
Acessibilidade em Arquitetura: Quartel
Informações do documento
Autor | José Manuel Marelo Massa |
Escola | Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional das Beiras |
Curso | Arquitetura |
Tipo de documento | Dissertação (Mestrado) |
city | Viseu |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 17.44 MB |
Resumo
I.Acessibilidade e Arquitetura Humanizada em Quarteirões de Viseu
Este trabalho de pesquisa foca a acessibilidade em projetos de arquitetura humanizada aplicados a quarteirões na cidade de Viseu, especificamente na Freguesia de São José. A investigação analisa como o design inclusivo pode melhorar a qualidade de vida da população, considerando o envelhecimento demográfico e as necessidades de habitação multifamiliar. O projeto visa transformar espaços urbanos fragmentados em tecidos urbanos coesos, promovendo a inclusão de idosos e pessoas com mobilidade reduzida. A pesquisa utiliza estudos de caso e projetos de referência para propor soluções de urbanismo que priorizem a acessibilidade em espaços interiores e exteriores, incluindo pátios como espaços públicos e a integração de comércio local.
II.A Importância do Quarteirão e do Pátio Interior na Arquitetura Inclusiva
A tipologia do edifício em quarteirão, gerando um pátio interior, é apresentada como modelo para responder às necessidades contemporâneas de habitação multifamiliar. O design propõe espaços coletivos que intensificam as relações sociais e de vizinhança, criando espaços mais humanos em diferentes escalas. A análise de diferentes projetos históricos e contemporâneos, incluindo os estudos de Cerdà e Victor Consiglieri, informa a proposta de design inclusivo que considera a importância dos pátios como elementos facilitadores da interação social e da acessibilidade para todos os grupos etários e pessoas com mobilidade reduzida.
1. O Quarteirão como Modelo de Habitação Multifamiliar
O trabalho defende a tipologia do edifício em quarteirão, com a geração de um pátio interior, como um modelo ideal para a habitação multifamiliar contemporânea. Esta configuração arquitetônica é apresentada como solução para as necessidades atuais de moradia, baseando-se em projetos de referência e estudos de caso. O objetivo é criar espaços coletivos que promovam a interação social e a vizinhança, resultando em ambientes mais humanos e acolhedores, tanto na escala do bairro quanto na escala individual da habitação. A disposição dos edifícios em quarteirão, criando um pátio central, é vista como uma forma de intensificar as relações sociais e de criar uma comunidade mais integrada e coesa. Essa organização espacial, além de promover a convivência, também busca trazer os benefícios de um ambiente mais tranquilo e humanizado para os moradores.
2. Análise de Projetos de Referência e Estudos de Caso Pátios Históricos e Contemporâneos
A pesquisa se baseia em projetos históricos e contemporâneos para fundamentar a proposta do quarteirão com pátio interior. São analisados diferentes modelos de quarteirões, observando suas características e impactos na vida social e comunitária. O estudo cita Ilhas (Porto) e pátios (Lisboa) como exemplos de diferentes abordagens ao interior do quarteirão. O trabalho explora o efeito do fechamento do perímetro do quarteirão, que cria um espaço exterior resguardado pelos edifícios, formando um pátio. A transformação desse espaço em área pública é vista como geradora de relações de vizinhança e interação social. Cerdà, com seus modelos de blocos em “L” e em “U”, que criam jardins internos, serve de referência. As ideias de Victor Consiglieri (1920/1990) sobre pátios como significado de padrões de vida coletiva e Miguel Ângelo no Capitólio de Roma, com seu uso de pátios abertos, são igualmente analisadas. A adoção dessa configuração em vilas operárias em Lisboa (séc. XIX) também é mencionada. A concepção radicalmente nova dos pátios, que rompeu com a tradição, segundo Pinard Jacques (1984), é referenciada, dividindo a evolução da cidade em três eras para ilustrar a transição para o quarteirão aberto na era contemporânea.
3. O Papel do Pátio como Espaço Público e Promotor da Interação Social
A pesquisa enfatiza a importância do pátio interior como um espaço público, contrastando com a segregação espacial e social que frequentemente ocorre em pátios privados. O estudo argumenta que o pátio interior, quando bem projetado e integrado na vida da comunidade, é capaz de gerar relações de vizinhança e fomentar a coesão social. A análise considera a dimensão humana do espaço, buscando criar ambientes tranquilos e acolhedores, promovendo a interação e o convívio entre os moradores. A permeabilidade pedonal e a visibilidade entre o pátio e as ruas são destacadas como características importantes para a intensificação da mobilidade e a facilitação do reconhecimento dos moradores. A criação de um equilíbrio entre os elementos morfológicos da cidade tradicional (quarteirão, rua, praça) e da cidade moderna é um objetivo central do projeto, visando a integração do pátio interior como um elemento público e dinâmico na paisagem urbana contemporânea. A percentagem de espaço vazio ocupada pelo pátio (0,65%) é referida, mas o foco está na sua função social e na criação de um ambiente de proximidade e convívio entre os moradores.
III.O Envelhecimento da População e a Necessidade de Habitação Adaptável
O estudo reconhece o rápido envelhecimento da população portuguesa, com dados do INE indicando que em 2012, 24% da população era idosa (60 anos ou mais), e projeções para 40% em 2050. Este cenário impulsiona a necessidade de habitação de qualidade e adaptável, atendendo às necessidades específicas da população idosa e a uma lógica multigeracional. A pesquisa destaca a importância de utilizar o potencial humano dos idosos e promover sua inclusão social, evitando a segregação espacial e a criação de guetos para idosos. A cidade de Viseu serve como um estudo de caso para a aplicação prática destas ideias.
1. O Envelhecimento Populacional em Portugal e suas Implicações
O documento destaca o rápido envelhecimento da população portuguesa como um fator crucial a ser considerado no planejamento urbano e na arquitetura. Dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) de 2012 indicam que 24% da população tinha 60 anos ou mais, projetando-se um aumento para 40% em 2050. Essa mudança demográfica exige adaptações significativas na oferta de habitação e infraestrutura, tornando imperativo o fornecimento de moradias de qualidade para todos, numa lógica multigeracional. O estudo cita Maria João Valente Rosa (2012), que chama atenção para o subaproveitamento do potencial humano dos idosos em Portugal, contrastando a situação atual com o passado, quando Portugal apresentava uma população menos envelhecida que a média da UE27. A rapidez do processo de envelhecimento coloca Portugal entre os países mais envelhecidos da Europa e do mundo, reforçando a urgência de soluções inovadoras para a habitação e o urbanismo que atendam às necessidades específicas dessa população.
2. Necessidade de Habitação Adaptável e Inclusiva para Idosos
O envelhecimento populacional impõe a necessidade de habitação adaptada às necessidades dos idosos, mas também de um ambiente inclusivo para todas as gerações. A arquitetura deve prever acessibilidades em ambientes interiores e exteriores, incentivando a interação entre pessoas de diferentes idades e habilidades. A criação de espaços habitacionais multigeracionais é proposta como uma solução para combater o isolamento social e promover a integração. O estudo argumenta contra a criação de guetos para idosos, advogando pela integração destes na comunidade em geral. A inclusão de idosos dentro de um contexto familiar é considerada vantajosa, minimizando o risco de isolamento social e preservando o seu estatuto social. Como exemplo, a pesquisa sugere, no caso das habitações de tipologia T4, um quarto próximo ao quarto do casal e a instalação sanitária privativa para facilitar o cuidado de idosos acamados.
3. Aspectos da Inclusão Social e Acessibilidade na Habitação
O documento menciona dados do Censo 2011 do INE (2012) mostrando que apenas 40,85% dos edifícios clássicos em Portugal são acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida. Essa percentagem cai para 29,76% quando se considera o acesso aos alojamentos dentro dos edifícios. Dados específicos para a região Centro, onde se localiza Viseu, revelam índices semelhantes. A pesquisa defende a importância da inclusão, definida por Anderson (2003) como a possibilidade de todas as pessoas terem as mesmas oportunidades de ação no contexto social, fazendo escolhas baseadas em seus interesses e competências. A proximidade de lojas de comércio local nas áreas residenciais é apontada como algo benéfico. O projeto propõe um leque de opções de habitação, incluindo a proximidade de lares de terceira idade, jardins de infância e espaços verdes, para promover a integração de diferentes grupos etários, evitando a segregação social e a criação de guetos de idosos. A valorização da presença dos idosos junto às famílias, garantindo cuidados e mantendo seu estatuto social, é enfatizada.
IV.Espaços de Manifestação Relação Social e a Arquitetura Contemporânea
A seção examina o papel da arquitetura na criação de espaços que promovem a relação social. A pesquisa utiliza referências históricas, desde Vitrúvio a autores contemporâneos como Jane Jacobs, para compreender a evolução da arquitetura e do urbanismo na busca de soluções que atendam às necessidades humanas e promovam a coesão social. É criticado o urbanismo experimental e se defende a importância da análise aprofundada do contexto antes da intervenção. A integração de elementos urbanos tradicionais, como centros históricos e áreas verdes, com soluções de arquitetura contemporânea e design inclusivo, é fundamental para criar espaços de qualidade.
1. A Arquitetura como Resposta às Necessidades Humanas no Espaço
Esta seção analisa o papel da arquitetura na criação de espaços que respondem às necessidades humanas ao longo do tempo. Desde a construção de abrigos primitivos até às soluções mais sofisticadas da arquitetura contemporânea, a busca por proporcionar regras e formas para habitação, convivência, segurança e outras atividades cotidianas é destacada. A seção apresenta diversas definições de arquitetura, de autores como Vitrúvio, Palladio e Lúcio Costa, optando pela citação de William Morris (1881), que define a arquitetura como o conjunto de modificações e alterações introduzidas na superfície da terra de acordo com as necessidades humanas. Essa definição ampla, segundo Leonardo Benevolo (1972), engloba todo o ambiente físico que circunda a vida humana, evidenciando a responsabilidade da arquitetura na criação de um ambiente de qualidade. A arquitetura é apresentada como fundamental na resolução de problemas urbanos, especialmente no contexto da crescente população em meios urbanos e do envelhecimento da população, temas abordados em seções anteriores.
2. Problemas Urbanos e a Busca por Soluções na História da Arquitetura
A seção identifica problemas nas cidades contemporâneas, como congestionamento, poluição, ocupação desenfreada, gentrificação, abandono de centros urbanos, segregação espacial e social em pátios privados e escassez de espaços verdes. Há uma constatação da falta de coesão e encantamento nas cidades atuais, contrastando com o urbanismo tradicional que, apesar de diferentes estilos, incluía elementos básicos que formavam uma comunidade com foco em sociabilidade, espiritualidade, desenvolvimento intelectual e política, formando a base para as atividades comerciais. A ideia de que algo está errado nas cidades atuais, pela falta de coesão e a perda do encantamento que outrora tinham, fruto de um antigo urbanismo, é reforçada. A seção aponta a necessidade de um urbanismo que consiga recuperar o objetivo do núcleo comum, que, apesar dos diferentes estilos ao longo da história, incluía elementos básicos que formavam uma comunidade.
3. Reflexão sobre a Arquitetura e o Urbanismo Contemporâneos
A seção aborda a crítica ao urbanismo como fórmula experimental, conforme expresso por Laborit (1971), e defende a necessidade de uma abordagem mais consciente e integrada, considerando o contexto e os comportamentos humanos. A relação entre arquitetura, urbanismo e os comportamentos sociais é enfatizada, apontando a cidade contemporânea como reflexo das classes dominantes na organização dos espaços. A problemática da especulação imobiliária e da transformação da cidade de acordo com os interesses de grupos específicos é apresentada. A ideia de que o conhecimento dos comportamentos individuais é fundamental para o bom desenvolvimento da arquitetura e do urbanismo é enfatizada. A influência de tendências globais na arquitetura, com a referência às Cartas de Atenas (1933 e 2003), é discutida. A Carta de Atenas de 1933, com seus princípios racionalistas e funcionalistas, que buscavam homogeneidade entre cidades, é comparada com a nova Carta de Atenas de 2003, que valoriza a cultura local, a preservação do patrimônio e a participação do cidadão no processo de urbanização. A questão da homogeneização das cidades e a preservação do caráter próprio de cada cidade é levantada, contrastando com a visão de uma cidade mais coerente e humana onde o cidadão toma decisões e utiliza as novas tecnologias.
V.Proposta de Intervenção Urbana em Viseu Continuidade e Acessibilidade
A proposta de intervenção urbana em Viseu (Freguesia de São José) apresenta uma solução de design urbano que busca a continuidade urbana, transformando áreas vazias em tecidos coesos e acessíveis. O projeto integra habitação multifamiliar, comércio e serviços, com especial atenção à acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida. A integração de espaços verdes, como a Mata Pública (aproximadamente 10 hectares), é crucial. Os edifícios são projetados para maximizar a iluminação natural e a ventilação, promovendo o conforto e a saúde dos habitantes. A pesquisa utiliza dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre acessibilidade em Portugal para informar o design dos espaços, buscando criar espaços à escala humana e promover a inclusão social.
1. Continuidade Urbana e o Desenvolvimento da Zona Comercial
A proposta de intervenção urbana em Viseu, na Freguesia de São José, visa dar continuidade à zona comercial da Rua Formosa, canalizando o percurso comercial em direção à rotunda de Emílio Navarro para aumentar o dinamismo do espaço. A intenção é criar uma maior densidade habitacional com habitação multifamiliar, buscando uma lógica de mais pessoas, mais segurança e, consequentemente, maior qualidade de vida e valorização do conjunto urbano. A proposta busca criar um equilíbrio entre a cidade tradicional e moderna, integrando os elementos morfológicos distintivos (quarteirão, rua, praça) com o desenho de um novo espaço urbano mais coeso e integrado. A intervenção busca também valorizar a qualidade urbanística e paisagística, eliminando barreiras físicas que dificultam a mobilidade do indivíduo e buscando atrair população para a zona. O projeto prevê a integração de comércio e serviços em diferentes pontos, garantindo o fácil acesso aos produtos essenciais de consumo e criando mais segurança através de uma maior densidade habitacional.
2. Projeto Arquitetônico Edifícios Espaços Verdes e Integração com a Paisagem Existente
O projeto inclui a construção de edifícios com comércio e serviços no rés-do-chão e habitação multifamiliar nos pisos superiores. Em alguns casos, são propostos edifícios em forma de “U”, virados para ruas pedonais, permitindo a permeabilidade visual. Um dos edifícios, paralelo à Rua João Mendes, forma um quarteirão com profundidade de 12m, enquanto outros, com profundidade de 14m, são dispostos em forma de “U” em relação a uma rua pedonal, buscando garantir a permeabilidade visual e física. A preservação da mata pública, com cerca de 10 hectares, é considerada fundamental, dado seu valor histórico, paisagístico e educacional. Próximo à circunvalação, um edifício de dois pisos (comércio e serviços no piso inferior) é projetado para não obstruir as vistas da circunvalação, com fachada recuada e cobertura inclinada com acesso a mirante. Outro edifício em “L” para equipamentos é implantado com o objetivo de criar uma relação com a via da Circunvalação, enquanto um lar de terceira idade é estrategicamente localizado no quarteirão central. Ambos os edifícios incluem garagens no subsolo e 13 lojas no piso térreo com acesso facilitado para pessoas com mobilidade reduzida.
3. Conceção de Espaços à Escala Humana Inclusão e Acessibilidade
A proposta se concentra na criação de espaços à escala humana, tanto na intervenção urbana quanto no edifício habitacional, buscando a inclusão de pessoas com deficiência, idosos e crianças. A recusa do modelo da cidade moderna, racional e repetitiva, é explicitada, preferindo-se uma abordagem que valoriza as qualidades espaciais da cidade antiga, segundo Jane Jacobs. A construção em altura é evitada, considerando seus inconvenientes físicos e psicológicos, referindo-se ao exemplo de Tóquio. Os espaços comuns do edifício são projetados com acessibilidade, considerando rampas, elevadores e escadas com dimensões adequadas, incluindo a orientação solar para melhor iluminação e ventilação. A entrada do edifício é projetada para fácil identificação, com atenção à alteração cromática do pavimento para pessoas com deficiência visual. O projeto considera diferentes tipologias de habitação (T1 a T4), com maior quantidade de T2, e a inclusão de um quarto próximo ao quarto do casal e a instalação sanitária privativa em habitações T4 para facilitar o cuidado de idosos acamados é mencionada. A escolha dos materiais de construção visa conforto, durabilidade, segurança e aparência, como o uso de madeira de “Freixo” nos quartos.