Plantas Medicinais: Cultura Popular em Santa Izabel do Oeste
Informações do documento
| Autor | Gisele Aparecida Trevisan |
| instructor | Fernanda Oliveira Lima, Profa. Dra. |
| Escola | Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus de Realeza |
| Curso | Química - Licenciatura |
| Tipo de documento | Trabalho de Conclusão de Curso |
| Local | Realeza |
| Idioma | Portuguese |
| Formato | |
| Tamanho | 3.18 MB |
Resumo
I.Percepção sobre a Fitoterapia na Atenção Primária à Saúde em Santa Izabel do Oeste PR
Este estudo quali/quantitativo investigou a percepção de 278 famílias em Santa Izabel do Oeste, Paraná, sobre a integração da fitoterapia na Atenção Primária à Saúde (APS). A pesquisa, conduzida por meio de entrevistas realizadas por Agentes Comunitários de Saúde (ACS), buscou identificar as plantas medicinais mais utilizadas e as opiniões sobre o tema. Os resultados revelaram um amplo uso de plantas medicinais pela população, muitas vezes baseado em conhecimentos tradicionais transmitidos entre gerações, principalmente entre mulheres. A pesquisa também apontou o baixo custo e a menor incidência de efeitos colaterais como justificativas principais para o uso dessas plantas em comparação com medicamentos alopáticos. Apesar da aceitação da fitoterapia, a pesquisa também destacou problemas na identificação correta das plantas e o uso de algumas espécies tóxicas, sublinhando a necessidade de orientação profissional.
1. Objetivo e Metodologia da Pesquisa
O estudo, realizado em Santa Izabel do Oeste, Paraná, teve como objetivo principal compreender a percepção de 278 famílias sobre a inserção da fitoterapia na Atenção Primária à Saúde. A pesquisa utilizou uma abordagem quali/quantitativa, coletando dados por meio de entrevistas semiestruturadas aplicadas pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) aos moradores das comunidades. Essas entrevistas buscaram levantar a experiência das famílias com o uso de plantas medicinais, identificando as espécies mais utilizadas e suas formas de preparo. A escolha das famílias entrevistadas foi aleatória, seguindo um critério pré-estabelecido pelo Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), representando aproximadamente 10% das famílias acompanhadas pelas Equipes de Saúde da Família (ESF) no município. A pesquisa considerou aspectos como a idade, sexo e nível de escolaridade dos entrevistados, que tiveram a sua participação assegurada por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
2. Aceitação e Uso de Plantas Medicinais na Comunidade
Os resultados indicaram uma ampla aceitação das plantas medicinais como opção terapêutica pelas comunidades e profissionais de saúde. O baixo custo, os reduzidos efeitos colaterais e a eficácia comprovada são fatores preponderantes para essa aceitação. A pesquisa identificou que o uso de plantas medicinais frequentemente ocorre por meio da automedicação, seguindo indicações de pessoas mais velhas na família, transmitindo conhecimento principalmente entre mulheres, de acordo com padrões observados em estudos etnobotânicos. A erva-mate, tradicionalmente usada no chimarrão, também foi destacada, com ressalvas para o uso em grupos específicos (gestantes, lactantes, hipertensos, diabéticos) devido a potenciais riscos a longo prazo, ainda não totalmente elucidados. A pesquisa também revelou que a maioria dos entrevistados possui nível de escolaridade baixo (ensino fundamental incompleto), o que pode influenciar a forma como buscam e utilizam os tratamentos.
3. Plantas Medicinais e o Sistema Único de Saúde SUS
O estudo contextualizou o uso de plantas medicinais dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), referenciando a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS). A RENISUS lista 71 espécies, mas apenas 12 estão disponíveis no SUS, demonstrando uma lacuna entre o potencial das plantas medicinais e sua disponibilidade na rede pública de saúde. A pesquisa, por sua vez, identificou 145 espécies de plantas medicinais utilizadas na comunidade, das quais 40 constam na RENISUS. A análise se concentrou nas 10 espécies mais citadas nas entrevistas. A pesquisa destacou a importância da fitoterapia para a redução de gastos públicos com medicamentos alopáticos, considerando seu baixo custo e eficácia comprovada, e a sua compatibilidade com a cultura e o saber popular, promoção da participação ativa da população no cuidado com a própria saúde. A falta de uma política municipal de fitoterápicos em Santa Izabel do Oeste também foi apontada como limitação.
4. Riscos e Cuidados com o Uso de Plantas Medicinais
Apesar dos benefícios, o estudo alertou sobre os riscos associados ao uso inadequado de plantas medicinais. A automedicação, a identificação incorreta de espécies, e o preparo inadequado das plantas podem levar a superdosagem, ineficácia terapêutica e reações adversas. A pesquisa destacou a contaminação como um fator crucial, citando microrganismos, agrotóxicos, pesticidas e metais pesados como potenciais contaminantes durante o cultivo, coleta, secagem, embalagem, armazenamento e comercialização. A complexidade das misturas de plantas em muitos fitoterápicos, e a falta de conhecimento sobre a toxicidade de algumas espécies, tornam a orientação profissional fundamental para o uso seguro e eficaz das plantas medicinais, principalmente para evitar a interação com outros medicamentos e reduzir riscos à saúde.
II.Uso de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos no SUS
O estudo destaca o papel da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS), que lista 71 espécies, mas apenas 12 estão disponíveis no sistema. A pesquisa identificou 145 espécies de plantas medicinais usadas pela população, com 40 espécies presentes na RENISUS. A análise enfatizou as 10 espécies mais citadas nas entrevistas, ressaltando a importância da fitoterapia como alternativa de baixo custo e com eficácia comprovada, alinhada com as políticas do SUS para ampliação do acesso a medicamentos fitoterápicos e a redução de gastos com medicamentos convencionais. O estudo também abordou a importância do uso racional e seguro dessas plantas, alertando para os riscos da automedicação e a necessidade de orientação profissional para evitar intoxicações.
1. A Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS RENISUS e sua Disponibilidade
A pesquisa destaca a importância da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS) no contexto do uso de medicamentos fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS). A RENISUS lista 71 espécies com potencial para uso medicinal, no entanto, o estudo ressalta que, dentre essas, apenas 12 espécies estão atualmente disponíveis no SUS. Essa discrepância entre o número de espécies listadas e as disponíveis demonstra uma limitação no acesso da população a medicamentos fitoterápicos via SUS. A pesquisa em si identificou um número bem maior de plantas medicinais utilizadas pela população (145 espécies), sendo 40 delas presentes na RENISUS. Essa diferença evidencia a extensa variedade de plantas usadas pela população, muitas vezes fora do escopo das opções oferecidas pelo SUS. A necessidade de ampliar a oferta de medicamentos fitoterápicos no SUS, para melhor atender as necessidades da população e integrar a fitoterapia mais efetivamente ao sistema de saúde, é crucial.
2. Fitoterapia no SUS Custo Eficácia e Acesso
O estudo analisa o potencial da fitoterapia como estratégia para reduzir custos públicos com medicamentos alopáticos dentro do SUS. A pesquisa demonstra a ampla aceitação da fitoterapia pela população e pelos profissionais de saúde, devido ao baixo custo, aos reduzidos efeitos colaterais e à eficácia comprovada. Essa aceitação popular, combinada com a facilidade de acesso a plantas medicinais no Brasil e a compatibilidade com a cultura e o saber popular, reforça o argumento para a ampliação do uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos no SUS. O estudo aponta que a integração da fitoterapia no SUS pode tornar o sistema mais eficiente, mais acessível e mais integrado à cultura da população brasileira, transformando os usuários de agentes passivos para agentes ativos no processo de cuidado com a sua saúde. A pesquisa enfatiza a necessidade de políticas públicas que estimulem a pesquisa, a produção e a disponibilização segura e eficaz de medicamentos fitoterápicos, a fim de potencializar os benefícios da fitoterapia para todos.
3. Regulamentação e Controle de Qualidade dos Fitoterápicos
O texto aborda a importância da regulamentação e do controle de qualidade dos medicamentos fitoterápicos. Todos os fitoterápicos industrializados devem ser registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para garantir a segurança, a eficácia e a qualidade dos produtos. Esse processo de registro sanitário, de competência exclusiva da ANVISA, avalia aspectos cruciais de qualidade, segurança e eficácia, minimizando a exposição da população a produtos contaminados ou de qualidade duvidosa. O registro tem validade de cinco anos e deve ser renovado, conforme a Lei nº 6.360/76. A preocupação com a qualidade é fundamental, pois a população, muitas vezes, utiliza plantas medicinais sem o conhecimento adequado sobre preparo, dosagem e potenciais riscos. O documento salienta que a incorporação de fitoterápicos ao SUS requer um sistema rigoroso de controle de qualidade para assegurar a segurança e a eficácia do tratamento aos pacientes. A ANVISA desempenha um papel fundamental neste processo, garantindo a qualidade dos fitoterápicos no mercado.
III.Metodologia e Resultados Plantas Medicinais mais Utilizadas
A metodologia envolveu entrevistas semiestruturadas aplicadas pelas ACS a aproximadamente 375 famílias, resultando em 278 entrevistas analisadas. A amostra abrangeu indivíduos de 18 a 97 anos (média de 57,5 anos), sendo a maioria mulheres (86,69%). A principal forma de preparo das plantas medicinais foi o chá (decocção e infusão). A pesquisa identificou as 10 espécies de plantas medicinais mais citadas, pertencentes à RENISUS, destacando a importância do conhecimento tradicional e a necessidade de ações para garantir a segurança no uso dessas plantas na comunidade de Santa Izabel do Oeste.
1. Coleta de Dados e Perfil dos Participantes
A pesquisa coletou dados por meio de entrevistas semiestruturadas, aplicadas pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) a 278 famílias em Santa Izabel do Oeste, Paraná. Das 375 entrevistas disponibilizadas, 278 foram efetivamente respondidas, representando cerca de 10% das famílias acompanhadas pelas Equipes de Saúde da Família (ESF) do município. A amostra abrangeu indivíduos com idades entre 18 e 97 anos, com média de 57,5 anos, sendo a maioria (86,69%) do sexo feminino. O nível de escolaridade da maioria dos entrevistados era o ensino fundamental incompleto (56,83%), com 2,16% sendo analfabetos. A escolha das famílias se deu de forma aleatória, organizada pelo NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família), a cada dez famílias sequenciais uma era entrevistada. As visitas domiciliares foram programadas em conjunto com as ESFs e o NASF, buscando horários convenientes aos participantes, com o devido esclarecimento sobre os objetivos da pesquisa e garantindo o consentimento livre e esclarecido de cada um.
2. Práticas de Uso e Preparo de Plantas Medicinais
A análise das entrevistas revelou que o uso de plantas medicinais na comunidade estudada é predominantemente feito por automedicação, geralmente seguindo indicações de pessoas mais velhas da família, com o conhecimento sendo transmitido de forma tradicional (avó para neta, mãe para filha, etc.), principalmente entre as mulheres. O preparo na forma de chá (decocção e infusão) foi o método mais citado, corroborando com estudos anteriores. A erva-mate, utilizada no chimarrão, mereceu atenção especial, sendo apontada como depurativo, estimulante e diurético, porém com recomendações de uso cauteloso em casos específicos como gravidez, lactação, hipertensão e diabetes, devido a possíveis riscos, ainda não totalmente estabelecidos cientificamente. A pesquisa listou 145 espécies de plantas medicinais citadas pelos entrevistados, sendo que 40 constam na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS), com destaque para as 10 espécies mais frequentemente mencionadas.
3. Identificação das Plantas Medicinais Mais Citadas e Conhecimento Tradicional
A pesquisa identificou as dez plantas medicinais mais citadas pelas famílias entrevistadas, todas presentes na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS). Essa lista, embora não apresentada no documento em si, é crucial para entender quais espécies são mais relevantes no contexto local. A alta frequência de citação dessas plantas reforça sua importância na cultura e práticas de saúde da comunidade de Santa Izabel do Oeste. O estudo evidencia a profunda relação entre o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais e a prática de automedicação na região, com a transmissão de saberes ocorrendo principalmente entre mulheres da família. Apesar do conhecimento tradicional ser uma fonte importante de cuidado com a saúde, a pesquisa chama a atenção para o risco de identificação incorreta das plantas, uso inadequado e até o uso de espécies tóxicas, realçando a importância da orientação por parte dos profissionais de saúde para garantir a segurança e a eficácia dos tratamentos.
IV.Oficinas Educativas e Sensibilização sobre Plantas Medicinais
O estudo incluiu a realização de três oficinas educativas com 26 profissionais de saúde (ACS e NASF) de Santa Izabel do Oeste. As oficinas abordaram o uso seguro e correto de plantas medicinais, legislação, preparo e as principais espécies identificadas na pesquisa. O objetivo foi formar multiplicadores de conhecimento, conscientizando a população sobre os benefícios e riscos do uso de plantas medicinais e promovendo a fitoterapia como opção terapêutica segura e acessível dentro do contexto da APS e do SUS.
1. Realização das Oficinas e Público Alvo
A pesquisa realizou três oficinas educativas com o objetivo de sensibilizar usuários e profissionais de saúde sobre o uso correto de plantas medicinais. O público-alvo foram os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e o NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) do município de Santa Izabel do Oeste/PR. Um total de 26 profissionais participaram das oficinas. As atividades incluíram discussões sobre o uso e manejo correto das plantas medicinais, informações sobre as plantas mais utilizadas pelas famílias entrevistadas, e o retorno de alguns resultados da análise das entrevistas. Ao final das oficinas, foram distribuídos folders com informações sobre os temas abordados. Para os Agentes Comunitários de Saúde, foi entregue um folder específico com informações sobre as plantas medicinais mais utilizadas naquelas comunidades e orientações sobre o seu manejo correto. As datas das oficinas foram: 26/06/2015 (plantas medicinais, legislação, utilização e tipos de preparo), 25/09/2015 (formas corretas de utilização, dosagem, indicações e partes utilizadas das plantas medicinais), e 19/11/2015 (práticas em laboratório sobre a fabricação de fitocosméticos).
2. Conteúdo e Objetivos das Oficinas
As oficinas tiveram como objetivo principal educar e sensibilizar os profissionais de saúde (ACS e NASF) sobre o uso adequado de plantas medicinais. Os temas abordados incluíram informações sobre as plantas medicinais mais utilizadas na comunidade, suas formas corretas de utilização, dosagem, indicações e partes a serem usadas, além de informações sobre a legislação pertinente. As oficinas também buscaram promover o uso consciente das plantas medicinais, prevenindo acidentes e intoxicações. Um aspecto importante foi a formação de multiplicadores de conhecimento, considerando que os profissionais de saúde geralmente repassam informações aos usuários. Ao final das atividades, foram entregues folders com os principais pontos abordados, reforçando o aprendizado e servindo como material de consulta e referência para os participantes. A terceira oficina, realizada na universidade, incluiu práticas em laboratório na produção de fitocosméticos.
3. Implicações e Considerações Finais sobre as Oficinas
As oficinas contribuíram para a educação de usuários e profissionais de saúde, auxiliando na prevenção de acidentes e intoxicações, e promovendo a saúde por meio do uso correto de plantas medicinais. A participação das ACS nas oficinas foi fundamental para o compartilhamento de experiências e conhecimentos práticos, enriquecendo a formação pessoal e profissional dos participantes. A metodologia empregada, caracterizada pelo ensino em espaços não formais, como descrito por Gohn (2006), permitiu um aprendizado significativo com base no compartilhamento de experiências cotidianas. A grande biodiversidade de plantas utilizadas pela população justifica a necessidade de uma melhor distribuição de conhecimento sobre seus efeitos e segurança de uso. A pesquisa conclui que o uso de plantas medicinais deve ser cauteloso, especialmente devido à falta de dados científicos concretos sobre algumas espécies, e a importância da informação correta à população para garantir a qualidade da saúde.
