A arquitectura paleocristã da Lusitânia Norte

Arquitectura Paleocristã: Lusitânia

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Autor

João L. Inês Vaz

Curso História da Arte/Arqueologia
Tipo de documento Artigo académico/Capítulo de livro
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 0.97 MB

Resumo

I.Tipologia dos Lugares de Culto Paleocristãos na Lusitânia Setentrional

Este estudo analisa a arquitectura paleocristã na região norte da antiga província romana da Lusitânia, focando-se em basílicas dos primeiros tempos do Cristianismo. Uma tipologia é estabelecida com base na localização geográfica dos edifícios religiosos: basílicas urbanas, localizadas em civitates (cidades) como Conímbriga e Idanha-a-Velha; basílicas suburbanas, próximas das sedes episcopais; e basílicas rurais, geralmente em villae romanas adaptadas. A pesquisa destaca a importância da arqueologia para a compreensão da cronologia e evolução destes monumentos, especialmente durante o período de influência do povo suevo.

1. Introdução à Tipologia Basílicas Urbanas Suburbanas e Rurais

O estudo propõe uma tipologia para os primeiros locais de culto cristão na Lusitânia Setentrional, baseada na sua localização geográfica. A tipologia distingue três grupos principais: basílicas urbanas, localizadas em civitates (cidades) e servindo como centros de dioceses; basílicas suburbanas, situadas nas proximidades das cidades-sede episcopal, sob a influência direta da organização eclesiástica; e basílicas rurais, predominantemente em villae romanas, resultantes da adaptação de edifícios pré-existentes. Este sistema de classificação permite uma análise mais sistemática da dispersão geográfica e das características arquitetônicas da arquitectura paleocristã neste período inicial. A pesquisa enfatiza a importância da arqueologia na compreensão das características e da cronologia destas estruturas, muitas vezes construídas com a reutilização de materiais romanos. A pesquisa considera a influência da organização administrativa romana na distribuição geográfica das estruturas religiosas, com as cidades a norte do Tejo apresentando uma organização territorial religiosa mais compacta. Exemplos de basílicas em cada grupo são apresentados, ilustrando a diversidade e a adaptação da arquitetura às diferentes realidades espaciais. O documento destaca a importância de se considerar a relação entre a arqueologia e a arquitetura, permitindo uma análise mais precisa das construções.

2. Basílicas Urbanas Exemplos e Características

O grupo das basílicas urbanas inclui edifícios religiosos localizados em civitates, centros administrativos e religiosos da época romana. A pesquisa destaca a importância destas estruturas como sedes de dioceses, evidenciando a organização e a hierarquia da Igreja nos primeiros tempos do Cristianismo na Lusitânia. São analisados exemplos específicos, como Conimbriga (antiga ciuitas e sede da diocese homónima), Idanha-a-Velha (ciuitas Igaeditanorum e sede da diocese de Aegitania ou Igaeditania), Mértola (antiga Mirtilis), Tongobriga, Viseu (ciuitas Interanniensium e sede da diocese Vesensis), e Santo Amaro de Beja (ciuitas de Pax Iulia e sede da diocese Pacensis). A análise centra-se na arquitetura, na localização, e na relação com a organização urbana romana. A reutilização de materiais e estruturas romanas é também considerada um aspecto importante, demonstrando a adaptação das novas construções ao contexto pré-existente. A pesquisa destaca a importância da arqueologia para a compreensão da cronologia e das características específicas de cada um destes edifícios religiosos. A presença de baptistérios, por exemplo, é analisada, e a evolução das interpretações arqueológicas, frequentemente sujeitas a revisões, é discutida. É mencionado também que estes templos cristãos representam os mais antigos do território português atual.

3. Basílicas Suburbanas e Rurais Contexto e Distribuição Geográfica

As basílicas suburbanas são definidas pela sua localização próxima das civitates, a uma distância de aproximadamente três milhas romanas, indicando uma relação direta com as sedes episcopais. Este grupo inclui um número reduzido de basílicas menores, como S. Martinho de Dume (Braga), S. Pedro de Balsemão (Lamego), e Granjinha (Chaves, antiga Aquae Flauiae). O estudo analisa a sua localização estratégica e a sua possível relação com a organização eclesiástica. Já as basílicas rurais, grupo mais numeroso, são geralmente localizadas em villae romanas, resultando da adaptação de estruturas pré-existentes. A sua distribuição geográfica é discutida, e exemplos como Torre da Palma (Monforte do Alentejo), Monte da Cegonha (Vidigueira), Montinho das Laranjeiras (Alcoutim), São Cucufate (Vidigueira), Milreu (Estói, Faro), e Miguel de Odrinhas (Sintra) são mencionados como representativos desta categoria. A pesquisa destaca a diversidade de locais onde os primeiros cristãos estabeleceram os seus locais de culto, refletindo a difusão da religião para além das zonas urbanas. A adaptação de estruturas romanas para uso religioso evidencia a estratégia de integração do cristianismo na realidade pré-existente.

II.A Basílica de Conímbriga Um Estudo de Caso

A basílica paleocristã de Conímbriga, cidade romana de grande importância na atual Portugal, apresenta uma planta complexa que tem sido objeto de diferentes interpretações arqueológicas. Apesar de algumas incertezas, a análise recente sugere uma estrutura com uma nave-salão, diaconicon e uma pequena capela-mor. Um baptistério adaptado de uma estrutura romana anterior também está presente. A importância da arqueologia na análise da arquitectura deste sítio é evidente. As escavações, dirigidas por Vergílio Correia e posteriormente por Vergílio Hipólito Correia e Jorge Quiroga, continuam a fornecer novas informações sobre a cronologia e a função da basílica.

1. Conímbriga Contexto Histórico e Arqueológico

A basílica paleocristã de Conímbriga é analisada no contexto da história da cidade, destacando-se a sua ocupação desde a Idade do Ferro até ao período romano e a sua importância como uma das cidades romanas mais conhecidas de Portugal. A cidade de Conímbriga acompanhou a evolução do Império Romano, desde o apogeu da época de Augusto até à sua queda no século V, pelas mãos dos Suevos, seguindo-se a sua elevação à dignidade episcopal. O estudo da basílica de Conímbriga serve de exemplo das dificuldades e revisões inerentes ao processo arqueológico, uma vez que as interpretações iniciais, baseadas nas escavações dirigidas por Vergílio Correia e publicadas nas Fouilles de Conimbriga, apresentavam inconsistências, como a existência de dois baptistérios. A localização de Conimbriga, como ciuitas e sede da diocese, confere-lhe uma importância central na compreensão da organização religiosa da região, durante o domínio romano e a transição para o período paleocristão. A percentagem escavada da cidade é pequena, representando uma área limitada para estudo, e a interpretação da basílica requer uma análise cuidadosa e a consideração de evidências arqueológicas diversas.

2. Interpretações da Planta da Basílica Evolução das Perspectivas

As escavações mais recentes em Conímbriga, sob a direção de Vergílio Hipólito Correia e Jorge Quiroga, levaram a uma reinterpretação da planta da basílica. A equipa atual descreve a estrutura como composta por uma nave-salão, um diaconicon e uma pequena capela-mor, ou iconostase. Um baptistério, adaptado do lago do peristilo de uma casa do século I, antecede a basílica. Esta descrição difere de interpretações anteriores, destacando as revisões e hesitações inerentes ao processo de descoberta e interpretação arqueológica. A discussão demonstra a complexidade da investigação arqueológica, e a necessidade de se revisarem as ideias iniciais à luz de novas descobertas. As escavações continuam a revelar mais informações sobre o edifício e o seu contexto, reforçando a importância da arqueologia na compreensão da evolução da arquitetura paleocristã. A incoerência inicial da planta publicada pela equipa luso-francesa, que apresentava dois baptistérios, demonstra a necessidade de uma análise contínua e de uma abordagem crítica.

III.A Basílica de Idanha a Velha Um Exemplo de Reaproveitamento e Continuidade

Em Idanha-a-Velha, antiga ciuitas Igaeditanorum e sede episcopal, a basílica paleocristã apresenta uma planta rectangular incomum, inicialmente interpretada de forma controversa. As escavações, influenciadas pelo trabalho pioneiro de D. Fernando de Almeida, revelaram uma estrutura mais complexa, com sete naves e três tramos. O estudo evidencia o reaproveitamento de materiais romanos, incluindo colunas e capitéis, e a adaptação do edifício ao longo dos séculos, até à sua utilização como igreja paroquial. A datação da basílica, associada ao período de domínio do povo suevo, é crucial para a compreensão da evolução da arquitectura religiosa na região.

1. Idanha a Velha Contexto Histórico e a Importância da Ciuitas Igaeditanorum

A aldeia atual de Idanha-a-Velha, no concelho de Idanha-a-Nova, foi outrora uma importante ciuitas romana, a ciuitas Igaeditanorum, posteriormente elevada à dignidade episcopal com a chegada do cristianismo. A sua importância histórica é realçada pela sua posição estratégica e pela sua continuidade como sede episcopal até à fundação da Guarda em 1199, por D. Sancho I. Mesmo após a transferência da sede episcopal para a Guarda, o nome e a designação egitaniense persistiram, evidenciando a ligação histórica entre as duas localidades. O estudo da basílica paleocristã de Idanha-a-Velha é marcado pelas diferentes interpretações da sua planta, desde a primeira publicação por D. Fernando de Almeida, que apresentou uma estrutura pouco comum com duas grandes aberturas nos lados menores e uma aparente reconstrução do canto da parede virada a sudeste. A evolução do entendimento da planta, à luz de novas escavações, é crucial para a compreensão do edifício e do seu contexto histórico. A cidade manteve-se povoada até ao século IX, atestando a sua importância ao longo dos séculos.

2. A Basílica Interpretação da Planta e Reaproveitamento de Materiais

As escavações em Idanha-a-Velha permitiram reinterpretar a planta da basílica, revelando um espaço amplo dividido em sete naves e três tramos, considerando-se a iconostase. Esta interpretação é reforçada pela disposição das colunas e pilastras, já assinaladas por D. Fernando de Almeida em 1962. A existência de hesitações construtivas durante a edificação é evidente, mostrando-se nas dimensões irregulares das naves. O estudo destaca o surpreendente reaproveitamento de materiais romanos na construção da basílica, incluindo colunas, capitéis e aras, que foram adaptados para o novo culto cristão. Uma ara dedicada a Júpiter Ótimo Máximo, pela ciuitas Coilarnorum, é mencionada como exemplo notável deste reaproveitamento. A basílica serviu como catedral da diocese de Egitânia até à sua transferência para a Guarda, mantendo-se em uso como igreja paroquial ao longo dos séculos, sofrendo alterações posteriores que não desfiguraram completamente o aspecto inicial. A abertura de um portal na fachada noroeste, no século XVI, é um exemplo destas alterações posteriores.

3. Datação e Cronologia Evidências Arqueológicas e Interpretações

A datação da basílica de Idanha-a-Velha é discutida com base em evidências arqueológicas. A descoberta de cerâmica cinzenta atribuível ao século V e, principalmente, de uma moeda de Constantino I, o Grande, nas valas de fundação do muro da cabeceira, fornecem informações cruciais para a cronologia. A moeda, com o brilho da cunhagem ainda presente, sugere que pouco ou nada circulou, parecendo ser uma moeda de fundação. Este pavimento foi cortado pela construção do muro da basílica, demonstrando a posterioridade da construção. O pavimento em opus signinum da ábside central assenta sobre estratos revolvidos, sem estratigrafia fiável, indicando remodelações anteriores. A análise de materiais cerâmicos, a ligação entre o muro e as pedras que formam o arco, e o facto de a construção ter cortado um edifício datado do período constantiniano, permitem datar a basílica para a segunda metade do século V ou início do século VI. Este período coincide com o domínio suevo na região, sugerindo uma associação entre a construção e a conversão do povo suevo ao cristianismo. A pesquisa realça a importância da arqueologia para uma compreensão mais precisa da cronologia e da história da construção.

IV. Pedro de Balsemão Prazo e Viseu

O estudo explora outras basílicas paleocristãs na região do Douro e Tejo, como S. Pedro de Balsemão (Lamego), com reutilização de materiais romanos e planta rectangular dividida em três naves e iconostase; a basílica do Prazo (Vila Nova de Foz Côa), situada numa villa romana e com planta rectangular; e a basílica de Viseu, com uma iconostase tripla e estrutura rectangular. Estas basílicas, datadas predominantemente da segunda metade do século V e primeira metade do século VI, ilustram a disseminação do Cristianismo e a adaptação da arquitectura aos recursos disponíveis durante o período de influência sueva e visigótica.

1. S. Pedro de Balsemão Características Arquitetônicas e Cronologia

A capela paleocristã de S. Pedro de Balsemão, próxima a Lamego, é analisada como um exemplo de arquitectura paleocristã, embora frequentemente designada como visigótica. A dificuldade em determinar o que é original e o que é resultado de reconstruções posteriores, ao longo dos séculos, é destacada. As sucessivas remodelações, incluindo as promovidas pelo bispo Afonso Pires (século XIV), D. Luís de Sousa Coutinho (séculos posteriores), e intervenções da DGEMN no século XX, dificultam a análise da planta original. No entanto, o texto observa o extraordinário reaproveitamento de materiais romanos no seu interior: troncos de colunas, capitéis e aras que serviram de suporte a altares cristãos, com destaque para a ara dedicada a Júpiter Ótimo Máximo pela ciuitas Coilarnorum. A planta de S. Pedro de Balsemão apresenta uma forma rectangular dividida em duas partes: uma pars publica, quase quadrada, dividida em três naves, e uma iconostase rectangular encostada ao lado maior. A sua cronologia é discutida, sendo proposta a segunda metade do século VI, com base em semelhanças com a uilla do Prazo, apesar da falta de elementos arqueológicos que permitam uma datação definitiva. A similaridade com a planta da villa do Prazo é usada como argumento comparativo, embora as sucessivas alterações ao longo dos séculos exijam uma análise mais aprofundada.

2. A Basílica do Prazo Planta e Datação

A basílica do Prazo, localizada na freguesia de Numão, concelho de Vila Nova de Foz Côa, é estudada como um exemplo de basílica rural, implantada numa uilla romana abandonada no século V. Dr. António Nascimento Sá Coixão, o seu descobridor, forneceu informações sobre a sua utilização até ao século XIII. A planta da fase paleocristã mais primitiva é constituída por uma cabeceira rectangular, com uma iconostase bem diferenciada das três naves, divididas por um pequeno troço de muro e duas colunas de cada lado. A nave central é maior que as laterais. A construção é inteiramente rectangular, incluindo a cabeceira. A análise da planta, comparada com outras estruturas, como S. Pedro de Balsemão, permite avançar com uma hipótese cronológica: a segunda metade do século VI, sendo necessário recuar um século na cronologia previamente atribuída a este tipo de cabeceiras rectangulares. A similaridade arquitectónica entre a uilla do Prazo e a basílica de S. Pedro de Balsemão reforça a cronologia proposta, apesar da inexistência de sondagens que confirmem a planta original. A datação e análise desta basílica rural oferecem valiosas informações sobre a propagação do Cristianismo em zonas rurais da Lusitânia.

3. Viseu Evidências e Hipóteses sobre a Primeira Sé

O estudo da possível primeira Sé de Viseu, ciuitas Interanniensium, baseia-se em evidências indiretas e tradições locais. Referências a bispos de Viseu em concílios provinciais demonstram a organização do Cristianismo na região, sugerindo a existência de uma igreja que servia como cabeça da diocese. A tradição aponta para a igreja de S. Miguel como a primeira Sé, embora não haja evidências arqueológicas que confirmem esta hipótese. A existência de uma necrópole romana adjacente à saída oriental da cidade e a tradição de ali estar sepultado o Rei Rodrigo, último rei visigótico, são referidas como elementos relevantes do contexto. A demolição da capela de S. Martinho do Cimo de Vila, no século XX, constitui uma perda de dados para a pesquisa, sendo esta capela composta de materiais romanos reutilizados, e possivelmente representando uma capela paleocristã. Em 1988, escavações na rua das Ameias revelaram a existência de uma basílica paleocristã, mas a sua análise é prejudicada por construções posteriores, incluindo uma possível construção árabe. A descrição de elementos arquitetônicos do lado noroeste desta basílica indica a existência de uma iconostase tripla, quase fechada ao povo, com ligação entre a ábside central e os absidíolos laterais.

V.Conclusão Cronologia Forma e o Papel da Arqueologia

A pesquisa conclui que a maioria das basílicas paleocristãs estudadas na Lusitânia Setentrional, construídas sob domínio suevo, apresentam uma forma rectangular ou quase quadrada. A arqueologia, através de métodos comparativos e escavações, desempenha um papel fundamental na definição de cronologias precisas e na revisão de interpretações anteriores. O estudo sugere novas cronologias para algumas basílicas, principalmente as localizadas em locais rurais, evidenciando a importância do reaproveitamento de materiais romanos na construção destes edifícios e o impacto da conversão sueva no desenvolvimento da arquitectura religiosa na região. A pesquisa evidencia a importância da arquitectura paleocristã para a compreensão da história religiosa e da evolução arquitectónica da Península Ibérica.

1. Cronologia e Forma Predominante das Basílicas

A análise das basílicas estudadas aponta para uma cronologia predominante na segunda metade do século V e primeira metade do século VI, período de domínio suevo no noroeste da Península Ibérica. A forma rectangular, em alguns casos quase quadrada, surge como predominante nestes edifícios religiosos construídos durante o domínio suevo, contrastando com a forma cruciforme, grega ou latina, observada em basílicas visigóticas posteriores, como Santa Comba de Bande, San Pedro de la Nave, e outras. A basílica de Conímbriga, com planta em cruz, é apresentada como exceção, levantando questões de interpretação. A basílica de Viseu, com um rectângulo exterior irregular e iconostase interna, representa uma variação desta tendência. A análise da basílica de S. Pedro de Balsemão permite recuar a cronologia atribuída a cabeceiras rectangulares, demonstrando a importância de revisões cronológicas baseadas em novas descobertas arqueológicas. A unificação dos reinos suevo e visigótico em 585 marca uma mudança na arquitectura religiosa, com a imposição progressiva da forma cruciforme, possivelmente influenciada por modelos bizantinos.

2. Reaproveitamento de Materiais Romanos e a Sacralização

Uma característica comum a todas as basílicas paleocristãs estudadas é o reaproveitamento de materiais romanos. Este reaproveitamento, presente em todas as construções, sugere uma estratégia de adaptação ao contexto existente e otimização de recursos. Em alguns casos, como em Balsemão e Idanha-a-Velha, o uso de aras romanas como suporte para altares cristãos pode indicar uma intencionalidade de sacralização de materiais pagãos. No entanto, na maioria dos casos, o reaproveitamento parece ter sido pragmático, utilizando-se os materiais disponíveis para a construção das novas estruturas. Este procedimento reflete a transição entre o período romano e o paleocristão, evidenciando a continuidade e a adaptação da cultura material. A observação deste reaproveitamento demonstra a relação entre o contexto histórico e as limitações materiais da época na edificação dos edifícios religiosos.

3. O Papel da Arqueologia na Interpretação da Arquitectura Paleocristã

A conclusão reforça a importância crucial da arqueologia na investigação da arquitetura paleocristã. O método comparativo, aplicado à análise das basílicas do Prazo, Balsemão e S. Gião da Nazaré, e as escavações que reformularam ideias preconcebidas em Idanha-a-Velha e S. Gião da Nazaré, demonstram o seu contributo para o estabelecimento de cronologias mais precisas e para a revisão de interpretações anteriores. A arqueologia permite estabelecer cronologias mais seguras através da análise estratigráfica e da comparação de materiais, fornecendo dados concretos para a datação dos monumentos. A pesquisa enfatiza a necessidade de novas descobertas arqueológicas para confirmar as interpretações apresentadas, sublinhando a natureza dinâmica e evolutiva do conhecimento histórico. A combinação da arqueologia com a análise arquitetónica é crucial para uma compreensão mais completa da evolução da arquitetura religiosa na Lusitânia durante o período paleocristão. A esperança por novas descobertas demonstra o dinamismo da pesquisa neste campo.