A Educação para o desenvolvimento na leitura: uma abordagem no 1º ciclo do ensino básico

Leitura e Educação: Desenvolvimento no 1º Ciclo

Informações do documento

Autor

Tânia Marisa Vieira Barbosa Pinto Passos

instructor/editor Doutora Gabriela Barbosa
Escola

Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico

subject/major Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico
Tipo de documento Relatório Final de Prática de Ensino Supervisionada
Local Braga
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 5.87 MB

Resumo

I.Impacto da Leitura na Educação para o Desenvolvimento ED

Esta pesquisa qualitativa, realizada em Braga, Portugal, investigou a relação entre o processo de leitura e a Educação para o Desenvolvimento (ED) em alunos do 3º ano do 1º ciclo do Ensino Básico. Utilizando observação direta, testes de diagnóstico e atividades variadas envolvendo diferentes tipologias textuais (texto narrativo, texto descritivo, texto poético), o estudo analisou a mobilização de conhecimentos prévios em ED, a aquisição de novo vocabulário relacionado a ED, a integração de objetivos didáticos e o envolvimento dos alunos. Os resultados indicam que a leitura, através de atividades cuidadosamente planejadas, contribui significativamente para o desenvolvimento do conhecimento em ED, a mobilização de vocabulário específico e o aprimoramento das habilidades de leitura.

1. Enquadramento da Pesquisa e Objetivo

O relatório insere-se no âmbito da Unidade Curricular de Prática de Ensino Supervisionada II, integrada no Mestrado em Educação Pré-escolar e Ensino do 1º ciclo do Ensino Básico. A prática ocorreu no 1º ciclo, no distrito de Braga, com alunos do 2º e 3º anos, durante quinze semanas. A investigação concentrou-se no 3º ano, buscando compreender como a aprendizagem da leitura permite explorar a Educação para o Desenvolvimento (ED). A metodologia qualitativa privilegiou a observação direta, um teste de diagnóstico, a análise das atividades propostas e um teste final para avaliar a evolução dos alunos em relação ao conhecimento em ED e à aprendizagem da leitura. A pesquisa buscou estabelecer uma forte ligação entre a área de Português, com foco na leitura, e a Educação para o Desenvolvimento (ED), analisando a intersecção entre esses dois campos. A análise dos dados focou em quatro categorias: mobilização de conteúdos cumulativos em ED, uso de novo vocabulário relacionado com ED, integração de propósitos didáticos e o envolvimento dos estudantes nas atividades. Essa abordagem permitiu analisar a evolução dos alunos em relação ao conhecimento cumulativo em ED e, simultaneamente, no processo de ensino-aprendizagem da leitura. A recolha de dados permitiu concluir que os alunos se mantiveram motivados ao longo das atividades, aumentando seus conhecimentos em ED, mobilizando vocabulário nessa área e desenvolvendo habilidades de leitura.

2. Instrumentos e Processo de Coleta de Dados

Para investigar o impacto da aprendizagem da leitura na Educação para o Desenvolvimento (ED), a pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa, coletando dados por meio de diferentes instrumentos. Inicialmente, foi aplicado um teste para avaliar o nível dos alunos em ED, servindo como diagnóstico. Em seguida, foram desenvolvidas cinco atividades que permitiram trabalhar diferentes tipologias textuais. A partir da leitura desses textos, foram abordados conteúdos específicos de ED. Por fim, um teste final avaliou a evolução dos alunos em relação ao conhecimento em ED, considerando também o desenvolvimento de habilidades de leitura. A metodologia qualitativa se mostrou apropriada para a profundidade da análise, permitindo uma observação atenta do grupo, das atividades propostas, e do desenvolvimento individual dos alunos. A combinação de instrumentos permitiu uma análise abrangente do processo de aprendizagem, considerando o progresso dos alunos tanto no domínio da ED quanto na aquisição de competências em leitura, buscando correlações entre ambas as áreas de desenvolvimento. Os dados foram analisados considerando quatro categorias principais: mobilização de conhecimentos prévios em ED, o uso de novo vocabulário relacionado com ED, a integração de propósitos didáticos nas atividades propostas e o nível de envolvimento dos alunos em todo o processo. Essa análise multifacetada permitiu uma compreensão mais completa e detalhada do impacto da leitura na Educação para o Desenvolvimento.

3. Resultados e Conclusões

A análise dos dados revelou uma forte correlação positiva entre a aprendizagem da leitura e o desenvolvimento em Educação para o Desenvolvimento (ED). Os alunos, consistentemente motivados pelas atividades propostas, demonstraram um aumento significativo em seu conhecimento de ED, mobilizando vocabulário específico da área e aprimorando suas habilidades de leitura. A metodologia qualitativa permitiu observar a progressão individual dos alunos, evidenciando como a leitura, quando integrada a atividades de ED, se torna uma ferramenta poderosa para a construção de conhecimento e desenvolvimento de competências. A pesquisa indica que a leitura de diversos tipos de textos, associada a discussões e reflexões sobre temas relevantes para a ED, contribui ativamente para a aprendizagem significativa e a formação de cidadãos críticos e conscientes. A conclusão principal do estudo é que a aprendizagem da leitura, quando trabalhada de forma intencional e conectada com a ED, é um fator determinante para a ampliação do conhecimento e o desenvolvimento de competências essenciais para uma participação ativa na sociedade, demonstrando a importância da integração de ambos os campos curriculares para o crescimento holístico do aluno.

II.Caracterização do Contexto Escolar

A intervenção ocorreu em uma escola básica do 1º ciclo integrada com jardim de infância, localizada em uma freguesia de Viana do Castelo, Portugal (aproximadamente 6,6 km² e 7817 habitantes em 2011, segundo o INE). A sala de aula do 1º ciclo acolhia alunos do 2º e 3º ano. As condições da sala eram favoráveis, com boa iluminação e organização em áreas temáticas. Observou-se que as crianças, apesar de participativas, apresentavam atenção limitada, o que afetava o ambiente de aprendizagem. A interação com adultos era harmoniosa, mas a relação escola-família necessitava de melhorias, com pais majoritariamente ausentes.

1. Localização e Caracterização da Escola

A escola básica do 1º ciclo onde ocorreu a intervenção está integrada com um jardim de infância, compartilhando espaços físicos internos e externos. Localizada em Viana do Castelo, Portugal, a escola situa-se em uma freguesia com cerca de 6,6 km² e aproximadamente 7817 habitantes (INE, 2011). A freguesia possui um contexto urbano, com o comércio como principal atividade econômica, mas também com atividades ligadas ao mar (pesca) e esportes, como a canoagem, que tem destaque nacional. O desenvolvimento econômico impulsionado pelo setor terciário, com o crescimento do comércio e novas infraestruturas de saúde, cultura e esportes, tem gerado mudanças urbanísticas na região. A freguesia apresenta pontos turísticos de interesse cultural e religioso, atraindo visitantes pelas suas festividades e tradições. A escola em si, embora antiga (faz parte do Plano dos Centenários), está em bom estado de conservação e possui um espaço exterior significativo para brincadeiras e jogos livres. Sua localização no ponto mais alto da freguesia, porém, a torna de difícil acesso, com muitas escadas, sendo inacessível para alunos com mobilidade reduzida. O quadro de funcionários inclui duas assistentes operacionais que dão suporte na organização dos alunos em períodos não letivos.

2. Caracterização da Sala de Aula do 1º Ciclo

A intervenção na sala de aula do 1º ciclo envolveu alunos do 2º e 3º anos. A sala é ampla e bem iluminada pela luz natural, devido a várias janelas, favorecendo a circulação de ar. Nos dias de sol, a sala se torna bastante quente. As mesas são organizadas de forma a acomodar os catorze alunos, divididos pelos dois anos de escolaridade, em formato de “U”. A sala está dividida em três seções: uma para os alunos de um ano, voltada para a porta; outra para os alunos do outro ano, de costas para a porta; e, do lado esquerdo, as áreas de arrumação. O mobiliário de apoio inclui seis estantes para livros e materiais dos alunos, dois quadros-de-giz e três quadros de cortiça para afixar conteúdos didáticos. Durante as onze semanas de intervenção, houve poucas atividades que envolveram os alunos tanto dentro quanto fora da escola. As atividades incluíram: desfile e festa de Carnaval, o “Dia dos Pais” (com pais relatando suas profissões), aulas ao ar livre com foco no relevo e materiais, e a festa de Páscoa, com cada turma apresentando uma pequena performance (no caso da turma em questão, uma dança e uma aluna tocando piano). A relação escola-família foi considerada desfavorável pela pesquisa, com maior parte dos pais demonstrado pouco interesse nas atividades escolares dos filhos.

3. Comportamento e Aprendizagem dos Alunos

Em relação ao comportamento em sala de aula, as crianças eram geralmente faladoras, com capacidade de atenção limitada, o que muitas vezes prejudicava o ambiente de aprendizagem. Apesar do entusiasmo pelas tarefas propostas e da participação ativa, a capacidade de ouvir os outros e aguardar a vez para falar era limitada, evidenciando impaciência. Em termos de aprendizagem, buscavam realizar as tarefas com perfeição. Em grupo, eram participativas, negociando propostas e assumindo responsabilidades, interiorizando regras e rotinas de forma progressiva. A interação com os adultos era geralmente respeitosa e harmoniosa, com exceção de uma criança em processo de análise. A maioria mantinha diálogos com clareza. A interação entre pares era positiva, com partilha de materiais, mesmo entre alunos recém-chegados, e cooperação entre os mais velhos. No entanto, a relação escola-família apresentava problemas, com a maioria dos pais sendo considerados ausentes, desinteressados nas atividades escolares dos filhos. Esta falta de envolvimento familiar influenciava negativamente o ambiente de aprendizado e o desenvolvimento dos alunos.

III.Atividades e Abordagem Pedagógica

As atividades integraram diferentes domínios curriculares, como Educação Física e Expressão e Comunicação, usando jogos, dança, atividades de circuito e leitura de histórias. Atividades coletivas, como a celebração do Dia Mundial da Alimentação e a Festa de Natal, envolveram a comunidade escolar e as famílias. No domínio da leitura, as crianças demonstraram boa compreensão de textos narrativos, participando ativamente em atividades de reconto e interpretação. A leitura orientada foi crucial para o desenvolvimento da literacia e o estabelecimento de hábitos de leitura.

1. Atividades na Área de Expressão e Comunicação

A área de Expressão e Comunicação foi trabalhada através de atividades diversificadas, explorando diferentes domínios. No domínio da Educação Física, foram criadas atividades para vivenciar diferentes formas de corrida, explorar o controle espacial e melhorar o equilíbrio, além de jogos para postura corporal correta e diferentes formas de movimentação (corrida, marcha, gatas etc.). As crianças apresentaram dificuldades em jogos coletivos, mostrando falta de noção de regras, limites de campo e posicionamento. Já em atividades de circuito, dança e movimento livre, o desempenho foi melhor. No domínio da leitura, as crianças demonstraram facilidade na leitura de ilustrações e mantiveram atenção durante a leitura de histórias, respondendo corretamente às perguntas e realizando recontos. A maioria gostou das atividades, principalmente pela variedade de materiais e pela forma como as histórias eram contadas. Durante as brincadeiras, as crianças frequentemente buscavam a área da biblioteca, tentando recontar histórias umas para as outras ou pedindo às estagiárias para ler. A capacidade de atenção e a facilidade na captação de informações variavam entre as crianças. O desenvolvimento da linguagem oral na educação pré-escolar foi enfatizado como fundamental para a expressão e comunicação, com a ampliação progressiva do vocabulário.

2. Atividades Coletivas e Integração da Comunidade

Ao longo do período de intervenção, foram realizadas diversas atividades coletivas que envolveram o jardim de infância e o 1º ciclo, buscando a integração da comunidade escolar e familiar. Em outubro, o Dia Mundial da Alimentação foi comemorado com uma atividade onde as crianças trouxeram frutas para construir espetadas, formando a imagem de um sol. Em dezembro, houve uma visita à Associação Cultural e de Educação Popular (ACEP), onde as crianças tiveram contato com diferentes jogos de tabuleiro e uma área de faz-de-conta, além de assistirem a uma peça de teatro sobre o Natal. A preparação e a participação na festa de Natal também fizeram parte das atividades, com as crianças ensaiando e sendo auxiliadas na apresentação. Em janeiro, foram realizadas atividades como o cantar das Janeiras e a celebração do Dia da Paz, com a construção de coroas sendo integrada a atividades de matemática. A escola básica de 1º ciclo e o jardim de infância compartilhavam espaços físicos internos e externos. O espaço externo, apesar de antigo (pertence ao Plano dos Centenários), estava em bom estado e oferecia espaço para brincadeiras e jogos. No entanto, o acesso à escola era difícil devido à sua localização no alto de um monte, com muitas escadas, sendo inadequada para alunos com mobilidade reduzida. A escola contava com duas assistentes operacionais para auxiliar na gestão dos alunos em períodos não letivos.

IV.Educação para o Desenvolvimento ED e o Currículo

A pesquisa explorou a integração da Educação para o Desenvolvimento (ED) no currículo, focando-se em conceitos como justiça social, cidadania global, pobreza e desigualdades. O estudo se baseou no Referencial de ED (2016), utilizando-o como guia para abordar temas relevantes para os alunos. A abordagem da ED foi interdisciplinar, integrando-se com as áreas de Português e outras disciplinas. O objetivo foi formar cidadãos ativos, capazes de analisar criticamente a realidade e atuar em prol de uma sociedade mais justa.

1. Conceito de Educação para o Desenvolvimento ED

A Educação para o Desenvolvimento (ED) é apresentada como um processo que visa informar, sensibilizar, formar, debater e influenciar políticas, motivando e mobilizando pessoas e organizações. O foco principal não está apenas em conhecer o que é ED, mas principalmente em saber como praticá-la. Ao longo do tempo, objetivos foram criados para educar para o desenvolvimento, buscando agir localmente para alcançar impactos globais (Sol sem Fronteiras, 2017). Existem diferentes formas de intervenção em ED, variando a duração das ações, o público-alvo e as metodologias aplicadas. As formas mais predominantes são a sensibilização, a influência política e a intervenção pedagógica, sendo as duas últimas consideradas as mais importantes. A sensibilização visa alertar os cidadãos sobre problemáticas, incentivando questionamentos e ações. A intervenção pedagógica, por sua vez, promove a leitura crítica das desigualdades locais e globais. Os setores de intervenção incluem a educação informal (manifestações, greves), não formal (associações, fundações) e formal (Educação Pré-escolar ao Ensino Superior), sendo esta última a mais relevante para o estudo. A integração da ED no currículo escolar, em paralelo com as disciplinas, é considerada pertinente, sem afetar os conteúdos programáticos. O Referencial de Educação para o Desenvolvimento serve como guia para essa integração.

2. O Referencial de Educação para o Desenvolvimento e a Prática Educacional

O Referencial de Educação para o Desenvolvimento (ED) é apresentado como um instrumento de apoio para professores de diferentes ciclos, dividido em temas, subtemas, objetivos e descritores de desempenho para cada ano escolar. Ele facilita o acesso aos educadores aos conteúdos importantes para cada nível de ensino, sendo composto por seis grandes temas: Desenvolvimento, Interdependências e Globalização, Pobreza e Desigualdades, Justiça Social, Cidadania Global e Paz. O ideal do Referencial é que todos esses temas sejam abordados durante o percurso académico, expandindo os conhecimentos dos alunos, o vocabulário e as formas de intervenção, visando a formação de cidadãos ativos e participativos. Na impossibilidade de trabalhar todos os temas, os educadores podem selecionar aqueles mais pertinentes ao contexto escolar e ambiental, considerando os objetivos e descritores de desempenho para sua incorporação no currículo. O documento também define o conceito de ED, enfatizando a formação de cidadãos conscientes de suas responsabilidades e a importância de promover a justiça, a equidade e a solidariedade, atuando em prol de uma sociedade mais justa e equitativa. A integração da ED no currículo do 1º ciclo é destacada como uma ferramenta para o desenvolvimento de uma visão mais crítica e atuante em prol da justiça social.

3. Integração da ED com o Currículo de Português

O documento destaca a possibilidade de integrar a Educação para o Desenvolvimento (ED) com o currículo de Português do Ensino Básico. A passagem da oralidade para a leitura e escrita é um processo crucial para o desenvolvimento do aluno, permitindo o reconhecimento de fonemas e sua escrita, resultando em maior fluência na leitura, expansão do vocabulário e compreensão textual. O professor pode usar a construção de textos, escrita de opiniões, criação de direitos e deveres e outras atividades para integrar temas de ED com o Português (Alçada, 2016). Na Educação Literária, a diversidade de obras literárias é importante para dar mais consistência ao ensino da língua, fortalecendo a formação de leitores críticos e cidadãos conscientes (PMCPEB, 2015). Muitas obras abordam temas de cidadania, como questões raciais, de gênero e igualdades sociais, que podem servir como ponto de partida para abordar conteúdos de ED e sensibilizar os alunos. Em Gramática, o professor pode usar temáticas de ED ou questões para reforçar o ensino da gramática, vinculando a aprendizagem das regras gramaticais a temas relevantes para a formação cidadã. O Perfil do Aluno para o Século XXI (2017) reforça a necessidade de formar cidadãos livres, responsáveis, conscientes de si, inseridos na comunidade e participativos na sociedade, com a escola sendo um lugar privilegiado para a aquisição de aprendizagens essenciais para o século XXI (Martins, 2017).

V.O Processo de Ensino Aprendizagem da Leitura

O estudo analisou o processo de ensino-aprendizagem da leitura, considerando os fatores derivados do texto, do contexto e do leitor (Viana, 2010). Foram exploradas as diferentes etapas do desenvolvimento da leitura, baseadas no modelo de Jean Chall (1983), e as estratégias de leitura propostas por Duke e Pearson (2002), como predição, verbalização e questionamento. A leitura orientada em sala de aula foi destacada como um fator fundamental para o desenvolvimento da literacia.

1. Fatores que Interferem na Compreensão da Leitura

A compreensão da leitura é influenciada por três fatores principais: os derivados do texto, os derivados do contexto e os derivados do leitor (Viana, 2010). Os fatores derivados do texto são os mais relevantes, incluindo o tipo de texto utilizado e o ano escolar. Os alunos demonstram maior facilidade com textos narrativos, possivelmente pela maior frequência de uso em sala de aula. Dentro dos fatores derivados do texto, estão a estrutura, o conteúdo, a sintaxe e o vocabulário. A estrutura do texto, ou seja, a forma como as ideias se relacionam e são organizadas, influencia diretamente a compreensão, dependendo da intenção do autor. A organização do texto e o conhecimento prévio do leitor sobre a estrutura interferem na compreensão (Viana, 2010). O ensino no 1º ciclo do Ensino Básico é crucial para o desenvolvimento da leitura. A seleção cuidadosa dos textos é essencial para criar motivação e incentivar a leitura de obras maiores. Conhecer o interesse dos alunos auxilia na seleção de textos que aumentam a motivação. As condições psicológicas e ambientais do leitor também são importantes, incluindo o local da leitura (ao ar livre, na sala, na biblioteca) e a forma como a leitura é realizada (em voz alta, silenciosa, individual ou em grupo).

2. Estágios de Desenvolvimento da Leitura e Boas Práticas de Ensino

Vários investigadores descrevem o processo de ensino e aprendizagem da leitura como uma sequência de etapas associadas às fases de desenvolvimento cognitivo dos alunos (Alçada, 2016). O modelo de Jean Chall (1983) é destacado como influente, incluindo um pré-estádio (pré-leitura, do nascimento aos 6 anos) e cinco estágios associados a diferentes faixas etárias: estágio inicial (descodificação, 6-7 anos); estágio de confirmação e fluência (7-8 anos); estágio ler para aprender (9-11 e 12-14 anos); estágio de pontos de vista diferenciados (14-18 anos); e estágio de construção e reconstrução (a partir dos 18 anos). Cada estágio se relaciona com o desenvolvimento da linguagem, processos cognitivos e características da leitura em cada nível etário. A atenção às diferenças individuais é crucial, assegurando que cada aluno receba o apoio necessário. A leitura orientada em sala de aula é considerada a atividade mais estruturante e contínua para o processo de ensino e aprendizagem, sendo fundamental para o desenvolvimento da literacia e aquisição de hábitos de leitura (Alçada, 2016). Criar condições para o desenvolvimento dos alunos na leitura, com obras acessíveis e prazerosas, impacta significativamente na compreensão textual (Alçada, 2016).

3. Estratégias de Leitura e sua Importância na Compreensão

Existem estratégias de leitura que facilitam a compreensão textual. Estas são técnicas flexíveis, adaptáveis a diferentes situações e que variam de acordo com o texto e a abordagem prévia. Duke e Pearson (2002) identificaram seis estratégias: predição (antecipar fatos ou conteúdos); pensar em voz alta (verbalizar o pensamento sobre o texto lido); análise da estrutura do texto (compreender sua organização); representação visual do texto (criar imagens mentais); resumo (lembrar os pontos principais); e questionamento (refletir sobre o conteúdo). A verbalização do pensamento durante a leitura melhora a compreensão. A análise da estrutura do texto e a representação visual auxiliam na recordação e compreensão. O resumo e o questionamento também contribuem significativamente para a apreensão do conteúdo, sendo importante a utilização destas estratégias em sala de aula para a melhoria da compreensão leitora, mostrando a importância de uma abordagem consciente e estratégica para o ensino da leitura.

VI.Análise de Dados e Resultados

A análise qualitativa dos dados focou-se em quatro categorias: mobilização de conhecimentos prévios em ED, uso de novo vocabulário relacionado a ED, integração de finalidades didáticas e envolvimento dos alunos. As atividades propostas, usando diferentes tipologias textuais e recursos como vídeos e imagens, foram eficazes em promover o conhecimento em ED, o desenvolvimento do vocabulário e a melhoria da compreensão de leitura. Os alunos demonstraram grande envolvimento e motivação.

VII.Reflexão Final

A experiência de estágio e a pesquisa demonstraram a possibilidade de integrar a Educação para o Desenvolvimento (ED) no currículo de forma significativa e criativa, usando a leitura como ferramenta pedagógica. A interdisciplinaridade e a transversalidade de conteúdos se mostraram cruciais para o sucesso da abordagem, beneficiando tanto alunos como professores, ao formar cidadãos críticos e ativos.

1. Síntese da Análise Qualitativa

A análise qualitativa dos dados, baseada em quatro categorias (mobilização de conteúdos em ED, uso de novo vocabulário em ED, integração de propósitos didáticos e envolvimento dos alunos), revelou resultados positivos. Os alunos demonstraram grande motivação e envolvimento nas atividades propostas. Observou-se um aumento significativo no conhecimento de Educação para o Desenvolvimento (ED), com a mobilização de vocabulário específico da área e desenvolvimento das habilidades de leitura. A pesquisa confirma a eficácia da metodologia qualitativa na compreensão profunda dos problemas e na investigação dos comportamentos, atitudes e convicções por trás das ações observadas (Fernandes, 1991). A flexibilidade da análise qualitativa permitiu a identificação de variáveis relevantes para o ensino e aprendizagem que poderiam não ser detectadas por outros métodos. A interação direta do pesquisador com os alunos permitiu a adaptação de métodos e estratégias ao longo do processo, garantindo que os objetivos iniciais fossem alcançados. A análise qualitativa contribuiu para uma compreensão abrangente e detalhada da inter-relação entre leitura e Educação para o Desenvolvimento, fornecendo insights valiosos sobre o processo de aprendizagem dos alunos.

2. Resultados por Categoria de Análise

A categoria “mobilização de conteúdos cumulativos em ED” mostrou a capacidade dos alunos em usar conhecimentos prévios, demonstrando progresso na compreensão de conceitos. Na categoria “utilização de vocabulário novo relacionado com ED”, observou-se a aquisição de novos termos, como “inclusão” e “multiculturalidade”, expandindo o vocabulário específico da área. A categoria “integração de finalidades didáticas” demonstrou a eficácia das atividades em integrar objetivos de Português e ED, utilizando diferentes tipologias textuais. Finalmente, a categoria “envolvimento do aluno nas atividades” evidenciou a participação ativa e a motivação dos alunos. A análise de cada categoria forneceu subsídios importantes para a compreensão do processo de aprendizagem e a eficácia das estratégias didáticas utilizadas. Os dados coletados demonstram a importância de uma abordagem interdisciplinar, que integra diferentes áreas do conhecimento para promover a aprendizagem significativa e o desenvolvimento integral dos alunos. A pesquisa destacou a eficácia de atividades que estimulam o debate, a reflexão crítica e a construção colaborativa de conhecimento. A combinação de diferentes recursos didáticos, como textos diversos e vídeos, comprovou ser uma estratégia eficaz para atingir os objetivos propostos.

3. Considerações Finais sobre a Pesquisa

A pesquisa demonstrou que é possível integrar de forma eficaz a Educação para o Desenvolvimento (ED) no currículo, utilizando a leitura como ferramenta pedagógica e promovendo a interdisciplinaridade. A abordagem multifacetada, que combinou diferentes tipologias textuais, atividades interativas e recursos como vídeos, se mostrou eficiente para estimular o interesse e a participação ativa dos alunos. Os alunos demonstraram uma compreensão profunda dos conceitos e valores relacionados à ED, ampliando seu vocabulário e desenvolvendo habilidades de leitura. A metodologia qualitativa se mostrou adequada para a análise detalhada do processo de aprendizagem. A pesquisa reforça a importância do papel do professor como mediador e facilitador da aprendizagem (Cavadas, 2015), criando um ambiente de diálogo e reflexão crítica. A experiência mostra que, mesmo em contextos discretos e isolados, é possível desenvolver uma aprendizagem significativa e relevante para os alunos, formando cidadãos críticos, capazes de analisar a realidade e atuar em prol de uma sociedade mais justa e equitativa. O estudo destaca a importância da interdisciplinaridade e transversalidade dos conteúdos para proporcionar novas potencialidades aos alunos, em benefício tanto dos alunos quanto dos professores.