A criança à descoberta do jogo! : observações e reflexões de uma estagiária em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo

Jogo na Educação Infantil: Relatório de Estágio

Informações do documento

Autor

Rafaela Medeiros Vieira

instructor/editor Professora Doutora Raquel Dinis
Escola

Universidade dos Açores

Curso Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico
Tipo de documento Relatório de Estágio
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 3.91 MB

Resumo

I.O Estágio Pedagógico e a Formação Inicial de Professores A Importância da Atividade Lúdica

Este estudo analisa a formação inicial de professores, focando o papel crucial do estágio pedagógico na preparação para a profissão docente. Destaca-se a importância da atividade lúdica (brincar e jogar) como ferramenta pedagógica no ensino-aprendizagem, em Educação Pré-Escolar e 1.º CEB. Diversos modelos curriculares, incluindo o High-Scope e o Movimento da Escola Moderna, são considerados, com ênfase na adaptação às necessidades das crianças e na prática pedagógica reflexiva. A pesquisa cita autores como Caires (2001), Formosinho e Niza (2001), e Perrenoud (1993) para fundamentar a importância da formação contínua e da experiência prática supervisionada na construção da identidade profissional docente. A observação e a avaliação são apresentadas como etapas essenciais da prática pedagógica.

1. O Estágio Pedagógico Uma Experiência Formativa Crucial

O estágio pedagógico é apresentado como um momento fundamental na formação inicial de professores, representando a ponte entre a teoria e a prática profissional. Caires (2001) reforça essa ideia, considerando o estágio como uma experiência estruturada e um marco para a entrada no mundo profissional (p.15). A importância da formação em ambos os ciclos (licenciatura e mestrado) é destacada, com ênfase na formação pedagógica, didática específica, formação cultural, social e ética, culminando com a prática supervisionada. A necessidade de uma preparação rigorosa e que valorize a função docente é enfatizada, considerando a renovação dos quadros escolares e a procura de novos docentes nos próximos anos (p. 2819). O decreto-lei que complementa e caracteriza o desempenho dos profissionais de educação, nomeadamente educadores e professores do 1º CEB, e orienta a organização e acreditação dos cursos de formação inicial de docentes, também é mencionado. Formosinho e Niza (2001) definem o objetivo da formação inicial como proporcionar aos candidatos uma formação pessoal e social que integre informações, métodos, técnicas e valores científicos, pedagógicos e sociais adequados ao exercício da função (p.4). A adaptação às necessidades das crianças e do meio envolvente é crucial, frequentemente realizada em conjunto com professores universitários e educadores/professores cooperantes. Perrenoud (1993) destaca a formação como um processo contínuo, através do contacto com diversas práticas e interação com professores mais experientes, assegurando que a formação inicial acompanha o profissional por toda a sua vida (p. 149).

2. Modelos Curriculares e Prática Pedagógica Eclética

O documento reconhece a variedade de modelos curriculares disponíveis para os profissionais de educação, destacando o Modelo High-Scope e o Movimento da Escola Moderna (MEM) como os mais comuns no contexto do estágio. A professora cooperante utilizava uma abordagem eclética, combinando estratégias de diferentes modelos, e essa prática foi seguida pelos estagiários, recorrendo-se aos modelos High-Scope e MEM conforme as necessidades das crianças. O MEM é descrito como uma abordagem que promove a formação democrática e o desenvolvimento sócio-moral dos educandos, através da participação na gestão do currículo escolar, interajuda nas aprendizagens, e avaliação negociada. (Movimento Escola Moderna, 2019). A ausência de um modelo único para atender a todas as necessidades dos alunos é sublinhada, justificando a utilização de uma abordagem eclética que contemple as especificidades de cada aluno. No estágio de Educação Pré-Escolar, os estagiários seguiram os modelos adotados pela educadora cooperante, enquanto no 1º CEB, mantiveram o modelo tradicional, integrando alguns momentos do MEM, como o acolhimento, o Projeto Individual de Trabalho (PIT), e focos na participação, cooperação e autonomia. Outros modelos de ensino são brevemente mencionados, como o cognitivo, humanista, social e comportamental, mas sem aprofundamento.

3. Observação Avaliação e Reflexão na Prática Pedagógica

A observação é apresentada como a primeira etapa da prática pedagógica, fundamental para a compreensão das rotinas da turma, características das crianças e planeamento das atividades. Dias (2009) define a observação como o processo de recolha de informação para representar uma realidade (p.28). A avaliação é integrada na prática educativa, com momentos de reflexão para analisar o que foi feito e identificar aspetos a melhorar. Dias (2009) descreve a reflexão como um processo de pensar sobre uma experiência, levando a uma revisão baseada no pensamento, questionando o quê, porquê e como a aprendizagem ocorreu, implicando uma auto-avaliação (p.32). A distinção entre brincar e jogar é clarificada: o jogo tem regras, enquanto o brincar é mais livre. No entanto, ambos são interligados e importantes para o desenvolvimento da criança, permitindo-lhe tomar consciência de si e dos outros, interiorizar a cultura e valores, e aprender a interagir (Condessa & Fialho, 2010, p.17). Sá (1997) e o texto reforçam a importância do jogo para o desenvolvimento cognitivo e emocional, capacidades físicas e intelectuais, psicomotricidade, concentração, atenção e imaginação (p. 103). Baranita (2012) destaca a importância do docente viver a experiência lúdica para melhor integrar o jogo na sala de aula (p. 51). A Convenção sobre os Direitos da Criança (1990) enfatiza o papel da educação no desenvolvimento da criança e na preparação para a vida adulta numa sociedade livre, incluindo o respeito pela identidade, língua e culturas (p.21). Morgado (2001) destaca a importância de relações pedagógicas eficazes que contemplem as diferenças individuais e contextuais.

II.O Impacto do Brincar e Jogar no Desenvolvimento Infantil

A pesquisa aprofunda a relação entre brincar e jogar e o desenvolvimento infantil, considerando as dimensões cognitiva, socio-afetiva, física e moral. O estudo destaca a importância do jogo como estratégia para o desenvolvimento de habilidades, socialização e construção da identidade. Autores como Condessa & Fialho (2010), Sá (1997), Baranita (2012), e a Convenção sobre os Direitos da Criança (1990) são citados para reforçar a relevância da atividade lúdica na educação e no crescimento saudável da criança. São apresentados exemplos de jogos e brincadeiras que promovem diferentes áreas do desenvolvimento infantil, como coordenação motora, trabalho em equipe e resolução de problemas.

1. Brincar e Jogar Conceitos e Inter relação

O texto inicia diferenciando brincar e jogar: o brincar é uma atividade livre, sem regras, enquanto o jogar implica a presença de regras. Apesar das diferenças, ambos são atividades inerentes à infância e estão intrinsecamente relacionados. A citação de Condessa & Fialho (2010, p.17) destaca que, de formas simples a complexas, o brincar e o jogar permitem à criança tomar consciência de si e dos outros, interiorizando a cultura e valores, aprendendo a agir, interagir e comunicar em sociedade. A importância do jogo para o desenvolvimento cognitivo e emocional é enfatizada, com Sá (1997, p. 103) salientando seu papel como condutor extraordinário do desenvolvimento infantil, particularmente no que concerne às capacidades físicas e intelectuais. Através do jogo, a criança explora o meio, adquire experiências motoras e sociais, estimula a psicomotricidade, a concentração, a atenção e a imaginação. Jogos com regras exigem raciocínio, estratégia, impõem limites e estimulam o trabalho em equipe. O brincar proporciona à criança condições para viver em sociedade de forma responsável, autônoma e com pensamento crítico, para toda a vida.

2. Desenvolvimento Infantil em Diferentes Dimensões

O documento explora o impacto do brincar e jogar no desenvolvimento infantil em diversas dimensões. No desenvolvimento socio-afetivo, jogos e brincadeiras têm presença dominante na educação pré-escolar, auxiliando na transição da fase egocêntrica para a socialização e a colaboração em grupo. Exemplos como o “jogo do anel” e “beijo, abraço, aperto de mão” são mencionados para ilustrar atividades que desenvolvem coordenação motora fina, atenção e afetos. No desenvolvimento moral, o jogo permite que a criança aprenda e se aproprie de tradições, crenças, princípios e valores partilhados no seu grupo social. A educação para os valores, através de jogos e brincadeiras, é essencial na educação pré-escolar. Morgado (2001) destaca que a organização dos processos educativos de sucesso passa pela construção de relações pedagógicas eficazes que contemplem as diferenças individuais e contextuais, refletindo e potenciando diferenças em competências, valores, experiências, interesses e necessidades (referência faltando no texto). Em termos de desenvolvimento físico-motor, exemplos como “saltar à corda”, “apanhadas”, “jogo da cabra-cega” e “jogo do stop” são apresentados como atividades que estimulam a coordenação motora fina, equilíbrio, cooperação, velocidade e respeito pelas regras. Caillois (1990, p. 26) descreve o jogo como uma atividade livre e voluntária, fonte de alegria e divertimento, uma das práticas preferidas das crianças.

3. Perspectivas sobre o Jogo e o Brincar no Desenvolvimento

A pesquisa apresenta diferentes perspectivas sobre a importância do jogo e do brincar no desenvolvimento infantil. Neto (2001, p. 194) considera o jogar/brincar uma das formas mais comuns de comportamento na infância, uma área de grande interesse para investigadores do desenvolvimento humano. Serrão (2009, p. 2) destaca o papel crucial do jogo no crescimento e desenvolvimento da criança na educação pré-escolar e 1º CEB, como meio para melhorar relações interpessoais e desenvolvimento sensorial, moral, cognitivo, físico e social, constituindo uma forma natural de conhecer o mundo. O estudo destaca que, numa análise de questionários, os docentes consideram o desenvolvimento cognitivo e social como os mais importantes, seguidos pelo físico-motor e afetivo. A opção mais frequente como razão para a importância do jogo é “Permite o desenvolvimento das crianças na globalidade”, semelhante ao estudo de Faria (2018). Os docentes utilizam jogos semanalmente ou diariamente, priorizando as áreas de Matemática e Educação Físico-Motora, enquanto as expressões artísticas são menos utilizadas no pré-escolar. A Convenção sobre os Direitos da Criança (1990) reforça a importância da educação para promover o desenvolvimento da personalidade da criança, dos seus dons e aptidões (p.21).

III.Estudo Empírico Conceções e Práticas sobre a Atividade Lúdica

O estudo empírico, intitulado “A Criança à Descoberta do Jogo – O que dizem os Profissionais e os Estagiários!”, analisou as conceções e práticas de estagiários, educadores e professores do 1.º CEB sobre a importância da atividade lúdica na infância. A pesquisa incluiu uma amostra representativa a nível nacional, com maior incidência na região centro de Portugal (diferente de estudos anteriores, como Lima (2014), Cabral (2014) e Faria (2018), que focaram a região dos Açores). Os resultados indicaram que os docentes valorizam o desenvolvimento cognitivo e social das crianças através do jogo, sendo que o jogo é utilizado semanalmente ou diariamente, com maior frequência em matemática e educação físico-motora.

1. Objetivo e Metodologia do Estudo Empírico

O estudo empírico, intitulado “A Criança à Descoberta do Jogo – O que dizem os Profissionais e os Estagiários!”, teve como objetivo principal analisar as conceções e práticas de estagiários, educadores e professores do 1º CEB sobre a importância e os contributos da atividade lúdica na infância. O estudo visou investigar o impacto da atividade lúdica em contextos de trabalho nos níveis de ensino do estágio. Embora a metodologia específica não seja detalhada neste resumo, é mencionado que os procedimentos metodológicos, a análise e a discussão dos resultados foram apresentados no estudo completo. A pesquisa utilizou questionários aplicados online, com maior participação do gênero feminino. A maioria dos docentes possuía formação em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º CEB e estava na fase inicial da carreira. É importante salientar a abrangência geográfica da amostra deste estudo, em contraste com pesquisas anteriores (Lima, 2014; Cabral, 2014; Faria, 2018), que se focaram principalmente na região dos Açores. A presente amostra apresentou uma maior representatividade nacional, especificamente na região centro de Portugal. Um dos objetivos implícitos era estimular na criança uma atitude favorável à aprendizagem.

2. Resultados e Discussão Conceções dos Docentes sobre o Jogo

Os resultados do estudo indicam que o desenvolvimento cognitivo e social são considerados os domínios mais importantes para o desenvolvimento infantil pelos docentes, com a mesma percentagem. O desenvolvimento físico-motor e o afetivo foram considerados em seguida. Apesar de muitas respostas não terem sido preenchidas, a justificativa mais frequente para a importância do jogo foi “Permite o desenvolvimento das crianças na globalidade”, resultado semelhante ao encontrado no estudo de Faria (2018). A utilização de jogos pelos docentes ocorre majoritariamente semanalmente ou diariamente. A análise por nível de ensino (Educação Pré-escolar e 1º Ciclo) revelou que Matemática e Educação Físico-Motora são as áreas onde os jogos são mais utilizados, com as expressões artísticas apresentando os menores valores em ambos os níveis. A pesquisa cita Neto (2001, p. 194), que considera o jogar/brincar uma das formas mais comuns de comportamento na infância, atraindo interesse de pesquisadores em desenvolvimento humano, e Serrão (2009, p. 2), que afirma que o jogo melhora as relações interpessoais e o desenvolvimento em várias dimensões, sendo uma forma natural de conhecer o mundo.

IV.º CEB Integração da Atividade Lúdica

A seção descreve as práticas pedagógicas observadas em dois estágios, um em Educação Pré-Escolar e outro no 1.º CEB, em escolas de Ponta Delgada. A descrição inclui caracterização do meio envolvente, recursos humanos (números de alunos, professores, funcionários), e as rotinas da sala de aula. A implementação de atividades lúdicas, como jogos e brincadeiras, é apresentada como estratégia para alcançar os objetivos curriculares e promover o desenvolvimento infantil. As Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (2016) são citadas como referência para a planificação e avaliação das atividades. A reflexão sobre a prática pedagógica é destacada como essencial para a melhoria contínua. São apresentados exemplos concretos de atividades desenvolvidas, incluindo temas como higiene corporal, Natal, profissões, e a utilização de jogos tradicionais e educativos. A pesquisa menciona autores como Zabalza (1998), Silva et al. (2016), Dias (2009), Ribeiro (1997), e Maluf (2003) para fundamentar as práticas pedagógicas e a importância da atividade lúdica.

1. Práticas Pedagógicas na Educação Pré Escolar

A descrição das práticas pedagógicas na Educação Pré-Escolar inclui a caracterização do meio envolvente da escola, incluindo o espaço físico (recreio, espaços verdes, jogos pintados no chão) e os recursos humanos (quatro educadoras, sendo uma de apoio, 186 alunos, 49 na educação pré-escolar). As rotinas da sala de aula são mencionadas, com Zabalza (1998, p.52) citado para destacar a função organizadora das rotinas nas experiências quotidianas. As crianças tinham uma rotina estabelecida, incluindo uma canção de “Bom Dia”, oportunidade para partilhar novidades e marcação de presença num quadro. O grupo era assíduo, com interesse pelas atividades, apesar de existirem variações nos níveis de desenvolvimento individual. As regras da sala de aula não estavam completamente interiorizadas, sendo repetidas sempre que necessário. Uma criança apresentava dificuldades de fala e recebia apoio individual na instituição e em centro especializado. A planificação das atividades era orientada pelas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (Silva et al., 2016), envolvendo reflexão sobre intenções educativas, previsão de situações e experiências de aprendizagem, e organização de recursos. Dias (2009, p.29) é citado para enfatizar que planificar é organizar o trabalho e o tempo. A planificação detalha as atividades, áreas, objetivos e materiais, podendo ser modificada conforme as necessidades das crianças. A avaliação é contínua, acompanhando o progresso de cada criança e identificando dificuldades, buscando soluções (Ribeiro, 1997, p.75). A reflexão sobre a prática pedagógica é crucial para melhorar as práticas futuras (Dias, 2009, p.32; Silva et al., 2016, p.15).

2. Práticas Pedagógicas no 1º Ciclo do Ensino Básico

No 1º Ciclo do Ensino Básico, o estágio ocorreu na Escola “Xadrez”, em Ponta Delgada, com 137 alunos, onze professoras, um professor de apoio, um para NEE, um de EMRC, um de música e dois professores DA. O espaço exterior era amplo, com espaços verdes e marcas de jogos tradicionais, permitindo atividades ao ar livre em dias de bom tempo. A escola possuía seis salas no bloco amarelo, 12 casas de banho, salas de apoio, biblioteca, sala de professores e arrecadação. Três intervenções são relatadas: a primeira focou Português (revisão do grafema R), Matemática (subtrações e números até 40), Estudo do Meio (seres vivos) e Expressão Plástica (pintura); a segunda consolidou conteúdos anteriores e iniciou a elaboração de uma prenda de Páscoa; a terceira e última intervenção (junho) consolidou conteúdos de português (dígrafos –nh e –lh), explorou numerais até 100, incluiu uma visita ao Aeroporto João Paulo II e atividades de expressão plástica e educação físico-motora (dança da amarelinha, jogo do avião). A integração de atividades lúdicas para consolidar conhecimentos de forma divertida é enfatizada, com Condessa (2009, p. 14) mencionada sobre o repensar das brincadeiras para desenvolver a literacia. A atividade lúdica é apresentada como parte integrante do desenvolvimento infantil e da aprendizagem, buscando atividades adequadas à faixa etária e motivacionais (Maluf, 2003, p. 9).