
Inteligência Espiritual em Idosos
Informações do documento
Autor | Andreia Vanessa Domingues Pereira |
instructor | Professora Doutora Mariana Marques |
Escola | Instituto Superior Miguel Torga (ISMT) |
Curso | Psicologia Clínica |
Tipo de documento | Dissertação de Mestrado |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 822.51 KB |
Resumo
I.Objetivos da Pesquisa
Este estudo investiga a inteligência espiritual (IE) em idosos portugueses, analisando seus níveis de bem-estar psicológico, sintomas de depressão e ansiedade, e sua saúde mental e física. Utilizando a Escala de Inteligência Espiritual Integrada (EIEI), o objetivo principal é explorar as associações entre a IE e esses correlatos, considerando também variáveis sociodemográficas como idade, sexo, estado civil, escolaridade e o tipo de instituição (lar ou centro de dia). A amostra incluiu 67 idosos (após exclusão de 2 participantes) de instituições em Pombal e Figueira da Foz.
1. Justificativa e Escassez de Estudos
A introdução destaca a limitada quantidade de pesquisas sobre inteligência espiritual (IE) e sua relação com fatores psicológicos em idosos, tanto em Portugal quanto internacionalmente. A IE é apontada como um fator potencialmente relevante na forma como os idosos enfrentam os desafios do envelhecimento. Essa escassez de estudos, particularmente em Portugal, justifica a importância da pesquisa presente. A pesquisa pretende preencher essa lacuna, analisando a inteligência espiritual em idosos portugueses e sua associação com o bem-estar psicológico, sintomas depressivos e ansiosos, e saúde física e mental. A complexidade do envelhecimento, envolvendo mudanças biológicas e psicoemocionais, incluindo a reavaliação de ganhos e perdas, e os problemas relacionados como sentimento de inutilidade, depressão, solidão e dependência, reforçam a relevância do estudo da IE como fator potencialmente protetor. Referências a Almeida et al. (2012), Duarte e Wanderley (2011), e Duarte et al. (2008) sustentam a necessidade de investigar o papel da espiritualidade e da IE no contexto do envelhecimento e seus desafios.
2. Objetivos da Investigação Análise da Inteligência Espiritual
O estudo tem como objetivo principal analisar os níveis de inteligência espiritual (IE), bem-estar psicológico, sintomas de depressão e ansiedade, e saúde mental e física em idosos que frequentam lares ou centros de dia. A pesquisa utilizará a Escala de Inteligência Espiritual Integrada (EIEI), validada para a população portuguesa. A escolha da EIEI como instrumento de medida é explicitamente mencionada. Além da análise dos níveis individuais dessas variáveis, um segundo objetivo crucial é explorar as associações entre a IE e as demais variáveis, incluindo a análise de correlações e a influência de fatores sociodemográficos (como modalidade frequentada – lar ou centro de dia –, estado civil e escolaridade). Essa abordagem multifacetada visa compreender a complexa interação entre a IE e outros aspectos da saúde e bem-estar dos idosos. A relevância da IE no processo de envelhecimento é novamente enfatizada como justificativa para o estudo.
3. Metodologia Coleta de Dados e Amostra
A metodologia descreve a obtenção de autorização prévia das instituições participantes: um lar e um centro de dia em Pombal (Leiria) e um lar em Figueira da Foz (Coimbra). A recolha de dados foi realizada através de entrevistas individuais, devido à baixa escolaridade dos participantes, enfatizando-se a aplicação voluntária e anônima dos instrumentos, garantindo a confidencialidade dos dados. O consentimento informado foi obtido de cada idoso, com assinatura ou impressão digital, em função da sua capacidade de escrita. Considerando o extenso protocolo de pesquisa, a aplicação foi dividida em três momentos. A amostra inicial de 67 idosos sofreu redução para 65 participantes, devido a óbitos e doenças prolongadas entre as participantes femininas. O período de recolha de dados foi de 20 de janeiro a 19 de março de 2015. A localização geográfica das instituições (Pombal e Figueira da Foz) e o período específico de coleta são explicitamente mencionados.
II.Resultados Principais sobre Inteligência Espiritual
Os resultados revelaram que 80% dos idosos consideraram sua saúde física insatisfatória, e 84% sua saúde mental. Altos níveis de Consciência na EIEI associaram-se positivamente com atitudes face ao envelhecimento e negativamente com sintomas depressivos. O Significado, na EIEI, correlacionou-se positivamente com bem-estar psicológico e negativamente com sintomas depressivos e ansiosos. Idosos em lares mostraram menores níveis de Graça e maiores níveis de Significado, além de mais sintomas depressivos e ansiosos. Surpreendentemente, não foram encontradas diferenças significativas na IE entre os sexos.
1. Níveis de Saúde e Prevalência de Depressão e Ansiedade
Os resultados iniciais revelam uma preocupante realidade: 80% dos idosos avaliaram sua saúde física como insatisfatória, enquanto 84% fizeram o mesmo em relação à saúde mental. A prevalência de sintomas depressivos e ansiosos também foi significativa, com 56,9% apresentando possível depressão e 64,6% possível ansiedade. Esses dados indicam uma necessidade urgente de intervenções voltadas para a melhoria da saúde física e mental nessa população. A alta percentagem de idosos com sintomas depressivos e ansiosos reforça a importância de se investigar fatores que possam atuar como protetores ou mitigadores dessas condições, como a inteligência espiritual, foco central deste estudo. A comparação desses dados com estudos similares em Portugal seria importante, mas a escassez de pesquisas dificulta essa tarefa, corroborando a relevância da investigação apresentada. A discrepância entre a autopercepção de saúde desta amostra e dados do INSA (2009), que apontam uma piora na percepção da saúde com a idade, deve ser analisada considerando a idade média da amostra e a alta taxa de idosos em lares.
2. Associações da Inteligência Espiritual com Bem Estar e Sintomas
A análise da inteligência espiritual (IE), mensurada pela Escala de Inteligência Espiritual Integrada (EIEI), revelou associações significativas com outros aspectos da saúde e do bem-estar. A dimensão Consciência da IE mostrou-se positivamente correlacionada com atitudes positivas face ao envelhecimento (bem-estar psicológico) e negativamente com a pontuação total de sintomas depressivos. Similarmente, a dimensão Significado da IE associou-se positivamente com atitudes favoráveis ao envelhecimento e bem-estar psicológico, e negativamente com sintomas depressivos e ansiosos. A pontuação total de IE correlacionou-se positivamente com atitudes favoráveis ao envelhecimento e negativamente com a pontuação total de sintomas depressivos. A relação entre a dimensão Graça da IE e outros fatores avaliados também mereceu destaque, mostrando correlações com atitudes face ao envelhecimento e sintomas depressivos. A complexidade das correlações encontradas e a sua magnitude (pequena, moderada) sugerem a necessidade de pesquisas futuras para uma análise mais aprofundada.
3. Influência do Local de Residência Lar vs. Centro de Dia
A análise comparativa entre idosos residentes em lares e centros de dia revelou diferenças significativas em algumas variáveis. Os idosos em lares apresentaram valores inferiores na dimensão Graça da IE e valores superiores na dimensão Significado, além de maiores níveis de sintomas depressivos e ansiosos. Estes resultados sugerem que o ambiente institucional pode influenciar os níveis de inteligência espiritual e a saúde mental dos idosos. A interpretação desses resultados considera a percepção relatada durante as entrevistas, onde muitos idosos expressavam insatisfação por estarem em lares, preferindo permanecer em suas casas. As razões para a institucionalização, muitas vezes devido à deterioração da saúde ou decisão familiar, contribuem para uma análise contextualizada dos resultados observados. A restrição da liberdade e autonomia nos lares pode influenciar a saúde mental e os resultados na escala de IE.
III.Resultados sobre Depressão Ansiedade e Bem Estar Psicológico
Uma alta percentagem da amostra (56,9%) apresentou possível depressão e 64,6% possível ansiedade, conforme avaliado pela Escala de Depressão Geriátrica (EDG) e Inventário de Ansiedade Geriátrica (IAG), respectivamente. O bem-estar psicológico, medido pela Escala de Ânimo (EA), mostrou-se significativamente associado à saúde mental percebida: idosos com saúde mental insatisfatória apresentaram pontuações mais baixas em bem-estar. Não foram encontradas associações significativas entre estas variáveis e idade, escolaridade ou estado civil.
1. Prevalência de Depressão e Ansiedade na Amostra
Os resultados apontam uma alta prevalência de sintomas depressivos e ansiosos na amostra de idosos. Utilizando a Escala de Depressão Geriátrica (EDG) e o Inventário de Ansiedade Geriátrica (IAG), foi verificado que 56,9% dos participantes apresentaram possível depressão e 64,6% possível ansiedade. Esses números são preocupantes e destacam a importância de se investigar fatores que possam estar relacionados a essa alta prevalência de problemas de saúde mental em idosos. A comparação com outros estudos nacionais, como os de Gonçalves (2011) e Noronha (2011) que reportaram valores similares ou superiores de depressão, e Gonçalves (2011) com valor inferior de ansiedade, ressalta a necessidade de mais pesquisas nessa área em Portugal. O estudo de Vaz e Gaspar (2011), com resultados inferiores, aponta para diferenças regionais a serem consideradas. A possível influência da idade e do tipo de instituição (lar versus centro de dia) na prevalência desses sintomas é analisada, sendo hipotetizado um possível aumento da espiritualidade com o envelhecimento, mas sem relação causal comprovada.
2. Bem Estar Psicológico e sua Relação com a Saúde Mental
A pesquisa avaliou o bem-estar psicológico utilizando a Escala de Ânimo (EA), analisando sua relação com a saúde mental percebida pelos idosos. Foram encontrados resultados significativos, mostrando que idosos com saúde mental autoavaliada como insatisfatória apresentaram pontuações menores na EA, indicando menor bem-estar psicológico. Essa relação é relevante para entender a influência da saúde mental na qualidade de vida dos idosos. A análise dos três fatores da EA – Solidão/Insatisfação, Atitudes face ao envelhecimento e Agitação – mostrou diferenças significativas em relação à saúde mental, reforçando a importância da avaliação multidimensional do bem-estar. A ausência de diferenças estatisticamente significativas em relação a variáveis sociodemográficas (sexo, escolaridade e estado civil) na pontuação total da EA e suas subescalas é discutida, e comparada com estudos que consideraram apenas pontuação global de funcionamento e não subescalas de saúde mental e física, dificultando comparações.
3. Influência de Fatores Sociodemográficos e Comparação com Outros Estudos
A análise dos resultados considerou a influência de fatores sociodemográficos como sexo, escolaridade, estado civil e tempo de permanência na instituição. Testes estatísticos (Mann-Whitney e Kruskal-Wallis) não revelaram diferenças significativas em relação a escolaridade e estado civil nas variáveis de bem-estar psicológico, depressão e ansiedade. A ausência de associação com a idade também é discutida, considerando a característica da amostra, constituída exclusivamente por idosos. A comparação com outros estudos nacionais e internacionais que investigaram depressão (Gonçalves, 2011; Noronha, 2011) e ansiedade (Gonçalves, 2011; Santos, 2011; Maia, 2011) em idosos é apresentada, identificando-se variações nos resultados, possivelmente influenciados por características da amostra (localização geográfica, tipo de instituição) e instrumentos utilizados. A alta percentagem de mulheres nas amostras (incluindo a deste estudo) é considerada como um fator que pode influenciar os resultados.
IV.Discussão e Conclusões
O estudo sugere uma associação entre inteligência espiritual, bem-estar psicológico, e a redução de sintomas de depressão e ansiedade em idosos portugueses. A falta de estudos comparáveis em Portugal destaca a relevância desta pesquisa. Os resultados preocupantes sobre a saúde mental e física da amostra, com alta prevalência de depressão e ansiedade, merecem atenção, especialmente considerando a alta proporção de idosos em lares. A pesquisa sugere a necessidade de desenvolvimento de instrumentos de avaliação de IE mais adequados à população idosa portuguesa, com baixa escolaridade, e a realização de estudos futuros com intervenções focadas no desenvolvimento da IE para confirmar a causalidade e impacto na saúde.
1. Associações entre Inteligência Espiritual Bem Estar e Sintomas
A discussão inicia com a constatação de associações significativas entre a inteligência espiritual (IE), bem-estar psicológico, depressão e ansiedade, observadas no estudo. A falta de pesquisas nacionais e internacionais sobre a associação dessas variáveis em idosos dificulta comparações diretas, mas os resultados sugerem que o desenvolvimento da IE pode ter efeitos positivos no bem-estar e na redução de sintomas depressivos e ansiosos. A relação entre as dimensões da Escala de Inteligência Espiritual Integrada (EIEI) – Consciência, Graça e Significado – e os sintomas depressivos e ansiosos é analisada em detalhe, mostrando que maiores níveis de Consciência e Graça se associaram a menores sintomas depressivos. A falta de causalidade, devido à natureza transversal do estudo, é mencionada, mas a hipótese de a IE influenciar positivamente a saúde mental é levantada. A ausência de associação entre essas variáveis e fatores como estado civil contradiz as hipóteses iniciais e sugere novas linhas de investigação.
2. Comparação com Outros Estudos e Limitações da Pesquisa
A seção apresenta uma comparação dos resultados com outros estudos nacionais e internacionais, focando-se nas taxas de prevalência de depressão e ansiedade e na utilização de instrumentos de avaliação diferentes. A dificuldade em realizar comparações é reforçada pela escassez de estudos similares, particularmente em Portugal, sobre a associação entre inteligência espiritual e saúde mental em idosos. A alta prevalência de saúde física e mental insatisfatória na amostra (80% e 84%, respectivamente) é comparada com dados do INSA (2009), considerando a idade média da amostra e o maior número de idosos em lares como possíveis fatores contribuintes. As dificuldades encontradas na recolha de dados, devido à baixa escolaridade dos participantes e à extensão do protocolo, são apontadas como limitações do estudo. As dificuldades em compreender os itens da EIEI pelos idosos e a necessidade de reformular o instrumento são reconhecidas.
3. Implicações e Sugestões para Pesquisas Futuras
A conclusão reforça a importância do desenvolvimento da inteligência espiritual (IE) e sugere a necessidade de criar um instrumento de avaliação de IE mais adequado à população idosa portuguesa, considerando sua baixa escolaridade. Os resultados demonstram a relevância de estudos futuros com intervenções focadas no desenvolvimento da IE, utilizando um instrumento validado para a população idosa, para testar a causalidade entre IE e melhoria na saúde mental e redução de sintomas. O estudo sugere a replicação da pesquisa em amostras maiores e em meios urbanos, para explorar possíveis variações nos resultados. A alta prevalência de depressão e ansiedade na amostra reforça a importância da continuidade das pesquisas nesta área. A influência do ambiente institucional (lares) nos níveis de IE e na saúde mental dos idosos também é destacada como área para investigações futuras.