Uma aproximação aos sacramentos : contributo de Edward Schillebeeckx e de Otto Semmelroth para a teologia sacramental

Os Sacramentos: o Encontro Terrestre com Cristo

Informações do documento

Autor

Eliseu Do Rosário Varela Gonçalves

Escola

Universidade Catolica Portuguesa Faculdade De Teologia

Curso Mestrado Integrado Em Teologia
Tipo de documento Dissertação Final
Idioma Portuguese
Número de páginas 85
Formato | PDF
Tamanho 779.00 KB

Resumo

I.Introdução

A encarnação do Filho de Deus é o dado mais importante para a fé cristã. Diferente de muitas outras religiões em que a experiência com o Divino acontece mais no plano interior da pessoa, algo subjetiva no contacto com o indizível, no cristianismo Deus fez-se presente no meio do Seu povo através de Seu Filho. Jesus é o Filho de Deus, n’Ele Deus está verdadeiramente presente no meio de nós. Assumindo a nossa natureza humana, tornou-se como um de nós, exceto no pecado. Pela sua natureza divina, é superior a nós, nosso Salvador. Ele é Deus e revela o Pai: «quem me vê, vê o Pai» (Jo 14, 9). Neste mistério, contemplamos o centro e o momento decisivo de toda a humanidade. O facto de Deus se tornar pessoa concreta abre-nos toda a possibilidade, a salvação da humanidade passa pelo encontro com este Deus encarnado, visível. Com Ele podemos fazer um caminho de conversão para a salvação.

II.A Igreja é Sacramenta de Cristo

A Igreja não é só meio de salvação, mas também a própria salvação de Cristo, ou seja, forma corporal, manifestação dessa salvação: «a Igreja é sinal eficaz universal da salvação de todos. É a epifania, isto é, a forma acabada, percetível e tangível na história, da decisão salvífica de Deus, a forma que faz presente entre nós a fonte da salvação: Cristo» 143. O prolongamento terrestre desse mistério só é possível pela mediação corporal que é a Igreja, e os sacramentos são atos próprios desta realidade-sinal eclesial, atos salutares pessoais de Cristo 151.

1. A Igreja é sacramento de Cristo

  • A encarnação do Filho de Deus é o dado mais importante para a fé cristã.

  • Ao assumir a nossa natureza humana, tornou-se como um de nós, exceto no pecado.

  • Em Jesus, Deus está verdadeiramente presente no meio de nós.

  • O facto de Deus se tornar pessoa concreta abre-nos toda a possibilidade, a salvação da humanidade passa pelo encontro com este Deus encarnado, visível.

  • A decisão de enredar por este caminho que culminou neste trabalho brotou a partir do seminário teológico sobre o tema da sacramentalidade.

  • Desde logo foi importante a ideia dos sacramentos como gestos de Cristo em E. Schillebeeckx e a noção da Igreja como sacramento original em Semmelroth.

  • Não menos importante foi também a nossa inquietude pessoal perante a cultura atual, em que a dimensão do encontro pessoal parece cada vez mais descartável.

  • Por isso, esta ideia do encontro pessoal, do contacto e do relacionamento direto com o outro, vista à luz da experiência salvífica do Evangelho, não deixou de aparecer-nos como uma proposta para a cultura do nosso tempo.

2. Uma definição básica da pessoa humana

Uma definição básica da pessoa humana é ser composta de alma e corpo.

  • A dimensão corpórea, embora condicione a pessoa, não deixa de ser substancial, porque é a partir desta dimensão que a pessoa se situa no mundo e se comunica aos outros e, nesta comunicação, relação interpessoal entre dois sujeitos voltados um para o outro, ela descobre-se a si mesma, tomando consciência de si e do outro.

3. A Igreja como sacramento

  • É na linha descendente que a encarnação assume o sentido da divinização do homem pela redenção, a libertação do pecado até à comunhão pessoal de graça e de amor com Deus.
  • Este movimento de baixo é de toda a humanidade, é realização prototípica da resposta humana ao amor divino.

4. Conceber os sacramentos como ação do Espírito Santo

Conceber os sacramentos como ação do Espírito Santo que se realiza através da Igreja na história da humanidade, traduzidos em gestos pelos quais os homens e Deus se tocam, traz-nos a dimensão não só do presente onde continuamente revivemos e se atualiza o mistério salvífico da Paixão do Senhor, do tempo e do espaço presente como revelação da presença dessa salvação, mas também nos abre para uma esperança de plenitude para além do nosso espaço e do nosso tempo.

III.A Eucaristia

R. Alejandro resume a visão de São Tomás em relação à Igreja em cinco pontos: 1) no tratado sobre os sacramentos, a Eucaristia ocupa um lugar central dado que contém o mesmo Cristo, bem comum a toda a Igreja; 2) pelo carácter sacramental, o cristão participa do sacerdócio de Cristo e exercita-o na vida cultual da Igreja; 3) a graça do Espírito Santo é essencial na Igreja e está acompanhada de elementos visíveis; 4) no que diz respeito a estruturas externas da Igreja, há uma visão corporativa própria da época; 5) no que diz respeito às relações entre as ordens temporal e espiritual, não só se distinguem funções diversas, mas surgem dois domínios definidos: terreno e celeste 15.

1. A Eucaristia

O capítulo começa afirmando a importância da Eucaristia, recordando que a encarnação do Filho de Deus é o dado mais importante para a fé cristã. Em seguida, destaca que a experiência com o Divino acontece mais no plano interior da pessoa e, no cristianismo, Deus se fez presente no meio do Seu povo através de Seu Filho, Jesus Cristo, que é o Filho de Deus e que revela o Pai. Diante desse mistério, contempla-se o centro e o momento decisivo de toda a humanidade. O fato de Deus se tornar uma pessoa concreta abre toda a possibilidade de salvação, que passa pelo encontro com este Deus encarnado e visível.

Com Ele podemos fazer um caminho de conversão para a salvação. Bento XVI, na encíclica Deus caritas est, sublinhava este aspecto de que “ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”.

Todo encontro entre homens passa pela corporeidade, e esta dimensão da visibilidade é a condição com que Deus se manifesta como um ser de relação e encontro. Essa ideia do encontro com Deus, que tem o seu centro em Jesus, continua na história e a Igreja é hoje o mistério deste encontro através dos sacramentos. A decisão de trilhar por este caminho que culminou neste trabalho brotou a partir do seminário teológico sobre o tema da sacramentalidade, onde foi possível ter o contacto direto com a obra e o pensamento teológico de E. Schillebeeckx e O. Semmelroth. Desde logo, foi importante a ideia dos sacramentos como gestos de Cristo em E. Schillebeeckx e a noção da Igreja como sacramento original em Semmelroth, o que motivou a vontade em prosseguir com a pesquisa. Não menos importante foi também a inquietação pessoal diante da cultura atual, em que a dimensão do encontro pessoal parece cada vez mais descartável. E porque a teologia não se encontra desencarnada da realidade social e cultural, esta ideia do encontro pessoal, do contacto e do relacionamento direto com o outro, vista à luz da experiência salvífica do Evangelho, não deixou de aparecer como uma proposta para a cultura do nosso tempo.

IV.Os Sacramentos da Igreja são encontros com Cristo

Os sacramentos são um ato de culto da Igreja, no qual esta, em comunhão de graça com seu chefe celeste, Cristo, implora do Pai a graça para aquele que recebe o sacramento e, ao mesmo tempo, uma iniciativa santificadora da Igreja como comunidade de santificação em união de santidade com Cristo» 156.

1. Os Sacramentos da Igreja são encontros com Cristo

Esta afirmação sublinha a ideia de que os sacramentos não são meros rituais, mas encontros pessoais com Cristo, por meio da Igreja. Estes encontros são visíveis e corpóreos, permitindo que os fiéis experimentem a graça e a salvação de Deus de forma tangível.

V.A Igreja como Sacramento Original

O. Semmelroth, em 1953, publicou o seu trabalho sobre a Igreja vista como sacramento original. Segundo Santiago Madrigal, trata-se de uma obra pioneira para a redescoberta de uma visão sacramental da Igreja e que pode ser considerada na história da eclesiologia como um ponto de contacto e de passagem entre a encíclica Mystici Corporis Christi de Pio XII e a constituição dogmática do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium 173. Segundo A. Anton, trata-se, nesta obra, de uma completa elaboração teológica sobre a sacramentalidade da Igreja que deu um contributo decisivo para a eclesiologia anterior e posterior ao Concílio Vaticano II 174.

1. Ecclesia velut Sacramentum Originale

Não há subseções para 1. Ecclesia velut Sacramentum Originale.

VI.Conclusão

A visão da Igreja a partir do Concílio Vaticano II ganhou um novo impulso. O. Semmelroth foi um dos teólogos que ajudaram a essa renovação e posteriormente na sua receção. A sua teologia sacramental contribuiu para a redescoberta duma visão sacramental da Igreja. A Igreja aparece em continuidade com Cristo protótipo de toda a sacramentalidade, ou seja, o que se realiza na Igreja cumpre-se ao modo do que se realizou em Cristo. É ela hoje a própria salvação. Os sacramentos aparecem como gestos de Cristo que santificam o homem através da Igreja, sendo esta o espaço onde se realiza o encontro sacramental, o fundo potencial e fonte onde cada sacramento particular encontra a sua realização.

1.2.4. Conclusão do primeiro capítulo

Estudo permite-nos, desde já, uma compreensão da eclesiologia do corpo de Cristo e da sacramentalidade da Igreja em São Tomás de Aquino. Apesar da ausência do tratado eclesiológico nas sínteses medievais, em São Tomás evidenciámos pressupostos a partir dos quais posteriormente alguns teólogos desenvolveram o tema da sacramentalidade da Igreja. O tema da eclesiologia do corpo de Cristo a partir da Epístola aos Efésios foi crucial, pelo que a fundamentação do ser da Igreja em Cristo permitiu-nos o acesso à questão da relação entre Cristo e a Igreja, a unidade entre os membros da Igreja com Cristo, a visibilidade/corporeidade em íntima sintonia com a invisibilidade, a diversidade de carismas, o dinamismo interior a partir do Espírito Santo.

2.1.4. Conclusão do segundo capítulo

Perscrutando os sinais sacramentais, observamos o universo como lugar onde Deus habita, em cada criatura há um mistério a ser contemplado: “no homem criado à imagem de Deus, foi revelada, de certo modo, a própria sacramentalidade da criação, a sacramentalidade do mundo. O homem, com efeito, mediante a sua corporeidade, a sua masculinidade e feminilidade, torna-se sinal visível da economia da Verdade e do Amor, que tem a sua fonte no próprio Deus e que foi revelada já no mistério da criação”. Neste sentido contemplamos os sacramentos como “um modo privilegiado em que a natureza é assumida por Deus e transformada em mediação de vida sobrenatural”, tornando o culto um convite a abraçarmos o mundo num plano diferente através dos seus elementos assumidos com a sua força simbólica.