Análise da relação do desempenho das funções cognitivas com as concentrações séricas dos esteroides sexuais em homens idosos

Cognição e Esteroides em Homens Idosos

Informações do documento

Autor

Carolina De Carvalho Barros Caetano

instructor Profa. Dra. Tânia Aparecida Sartori Sanchez Bachega
Escola

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Curso Ciências Médicas
Tipo de documento Dissertação (Mestrado)
Local São Paulo
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.92 MB

Resumo

I.Objetivo da Pesquisa Cognição em Idosos e Esteroides Sexuais

Este estudo investigou a correlação entre o desempenho de funções cognitivas, a presença de sintomas depressivos e as concentrações séricas de esteroides sexuais (testosterona e estradiol) em homens idosos. Utilizou-se o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) para avaliar a cognição, incluindo orientação, memória, atenção e linguagem, e a Escala de Depressão Geriátrica (GDS) para detectar sintomas depressivos. A amostra constou de 60 homens com idade entre 62 e 87 anos (média 73,5 ± 5,9 anos), acompanhados no Ambulatório de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) entre 2014 e 2015. A pesquisa visou elucidar a influência dos níveis hormonais na cognição em idosos.

1.1 Introdução Declínio Cognitivo e Esteroides Sexuais no Envelhecimento

O envelhecimento é frequentemente associado a um declínio cognitivo, sintomas depressivos e redução nas concentrações séricas de esteroides sexuais. A influência destes esteroides na cognição de idosos, no entanto, permanece controversa. Muitos estudos anteriores incluíram indivíduos idosos e adultos, utilizando testes de rastreio para analisar o comprometimento cognitivo sem avaliar individualmente cada função cognitiva. Essa falta de especificidade na avaliação motivou a presente pesquisa, que busca preencher essa lacuna na literatura científica, focando exclusivamente em idosos.

1.2 Objetivo Principal Avaliação da Função Cognitiva em Homens Idosos

O objetivo principal deste estudo foi avaliar o desempenho das funções cognitivas, identificar a presença de sintomas depressivos e correlacioná-los com as concentrações séricas de esteroides sexuais em uma casuística composta exclusivamente por homens idosos. Essa abordagem focada em uma população específica, eliminando a variabilidade inerente à inclusão de adultos mais jovens, permitiu uma análise mais precisa da influência dos esteroides sexuais na cognição relacionada à idade avançada. O estudo utilizou uma amostra rigorosamente selecionada, contribuindo para resultados mais robustos e confiáveis.

1.3 Casuística e Métodos Seleção da Amostra e Instrumentos de Avaliação

A pesquisa utilizou uma casuística de 60 homens com idades entre 62 e 87 anos (média de 73,5 ± 5,9 anos). O Mini Exame do Estado Mental (MEEM) foi empregado para avaliar a cognição, abrangendo orientação temporal e espacial, memória imediata e de evocação, atenção/cálculo, linguagem e capacidade visuoespacial. A Escala de Depressão Geriátrica (GDS) foi utilizada para identificar a presença de sintomas depressivos. As concentrações séricas de testosterona total (TT) e estradiol foram dosadas por eletroquimioluminecência, e a concentração de testosterona livre (TL) foi calculada. A análise estatística incluiu os testes de Spearman, Mann-Whitney e Kruskal-Wallis para correlacionar os resultados dos testes com idade, escolaridade, índice de massa corpórea (IMC) e concentrações séricas de TT, TL e estradiol. A escolha cuidadosa dos métodos permitiu uma abordagem robusta e cientificamente sólida para o estudo.

II.Metodologia Avaliação da Cognição e Dosagem Hormonal

A avaliação neuropsicológica incluiu a aplicação do MEEM e do GDS por uma psicóloga cega aos resultados clínicos e laboratoriais. As concentrações séricas de testosterona total (TT), testosterona livre (TL) e estradiol foram dosadas por eletroquimioluminecência. Os dados foram analisados estatisticamente utilizando testes de Spearman, Mann-Whitney e Kruskal-Wallis, buscando correlações com idade, escolaridade, IMC e níveis hormonais.

2.1 Avaliação Neuropsicológica Mini Exame do Estado Mental MEEM e Escala de Depressão Geriátrica GDS

A avaliação da função cognitiva se deu através da aplicação do Mini Exame do Estado Mental (MEEM), um teste amplamente utilizado para rastrear o declínio cognitivo. O MEEM avaliou diferentes domínios cognitivos, incluindo orientação temporal e espacial, memória imediata e de evocação, atenção/cálculo, linguagem e capacidade visuoespacial. Para avaliar a presença de sintomas depressivos, foi utilizada a Escala de Depressão Geriátrica (GDS). A escolha desses instrumentos se justifica por sua facilidade de aplicação e ampla utilização em contexto clínico, permitindo uma avaliação abrangente da cognição e da condição emocional dos participantes. A aplicação dos testes foi realizada por uma única psicóloga, mantida cega para os resultados clínicos e laboratoriais dos pacientes, minimizando viés na avaliação.

2.2 Dosagem Hormonal Determinação dos Níveis de Esteroides Sexuais

A dosagem hormonal incluiu a medição das concentrações séricas de testosterona total (TT) e estradiol por eletroquimioluminecência. A concentração de testosterona livre (TL) foi calculada utilizando-se a fórmula de Vermeulen. A metodologia de eletroquimioluminecência garante alta precisão e reprodutibilidade na dosagem hormonal, contribuindo para a confiabilidade dos resultados. Os coeficientes de variação intra e interensaio foram menores que 8,4%, indicando boa precisão e exatidão do método. A escolha dessas variáveis hormonais se baseia na literatura científica, que aponta para a possível relação entre os níveis séricos desses esteroides e a função cognitiva em homens idosos.

2.3 Análise Estatística Métodos para a Correlação de Variáveis

Para a análise estatística das relações entre as variáveis, foram empregados testes estatísticos apropriados. Testes não paramétricos, como o Kruskal-Wallis e o Mann-Whitney, foram utilizados para a comparação de dados entre grupos distribuídos de acordo com os percentis de testosterona. Modelos lineares generalizados (MLG) com distribuição de Poisson e função de ligação identidade foram criados para analisar a relação entre os domínios do MEEM, o MEEM total e o GDS com as características de interesse, tanto individualmente como em conjunto. A seleção de testes estatísticos apropriados para os tipos de dados e o tamanho da amostra assegura a validade e a interpretação correta dos resultados obtidos.

III.Resultados IMC Escolaridade e Cognição

Não foi encontrada correlação significativa entre os esteroides sexuais e o desempenho cognitivo global, exceto por uma correlação positiva entre testosterona e orientação espacial. Entretanto, observou-se uma correlação negativa significativa entre o IMC e a pontuação total do MEEM, assim como com a função linguagem. A escolaridade mostrou correlação positiva com o MEEM, sugerindo um efeito protetor na manutenção do desempenho cognitivo. Níveis menores de andrógenos se associaram à presença de traços depressivos.

3.1 Influência do Índice de Massa Corpórea IMC na Cognição

Uma das descobertas mais relevantes do estudo foi a correlação negativa entre o IMC e o desempenho cognitivo global, evidenciada por uma pontuação total menor no MEEM em indivíduos com IMC mais elevado (r = -0,3; p = 0,01). Esta correlação negativa também foi observada especificamente na função linguagem do MEEM (r = -0,25; p = 0,04). Adicionalmente, observou-se uma forte correlação negativa entre o IMC e as concentrações de testosterona total (TT) (r = -0,45; p = 0,0002). Os resultados sugerem que o IMC pode influenciar negativamente a cognição, seja por um efeito direto da gordura corporal ou indiretamente, através da redução dos níveis de andrógenos. É importante ressaltar que a amostra apresentou uma variação significativa de IMC, com 34 homens (55%) apresentando sobrepeso e 8 indivíduos (15%) com obesidade. Esses dados reforçam a necessidade de investigar a relação complexa entre obesidade, níveis hormonais e desempenho cognitivo em idosos.

3.2 Efeito Protetor da Escolaridade no Desempenho Cognitivo

Em contraste com a influência negativa do IMC, o estudo revelou uma correlação positiva entre a escolaridade e a pontuação total do MEEM (r = 0,37; p = 0,01). Isso indica que a escolaridade pode ter um efeito protetor contra o declínio cognitivo associado ao envelhecimento. Este achado é consistente com a literatura que discute o risco de declínio cognitivo em indivíduos com baixa escolaridade. A análise multivariada confirmou a importância da escolaridade, especialmente na função cognitiva de atenção e cálculo, possivelmente relacionada à inteligência cristalizada, que tende a ser menos afetada pelo envelhecimento. A escolaridade média dos participantes (9,5 ± 4,5 anos) foi significativamente maior que a média da população brasileira idosa (3 anos), permitindo a utilização de uma padronização específica para o MEEM que considera a heterogeneidade do ensino fundamental no Brasil. A alta escolaridade na amostra sugere um possível viés de seleção, mas reforça a importância da educação como um fator de proteção cognitiva.

3.3 Ausência de Correlação Direta entre Esteroides Sexuais e Desempenho Cognitivo Global exceto Orientação Espacial

Apesar da expectativa inicial, não foi encontrada uma correlação significativa entre as concentrações séricas de esteroides sexuais (testosterona total, testosterona livre e estradiol) e o desempenho cognitivo global, avaliado pelo MEEM. Entretanto, uma correlação positiva foi observada entre a testosterona total (TT) e o desempenho na função de orientação espacial. Este resultado é consistente com outros estudos que demonstram a influência da testosterona na habilidade espacial. A ausência de correlação global com outros esteroides sexuais pode ser atribuída ao tamanho da amostra, que, embora representativa para estudos com idosos de idade mais avançada, ainda pode ser considerada pequena para detectar relações mais sutis. A análise individual das funções cognitivas, em contraste com o uso de apenas a pontuação total do MEEM, permitiu a identificação desta correlação específica com a orientação espacial. Essa abordagem detalhada na análise dos resultados contribuiu para uma interpretação mais completa e precisa dos dados.

IV.Conclusão Fatores Influenciando a Cognição em Idosos

O estudo não confirmou uma relação direta entre os níveis de esteroides sexuais e o desempenho cognitivo global em homens idosos, embora a testosterona tenha demonstrado influência na orientação espacial. O IMC apresentou impacto negativo no desempenho cognitivo, possivelmente por efeito direto da gordura corporal ou indireto pela redução de andrógenos. A escolaridade surgiu como fator protetor para a cognição. A depressão mostrou correlação com a idade e baixos níveis de andrógenos. O tamanho reduzido da amostra pode ter limitado a detecção de outras correlações. Mais pesquisas são necessárias para elucidar os mecanismos envolvidos na relação entre esteroides sexuais, IMC, depressão e cognição em idosos.

4.1 Resumo das Principais Conclusões sobre a Cognição em Idosos

O estudo não encontrou uma correlação geral entre os níveis de esteroides sexuais e o desempenho cognitivo global em homens idosos, avaliado pelo MEEM. No entanto, uma relação positiva foi observada entre os níveis de testosterona total (TT) e a função de orientação espacial. Este resultado sugere uma possível influência específica da TT neste domínio cognitivo. Em contraponto, o Índice de Massa Corpórea (IMC) demonstrou uma correlação negativa com o desempenho cognitivo global e com a função linguagem, indicando uma possível influência negativa do IMC sobre a cognição. A escolaridade, por sua vez, mostrou-se um fator protetor, correlacionando positivamente com o desempenho no MEEM, sugerindo um efeito benéfico da educação na preservação das funções cognitivas durante o envelhecimento. A presença de traços depressivos mostrou-se influenciada pela idade e por concentrações menores de andrógenos. Esses achados ressaltam a complexa interação entre fatores biológicos, como os níveis hormonais e o IMC, e fatores socioculturais, como a escolaridade, no processo de envelhecimento cognitivo.

4.2 Considerações sobre o Tamanho da Amostra e Limitações do Estudo

Embora o estudo tenha incluído uma amostra de homens idosos com idade mais avançada do que a maioria dos estudos similares, o tamanho da amostra (60 participantes) pode ser considerado uma limitação, o que poderia ter influenciado a não detecção de correlações mais sutis entre esteroides sexuais e o desempenho cognitivo global. A presença de doenças crônicas na amostra, mesmo com bom controle clínico e metabólico, poderia também ter influenciado os resultados. A dificuldade em aumentar o tamanho da amostra foi devido à não comparecimento de alguns pacientes e ao critério de inclusão que limitava o tempo entre a avaliação neuropsicológica e as análises clínicas e laboratoriais a 3 meses. Apesar dessas limitações, o estudo apresenta resultados relevantes, especialmente a respeito da influência do IMC e da escolaridade na cognição do idoso, fornecendo informações importantes para futuras pesquisas.

4.3 Implicações e Direções Futuras para a Pesquisa

Os resultados deste estudo sugerem que o IMC e a escolaridade desempenham papéis significativos na função cognitiva de homens idosos. A influência negativa do IMC, possivelmente mediada por níveis reduzidos de andrógenos, ressalta a importância do controle do peso e da composição corporal na saúde cognitiva. A influência positiva da escolaridade reforça o papel da educação como fator de proteção cognitiva. A relação entre testosterona e orientação espacial demanda investigações futuras para melhor compreensão dos mecanismos envolvidos. O tamanho da amostra e a presença de comorbidades são fatores que precisam ser considerados em pesquisas futuras, buscando replicar os achados em amostras maiores e com maior controle de variáveis. Estudos longitudinais, com acompanhamento dos indivíduos ao longo do tempo, seriam cruciais para uma melhor compreensão da progressão do declínio cognitivo e da influência dos fatores investigados.

V.Informações Adicionais Hospital das Clínicas da USP e Amostra

A pesquisa foi conduzida no Ambulatório de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP). A amostra, composta por 60 homens, apresentou idade avançada comparada a outros estudos, com muitos participantes acima de 70 anos. Diversas doenças crônicas, como hipertensão, dislipidemia e diabetes, estavam presentes em parte da amostra, mas todas sob controle clínico e metabólico. As dificuldades em aumentar o tamanho da amostra se devem à não comparecimento dos pacientes e a restrição temporal entre os testes neuropsicológicos e exames laboratoriais (máximo de 3 meses).

5.1 Local da Pesquisa Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

O estudo foi realizado no Ambulatório de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). A escolha deste local se justifica pela disponibilidade de acesso a uma população de pacientes idosos e pela infraestrutura necessária para a realização dos exames clínicos e laboratoriais. A parceria com o HC-FMUSP permitiu o recrutamento de voluntários e a obtenção de dados relevantes para a pesquisa. A participação de uma única psicóloga para aplicação dos testes, e um único geriatra para avaliação clínica e solicitação de exames, mantidos cegos para os resultados dos outros, ajudou a garantir a objetividade e a qualidade dos dados coletados.

5.2 Caracterização da Amostra Idade Doenças Crônicas e Escolaridade

A amostra do estudo consistiu em 60 homens idosos, com idades entre 62 e 87 anos (média de 73,5 ± 5,9 anos). Embora o número de participantes seja considerado pequeno para alguns tipos de análise, a amostra se destaca pela idade avançada dos participantes, em contraste com muitos estudos que incluem adultos mais jovens. A presença de doenças crônicas foi observada em uma parcela significativa da amostra, sendo as mais frequentes: hipertensão (55%), dislipidemia (45%), diabetes (33%), insuficiência cardíaca crônica (17%) e hipotireoidismo (15%). É importante ressaltar que todos os idosos apresentavam bom controle clínico e metabólico de suas condições de saúde. A amostra demonstrou alta escolaridade em comparação com a população geral de idosos brasileiros, com a maioria dos indivíduos relatando pelo menos 9 anos de estudo (média de 9,5 ± 4,5 anos). Este fato, embora pudesse indicar um viés de amostragem, permitiu a utilização de uma padronização do MEEM adequada à realidade brasileira. As dificuldades em aumentar o tamanho da amostra incluíram a não comparecimento dos voluntários e a restrição temporal entre a avaliação neuropsicológica e as análises clínicas/laboratoriais (máximo de 90 dias).