Engenharia de Materiais: Curso Cooperativo

Após a graduação, o Professor Alarcon trabalhou por nove anos na Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA) como engenheiro industrial, atuando na Gerência de Qualidade. Suas responsabilidades incluíam a especificação de processos e produtos, com foco no desenvolvimento de aços para as indústrias automobilística, naval e de petróleo. Um destaque era o desenvolvimento de tubos com especificação API para oleodutos, gaseodutos e minerodutos. Essa experiência na COSIPA forneceu uma base sólida em engenharia de processos e desenvolvimento de materiais, crucial para sua futura atuação em pesquisa e docência. A experiência prática na COSIPA complementou sua formação acadêmica, fornecendo-lhe uma compreensão profunda dos desafios e das realidades da indústria siderúrgica, incluindo a gestão da qualidade e a otimização de processos de produção de aço. Essa base prática provou ser inestimável em sua carreira subsequente como pesquisador e professor, permitindo-lhe conectar a teoria acadêmica com as aplicações do mundo real. A experiência na Cosipa influenciou diretamente sua compreensão de como os materiais são projetados, produzidos e utilizados em aplicações industriais de grande escala.

Durante a graduação, o Professor Alarcon desempenhou funções administrativas como vice-presidente e posteriormente presidente do Diretório Acadêmico da EEIMVR/UFF, demonstrando liderança e envolvimento extracurricular. Ele também realizou um estágio de seis meses no Centro Tecnológico da Aeronáutica em São José dos Campos, SP, em 1973, participando do desenvolvimento de ligas de titânio para a indústria aeronáutica, utilizando um forno eletrônico. Este estágio forneceu experiência prática no processamento de materiais metálicos, especificamente ligados de titânio, expandindo ainda mais seu conhecimento em comportamento mecânico e fratura de materiais. Um estágio subsequente no CPqD (Campinas) aprofundou seu conhecimento em comportamento mecânico e fratura de materiais frágeis, como vidros. Essa combinação de experiência prática e liderança estudantil demonstra um perfil multifacetado, combinando habilidades técnicas com capacidades de liderança e gerenciamento.

Em agosto de 1989, o professor Alarcon ingressou na UFSC como Professor Visitante, no Laboratório de Materiais do Departamento de Engenharia Mecânica. Sua missão incluía o desenvolvimento de atividades acadêmicas em materiais cerâmicos e a criação de um Centro de Pesquisa em Cerâmica Industrial. Financiado por uma bolsa PV/CNPQ do Professor Walter Weingaertner, ele lecionou disciplinas como Materiais para Construção Mecânica (graduação) e Propriedades Mecânicas de Materiais Cerâmicos e Vidros (pós-graduação). Paralelamente, iniciou sua pós-graduação em Engenharia Metalúrgica na USP, interrompida temporariamente para um curso no CESSID em Mets/França, demonstrando comprometimento com o desenvolvimento profissional continuo e a busca de qualificação em instituições de renome internacional. A experiência como Professor Visitante na UFSC marcou o início de sua trajetória docente, combinando ensino com pesquisa e contribuindo para o desenvolvimento de uma nova área de pesquisa dentro da universidade. Este período preparou o terreno para sua futura contratação como professor efetivo na mesma instituição.

Em 1984, como professor colaborador da UNESC, ingressou no curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UNICAMP, na área de concentração em Materiais, sob orientação da professora Ana Maria Martinez Nazar. Sua dissertação de mestrado, intitulada "Efeito do Cobre no Mecanismo de Deformação e Fratura da Liga Al-6 Zn - 2 Mg - X C", foi desenvolvida com apoio da FAPESC e da EMBRAER. A pesquisa incluiu a co-orientação do Prof. Waldemar Monteiro do IPEN e inovou na propagação de trincas in situ em microscopia eletrônica de transmissão. Após o mestrado, realizou um pós-doutorado de um ano (1989) no Instituto de Física da UNICAMP, com o Professor Enrique Medrano, pesquisando Propriedades Mecânicas de Fibras Ópticas, em um projeto conjunto com a Telebrás. Essa sequência de estudos demonstra uma dedicação consistente ao avanço do conhecimento científico na área de materiais, combinando pesquisas em metais, cerâmicas e fibras óticas, sempre buscando a inovação em metodologias e a aplicação prática da pesquisa.

Em 2001, o curso de Engenharia de Materiais da UFSC passou por uma transformação curricular significativa, adotando o modelo cooperativo. Liderada pelo Professor Alarcon, essa mudança visava tornar o curso uma referência nacional, superando as limitações de infraestrutura e número de professores. A estratégia de adotar o modelo cooperativo, inspirado em experiências como a da CSN e da Universidade de Waterloo (Canadá), se baseou em estudos de educação tecnológica do Professor Idone Bringhenti. O modelo cooperativo envolve parcerias com empresas, oferecendo aos estudantes a oportunidade de realizar estágios em empresas parceiras, integrando a teoria à prática. A implementação do modelo contou com o apoio de importantes professores do departamento e da Pro-Reitora de Graduação, Sonia Probst, sendo aprovado em tempo recorde. O professor Alarcon, com sua experiência em um modelo similar na CSN, desempenhou um papel fundamental na liderança desta mudança. Atualmente, ele coordena as atividades de estágio do curso.

A contribuição do Professor Alarcon para o desenvolvimento da área de materiais cerâmicos se concretizou com a criação, em 1995, do Centro de Tecnologia Cerâmica (CTC) em Criciúma. Esta iniciativa, liderada pela UFSC em parceria com a FAPESC (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Santa Catarina), FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), SENAI e o Sindicato das Indústrias Cerâmicas, visava apoiar o desenvolvimento científico e tecnológico do setor. O CTC realiza projetos de pesquisa e desenvolvimento em processos e produtos inovadores, garantindo a qualidade dos produtos por meio de certificação INMETRO. O sucesso do CTC permitiu ao Brasil integrar o CERLABS (Rede Mundial de Laboratórios Cerâmicos), com o Professor Alarcon como membro brasileiro na década de 90. A criação do CTC em Criciúma gerou um impacto significativo no desenvolvimento industrial da região e no reconhecimento internacional da pesquisa em cerâmica brasileira, com a participação no CERLABS. A estruturação do CTC inclui laboratórios completos para ensaios físicos, mecânicos e químicos, e uma planta piloto de processamento de placas cerâmicas (atualmente administrada pelo SENAI).

A criação do curso de graduação em Engenharia de Materiais impulsionou mudanças significativas na pós-graduação, ampliando as áreas de Cerâmica e Polímeros e incentivando a formação de professores nessas áreas, até então pouco representadas. O professor Alarcon contribuiu ativamente enviando egressos da UFSC para o exterior em busca de formação especializada. Durante a implementação do curso cooperativo, a dedicação docente foi intensa, com carga horária acima da média e visitas a empresas para estabelecer parcerias, resultando em cerca de 120 convênios. Além disso, o professor Alarcon lecionou disciplinas de metalurgia (física e mecânica), processamento de materiais, propriedades mecânicas, e gestão da qualidade. Ele também coordenou o time Desafio Solar, incentivando a área naval na UFSC com projetos de barcos de propulsão elétrica fotovoltaica, participando de competições nacionais e internacionais. Sua atuação se estende à ABIMAQ (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), liderando o programa SIBRATEC/FINEP-MBC, que reúne 13 universidades e centros de pesquisa em manufatura e bens de capital. Essa diversificação de atuação demonstra um comprometimento amplo com o ensino, a pesquisa e a extensão na UFSC, abrangendo diversas áreas e promovendo a inovação.

A partir de 2014, o foco da pesquisa do Professor Alarcon se voltou para o desenvolvimento de um Veleiro de Pesquisa Oceânica, com financiamento da FINEP. O objetivo principal é a capacitação na área de projeto de embarcações e tecnologias de processamento de fabricação, utilizando processos automatizados de soldagem em ligas de alumínio. A construção do veleiro, com 20 metros de comprimento e 5,3 metros de boca máxima, representa o primeiro veleiro de pesquisa construído no Brasil por uma universidade. A pesquisa se estende à área de engenharia oceânica, com projeto e construção de novos equipamentos para pesquisa oceânica. A construção do veleiro visa não só a pesquisa em si, mas também a formação de pessoal na área de engenharia de projetos, processos e produtos, além de atuar como agente para incubação de empresas inovadoras na área naval e oceânica. A iniciativa demonstra uma abordagem multidisciplinar para pesquisa e desenvolvimento, combinando engenharia com ciências do mar.

Um projeto relevante é a criação da Rede AQUAMAQ, dentro do sistema SIBRATEC, para o desenvolvimento de máquinas para o setor de aquicultura. A rede, formada pela FEPESE, Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC, Brusinox e Marine Equipment, visa fazer engenharia reversa em máquinas holandesas para o cultivo de mexilhões e adaptá-las às necessidades brasileiras. Além disso, o projeto desenvolverá uma máquina para classificação de tilápias. A construção de uma balsa motorizada para instalação e demonstração dos equipamentos e a participação em feiras nacionais de aquicultura fazem parte do projeto. O objetivo é impulsionar a mecanização da maricultura, substituindo a cultura artesanal por uma mecanizada, com ganhos significativos de produtividade. A iniciativa destaca o compromisso do Professor Alarcon com o desenvolvimento tecnológico e a inovação em setores estratégicos da economia brasileira, como a aquicultura.

O projeto do Veleiro de Expedição Científica Oceânica – ECO UFSC60, com apoio da FINEP (projeto ITNO) e CAPES (Projeto Ciências do Mar), foca no desenvolvimento de equipamentos de exploração submarina. A pesquisa envolve professores dos departamentos de Engenharia Mecânica, Oceanografia e Biologia da UFSC, e Oceanografia da UFRGS, num esforço multidisciplinar. Os equipamentos incluem sistemas mecânicos robotizados com eletrônica embarcada para visualização de fundo e transmissão de dados, e equipamentos remotamente operados para coleta de amostras. A primeira expedição, já contratada, é o monitoramento do impacto ambiental de reservas marinhas de Santa Catarina, com apoio da Petrobrás. Há também a intenção de participar de editais do CNPQ para os arquipélagos de São Pedro e São Paulo e Trindade, com foco no desenvolvimento de marcadores de impacto ambiental geo-referenciados e coleta de amostras para bioprospecção. A pesquisa demonstra o compromisso com a investigação científica em áreas pouco exploradas e a aplicação de tecnologias inovadoras para a compreensão e preservação do meio ambiente marinho.

Um projeto de destaque envolveu o desenvolvimento de uma nova tecnologia para a queima de telhas cerâmicas em fornos a rolos, utilizando gás natural. Financiado pelo FNDCT/CTPETRO (PETROBRÁS - SCGÁS) com recursos de R$ 620.265,00 e proposto pela FEESC, o projeto resultou em ganhos de produtividade, aumento da eficiência térmica e melhorias ambientais. Foi desenvolvido um projeto de planta industrial e um estudo de viabilidade técnica e econômica, com o processo atualmente em fase de comercialização. O projeto gerou duas patentes. A inovação na tecnologia de queima de telhas demonstra o compromisso com a eficiência energética e a sustentabilidade ambiental na indústria cerâmica. A substituição de combustíveis tradicionais pelo gás natural representa um avanço significativo em termos de redução de emissão de poluentes e de otimização do processo produtivo.

Outro projeto, financiado pelo FNDCT/CT-BIOTEC com recursos de R$ 217.604,34 e proposto pelo Centro Cerâmico do Brasil, focou na pesquisa e desenvolvimento de pisos cerâmicos e compósitos para acessibilidade. Este projeto, em fase final de execução, resultará na produção de pisos cerâmicos táteis pela empresa Eliane, com validação e orientação de aplicação para construtores e usuários com deficiência visual. A instalação de pisos táteis na UFSC e na Associação dos Cegos de Florianópolis demonstra o compromisso com a inclusão social e a aplicação prática das pesquisas. A inovação neste projeto está na transferência de tecnologia para a produção de pisos acessíveis, atendendo às normas técnicas de acessibilidade e melhorando a qualidade de vida de pessoas com deficiência visual.

O Professor Alarcon também participou de projetos voltados à inovação tecnológica e controle de emissões na indústria de cerâmica vermelha, na região de Rio do Sul, Santa Catarina. Financiado pelo FNDCT/CT-ENERG, CT-VERDE AMARELO e CT-PETRO, com recursos de R$ 376.007,16 e proposto pelo Centro Cerâmico do Brasil, o projeto visava avaliar os processos de fabricação, buscando aumentar a eficiência energética, reduzir emissões atmosféricas e desenvolver novos produtos mais competitivos. Como resultado, foi criada a Agência para o Desenvolvimento de Design Cerâmico (A2D), que atua como articuladora do setor, além da realização de fóruns setoriais. A principal meta, alcançada com sucesso, foi a elevação do preço médio de exportação em mais de 30%, com aumento significativo do volume exportado. O projeto demonstra a aplicação de princípios de desenvolvimento sustentável na indústria cerâmica, aliando inovação tecnológica com aumento da competitividade e redução do impacto ambiental. A criação da A2D demonstra a busca por uma abordagem colaborativa e estratégica para o desenvolvimento do setor.

Outro projeto, com foco no Arranjo Produtivo Local (APL) da cerâmica vermelha em Santa Catarina, visava aumentar a competitividade do setor. Financiado pelo FNDCT/Verde-Amarelo com recursos de R$ 410.280,00 e proposto pelo Instituto Euvaldo Lodi de Santa Catarina, o projeto capacitou mais de 50 empresas em qualidade e produtividade, com 10 empresas obtendo certificação pelo Centro Cerâmico do Brasil. O projeto finalizado no final de 2007 demonstrou a importância da capacitação empresarial e da certificação de qualidade para o aumento da competitividade do setor cerâmico, contribuindo para o seu desenvolvimento sustentável. A iniciativa reforça o compromisso com a melhoria contínua dos processos e produtos na indústria cerâmica, visando o aumento da sua competitividade no mercado nacional e internacional, com ênfase na sustentabilidade.

Um projeto em parceria com a ANEEL/CELESC, Porcelanas Germer e Colorminas, com recursos de R$ 548.600,00 e proposto pelo Instituto Euvaldo Lodi de Santa Catarina, focou no desenvolvimento de isoladores elétricos de alta tensão de elevado desempenho. O projeto resultou em novas massas de porcelana com melhor desempenho e redução de custos de fabricação, além de esmaltes semicondutores testados para minimizar a ocorrência de flashover. Os novos isoladores estão em testes de campo na região de Laguna, conhecida por sua alta maresia. Este projeto demonstra o desenvolvimento de tecnologia para o setor elétrico, combinando inovação em materiais com a busca por maior eficiência e confiabilidade dos equipamentos, demonstrando impacto direto na melhoria da infraestrutura e na redução de perdas no sistema elétrico.

O compromisso com o Centro de Tecnologia em Materiais Cerâmicos (CTC) em Criciúma levou o Professor Alarcon a assumir o cargo de Diretor de Pesquisa da instituição por cerca de cinco anos (1995-2000), o que resultou em redução de sua carga horária de ensino e pesquisa. Posteriormente, em 2008, assumiu a chefia do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC por mais quatro anos, período em que também houve redução de sua carga horária de sala de aula e dedicação à pesquisa. Apesar das reduções de carga horária, durante este período, o Prof. Alarcon foi responsável pela criação de dois laboratórios importantes: o Centro de Tecnologia em Materiais Cerâmicos, com estrutura completa para ensaios, e o laboratório de análises químicas (Absorção Atômica e Fluorescência de Raios X), além de um laboratório de produtos acabados (certificado pelo INMETRO) e uma planta piloto de processamento de placas cerâmicas (atualmente administrada pelo SENAI). Ele também foi fundamental na criação do laboratório de materiais cerâmicos da UFSC - CERMAT (atualmente administrado pelo Prof. Márcio Fredel). Essas ações demonstram sua capacidade de liderança e planejamento estratégico, combinando gestão administrativa com o desenvolvimento da infraestrutura de pesquisa e ensino na UFSC.

O Professor Alarcon lecionou disciplinas nas áreas de metalurgia (física e mecânica), processamento de materiais industriais (ligas metálicas), propriedades mecânicas de materiais, e gestão e controle de qualidade. Essa abrangência em sua docência reflete sua experiência profissional e formação acadêmica, permitindo-lhe transmitir aos alunos tanto o conhecimento teórico como a prática industrial. Sua experiência anterior na COSIPA e em diferentes universidades contribuiu para a construção de seu currículo e a sua capacidade de ensinar diferentes temas relacionados à Engenharia de Materiais. Na pós-graduação, ele ministrou a disciplina Propriedades Mecânicas de Materiais Cerâmicos, posteriormente transferida para outros docentes. O vasto conhecimento e a experiência profissional em diferentes áreas contribuíram para a excelência do seu ensino e para a formação de profissionais qualificados na UFSC.

O Professor Alarcon participou de bancas de dissertações de mestrado e teses de doutorado em diversas áreas, demonstrando seu envolvimento com a formação de novos pesquisadores e a avaliação da produção científica na UFSC e em outras instituições. Ele também atuou como Editor Chefe da Revista Cerâmica Informação de Novembro/1998 a Novembro/2000, contribuindo para a disseminação do conhecimento na área de materiais cerâmicos. Sua participação em bancas demonstra seu reconhecimento como especialista na área, contribuindo para a manutenção dos padrões de qualidade da pesquisa e da formação de mestres e doutores. Sua atuação como Editor Chefe demonstra seu compromisso com a publicação científica e a disseminação do conhecimento gerado dentro da universidade e na área de engenharia de materiais.