
Arte Contemporânea no Ensino de Artes Visuais
Informações do documento
Escola | Universidade Católica Portuguesa |
Curso | Ensino de Artes Visuais |
Tipo de documento | Relatório de Estágio (Mestrado) |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 2.87 MB |
Resumo
I.O Ensino de Artes Visuais e a Desvalorização da Arte Contemporânea no Ensino Básico
Este estudo investiga a problemática da escassa presença da arte contemporânea no ensino de artes visuais do ensino básico português. Observa-se uma falta de diversificação de referências artísticas contemporâneas, tanto em termos teóricos como práticos, levando ao desinteresse dos alunos e a um desajuste entre a educação artística e a realidade atual. O currículo escolar, frequentemente centrado na arte clássica e moderna, marginaliza a arte contemporânea, contribuindo para uma visão limitada da arte e para o desenvolvimento de competências artísticas incompletas. A reduzida carga horária da disciplina de educação visual, com apenas duas aulas semanais de 45 minutos, e o seu caráter opcional no 9º ano, agravam a situação. A pesquisa busca soluções para superar esta deficiência na formação dos alunos.
1. A Desvalorização das Artes Visuais no Currículo Escolar
O texto inicia apontando a precariedade do ensino de artes visuais no sistema educativo português, caracterizado pela sua desvalorização enquanto disciplina. Apesar de presentes nos currículos, o seu impacto na interiorização da arte pelos alunos é mínimo, evidenciando a necessidade de uma reflexão sobre a sua eficácia. O Currículo Nacional do Ensino Básico (2011) reconhece a importância das artes no desenvolvimento pessoal e cultural dos alunos, mas a realidade escolar contradiz essa premissa. As disciplinas de artes visuais têm perdido importância, sofrendo com a redução da carga horária (apenas duas aulas de 45 minutos por semana para Educação Visual, por exemplo) e com a opcionalidade em alguns anos letivos (como a Educação Visual no 9º ano e História da Cultura e das Artes no secundário). Esta situação é preocupante pois limita o desenvolvimento de competências artísticas nos alunos. A citação de Robinson e Aronica (2009: 234) reforça a problemática, ao mencionar que o conceito de matérias separadas e sem ligação viola o princípio do dinamismo, argumentando pela necessidade de uma abordagem mais integrada e abrangente. O sucesso no ensino de artes visuais é frequentemente associado a uma habilidade inata, relegando a aprendizagem para segundo plano e desestimulando os alunos menos propensos a uma aptidão natural. Essa percepção contribui para a desvalorização da disciplina e a acomodação dos alunos, que acreditam não serem capazes de aprender os conteúdos lecionados. A citação de Barrett (1979: 119-121) reforça a influência da família, amigos e meios de comunicação na formação da atitude dos alunos em relação à arte, enquanto as escolas pouco fazem para promover uma atitude séria em relação às artes, visualizando-as como um acessório social. A solução, segundo Barrett, reside numa relação positiva e aberta entre professores e alunos.
2. A Ausência de Referências Artísticas Contemporâneas
O estudo destaca a ausência de diversificação de referências artísticas contemporâneas no ensino de artes visuais. A didática da disciplina de educação visual carece de abordagens teóricas e práticas que incluam a arte contemporânea, resultando numa lacuna significativa na formação dos alunos. O desinteresse dos alunos pela arte contemporânea é evidenciado e identificado como um problema a ser resolvido através de uma estratégia de intervenção pedagógica. A falta de contato com a arte contemporânea gera um desajuste entre a educação artística e a realidade artística atual, conforme apontam alguns autores. A exclusão da produção artística contemporânea do ensino aumenta a distância entre a arte atual e o público, como destaca Menezes (2006: 37). Cauquelin (2005: 13) reforça essa ideia, argumentando que apesar do aumento de obras de arte, museus e galerias, a arte nunca esteve tão distante do público, uma situação também comentada por Berger (1982: 28), que associa a arte a um “mistério” acessível apenas aos ricos. O ensino tradicional de arte, baseado em atividades de mimetismo, é considerado limitado. A invenção da fotografia e a Segunda Guerra Mundial marcaram uma mudança na conceção da arte, focada no desenvolvimento da expressividade. Tanto a abordagem tradicional quanto a focada na expressividade são consideradas limitadas para a interpretação da arte atual. O estudo defende um ensino de arte que valorize a dimensão cognitivista/racional, baseado na compreensão da arte como construção de mundos através de sistemas de símbolos, como argumenta Goodman (in Carmo d'Orey, 1995: 16-17). Goodman defende que compreender arte e ciência não significa separar beleza, intuição e emoção da racionalidade e saber, pois todas são insuficientes para distinguir uma da outra, sendo que a tarefa comum é a construção de mundos através de sistemas de símbolos. A arte contemporânea, segundo Goodman, exige novas categorias para a sua compreensão.
3. A Necessidade de uma Abordagem Cognitiva e Racional no Ensino de Arte
Para superar as limitações do ensino tradicional de arte, o documento propõe uma abordagem cognitivista/racional, considerando a arte como um meio privilegiado de expressar ideias, sentimentos e conceitos, permitindo aos alunos confrontar-se consigo mesmos e expressar sua visão de mundo (Gardner, 1982: 124). Esse ensino deve explorar as fronteiras cognitivas, tornando-se mais eficiente em relação à realidade atual. O professor desempenha um papel crucial, devendo desenvolver um trabalho individual focado nos processos de criação, através do estudo teórico e do fazer experimental. É fundamental que o professor produza e aprecie arte contemporânea para estabelecer um contato menos árido com a obra de arte contemporânea, colaborando no processo de aprender/ensinar arte na escola. A arte contemporânea insere-se numa cultura visual onde a imagem tem grande poder de informação e estimula a comunicação, permitindo “estados de encontro”, relações de prazer e conflito, como argumenta Bourriaud (2006: 31). A integração de imagens de obras de arte no ensino-aprendizagem é fundamental (Ana Mae Barbosa, 2002: 19), pois ler corretamente uma imagem ajuda a exercitar a consciência do que aprendemos, sendo a escola um agente ativo nesse processo. A intervenção pedagógica proposta busca fundamentar a experiência artística no exercício da racionalidade, através da interpretação do objeto artístico e da ação produtiva. Best (1996: 60-61) defende a necessidade de um “raciocínio interpretativo”, essencial não só para as artes, mas também para o conhecimento científico e outras formas de conhecimento. A autora Barbosa (1998: 138) destaca o medo tradicional dos professores em relação à imagem na sala de aula devido à falta de preparação para descodificá-la e utilizá-la na aprendizagem reflexiva dos alunos. O professor de arte deve conhecer as especificidades das linguagens artísticas para possibilitar aos alunos o domínio do conhecimento artístico necessário à compreensão dos significados das obras de arte.
II.Conceito e Contextualização da Arte Contemporânea
O documento discute o conceito e a contextualização da arte contemporânea, reconhecendo a dificuldade de delimitação deste campo artístico relativamente recente. Analisa diferentes movimentos artísticos contemporâneos, como a Land Art e a Instalação, apresentando exemplos de artistas relevantes como Joseph Beuys, Denis Oppenheim, Joseph Kosuth, Ana Vidigal, Annette Messager, Claes Oldenburg, Coosje Van Bruggen, Fernando Lanhas, Helena Almeida, Joana Vasconcelos, Judy Chicago, Júlio Pomar, Katharina Fritsch, Louise Bourgeois, Lucian Freud, Marina Abramović, Pedro Cabrita Reis, Vieira da Silva e Vik Muniz. A pesquisa destaca a pluralidade expressiva e a diversidade de temáticas, técnicas e materiais presentes na arte contemporânea, que contrastam com a abordagem tradicional do ensino, frequentemente focada na estética e na representação mimética. A arte contemporânea questiona as convenções estéticas e explora a pesquisa conceptual, estendendo-se para além do conceito tradicional de “belo”.
1. A Dificuldade de Definir Arte Contemporânea
O texto reconhece a dificuldade em definir precisamente o que é arte contemporânea, dada a sua natureza recente e em constante evolução. A delimitação do conceito é complexa, mas crucial para a prática pedagógica. Uma estratégia proposta para compreender a arte contemporânea é o agrupamento de artistas por temáticas abordadas, propostas plásticas e intenções. Avaliar a arte contemporânea sob critérios modernistas impede uma compreensão adequada da sua natureza, pois as vanguardas modernistas foram superadas, e a pluralidade e diversidade caracterizam as novas propostas artísticas. Cauquelin (2005: 134) destaca que a produção artística contemporânea é amplamente estendida a diversos fatores, sem levar em conta a qualidade estética, apesar do retorno da figuração. As qualidades formais tradicionais (cores, formas, relação com o real, apresentação) podem estar presentes, mas a pesquisa conceptual e o questionamento das possibilidades da obra são priorizados, rompendo com a centralidade da estética e dos conceitos tradicionais de gosto, belo, génio e unicidade. Danto (2006: 13) chama a atenção para a distinção entre arte moderna (produzida sob critérios modernistas) e arte contemporânea (entendida em sentido estritamente temporal).
2. Movimentos Artísticos Contemporâneos Land Art e Instalação
O texto apresenta exemplos de movimentos artísticos contemporâneos, como a Land Art e a Instalação, ilustrando a diversidade de abordagens. A Land Art apropria-se do espaço natural, podendo ou não haver interferência do artista, sensibilizando o público para a natureza através de formas artísticas no espaço ou composições utilizando materiais naturais. As obras são, muitas vezes, de grande dimensão e efémeras, sendo registadas por fotografia. A interação física do espectador com a obra é reduzida. Já a Instalação, surgida na década de 1970, envolve a construção de cenários e ambientes, frequentemente utilizando objetos do quotidiano. Ao contrário da Land Art, o espectador pode ter uma experiência física e intelectual da obra, geralmente em espaços fechados como galerias e museus. A Instalação utiliza recursos como fotografia, vídeo, som e luz, e apresenta uma expressão complexa com críticas ao fenómeno artístico e a aspetos sociais, caracterizando-se muitas vezes por um caráter não comercial. Artistas como Joseph Beuys, Denis Oppenheim e Joseph Kosuth são mencionados como exemplos de artistas que se destacaram na Instalação.
3. Arte Contemporânea no Século XXI e suas Características
A arte contemporânea continua a traduzir a realidade envolvente através de temáticas, materiais, formas, cores, sons, linguagem e gesto, assimilando as mudanças e traduzindo-as na sua produção. A pluralidade expressiva e a criatividade são marcantes no início do século XXI, impulsionadas pela inovação tecnológica. As intervenções artísticas abordam temáticas como corpo e comportamento, questões humanitárias ou do património, ambiente e urbanismo, política e quotidiano, utilizando variados materiais, formas, técnicas e áreas. O texto questiona a eficácia do programa curricular de educação visual no contexto social, político e cultural atual, num mundo globalizado, questionando se o foco em arte clássica e moderna não marginaliza a arte contemporânea, e qual o critério para a seleção das imagens nos manuais. A arte contemporânea, com sua maior abrangência temática, técnica, material e expressiva, modifica os conceitos de arte, artista, espectador e espaço expositivo. O artista contemporâneo não é apenas um génio que busca a beleza e a representação mimética; sua prática se relaciona com a busca de conceptualização, criatividade, inovação e originalidade. O espectador passa a interagir fisicamente e mentalmente com a obra, e o espaço expositivo se amplia, dessacralizando o sentido da arte e a tornando acessível a todos.
III.Intervenção Pedagógica Aplicação da Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa e a Conceção Racional da Arte de David Best
Para solucionar a falta de arte contemporânea no ensino, o estudo propõe uma intervenção pedagógica que combina a Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa (leitura da obra, contextualização e fazer artístico) com a conceção racional da arte de David Best. A intervenção, realizada com alunos do 7º ano da turma A de um estabelecimento escolar (Instituto Nun'Alvres, em parceria com a Câmara Municipal de Santo Tirso), visou despertar o interesse pela arte contemporânea e desenvolver competências de interpretação e produção artística. Através de atividades práticas, como a análise de obras de artistas contemporâneos e a criação de trabalhos plásticos, a intervenção buscou desenvolver a interpretação artística de forma autónoma e orientada, promovendo a reflexão crítica e a autorrepresentação, utilizando o poema “Identidade” de Mia Couto como ponto de partida para uma das atividades. Os resultados da intervenção demonstram o potencial pedagógico da arte contemporânea para o desenvolvimento de competências artísticas e o aumento do interesse dos alunos pelo assunto.
1. Diagnóstico Inicial e Definição da Intervenção Pedagógica
O estudo identificou um défice de conhecimento e interesse em arte contemporânea entre os alunos do 7º ano, turma A, motivando a criação de uma intervenção pedagógica. Um inquérito inicial confirmou essa carência, evidenciando a necessidade de despertar o interesse e fornecer conhecimentos sobre o tema. A estratégia pedagógica visou tornar os alunos mais ativos na aprendizagem, aproximando-os da realidade artística atual. A intervenção foi baseada na conceção racional do ensino de arte de David Best, que enfatiza o exercício da racionalidade na compreensão da arte, e na Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa, que propõe a articulação entre a leitura da obra, a sua contextualização e o fazer artístico, como metodologia para o ensino-aprendizagem de artes visuais. O objetivo central da intervenção foi preencher a lacuna de conhecimento e fomentar o interesse dos alunos pela arte contemporânea, utilizando métodos ativos e relevantes para a realidade artística atual.
2. Aplicação da Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa
A intervenção pedagógica se baseou na Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa, que articula três ações principais: leitura da obra de arte, contextualização e fazer artístico. A primeira ação, a leitura da obra, foi trabalhada em duas fases: uma fase de interpretação autônoma, guiada pela concepção racional de David Best, onde os alunos associaram palavras e comentários às obras, e uma fase de interpretação orientada, com a leitura e contextualização das obras, segundo a proposta triangular. A segunda ação, a contextualização, envolveu a análise das obras selecionadas, explorando as suas temáticas, materiais e contexto histórico. A terceira ação, o fazer artístico, consistiu em atividades práticas que permitiram aos alunos expressarem sua criatividade e compreensao da arte contemporânea. A escolha das obras para análise teve em conta o interesse das obras face às temáticas abordadas e à faixa etária dos alunos. A autora Ana Mae Barbosa (1985: 41) enfatiza que o fazer artístico isolado não contribui para a capacidade criadora, sendo imprescindível a articulação com a leitura e contextualização das obras de arte. A livre expressão, sem intervenção, pode levar à banalização da arte e ao consumo de imagens, sem desenvolvimento da capacidade crítica do aluno. O fazer artístico, segundo a Proposta Triangular, é um “fazer intencional, produtivo e necessário” (Barbosa, 1991: 6).
3. Atividades Práticas e Resultados da Intervenção
As atividades práticas incluíram a análise de obras de artistas contemporâneos como Ana Vidigal, Annette Messager, Claes Oldenburg & Coosje Van Bruggen, e outros, utilizando uma ficha de análise para registro das impressões individuais dos alunos. Seguiu-se um trabalho final de autorrepresentação da figura humana, a partir de uma fotografia e uma lista de características pessoais, incentivando a reflexão sobre a identidade e a relação entre simbologia, grafismo, cores e dimensões. Uma atividade comemorativa ao Dia Mundial da Poesia, em parceria com professores de Artes Visuais e Língua Portuguesa, utilizou o poema “Identidade” de Mia Couto para a criação de instalações com peças de roupa, integrando poesia e arte contemporânea. O uso de um powerpoint sobre o conceito de instalação auxiliou a compreensão dessa forma de arte. A metodologia incluiu a apresentação de imagens em duas fases (interpretação autônoma e orientada), seguindo a metodologia anterior, com a aplicação da Proposta Triangular e a concepção racional da arte de David Best. A análise dos resultados focou uma amostra de alunos, comparando com os dados iniciais. Os alunos demonstraram empatia com as temáticas das obras contemporâneas, revelando profundidade de reflexão nas suas interpretações. A liberdade de criação foi bem utilizada, com os alunos criando autorretratos num contexto contemporâneo, valorizando a conceptualidade e a expressividade, em detrimento da representação mimética e da busca do belo.
IV.Resultados e Conclusões Potencial Pedagógico da Arte Contemporânea
Os resultados da intervenção pedagógica, analisados a partir de inquéritos e da observação dos trabalhos dos alunos, indicam um aumento do interesse e da compreensão da arte contemporânea. A aplicação da Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa e a conceção racional de David Best provaram ser eficazes na mediação do processo de ensino-aprendizagem. A atividade culminou numa exposição dos trabalhos dos alunos, evidenciando a capacidade dos mesmos para explorar temáticas, técnicas e materiais diversos na criação de autorretratos. A pesquisa conclui que a integração da arte contemporânea no currículo escolar é fundamental para uma educação artística mais completa e atualizada, capaz de desenvolver nos alunos o pensamento crítico e a criatividade, superando a visão tradicional e limitada da arte.
1. Análise dos Resultados da Atividade 1 Pintura e Escultura Contemporâneas
A análise dos resultados da primeira atividade, focada em pintura e escultura contemporâneas, utilizou uma amostra dos alunos que também participaram do inquérito inicial. As apreciações dos alunos foram registadas e analisadas. Um exemplo foi a releitura da obra "Maman" de Louise Bourgeois pelo aluno E, que demonstrou empatia pela temática autocrítica da obra. A analogia entre a aranha e a figura materna, como formas de proteção, despertou o interesse do aluno, demonstrando que, independentemente do caráter crítico ou autocrítico, foi possível estabelecer relações de empatia entre as obras e os alunos. A análise destacou a capacidade dos alunos para focar em características positivas e negativas, com teor físico, emocional e intelectual, revelando uma grande profundidade de reflexão. Os resultados práticos demonstraram que os alunos souberam aproveitar a liberdade de criação plástica, criando autorretratos que refletiam o conceito de desenho contemporâneo, numa perspetiva autocrítica, valorizando a conceptualização e explorando diferentes expressividades, materiais e técnicas (canetas, marcadores, lápis de cor e lápis grafite).
2. Análise da Atividade 2 Autorrepresentação e o Poema Identidade
A segunda atividade, centrada na autorrepresentação a partir do poema "Identidade" de Mia Couto, e realizada em comemoração ao Dia Mundial da Poesia, envolveu a seleção de uma peça de roupa autorrepresentativa. Os alunos investigaram a peça escolhida, explorando suas relações pessoais, funcionalidade, cor e forma. A intervenção se deu na parte frontal das peças, facilitando uma leitura direta, utilizando tintas e marcadores para tecido. A análise focou-se na articulação entre a simbologia das palavras representadas, o grafismo e a cor. O trabalho do aluno C, com uma t-shirt branca, exemplifica o uso das potencialidades cognitivas da arte contemporânea, estabelecendo analogias entre o uso, a simplicidade formal e o cromatismo da peça. A cor branca, associada à tranquilidade e pureza, refletia qualidades com que o aluno se identificava. A atividade, realizada no 2º período e exposta no Instituto Nun'Alvres e na Câmara Municipal de Santo Tirso, contou com a participação de todas as turmas, em colaboração com professores de Artes Visuais e Língua Portuguesa, permitindo um projeto interdisciplinar que evidenciou a importância da arte contemporânea no ensino-aprendizagem de artes visuais, articulando diferentes formas de arte.
3. Conclusões sobre o Potencial Pedagógico da Arte Contemporânea
A intervenção pedagógica, que combinou as contribuições de Ana Mae Barbosa e David Best, demonstrou o enorme potencial pedagógico da arte contemporânea. A Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa, com suas estratégias inovadoras – leitura da obra, contextualização e fazer artístico – provou ser eficaz em modificar o estado de anacronismo do ensino de artes visuais. Os alunos desenvolveram a interpretação artística de forma autônoma e orientada, com um fazer artístico reflexivo e contextualizado. A abordagem da arte contemporânea permitiu aos alunos ampliarem seus conceitos de arte, artista, espectador e espaço expositivo, reconhecendo a abrangência temática, técnica e material da arte contemporânea, assim como a nova relação entre artista e espectador e a dessacralização do espaço expositivo. A concepção racional da arte de David Best, que articula a compreensão da arte com o exercício da racionalidade, foi uma ferramenta importante na abordagem das potencialidades cognitivas e criativas da arte contemporânea. O estudo conclui que a arte contemporânea, com sua multiplicidade temática, técnica, material e expressiva, oferece um enorme potencial para o desenvolvimento do pensamento crítico e da criatividade nos alunos, superando limitações do ensino tradicional de artes.