Estudo de métodos e medidas auxiliares para o controle da resistência à carbonatação de concretos estruturais de cimento Portland.

Resistência à Carbonatação em Concreto

Informações do documento

Autor

Daniele Maria Pilla Junqueira Cafange

instructor Prof. Drª Silvia Maria de Souza Selmo
Escola

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

Curso Engenharia Civil
Tipo de documento Dissertação
Local São Paulo
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 18.06 MB

Resumo

I.Objetivos da Pesquisa e Justificativa

Esta dissertação investiga a resistência à carbonatação em concretos estruturais, buscando métodos para prever e controlar essa propriedade crucial para a durabilidade do concreto. A pesquisa se justifica pela necessidade de avançar além dos métodos tradicionais de controle de qualidade do concreto (ensaios de abatimento e resistência à compressão), focando em propriedades como o teor de ar no concreto e sua relação com a carbonatação. A falta de métodos precisos para prever a resistência à carbonatação compromete a definição da vida útil do concreto e das armaduras de aço.

1. Insuficiência dos Métodos Tradicionais de Controle de Qualidade

A pesquisa se justifica pela limitação dos métodos tradicionais de controle de qualidade do concreto, que se baseiam principalmente em ensaios de abatimento e resistência à compressão (fck e fcj). Embora esses ensaios sejam importantes para avaliar a resistência à carga, eles não são suficientes para determinar a durabilidade do concreto e sua resistência à carbonatação, um fator crucial para a vida útil das estruturas de concreto armado. A norma ABNT NBR 6118 (2007) especifica classes de concreto (fck) e parâmetros como relação água/cimento e consumo mínimo de cimento, mas o controle na prática ainda é predominantemente baseado em ensaios de abatimento no estado fresco e resistência à compressão, deixando lacunas na avaliação da resistência à carbonatação. A pesquisa visa contribuir para a evolução do controle tecnológico, buscando métodos mais avançados para prever propriedades físicas complexas como a resistência à carbonatação, melhorando a predição da vida útil das estruturas.

2. Necessidade de Métodos Avançados para Previsão da Resistência à Carbonatação

Uma das principais motivações da pesquisa é a falta de métodos avançados para prever a resistência à carbonatação do concreto. O controle da resistência à carbonatação atualmente se dá de forma indireta, através da especificação e aceitação do fck, o que não é ideal, pois as características do concreto dependem de vários fatores, como materiais constituintes, método de dosagem e variabilidade de produção. A resistência à compressão (f cj) seria um indicador mais próximo, porém, a prática ainda não o utiliza amplamente. A pesquisa busca contribuir para a evolução do controle tecnológico da resistência à carbonatação, desenvolvendo e testando novos métodos para prever essa importante propriedade física do concreto. Essa melhoria no controle tecnológico permitirá uma melhor avaliação e garantia da durabilidade das estruturas de concreto armado, prolongando sua vida útil.

3. Objetivos Específicos da Pesquisa Teor de Ar Métodos Acelerados de Carbonatação e Medida da Carbonatação

Os objetivos principais da pesquisa são: a) testar o teor de ar no concreto fresco por quatro métodos diferentes, utilizando-o como variável auxiliar de controle para a carbonatação; b) comparar três métodos acelerados de carbonatação; c) comparar área relativa e espessura de carbonatação em corpos-de-prova cilíndricos (10 cm x 20 cm) através de dois programas de análise de imagem e a medida linear tradicional. Esses objetivos específicos abordam diferentes aspectos da carbonatação e da durabilidade do concreto, buscando avaliar a influência do teor de ar, comparar a eficiência de diferentes métodos acelerados para simular o processo de carbonatação natural e analisar a precisão de diferentes métodos de medição da profundidade da carbonatação. A combinação dessas abordagens visa aprimorar o controle tecnológico da resistência à carbonatação, fornecendo métodos mais precisos e confiáveis para prever a vida útil de estruturas de concreto armado.

II.Metodologia Análise da Carbonatação e Propriedades do Concreto Fresco

O estudo utilizou um concreto pré-misturado da classe 30, com abatimento de 10 ± 2 cm, relação água/cimento de 0,60 e consumo de cimento de 300 kg/m³. Foram analisadas seis amostras de concreto de diferentes caminhões-betoneira (8 m³ cada). A pesquisa comparou quatro métodos para determinar o teor de ar no concreto fresco e avaliou a relação entre essa propriedade e a carbonatação. Outros ensaios no estado fresco incluíram abatimento, densidade e compactabilidade (método adaptado da BS EN 12350-4).

1. Material e Amostragem

A pesquisa utilizou um concreto pré-misturado, bombeável, da classe 30, com abatimento de 10 ± 2 cm, relação água-cimento de 0,60 e consumo de cimento de 300 kg/m³. A amostragem foi realizada em uma central dosadora, selecionando-se aleatoriamente as misturas de seis caminhões-betoneira de 8 m³, produzidos no mesmo dia e de um mesmo lote, destinados a uma obra próxima. Cada mistura foi caracterizada no estado fresco por oito propriedades diferentes, incluindo o teor de ar por quatro métodos distintos, e posteriormente moldados em cilindros de 10 cm x 20 cm para os ensaios subsequentes. A maior parte dos corpos-de-prova foi submetida a uma cura acelerada adaptada do método A da ASTM C684, envolvendo imersão em tanque de água a 35 ± 5°C por 1 a 3 dias, seguida de resfriamento natural e cura a temperatura ambiente por mais 3 a 7 dias. As propriedades no estado endurecido foram medidas aos 8, 35, 63, 91 e 203 dias.

2. Caracterização do Concreto Fresco e Métodos de Análise

A caracterização do concreto no estado fresco incluiu a análise de oito propriedades distintas. Entre as propriedades analisadas, destacam-se quatro diferentes métodos para determinar o teor de ar. Adicionalmente, a pesquisa também incluiu a análise da compactabilidade do concreto, utilizando um método adaptado da norma BS EN 12350-4 (2009), com medições realizadas em amostras adensadas e não adensadas. O teor de ar, obtido pelo método pressométrico, apresentou um valor médio de 1,7% e demonstrou fortes correlações inversas com a resistência à compressão, resistência à tração por compressão diametral e com as medidas de profundidade de carbonatação. Essa correlação inversa sugere que um maior teor de ar pode estar associado a uma menor resistência à carbonatação, possivelmente devido a efeitos na interface pasta-agregados ou à sedimentação do concreto no estado plástico, requerendo estudos adicionais para elucidar completamente essa relação.

III.Metodologia Métodos Acelerados de Carbonatação e Medidas da Profundidade de Carbonatação

Três métodos acelerados de envelhecimento acelerado do concreto foram comparados: secagem contínua a 40°C, exposição a CO₂ (5% e UR 75%) alternada com secagem, e imersão em água alternada com secagem. A profundidade de carbonatação foi medida por três métodos: medida linear tradicional, e análise de imagem com softwares ImageJ e Leica Qwin. Cilindros de 10 cm x 20 cm foram utilizados como corpos de prova. Os resultados foram analisados a 8, 35, 63, 91 e 203 dias.

1. Métodos Acelerados de Carbonatação

A pesquisa comparou três métodos acelerados para simular o processo de carbonatação em concreto, visando avaliar sua eficiência e reprodutibilidade. Os métodos foram: 1) Secagem contínua a 40°C em estufa ventilada; 2) Um dia de exposição a CO₂ (5% e UR 75%) alternado com 27 dias de secagem a 40°C em estufa ventilada; e 3) Um dia de imersão em água alternado com 27 dias de secagem a 40°C em estufa ventilada. A escolha desses métodos visou representar diferentes condições de exposição e envelhecimento acelerado, permitindo uma comparação das taxas de carbonatação obtidas em cada um deles. A análise dos resultados permitiria identificar qual método acelerado melhor simula o processo de carbonatação natural, fornecendo informações importantes para o desenvolvimento de métodos de controle de qualidade mais eficientes e confiáveis.

2. Métodos de Medição da Profundidade de Carbonatação

A profundidade de carbonatação foi medida utilizando três métodos distintos: medida linear tradicional, análise de imagem utilizando o software ImageJ e análise de imagem utilizando o software Leica Qwin. A utilização de diferentes métodos de medição permitiu avaliar a precisão e a reprodutibilidade de cada técnica, considerando as vantagens e desvantagens de cada uma delas. A medida linear, embora tradicional, pode ser suscetível a erros de leitura, enquanto a análise de imagem oferece maior precisão na determinação da área carbonatada, mas necessita de processamento de imagem e pode ser influenciada pela resolução da imagem. A comparação entre os métodos permitiu a escolha do método mais adequado para avaliar a profundidade de carbonatação, considerando a precisão, reprodutibilidade e praticabilidade em diferentes contextos.

3. Análise dos Resultados e Comparação dos Métodos

A espessura média de carbonatação aos 203 dias, obtida pelos três métodos de envelhecimento acelerado, variou entre 4 e 5 mm, com coeficiente de variação entre 13% e 21% para oito dos nove grupos de doze corpos-de-prova (dois por mistura). A análise de variância (ANOVA) para três fatores indicou equivalência entre as medidas de carbonatação obtidas por dois dos métodos acelerados (secagem contínua e exposição a CO₂ alternada com secagem), mas ambos não apresentaram semelhança com o terceiro método (imersão em água alternada com secagem). O método envolvendo apenas imersão em água e secagem resultou em ótimo contraste com o indicador de fenolftaleína e mostrou maiores probabilidades de igualdade de médias, independente do método de medida. Esses resultados indicam que a escolha do método de envelhecimento acelerado e do método de medida da carbonatação influenciam nos resultados, necessitando de estudos adicionais para otimizar a escolha dos métodos mais adequados para diferentes situações.

IV.Resultados e Correlações

A espessura média de carbonatação a 203 dias variou entre 4 e 5 mm, com coeficiente de variação entre 13% e 21%. O teor de ar (método pressométrico) e a compactabilidade mostraram correlações fortes e inversas com a resistência à compressão, resistência à tração e a profundidade de carbonatação. A análise de variância indicou equivalência entre dois métodos acelerados de carbonatação, mas não com o terceiro. A utilização da fenolftaleína mostrou-se eficaz na detecção da carbonatação.

1. Resultados da Espessura de Carbonatação

Após 203 dias, a espessura média de carbonatação, medida pelos três métodos acelerados, ficou entre 4 e 5 mm. O coeficiente de variação oscilou entre 13% e 21% para oito dos nove grupos de doze corpos-de-prova (dois por mistura), mostrando variação dependendo do método de envelhecimento ou de medição. A análise de variância (ANOVA) para três fatores nessa idade revelou equivalência entre as medidas de carbonatação de dois métodos acelerados: secagem contínua a 40°C e exposição a CO₂ (5% e UR 75%) alternada com secagem a 40°C. Entretanto, esses dois métodos não mostraram similaridade com o terceiro método (imersão em água alternada com secagem). Este último método apresentou excelente contraste com o indicador de fenolftaleína e maior probabilidade de igualdade de médias, independentemente do método de medição utilizado. A análise demonstra a influência dos diferentes métodos de envelhecimento e medição na avaliação da carbonatação.

2. Correlação entre Teor de Ar e Carbonatação

O teor de ar, medido pelo método pressométrico, apresentou um valor médio de 1,7% nas misturas de concreto fresco. Este parâmetro mostrou correlações fortes e inversas com a resistência à compressão, resistência à tração por compressão diametral e com as medidas de profundidade de carbonatação. A existência dessa correlação inversa sugere que um maior teor de ar no concreto fresco está associado a uma menor resistência à carbonatação. A pesquisa recomenda estudos adicionais para investigar as causas e limites dessa correlação, considerando a possibilidade de efeitos do ar na interface pasta/agregados e a influência da sedimentação do concreto no estado plástico. A compreensão completa desta relação é crucial para o desenvolvimento de métodos de controle de qualidade mais eficazes.

V.Conclusões e Sugestões

A pesquisa sugere que o teor de ar no concreto fresco pode ser uma variável auxiliar para prever a resistência à carbonatação. São recomendados estudos adicionais para esclarecer os limites dessa correlação, considerando efeitos da interface pasta/agregado e da segregação do concreto. A pesquisa também aponta para a necessidade de estudos comparativos de métodos acelerados de envelhecimento acelerado do concreto para determinar a profundidade de carbonatação, buscando maior padronização e confiabilidade dos resultados para melhor controle tecnológico da durabilidade do concreto.

1. Conclusões sobre o Teor de Ar e a Carbonatação

Os resultados indicaram uma forte correlação inversa entre o teor de ar no concreto fresco (medido pelo método pressométrico) e a profundidade de carbonatação. Um maior teor de ar se mostrou associado a uma menor resistência à carbonatação. Entretanto, as causas dessa relação ainda não estão completamente esclarecidas, sendo necessárias pesquisas adicionais para investigar a influência do ar na interface pasta/agregados e os efeitos da segregação do concreto no estado plástico. A compreensão dessa correlação é fundamental para o desenvolvimento de misturas de concreto com maior durabilidade e resistência à carbonatação, contribuindo para a melhoria do controle tecnológico e da previsão da vida útil das estruturas de concreto armado.

2. Conclusões sobre os Métodos Acelerados de Carbonatação

A comparação entre os três métodos acelerados de carbonatação revelou resultados distintos. Dois métodos mostraram equivalência em termos das medidas de carbonatação: secagem contínua a 40°C e exposição a CO₂ (5% e UR 75%) alternada com secagem. Por outro lado, o método que utilizou imersão em água alternada com secagem apresentou resultados diferentes, demonstrando melhor contraste com o indicador de fenolftaleína e maior probabilidade de igualdade de médias, independentemente do método de medição. Essa discrepância destaca a importância da escolha do método de envelhecimento acelerado na avaliação da carbonatação e sugere a necessidade de estudos complementares para a padronização de métodos mais eficazes e representativos do processo de carbonatação natural.

3. Sugestões para Futuras Pesquisas

A pesquisa recomenda a continuidade dos estudos para elucidar completamente a correlação inversa entre o teor de ar e a carbonatação, investigando os efeitos do ar na interface pasta/agregados e a segregação do concreto. Sugere-se também a realização de estudos comparativos de métodos acelerados de carbonatação, buscando uma maior padronização e confiabilidade dos resultados em diferentes laboratórios. Além disso, estudos adicionais podem contribuir para um melhor entendimento das variáveis que influenciam a resistência à carbonatação e a definição da vida útil das estruturas de concreto armado, levando a um melhor controle tecnológico e especificação do concreto para diferentes condições de exposição.