
Jornalismo em Harry Potter: Análise Transmídia
Informações do documento
Autor | Gabriela Gruszynski Sanseverino |
Escola | University of Toulouse III - Paul Sabatier |
Curso | Comunicação e Informação |
Tipo de documento | Artigo |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 315.08 KB |
Resumo
I.A Representação do Jornalismo na Narrativa Transmídia de Harry Potter
Este estudo analisa a representação do jornalismo no universo transmídia de Harry Potter, utilizando a análise de conteúdo para examinar sua presença nos livros, filmes e no antigo site Pottermore. O objetivo é compreender como a profissão jornalística e seus veículos (como o Profeta Diário, a revista Witch Weekly, e o Pasquim) são retratados, refletindo sobre as imagens do jornalista que circulam na ficção e sua relação com a percepção pública do jornalismo. A pesquisa quantifica as aparições de diferentes meios de comunicação (jornais, revistas, rádio e televisão) nas diferentes plataformas, distinguindo entre veículos bruxos e trouxas. A análise considera também a caracterização de personagens jornalistas, como Rita Skeeter, destacando a construção de estereótipos e a influência da narrativa na percepção pública da profissão.
1. O Jornalismo como Elemento Articulador na Narrativa Transmídia
A pesquisa inicia afirmando que o jornalismo atua como um elemento fundamental na construção da narrativa transmídia de Harry Potter. Ele integra as diferentes plataformas da saga, mimetizando processos e lógicas da profissão jornalística real. A função mediadora do jornalismo é explorada como uma forma de acessar e compreender a realidade do mundo mágico, conectando a ficção com a realidade. A análise das imagens do jornalista presentes nos diversos produtos culturais relacionados à saga serve como um instrumento único para avaliar a relação do público com o jornalismo ao longo do tempo. O texto argumenta que a forma como o jornalismo é retratado na ficção influencia a percepção pública da profissão, mesmo que a maioria não tenha tido contato direto com a rotina jornalística. A ausência de experiência direta não impede a formação de uma ideia preconcebida sobre jornalistas e seu trabalho, baseada na exposição a diversas formas de mídia, como romances, filmes e televisão. A inclusão do jornalismo na narrativa de Harry Potter possibilita uma análise sobre como a cultura representa a si mesma e como a ficção pode ser um espaço de reflexão sobre as práticas reais da profissão.
2. A Presença do Jornalismo nas Plataformas de Harry Potter
O estudo utiliza a obra de J.K. Rowling como um caso de estudo para a análise da representação do jornalismo em um universo ficcional. A análise se concentra na presença do jornalismo nos sete livros da série, nos oito filmes e na versão anterior do site Pottermore, incluindo a seção 'Daily Prophet'. A autora recriou, no universo de Harry Potter, meios de comunicação reais – jornais, revistas, rádio e televisão – e personagens que atuam como jornalistas. Isso proporciona um ambiente rico para refletir sobre o jornalismo, suas críticas, conflitos e tensões culturais. O lançamento de Harry Potter coincide com transformações nos meios de comunicação e o processo de convergência midiática. A série evoluiu de um suporte impresso (livros) para múltiplas plataformas, incluindo filmes, jogos, e o Pottermore, tornando-se uma narrativa transmídia. A narrativa de Harry Potter, ambientada em um mundo que se interconecta com a realidade dos trouxas, integra elementos do cotidiano, construindo uma representação do jornalismo inserida em um contexto de transformações tecnológicas e culturais. O Pottermore, lançado em 2011, expandiu o universo de Harry Potter para o ambiente online, proporcionando aos fãs uma experiência interativa com novos materiais, incluindo uma seção 'Daily Prophet' com conteúdo exclusivo, posteriormente removido com a reformulação do site. A pesquisa analisou a versão anterior do Pottermore para acessar esse conteúdo em sua integridade.
3. Imagens e Representações do Jornalismo na Ficção
O texto destaca a importância de analisar as imagens do jornalista que circulam nos produtos culturais, reconhecendo que estas, mesmo sem corresponderem fielmente à realidade, configuram elementos importantes na construção do imaginário público sobre a profissão. A pesquisa destaca a ausência de contato direto da maior parte do público com a rotina de uma redação, contrastando com a familiaridade com as representações do jornalismo na ficção, que moldam a compreensão sobre o trabalho jornalístico. A análise da ficção como espaço de reflexão sobre o jornalismo é central, pois permite compreender como a cultura se posiciona diante da profissão e como as representações fictícias influenciam a percepção e as expectativas em relação ao jornalismo real. O estudo também enfatiza como o jornalismo da ficção serve como parâmetro para a avaliação e crítica das práticas jornalísticas reais, permitindo que o público e os próprios profissionais reflexionem sobre a profissão a partir de perspectivas alternativas e ficcionais.
II.Os Meios de Comunicação em Harry Potter Um Panorama Quantitativo
A análise revela que o jornal impresso (principalmente o Profeta Diário) tem a maior presença (71% das 555 aparições), seguido pelas revistas. A Witch Weekly, revista de fofocas, é contrastada com o Pasquim, publicação alternativa que, dependendo do contexto, serve como fonte de verdade. O rádio, com destaque para a Potterwatch, e a televisão, quase exclusivamente presentes no mundo trouxa, têm aparições menos frequentes. A pesquisa destaca o monopólio do Profeta Diário no mundo bruxo, contrastando com a pluralidade de veículos no mundo trouxa. A autora J.K. Rowling, através da distinção entre bruxos e trouxas (ou muggles), cria uma crítica velada à superficialidade da informação no mundo não-mágico.
1. Quantificação dos Meios de Comunicação Jornal Revista Rádio e Televisão
A pesquisa realizou uma análise quantitativa da presença dos meios de comunicação no universo transmídia de Harry Potter, abrangendo livros, filmes e o antigo site Pottermore. Foram contabilizadas 555 aparições de meios de comunicação, sendo a maioria (91%) relacionada ao mundo bruxo e uma minoria (9%) ao mundo trouxa. O jornal impresso apresentou o maior número de aparições (395, ou 71% do total), com destaque para o jornal bruxo, o Profeta Diário (370 aparições), em comparação com apenas 25 aparições de jornais trouxas. As revistas também tiveram presença significativa (121 aparições no total), com predominância dos veículos bruxos (100 aparições) sobre os trouxas (21 aparições). Já o rádio e a televisão apresentaram números bem menores. O rádio apareceu 27 vezes no corpus, sendo 22 na sociedade bruxa e 5 na trouxa. A televisão, por sua vez, apareceu apenas no contexto trouxa (12 aparições). Essa discrepância na quantidade de aparições entre meios de comunicação bruxos e trouxas reflete a centralidade do mundo mágico na narrativa e seu impacto na construção da história.
2. Mundo Bruxo x Mundo Trouxa Um Contraste Midiático
A análise comparativa entre os meios de comunicação bruxos e trouxas revela um contraste significativo. Enquanto o mundo bruxo apresenta um jornal impresso dominante, o Profeta Diário, que detém um monopólio de informação, o mundo trouxa demonstra uma pluralidade maior de veículos, embora com menor presença na narrativa. Essa diferença não implica menor importância dos veículos trouxas, mas sim a construção de uma realidade contrastante, onde a informação bruxa é centralizada enquanto a informação trouxa é superficial e incompleta, muitas vezes ignorante da realidade mágica. A pesquisa aponta que essa diferença de acesso à informação reflete uma crítica velada da autora J.K. Rowling à ignorância dos trouxas sobre o mundo mágico, utilizando-se do termo 'muggles' para destacar essa diferença e a visão, por vezes pejorativa, que os bruxos têm dos trouxas. A exceção a esse preconceito seria o automóvel, apropriado pelos bruxos e utilizado até mesmo pelo Ministério da Magia. O estudo utiliza exemplos, como o da notícia sobre milhares de corujas voando (correio bruxo) vista pelos Dursley, para mostrar como os acontecimentos mágicos permeiam o mundo trouxa, sem serem compreendidos em sua totalidade por aqueles sem conhecimento do mundo mágico.
3. Análise Detalhada dos Meios de Comunicação Jornal Revista e Rádio
O estudo aprofunda a análise em cada tipo de mídia, analisando o jornal impresso, revistas e rádio. O jornal impresso, dominado pelo Profeta Diário no mundo bruxo, destaca-se pelo seu monopólio de informação e a possibilidade de manipulação do conteúdo pelo governo, quando este é estável e forte. A pesquisa analisa o impacto desse monopólio na qualidade e pluralidade da informação, contrastando-o com a pluralidade dos jornais trouxas, representados genericamente, sem nomes específicos. A pesquisa analisa as revistas, destacando a Witch Weekly, voltada para fofocas e assuntos leves (soft news), e o Pasquim, que assume um papel crítico e divulga informações não veiculadas na mídia tradicional, aproximando-se do hard news. Outras revistas, como Which Broomstick e The Practical Potioneer, focadas em temas mais específicos do universo bruxo, também são mencionadas. Quanto ao rádio, o estudo destaca a Potterwatch, uma rádio clandestina que transmitia informações e notícias durante o período de domínio de Voldemort, oferecendo um contraponto às informações oficiais. A análise também aborda o controle do Ministério da Magia sobre o uso de meios de comunicação por bruxos, especialmente na intersecção entre os mundos mágico e trouxa, definindo quais riscos são aceitáveis em relação à exposição da comunidade mágica. Finalmente, a pesquisa observa que, apesar de existir o programa News at Ten nos filmes, não há nomeação de canais de televisão específicos na narrativa de Harry Potter.
III.Personagens Jornalísticos e a Cultura da Profissão
O estudo aprofunda a análise nos personagens jornalísticos, focando em Rita Skeeter (148 aparições), a repórter sem escrúpulos que trabalha para o Profeta Diário e a Witch Weekly, e Ginny Weasley, correspondente esportiva do Profeta Diário em Pottermore. A pesquisa examina também o fotógrafo Bozo e Barnabas Cuffe, editor do Profeta Diário. A análise discute como esses personagens reforçam certos mitos do jornalismo (a busca pelo furo, o impacto da instituição jornalística), mesmo sem detalhar o funcionamento de uma redação. O estudo reflete sobre o ethos da profissão e sua representação na narrativa.
1. Rita Skeeter O Estereótipo do Jornalista Vilão
A personagem Rita Skeeter, repórter do Profeta Diário e da Witch Weekly, destaca-se como a figura jornalística mais presente na narrativa (148 aparições), aparecendo também no Pasquim. Sua caracterização reforça o estereótipo do jornalista sem escrúpulos, que manipula fatos em busca de escândalos e sensacionalismo, priorizando o lucro e a audiência acima da verdade. Skeeter representa uma crítica ao jornalismo sensacionalista, que se utiliza de informações distorcidas para alcançar o sucesso profissional. Sua presença constante nas três plataformas analisadas (livros, filmes e Pottermore) evidencia a importância dessa representação na construção da crítica à ética jornalística na saga. A personagem personifica o estereótipo do 'jornalista vilão', mostrando como a busca implacável por novidades e a falta de comprometimento com a verdade podem prejudicar a credibilidade da informação. A autora parece usar Skeeter como um alerta sobre os perigos do sensacionalismo e a importância da ética na prática jornalística, contrastando com outros personagens que seguem um padrão de conduta mais ético.
2. Outros Personagens Jornalísticos Papéis e Funções
Além de Rita Skeeter, outros personagens ligados ao jornalismo são analisados, embora com menor destaque. O fotógrafo do Profeta Diário, Bozo, é um exemplo. Ele aparece em momentos pontuais, mostrando competência profissional e a percepção do prestígio de seu trabalho no mundo mágico. Sua caracterização, descrita no Pottermore como alguém com pavio curto, adiciona nuances à representação do profissional. Barnabas Cuffe, editor do Profeta Diário, é mencionado apenas uma vez, no sexto livro e filme, por meio da fala de outro personagem. Repórteres e fotógrafos genéricos também aparecem nos filmes, em entrevistas com o Ministério da Magia, mas sem papéis relevantes no enredo. Ginny Weasley é apresentada como correspondente esportiva do Profeta Diário no antigo Pottermore, porém essa caracterização ocorre em uma seção específica e não foi contabilizada na análise quantitativa principal, focando em livros, filmes e história interativa, onde ela é apresentada como adolescente. A análise destes personagens secundários contribui para a construção do panorama do jornalismo dentro do universo mágico.
3. A Cultura Jornalística em Harry Potter Mitos e Realidade
A pesquisa analisa como a série Harry Potter reforça mitos do jornalismo, principalmente a ideia de grande aventura e a busca incansável pela verdade, mesmo sem retratar o dia a dia de uma redação. Os jornalistas na saga são apresentados frequentemente “em campo”, buscando informações e entrevistando fontes, sem que se mostre o trabalho na redação. A narrativa, através das falas dos personagens, transmite uma visão idealizada da profissão, com ênfase na busca pelo “furo” como forma de distinção profissional e conquista de notoriedade. Essa idealização, porém, não esconde a crítica presente na caracterização de personagens como Rita Skeeter. A análise destaca a construção de uma mitologia em torno do jornalismo, que influencia o imaginário social e a própria percepção dos profissionais. A pesquisa identifica que, mesmo sem se aprofundar nos bastidores do jornalismo, a série de Harry Potter reforça alguns elementos importantes da cultura da profissão, criando uma representação que se sustenta na credibilidade do jornalismo como instituição social, mostrando-o como algo intrínseco à narrativa transmídia.
IV.Conclusão Ficção como Espaço de Reflexão sobre o Jornalismo
Conclui-se que a narrativa transmídia de Harry Potter oferece um rico campo para analisar a representação do jornalismo em um contexto ficcional contemporâneo. A pesquisa demonstra a presença significativa do jornalismo na narrativa, contribuindo para a construção do imaginário em torno da profissão. A ficção, embora não sendo um espelho da realidade, serve como um espaço de reflexão sobre as práticas jornalísticas, permitindo discutir criticamente os aspectos positivos e negativos da profissão. O estudo usa o universo de J.K. Rowling para abordar o tema da representação do jornalismo e a relação entre mídias digitais e narrativa transmídia.
1. A Ficção como Espaço de Reflexão sobre a Profissão Jornalística
A conclusão reitera a importância da ficção como um espaço privilegiado para a reflexão sobre o jornalismo. A análise da representação do jornalismo na narrativa transmídia de Harry Potter demonstra que a ficção, mesmo com suas próprias regras e limites, não se limita a espelhar a realidade, mas serve como um catalisador para a discussão e crítica da profissão. Os dados coletados permitiram atestar a presença do jornalismo como elemento articulador da narrativa, integrando-se às lógicas de composição e mimetizando aspectos dos processos jornalísticos reais. A pesquisa evidencia a capacidade da ficção de gerar reflexões sobre as práticas jornalísticas, servindo como um espaço de contestação e de construção de um imaginário em torno da profissão. A análise de Harry Potter, portanto, contribui para a compreensão das representações culturais do jornalismo e sua influência na percepção pública.
2. Harry Potter e a Representação do Jornalismo Contemporâneo
O estudo destaca Harry Potter como um fenômeno contemporâneo, fruto da convergência de diferentes sistemas de significação, e a análise concentra-se em um elemento específico desse universo: o jornalismo. A utilização de uma criação ficcional como objeto empírico permite refletir sobre a estrutura e os princípios da profissão tal como representados na obra. A análise de conteúdo forneceu dados concretos que demonstram a presença marcante da profissão jornalística na narrativa transmídia, destacando-a como um elemento articulador da história. A pesquisa observa que o jornalismo, na ficção, integra lógicas de composição e mimetiza parte dos processos da profissão, configurando-se como uma forma de acesso à realidade do mundo mágico. O estudo reconhece que a ficção apresenta o jornalismo de forma verossímil, mas não como um espelho do real, permitindo reflexões sobre a profissão. O artigo aponta para o uso da ficção como um catalisador para que o público e os jornalistas pensem criticamente sobre a profissão e suas práticas.
3. A Narrativa Transmídia e a Recepção do Público
Por fim, a conclusão destaca a natureza transmídia da narrativa de Harry Potter e sua relação com o público. Os fãs têm a liberdade de se apropriar da história e interpretá-la de acordo com suas perspectivas, mas a narrativa mantém o seu caráter de discurso, expressando a visão de J.K. Rowling. O jornalismo ficcional criado pela autora não é um espelho da realidade, mas está imbuído na legitimidade da profissão como instituição social, mantendo sua credibilidade como fonte de informação. A pesquisa enfatiza a capacidade da narrativa transmídia em criar um espaço de interação entre a obra e seu público, permitindo múltiplas leituras e interpretações. Apesar da natureza ficcional, a representação do jornalismo em Harry Potter mantém uma relação com a legitimidade da profissão na sociedade, servindo como um espaço de reflexão sobre a construção do imaginário em torno do jornalismo no início do século XXI.