demonstrou a influência significativa do número de Reynolds, da viscosidade do fluido, do tipo de fluido, da permeabilidade do meio poroso e da vazão de fuga na perda de circulação. A importância de considerar a reologia complexa dos fluidos não newtonianos na modelagem e previsão da perda de fluido é destacada. Os resultados contribuem para uma melhor compreensão do fenômeno e podem auxiliar no desenvolvimento de estratégias para mitigar a perda de circulação em operações de perfuração. A dissertação finaliza com sugestões para trabalhos futuros. Uma sugestão importante é a melhoria da unidade experimental, propondo a substituição dos materiais da seção de testes (PVC e acrílico) por materiais mais resistentes (aço inox e vidro temperado), permitindo a realização de testes com pressões mais altas e fluidos mais concentrados, expandindo assim a gama de condições operacionais investigadas. Outras sugestões poderiam incluir a avaliação de outros tipos de meios porosos e a incorporação de modelos numéricos mais sofisticados para simular o fenômeno de perda de circulação.