Imobilização de lipases em bucha vegetal: preparação de ésteres de aroma

Imobilização de Lipases em Bucha Vegetal

Informações do documento

Autor

Manuella Miranda Alves

instructor Profª. Drª. Maria Da Graça Nascimento (Orientadora)
Escola

Universidade Federal de Santa Catarina

Curso Química - Bacharelado
Tipo de documento Relatório de Estágio Supervisionado II
Local Florianópolis
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.66 MB

Resumo

I.Imobilização de Lipases em Bucha Vegetal para Síntese de Ésteres de Aroma

Este trabalho investiga a imobilização de lipases em bucha vegetal ( Luffa cylindrica) como suporte para a síntese eficiente de ésteres de aroma, utilizando métodos de biocatálise. Foram estudadas diferentes lipases (F-AP15 e PS-SD apresentaram melhores resultados, com conversões acima de 90% para octanoato de n-pentila), solventes orgânicos (hexano e heptano se mostraram mais eficientes), e a influência de líquidos iônicos (ILs) em misturas com solventes orgânicos (MTBE e éter etílico). A reutilização do biocatalisador imobilizado foi avaliada, demonstrando a viabilidade do processo. A bucha vegetal mostrou-se um suporte promissor devido ao seu baixo custo e disponibilidade, sendo comparada a outros suportes como filmes de amido e gel de ágar na produção de diversos ésteres, incluindo acetato de geranoila, acetato de citroneila, acetato de benzila e acetato de n-octila. As análises de microscopia eletrônica de varredura (MEV) e análise termogravimétrica (TGA) foram usadas para caracterizar o suporte e a imobilização da lipase.

1. Seleção e Otimização de Lipases para Imobilização

O estudo iniciou com a avaliação da eficiência de diferentes lipases na preparação de octanoato de n-pentila utilizando a bucha vegetal como suporte. As lipases F-AP15 e PS-SD demonstraram os melhores resultados, atingindo conversões de 94% e 93%, respectivamente. A lipase F-AP15 foi selecionada para estudos posteriores devido a sua alta performance na síntese do éster alvo. A pesquisa também investigou a influência da massa de lipase utilizada (10, 20 e 30 mg) no processo, observando-se uma correlação positiva entre a quantidade de enzima e a conversão do produto, mas com diminuição da conversão em reutilizações subsequentes. Essa etapa foi crucial para determinar a lipase ideal e a quantidade ótima para o processo de imobilização e posterior síntese dos ésteres de aroma, otimizando a eficiência e o custo do processo. A escolha da lipase ideal para a imobilização é fundamental para garantir a alta conversão do produto e a eficiência do processo como um todo.

2. Influência do Tempo Temperatura e Solvente na Reação de Esterificação

Após a seleção da lipase, o estudo focou na otimização das condições reacionais. O tempo de reação foi analisado, mostrando que em 24 horas se obteve uma conversão de 93% para o octanoato de n-pentila. A temperatura ideal para a reação foi determinada em 25°C. A influência da polaridade do solvente orgânico foi crucial, com hexano e heptano apresentando as maiores conversões (93% e 99%, respectivamente), enquanto solventes polares mostraram conversões muito baixas. Essa etapa destacou a importância da seleção adequada do tempo, temperatura e solvente para maximizar a eficiência da reação de esterificação catalisada pela lipase imobilizada em bucha vegetal. A otimização destas variáveis é essencial para reduzir custos e aumentar a produtividade do processo. A influência do solvente destaca a necessidade de escolher solventes apolares para melhores resultados.

3. Efeito de Líquidos Iônicos LIs na Esterificação

A pesquisa investigou o efeito do uso de misturas de solventes orgânicos com líquidos iônicos (LIs) na preparação do octanoato de n-pentila. Misturas como MTBE/[BMIM][PF6], MTBE/[BMIM][BF4] e MTBE/[BMIM][SCN] com lipase imobilizada em bucha vegetal apresentaram excelentes resultados, com conversões acima de 99%. Resultados similares foram observados com outras combinações de LIs e suportes (gel de ágar e filme de amido). Esta parte do estudo demonstra o potencial sinérgico entre líquidos iônicos e lipases imobilizadas para a síntese de ésteres, abrindo novas possibilidades para a otimização de processos catalíticos em química verde. A utilização de líquidos iônicos é uma abordagem inovadora para a síntese de ésteres, proporcionando conversões muito altas em relação aos métodos tradicionais.

4. Comparação de Suportes para Imobilização e Síntese de Outros Ésteres

A bucha vegetal foi comparada com outros suportes (filmes de amido de diferentes fontes e gel de ágar) na imobilização de lipases para a síntese de outros ésteres de aroma (acetatos de geranoila, citroneila, benzila e n-octila). A lipase PS-SD de Burkholderia cepacia foi usada nestes experimentos. A bucha vegetal mostrou-se eficiente, com conversões comparáveis ou superiores aos outros suportes, principalmente quando comparada à lipase livre (não imobilizada). Essa comparação de suportes destacou as vantagens da bucha vegetal em termos de custo, disponibilidade e eficácia na imobilização e reutilização da lipase, tornando-a uma opção atraente para a produção sustentável de ésteres de aroma. A vantagem da bucha vegetal em relação aos demais suportes reside na sua facilidade de manuseio, baixo custo e excelente capacidade de imobilização da enzima.

5. Caracterização do Suporte e Métodos Analíticos

A bucha vegetal foi caracterizada por meio de análise de área superficial, microscopia eletrônica de varredura (MEV) e análise termogravimétrica (TGA). A MEV permitiu a visualização da adsorção da lipase na superfície do suporte, confirmando a imobilização. A TGA forneceu informações sobre a estabilidade térmica da bucha vegetal. A quantidade de água no suporte foi determinada pelo método de Karl-Fischer. A quantificação dos ésteres sintetizados foi realizada por cromatografia gasosa (CG) e ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN de ¹H). A caracterização completa do suporte e os métodos analíticos utilizados garantem a confiabilidade dos resultados obtidos no estudo, assegurando a qualidade da pesquisa e a reprodutibilidade dos experimentos. As técnicas analíticas empregadas são de alta precisão e amplamente utilizadas na caracterização de materiais e na quantificação de produtos de reações químicas.

II.Influência de Fatores Reacionais na Síntese de Octanoato de n pentila

A síntese de octanoato de n-pentila foi otimizada considerando a influência do tempo de reação (24 horas apresentou alta conversão), temperatura (25°C foi ideal), e a polaridade do solvente. Solventes apolares como hexano e heptano promoveram melhores conversões comparados a solventes polares. O estudo com líquidos iônicos (ILs) em combinação com solventes orgânicos (MTBE e éter etílico) mostrou resultados promissores, aumentando significativamente a conversão em certos casos, acima de 99%. A utilização de diferentes massas de lipase também foi estudada, mostrando a relação entre a quantidade de enzima e a conversão do produto.

1. Influência do Tempo de Reação na Síntese de Octanoato de n pentila

Um estudo detalhado sobre a influência do tempo de reação na formação de octanoato de n-pentila foi realizado. Observou-se uma relação direta entre o tempo e a conversão do éster, com um tempo ótimo de 24 horas, resultando em uma conversão de 93%. Este resultado demonstra a importância da otimização do tempo de reação para maximizar a eficiência do processo de síntese. Tempos de reação mais curtos podem resultar em conversões incompletas, enquanto tempos excessivamente longos podem levar à degradação da enzima ou a reações colaterais indesejadas, comprometendo o rendimento final. A determinação do tempo ideal para a reação permite a otimização dos recursos utilizados no processo, maximizando a produtividade e a eficiência econômica da produção do éster.

2. Efeito da Temperatura na Conversão do Éster

A temperatura desempenha um papel fundamental nas reações catalíticas enzimáticas. Neste estudo, a influência da temperatura na síntese de octanoato de n-pentila foi avaliada, constatando-se que a temperatura ideal para maximizar a conversão do éster foi de 25°C, resultando em conversões próximas a 98%. Temperaturas mais elevadas podem levar à desnaturação da lipase, reduzindo sua atividade catalítica e, consequentemente, a conversão do produto. A escolha da temperatura ideal demonstra a busca por uma reação eficiente e economicamente viável, utilizando temperaturas próximas à ambiente e evitando o consumo excessivo de energia para aquecimento ou resfriamento. O controle preciso da temperatura é crucial para garantir a eficácia do processo catalítico.

3. Influência da Polaridade do Solvente na Esterificação

A escolha do solvente orgânico é um fator crítico na síntese enzimática de ésteres, influenciando diretamente a atividade e a estabilidade da lipase. Neste trabalho, observou-se uma forte dependência da conversão do octanoato de n-pentila em relação à polaridade do solvente. Solventes apolares, como hexano e heptano, mostraram-se significativamente mais eficazes, com conversões de 93% e 99%, respectivamente. Em contraste, solventes polares, tais como acetonitrila, acetona, éter etílico, diclorometano e clorofórmio, resultaram em conversões inferiores a 3%. Esses resultados demonstram a importância de se considerar a compatibilidade do solvente com a enzima e os substratos para se alcançar maior eficiência na síntese. A escolha do solvente adequado se mostra fundamental para o sucesso da reação.

4. Utilização de Misturas de Solventes Orgânicos e Líquidos Iônicos LIs

A investigação estendeu-se ao uso de misturas de solventes orgânicos com líquidos iônicos (LIs) para otimizar a síntese. A combinação de éter etílico (EE) ou MTBE com diferentes LIs ([BMIM][PF6], [BMIM][BF4], [BMIM][SCN], [BMIM][Cl]) proporcionou resultados expressivos. Em alguns casos, foram observadas conversões superiores a 99%, demonstrando o potencial sinérgico desses sistemas. As melhores combinações foram MTBE/[BMIM][PF6], MTBE/[BMIM][BF4] e MTBE/[BMIM][SCN] com a lipase imobilizada na bucha vegetal, mostrando a capacidade dos líquidos iônicos em melhorar a eficiência da reação de esterificação. Essa abordagem demonstra um avanço significativo em direção a processos mais sustentáveis e eficientes, combinando biocatalisadores com solventes inovadores.

5. Reutilização do Sistema Bucha Vegetal Lipase

A capacidade de reutilização do sistema bucha vegetal/lipase foi avaliada, demonstrando um aspecto crucial para a viabilidade econômica do processo. O sistema foi reutilizado até cinco vezes, com conversões variando de 14% a 80%, dependendo do método de imobilização e da massa de lipase utilizada. Apesar da diminuição da conversão em reutilizações subsequentes, a possibilidade de reutilização do biocatalisador representa uma significativa vantagem em termos de custo e sustentabilidade, reduzindo a necessidade de produção e descarte de enzima em cada ciclo reacional. A análise da reutilização do sistema é crucial para a avaliação da viabilidade do processo, considerando aspectos econômicos e ambientais.

III.Comparação de Suportes para a Síntese de Diversos Ésteres de Aroma

A eficiência da bucha vegetal como suporte para imobilização de lipases foi comparada com outros suportes (filmes de amido de cará, inhame, mandioca/PVA, milho/dextrana e gelatina) na produção de diferentes ésteres de aroma. A bucha vegetal apresentou conversões comparáveis ou superiores aos outros suportes, especialmente em relação à lipase livre (sem imobilização), demonstrando sua eficácia e vantagens em termos de reutilização do biocatalisador e custos reduzidos. A lipase PS-SD foi utilizada extensivamente nestes experimentos.

1. Bucha Vegetal vs. Outros Suportes na Síntese de Ésteres de Aroma

Este estudo compara a eficácia da bucha vegetal como suporte para a imobilização da lipase PS-SD na síntese de diferentes ésteres de aroma, contrastando-a com outros suportes como filmes de amido (de cará, inhame, mandioca/PVA, milho/dextrana) e filme de gelatina. A lipase PS-SD imobilizada em bucha vegetal apresentou conversões similares ou superiores na produção de acetato de geranoila, acetato de citroneila, acetato de benzila e acetato de n-octila em comparação com os outros suportes testados. Em todos os casos, as conversões obtidas com a lipase imobilizada foram superiores ou próximas às obtidas com a lipase livre (não imobilizada), apesar de, em alguns casos, a lipase livre ter apresentado uma conversão ligeiramente maior, porém em tempos de reação significativamente mais longos (96h). A comparação demonstra a eficiência da bucha vegetal como um suporte viável para a síntese de uma gama de ésteres de aroma, salientando sua vantagem em termos de reutilização do catalisador.

2. Análise Comparativa das Conversões em Diferentes Ésteres

A pesquisa apresenta dados comparativos de conversão para diversos ésteres de aroma utilizando a lipase PS-SD imobilizada em bucha vegetal e em outros suportes. Para o acetato de geranoila, a bucha vegetal mostrou conversão próxima à obtida com filmes de amido de cará e inhame, porém superior à forma livre da enzima. Resultados semelhantes foram observados com o acetato de citroneila, onde a bucha vegetal apresentou conversão de 30%, inferior à gelatina (67%), mas superior à forma livre (23%). No caso do acetato de benzila, a conversão com bucha vegetal (76%) foi levemente menor que a obtida com o filme de amido de mandioca/PVA (85%), ambos superando a forma livre (89%). Finalmente, na síntese de acetato de n-octila, a conversão utilizando a bucha vegetal (76%) foi muito próxima àquela obtida com o filme de amido de milho/dextrana (77.5%), novamente superando a forma livre (85%). Em resumo, a bucha vegetal demonstrou ser um suporte eficiente e competitivo para a síntese de uma variedade de ésteres, apresentando conversões comparáveis e muitas vezes superiores à utilização da lipase na sua forma livre.

3. Vantagens da Imobilização em Bucha Vegetal

A principal vantagem da imobilização da lipase em bucha vegetal, evidenciada na comparação com outros suportes e com a lipase livre, reside na possibilidade de reutilização do catalisador. Embora em alguns casos as conversões obtidas com a lipase livre tenham sido ligeiramente maiores, o tempo de reação necessário foi significativamente mais longo (96h vs. 24h). Além disso, a imobilização protege a enzima da desnaturação causada pelo meio reacional, aumentando sua vida útil e reduzindo os custos do processo. A bucha vegetal, por ser um material de baixo custo e biodegradável, apresenta-se como uma opção economicamente e ambientalmente vantajosa, comparada a outros suportes sintéticos ou mais caros. A possibilidade de reutilização do sistema, aliado ao baixo custo do suporte, torna a imobilização em bucha vegetal uma opção muito atrativa para a produção de ésteres de aroma em escala industrial.

IV.Metodologias e Caracterização

A imobilização da lipase na bucha vegetal foi realizada através de dois métodos. A caracterização do suporte e do sistema imobilizado envolveu microscopia eletrônica de varredura (MEV), análise termogravimétrica (TGA) e determinação do teor de água (método Karl-Fischer). A quantificação dos ésteres foi realizada por cromatografia gasosa (CG) e ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN de ¹H).

1. Métodos de Imobilização da Lipase

O trabalho descreve métodos para imobilizar lipases em diferentes matrizes. Um método utiliza bucha vegetal (BV), onde 500mg de BV são imersos em solução tampão, e posteriormente, a BV úmida recebe 10, 20 ou 30mg de lipase F-AP15 (ou outras lipases) e 25 mL de hexano, sendo agitado por 30 minutos antes de secar em capela por 48h. Um segundo método de imobilização envolve a incorporação da lipase em filmes poliméricos de amido ou gelatina, adicionando-se a enzima (20-60 mg) a uma solução aquosa de amido ou gelatina com agentes plastificantes (glicerol ou sorbitol), antes da evaporação da água em capela por aproximadamente 24 horas. A descrição detalhada dos dois métodos de imobilização permite a reprodução dos experimentos e a comparação da eficiência de cada técnica. A escolha do método de imobilização impactou diretamente a reutilização do suporte e a eficiência do processo.

2. Caracterização da Bucha Vegetal e do Sistema Imobilizado

A bucha vegetal, utilizada como suporte para imobilização, foi caracterizada por meio de diferentes técnicas. A área superficial foi medida, e análises de micrografia eletrônica de varredura (MEV) foram realizadas antes e após a imobilização da lipase F-AP15 para visualizar a distribuição da enzima no suporte. A análise termogravimétrica (TGA) forneceu informações sobre a estabilidade térmica do material. Adicionalmente, o teor de água no suporte foi determinado utilizando-se o método de titulação de Karl-Fischer, tanto antes quanto após a reação, utilizando diferentes solventes. Essas caracterizações são essenciais para entender as propriedades físico-químicas do suporte e sua influência na imobilização e atividade da enzima. A caracterização completa garante a reprodutibilidade dos resultados e a validação do método utilizado.

3. Métodos Analíticos para Quantificação dos Ésteres

Para a quantificação dos ésteres produzidos, foram utilizadas técnicas analíticas de alta precisão. A cromatografia gasosa com detector de ionização de chama (CG-DIC) foi empregada para determinar a quantidade de produto formado após a reação. A separação dos componentes da mistura reacional foi realizada usando uma coluna Shimadzu PLQ-5-M25-025m, com um programa de temperatura específico (80-250°C a 10°C/min). As temperaturas do injetor e do detector foram ajustadas para 280°C e 290°C, respectivamente, com taxa de fluxo de hidrogênio de 7mL/min. O tempo de análise foi de 10 minutos. Além da CG-DIC, a ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN de ¹H) também foi utilizada para a quantificação dos ésteres em alguns experimentos. A utilização de múltiplas técnicas analíticas fortalece a validação dos resultados obtidos, aumentando a credibilidade do trabalho.