A comunicação pública no século XXI: epistemologias educomunicativas nas redes sociais digitais

Educomunicação nas Redes Sociais

Informações do documento

Autor

Liliane Moiteiro Caetano

Escola

Universidade de São Paulo, Escola de Comunicações e Artes

Curso Ciências da Comunicação
Tipo de documento Tese
Local São Paulo
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 2.05 MB

Resumo

I. Deliberação Pública Online e Redes Sociais Digitais no Brasil Metodologias e Desafios

Esta pesquisa de doutorado investiga a deliberação pública online em grupos de redes sociais digitais no contexto brasileiro, focando especialmente na área da educação pública. O objetivo inicial era desenvolver um aplicativo para coletar dados de usuários debatendo políticas públicas educacionais, mas a pesquisa evoluiu para analisar a própria dinâmica dessas conversas virtuais, considerando a liberdade de expressão, a censura, a autocensura, e o surgimento de novas epistemologias educomunicativas. A pesquisa conclui que esses espaços digitais não aumentam ou diminuem a democracia em si, mas sim servem como recursos adicionais para a participação cívica e política daqueles que acreditam em sua importância. A metodologia incluiu etnografia digital (netnografia) para observar as conversações e compreender as condições sociais, políticas e econômicas que as moldam.

1. Objetivo Inicial e Evolução da Pesquisa

A pesquisa começou com o objetivo de criar um aplicativo para coletar dados online sobre a deliberação de políticas públicas, especialmente na área educacional, em grupos de redes sociais digitais. No entanto, o contexto político e econômico, com suas mudanças sociais, influenciou a coleta de dados. Conceitos como liberdade de expressão, censura, autocensura e novas epistemologias, aqui denominadas 'educomunicativas', orientaram a observação das conversas digitais e a análise dos resultados para a elaboração de políticas públicas. A pesquisa concluiu que os espaços digitais de deliberação não aumentam ou diminuem a democracia intrinsecamente, mas servem como um recurso adicional para quem valoriza a participação cívica e política.

2. Metodologia Netnografia e Observação das Conversas Digitais

A metodologia empregada foi a etnografia digital, ou netnografia, que permitiu uma imersão na cultura online e a observação participante das conversas. Essa abordagem qualitativa buscou entender o contexto em que a deliberação pública ocorre, considerando as condições culturais, econômicas e políticas que influenciam os participantes. O estudo considerou também o impacto de fatores como o acesso desigual à internet e as diferentes condições de vida e trabalho, especialmente para mulheres. A observação se concentrou na análise das interações, discursos e dinâmicas de poder presentes nas conversas em redes sociais digitais, buscando compreender a formação de opiniões e a tomada de decisões em um ambiente digital.

3. Liberdade de Expressão Censura e Novas Epistemologias Educomunicativas

A pesquisa analisou a relação entre liberdade de expressão, censura e autocensura nas conversas online. A emergência de novas epistemologias, denominadas 'educomunicativas', foi crucial na análise da pesquisa. Este conceito, desenvolvido na tese, extrapola a visão tradicional de educação como simplesmente a relação educador-educando, incorporando as necessidades comunicacionais cotidianas e o contexto digital. A pesquisa discutiu a influência de diferentes atores (instituições, grupos, empresas) como enunciadores na produção do conhecimento e nas conversas online, especialmente no que se refere ao potencial deliberativo das redes sociais. O conceito de 'educomunicativas' se tornou central na compreensão da complexa interação entre educação, comunicação e o ambiente digital.

4. Análise de Dados e Resultados Ferramentas Online para Deliberação Pública

A pesquisa ofereceu indicações sobre formatos para o design de ferramentas online que promovam a deliberação pública nas redes sociais. A análise dos dados coletados buscou identificar as potencialidades e as limitações desses espaços, reconhecendo a necessidade de metodologias robustas para análise de dados e considerando os desafios éticos, como a presença de perfis falsos (astroturfing) e a questão da privacidade dos usuários. A pesquisa também destacou a complexidade da relação entre deliberação online e espaços democráticos, argumentando que esses espaços digitais são apenas um recurso adicional para aqueles que já acreditam na importância da participação cívica. O estudo aponta a necessidade de mais pesquisas para um melhor entendimento sobre a relação entre perfis falsos e a deliberação online.

II. O Neoliberalismo e as Políticas Públicas de Educação no Brasil

Um foco central é a análise crítica do impacto do neoliberalismo nas políticas públicas educacionais brasileiras. A pesquisa examina como a influência de instituições internacionais como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), e a adoção de políticas econômicas neoliberais, têm afetado a qualidade e o acesso à educação básica pública. Obras de autores como Mota e Leher, e o debate em torno da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, são utilizadas para explorar as consequências da redução de gastos públicos com o bem-estar social, incluindo a educação. A pesquisa também aborda o discurso sobre a privatização da educação, financiada pelo Estado, e a necessidade de fortalecer a educação pública e a luta contra a influência das políticas neoliberais.

1. O Neoliberalismo como Contexto das Políticas Públicas Brasileiras

A seção analisa o neoliberalismo como o principal arcabouço ideológico que molda as políticas públicas brasileiras, especialmente na área da educação. A discussão aborda a natureza do neoliberalismo, não como uma teoria formalmente definida, mas como uma prática concreta que se manifesta na realidade econômica desde os anos 1970. O texto cita Abranches (2017) para argumentar que o termo 'neoliberalismo' é frequentemente usado pejorativamente pela esquerda, enquanto a direita o utiliza de maneira similar contra correntes socialistas ou estruturalistas. A pesquisa enfatiza a influência do neoliberalismo em decisões governamentais, que priorizam a redução de gastos com bem-estar social (saúde, educação e previdência) em detrimento de outros objetivos. O estudo destaca a relação entre crise econômica (como a crise do petróleo da década de 1970) e a adoção de políticas neoliberais, assim como sua influência na diminuição da força dos movimentos sindicais e no aumento do desemprego.

2. Impacto do Neoliberalismo na Educação Pública Brasileira Acesso x Qualidade

A análise se aprofunda no impacto específico do neoliberalismo na educação pública brasileira. Apesar da expansão do acesso à educação escolar após a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) de 1996 – um feito sem precedentes na história do país – a pesquisa destaca que nem a LDB, nem a Constituição Federal de 1988, nem o Estatuto da Criança e do Adolescente garantiram condições mínimas de qualidade. A expansão da escolarização, portanto, não se traduziu automaticamente em melhoria da qualidade do ensino. O texto aponta o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) como importantes disseminadores dos princípios neoliberais, através de empréstimos condicionados a investimentos na educação básica pública, visando a universalização do acesso. No entanto, essa universalização se deu em detrimento da qualidade, criando um cenário paradoxal de expansão quantitativa sem a correspondente garantia de qualidade.

3. O Papel do Estado e a Privatização da Educação Uma Crítica ao Neoliberalismo

A seção discute a crença, defendida por alguns, de que o Estado não consegue mais promover o bem comum e a necessidade de novas formas de ação coletiva, como as Organizações Não Governamentais (ONGs). Entretanto, a pesquisa critica a privatização da educação financiada pelo Estado, considerando-a uma forma de o Estado se eximir de suas responsabilidades constitucionais. O texto cita Paulo Freire (1992) para argumentar contra a ideia de que grupos populares devem substituir o Estado em seu dever de oferecer educação de qualidade, defendendo a luta pela autonomia da escola pública sem abdicar da responsabilidade estatal. São mencionados exemplos de iniciativas privadas com financiamento estatal, como os programas 'Amigos da Escola' e 'Adote um Aluno', do governo Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990, como tentativas de transferir a responsabilidade pela educação para a sociedade civil.

4. A Voz Silenciada dos Professores e a Necessidade de Diálogo

A pesquisa aponta para o silenciamento das vozes dos professores da educação básica na elaboração e aplicação de políticas públicas. O estudo ressalta a insuficiência de sua participação na discussão e definição de políticas educacionais, mesmo em relação às suas próprias condições de trabalho, citando Murillo (2001) e Palamidessi (2003). O discurso governamental sobre a baixa qualidade da educação frequentemente se concentra na necessidade de formação docente, tanto inicial quanto continuada, muitas vezes oferecida por instituições privadas. A pesquisa argumenta que esse foco na formação docente desconsidera outros fatores cruciais, como infraestrutura, condições de trabalho e autoestima profissional, criando um 'triângulo das bermudas' que afeta a qualidade da educação. A pesquisa finaliza com uma crítica à falta de diálogo entre governos, municípios, sindicatos e a sociedade, resultando em um cenário de desvalorização da profissão docente e comprometimento da educação pública.

III. O Silenciamento da Voz Docente e a Necessidade de Diálogo

A pesquisa destaca o silenciamento das vozes dos professores da educação básica, especialmente durante os períodos de implementação de políticas educacionais, analisando três momentos históricos distintos. A pesquisa aponta para a falta de diálogo entre governos (estaduais e municipais), sindicatos e a própria sociedade civil no que concerne à qualidade da educação. A problemática se agrava devido a precarização do trabalho docente, a falta de investimento na infraestrutura escolar e a baixa autoestima profissional. A pesquisa argumenta que a formação docente (inicial e continuada), muitas vezes fornecida por instituições privadas, não é suficiente para resolver os problemas complexos da educação básica brasileira. A pesquisa cita exemplos concretos, como as demissões de docentes em Fortaleza (2016), a militarização de escolas em Goiás, e o fechamento de salas de aula em diferentes estados. A falta de diálogo e o silenciamento contribuem para o esvaziamento da escola como um espaço de transformação e aprendizagem democrática.

1. O Silenciamento da Voz Docente Um Fenômeno Multifacetado

A seção centraliza a discussão sobre o silenciamento das vozes dos docentes da educação básica na construção e implementação de políticas públicas. Esse silenciamento é apresentado não como um evento isolado, mas como um processo contínuo, marcado por diferentes momentos históricos e expresso em diversas formas. A pesquisa identifica três momentos principais de silenciamento: o primeiro, entre as décadas de 1960 e 1980, caracterizado pela precarização do trabalho docente, com salários baixos e aumento da jornada de trabalho, apesar do esforço estatal em expandir o acesso à educação básica. O segundo momento, a partir da Constituição de 1988, destaca a universalização do acesso à educação como um preceito constitucional que, na prática, não se concretiza plenamente devido a problemas na qualidade do ensino. O terceiro momento, nas décadas de 1990 e 2000, observa a implementação de políticas públicas educacionais com subsídios de instituições internacionais (BID e FMI), que, embora promovam a universalização do acesso, não garantem qualidade. A falta de diálogo entre governos, municípios, sindicatos e a sociedade civil aprofunda o silenciamento, contribuindo para a desvalorização da profissão docente e para o esvaziamento da escola como espaço de transformação democrática.

2. Análise das Condições de Trabalho e o Triângulo das Bermudas

A análise aprofunda as precárias condições de trabalho dos professores, destacando o impacto do crescimento quantitativo do setor sem o correspondente investimento em qualidade. A combinação de crescimento quantitativo, formação acelerada e baixos salários deteriorou as condições de vida e de trabalho do professorado, levando ao aumento de greves nas décadas de 1970 e 1980. O texto descreve um 'triângulo das Bermudas' que afeta a educação brasileira, formado por problemas de infraestrutura (questões econômicas e sindicais), formação docente (inicial e continuada) e a baixa autoestima profissional dos professores. Este último ponto é crucial, pois a imagem socialmente projetada do professor contribui para sua desvalorização. A pesquisa de Souza (2009) ilustra essa situação nas periferias urbanas, onde a escola, sem um fundamento pedagógico consistente, prioriza a disciplina em detrimento do ensino, transformando os professores em 'carcereiros'. O preconceito contra os professores é tão relevante quanto o preconceito contra os alunos.

3. Exemplos Concretos de Silenciamento e a Falta de Diálogo

A seção apresenta exemplos concretos de silenciamento da categoria profissional, como a demissão de docentes da rede municipal de Fortaleza em janeiro de 2016, a tentativa de militarização de escolas estaduais em Goiás (e a resistência por meio de ocupações estudantis), e o fechamento de salas de aula nas redes estaduais do Mato Grosso do Sul e São Paulo e municipal de Salvador. Esses exemplos demonstram a opressão sofrida pelos professores e a falta de diálogo entre governos, municípios e sindicatos. O discurso governamental sobre a baixa qualidade da educação básica é geralmente justificado pela necessidade de formação continuada dos docentes, priorizando a formação oferecida por instituições privadas. A pesquisa indica que a administração pública ignora a complexidade do problema, que extrapola a questão da formação docente, e a necessidade crescente de diálogo com a sociedade para a construção de políticas públicas mais eficazes. A pesquisa também destaca como a falta de diálogo resulta em um possível esvaziamento da escola enquanto espaço de transformação e aprendizado de práticas democráticas.

IV. Redes Sociais Digitais como Espaços de Deliberação Potencialidades e Limitações

A pesquisa explora o uso de redes sociais digitais, como o Facebook, como espaços potenciais para a deliberação pública. Analisa-se o uso do Facebook em diferentes grupos, como aqueles relacionados à educação, saúde e relações públicas, para identificar os processos deliberativos. No entanto, a pesquisa também reconhece as limitações, como a presença de perfis falsos (astroturfing), a influência de campanhas políticas, e a falta de igualdade de acesso à internet. O estudo destaca a importância de metodologias como a análise da conversa para entender a dinâmica dessas conversas online. São discutidas as relações entre privacidade, liberdade de expressão e a necessidade de transparência em espaços digitais públicos. A pesquisa cita o trabalho de autores como Capra e Costa para analisar as redes sociais como espaços de formação de identidade e de sociabilidade. A pesquisa destaca a importância do território e da conectividade na ação social em rede.

1. Redes Sociais como Espaços de Deliberação Pública Potencial e Realidade

A seção examina as redes sociais digitais, principalmente o Facebook, como espaços para a deliberação pública, reconhecendo seu potencial, mas também suas limitações. O texto observa que milhões de brasileiros utilizam essas plataformas para discutir diversos temas, incluindo políticas públicas. A pesquisa, no entanto, destaca a complexidade de usar dados de redes sociais em pesquisas científicas, apontando dois desafios principais: a presença de perfis falsos (astroturfing) e a dificuldade em obter dados sobre a relação entre perfis falsos e perfis 'íntegros' sem a colaboração da própria empresa Facebook. A identificação de perfis falsos não implica, necessariamente, em identificar atores que se apropriam de temas e ações propostas nos grupos, abrindo caminho para futuras pesquisas. O texto também reconhece que esses espaços online não garantem, automaticamente, a ampliação da democracia, servindo apenas como um recurso adicional para aqueles que já valorizam a participação cívica.

2. Desafios Metodológicos e a Importância da Análise da Conversa

A pesquisa aponta para a necessidade de metodologias robustas para análise dos dados coletados nas redes sociais. São mencionadas contribuições metodológicas de estudos como 'Cartografias das Controvérsias' (UFES e UFRJ) e 'Monitor do debate político no meio digital', que acompanham publicações no Facebook de veículos de grande mídia e blogs. Para pesquisas sobre deliberação online, a seção sugere o uso da Análise da Conversação ou Análise da Conversa como um instrumental teórico e metodológico, que permite uma sistematização mais estruturada. A netnografia, utilizada na pesquisa, é apresentada como uma adaptação de métodos qualitativos da pesquisa de consumo, antropologia cultural e estudos culturais, enfatizando a participação plena na cultura estudada. A pesquisa destaca a necessidade de se considerar a quantidade de perfis falsos (astroturfing) e os critérios para o fornecimento de dados publicados na rede social, fatores que influenciam a análise das conversas e a interpretação dos resultados.

3. Exemplos de Deliberação Online e suas Limitações O Caso do Facebook

A seção ilustra a deliberação online com exemplos de grupos do Facebook relacionados a diferentes áreas, como o Ato Médico, profissionais de relações públicas e categorias profissionais da educação pública básica. Esses exemplos demonstram como a participação popular em redes sociais pode funcionar como um modus operandi de relações sociais, seguindo a perspectiva de Peruzzo (2004) que considera a participação popular um direito humano, um dever político e um instrumento de construção nacional. Contudo, a pesquisa também reconhece as limitações das conversas virtuais como processos deliberativos, com Marques e Martino (2016) argumentando que a tolerância e o respeito a pontos de vista divergentes são dificilmente alcançados, devido à predominância da retórica, da desvalorização do ponto de vista alheio e do reforço de opiniões em grupos homogêneos. A pesquisa também discute a instabilidade jurídica relacionada ao uso público e privado da fala online e a influência de campanhas políticas e ações de empresas que podem distorcer o potencial deliberativo das redes sociais. A pesquisa cita a influência de Martin-Barbero, Horkheimer, Adorno e Benjamin sobre os procedimentos de massificação da mídia, que podem desvirtuar o uso das redes para a deliberação.

4. Privacidade versus Conversação Pública O Dilema do Acesso à Informação

A seção destaca o conflito entre a necessidade de conversação pública e a proteção da privacidade online, enfatizando a importância de respeitar a Constituição Federal de 1988 e o Marco Civil da Internet. No entanto, nem todas as pessoas estão dispostas a abrir mão de sua privacidade, mesmo em prol da conversação pública. A pesquisa aponta para a complexidade das interações online e para a necessidade de equilibrar a promoção do debate público com a proteção dos direitos individuais. São apresentados exemplos de como a linha tênue entre liberdade de expressão e censura pode se manifestar, citando casos de detenções por desacato após críticas à polícia em redes sociais e a tentativa de controle do Facebook sobre o compartilhamento de conteúdo. A pesquisa conclui que, embora a conversação pública online seja lícita e importante, a questão da privacidade permanece central, como um direito fundamental que não pode ser negligenciado.

V. Metodologias de Pesquisa e Epistemologias Educomunicativas

A pesquisa utiliza uma abordagem metodológica multifacetada, combinando netnografia, Grounded Theory e observação participante. A pesquisa também propõe o conceito de epistemologias educomunicativas, que amplia a compreensão da relação entre educação e comunicação para além do modelo tradicional de educador/educando. Este conceito considera as necessidades comunicacionais cotidianas, a produção e remixagem de conteúdo audiovisual, e a ação de instituições e grupos que atuam como enunciadores nas redes sociais. A pesquisa dialoga com autores como Jesus Martin-Barbero e Alice Ces para discutir a massificação da mídia e a importância das epistemologias do Sul para entender as desigualdades sociais e a busca por justiça cognitiva.

1. Metodologia de Pesquisa Abordagem Multifacetada

A pesquisa empregou uma metodologia multifacetada para analisar a deliberação pública online. A netnografia, uma adaptação de métodos qualitativos da pesquisa de consumo, antropologia cultural e estudos culturais, foi fundamental para a imersão na cultura online e a observação participante das conversas. Essa abordagem imersiva permitiu ao pesquisador se tornar parte ativa das relações online, como um membro reconhecido da comunidade virtual. Além da netnografia, a pesquisa utilizou a Grounded Theory, articulando procedimentos de coleta de dados como entrevistas, observação participante e elaboração de diário de campo. Essa combinação de métodos qualitativos visou a uma compreensão profunda e contextualizada das conversas online, considerando fatores culturais, econômicos e políticos que influenciam a deliberação pública. A pesquisa também utilizou dados de outras fontes, como notícias de 2011 sobre a expansão do Facebook no Brasil.

2. Epistemologias Educomunicativas Um Conceito Ampliado

A pesquisa introduz o conceito de 'epistemologias educomunicativas', que amplia a visão tradicional da educomunicação, que muitas vezes se limita à relação educador-educando. A proposta de 'epistemologias educomunicativas' incorpora as necessidades comunicacionais cotidianas, como migrações, a vigilância parental e a produção de conteúdo audiovisual, que permeiam o uso da internet e das redes sociais. Essa ampliação conceitual é crucial para entender a complexa dinâmica das conversas online, reconhecendo a influência de diferentes atores como instituições, grupos e empresas que atuam como enunciadores nas redes sociais. O conceito considera também como as campanhas políticas, em anos eleitorais, utilizam as redes sociais, muitas vezes de maneira não ética, influenciando os comportamentos discursivos e os temas que circulam socialmente. A pesquisa cita Jesus Martin-Barbero, Horkheimer, Adorno e Benjamin para discutir aspectos massificadores da mídia que podem desvirtuar o uso das redes para a deliberação.

3. Contribuições Metodológicas e a Busca por Mudanças Paradigmáticas

A pesquisa destaca contribuições metodológicas de outros estudos, como 'Cartografias das Controvérsias' (UFES e UFRJ) e 'Monitor do debate político no meio digital', que analisam discursos e ações deliberativas no Facebook. O estudo ressalta a necessidade de mudanças paradigmáticas nos estudos acadêmicos e métodos de coleta de dados, enfatizando a pluralidade na produção de conhecimento científico. Há uma ênfase na observação das vozes que não ecoam na grande mídia, considerando as redes sociais digitais como espaços públicos que, por vezes, se assemelham a ágoras digitais. A pesquisa também cita Silveira (2011) sobre o questionamento feminista da ciência e tecnologia, e Alice Ces (2012) sobre epistemologias do Sul, para reforçar a necessidade de perspectivas plurais na análise. A pesquisa propõe um olhar crítico para as práticas de controle e violência, alertando para a necessidade de se observar as vozes silenciadas para uma produção de conhecimento mais justa e inclusiva.