Análise produtiva de diferentes grupos genéticos de vacas leiteiras

Produtividade de Vacas Leiteiras

Informações do documento

Autor

Vanderlei Carlos Bourckhardt

instructor/editor Diego Peres Netto
Escola

Universidade Federal de Santa Catarina

Curso Zootecnia
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso
city Florianópolis
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 535.67 KB

Resumo

I.Resumo Análise da Produção Leiteira em Vacas Holandesas e Cruzamentos

Este estudo investigou os índices produtivos de diferentes grupos genéticos de vacas leiteiras, focando na raça Holandesa e seus cruzamentos com Sueca Vermelha, Norueguesa Vermelha, e Montbeliarde. O objetivo principal foi analisar o impacto do cruzamento de raças e da heterose na produção leiteira, composição do leite (teor de gordura, teor de proteína, lactose), e indicadores de saúde como a contagem de células somáticas (CCS). A pesquisa utilizou dados de 308 animais, classificados em quatro grupos: Holandesas puras, F1 (Holandesa x Sueca Vermelha), F1 (Holandesa x Norueguesa Vermelha), e F1 x Montbeliarde. A análise considerou fatores como dias de lactação e ordem de lactação. Resultados preliminares indicam que a produção de leite foi similar entre alguns grupos, mas com variações significativas em componentes do leite. A influência da endogamia na fertilidade e na produtividade também foi considerada, relacionando-a com as práticas de melhoramento genético empregadas.

1. Grupos Genéticos e Variáveis Analisadas

O estudo analisou os índices produtivos de vacas leiteiras, divididas em quatro grupos genéticos: vacas da raça Holandesa (HF), cruzamento Holandesa x Sueca Vermelha (HF x SV), Holandesa x Norueguesa Vermelha (HF x NV), e F1 (cruzamento de Holandesas) x Montbeliarde (F1 x MB). A seleção desses grupos permitiu avaliar o impacto do cruzamento de raças na produção e composição do leite. As variáveis analisadas foram a produção de leite (litros/vaca/dia), considerando a influência do mês, dias de lactação e ordem de lactação; a composição do leite, incluindo o teor de gordura, proteína e lactose (em porcentagem e kg/dia); e indicadores de saúde como o teor de uréia e a contagem de células somáticas (CCS) no leite. Essa abordagem multifatorial permitiu uma avaliação completa dos efeitos do cruzamento de raças sobre a produção e a qualidade do leite, considerando aspectos produtivos e sanitários. A escolha de raças leiteiras de origem europeia, reconhecidas por sua alta produção, e seus cruzamentos, permitiu a comparação de diferentes genótipos e a avaliação do potencial de heterose em diferentes combinações genéticas. A análise estatística dos dados permitiu identificar diferenças significativas entre os grupos, permitindo conclusões mais robustas sobre o impacto do cruzamento na produção leiteira.

2. Produção de Leite e Teor de Gordura

Em relação à produção de leite (vaca/dia), observou-se similaridade (P>0,05) entre os grupos HF, HF x SV e F1 x MB, com o grupo HF x NV apresentando a menor média. Este resultado sugere que o cruzamento com a Sueca Vermelha e Montbeliarde não resultou em aumento significativo na produção de leite em comparação com a raça Holandesa pura. No entanto, ao corrigir a produção de leite diária para 4% de gordura, a diferença entre os grupos tornou-se não significativa (P>0,05). A análise do teor de gordura do leite revelou que as vacas mestiças (HF x SV e HF x NV) apresentaram teores superiores aos demais grupos, enquanto as F1 x MB apresentaram a menor média (3,99%). Esses resultados indicam que o cruzamento pode afetar a composição do leite, influenciando a proporção de gordura. A variação no teor de gordura pode ser relevante para a indústria de laticínios e a avaliação econômica da produção leiteira, uma vez que influencia o valor final dos produtos derivados. Mais estudos são necessários para entender completamente os mecanismos genéticos e ambientais que determinam esses padrões.

3. Teor de Proteína e Lactose no Leite

O teor de proteína no leite diferiu significativamente (P<0,01) apenas entre as vacas Holandesas (3,42%) e as HF x SV (3,52%), sugerindo um possível mérito genético associado a este cruzamento específico. A produção de proteína (kg/dia) foi similar entre os grupos HF, HF x SV e F1 x MB, sendo superior ao grupo HF x NV. Em relação à lactose, a produção (em porcentagem e kg/dia) foi maior nas vacas HF e F1 x MB, que também se destacaram como os grupos mais produtivos em leite fluido. O cruzamento com as raças escandinavas (Sueca e Norueguesa Vermelha) não influenciou positivamente a produção de leite e a quantidade de proteína e gordura produzida em kg/dia quando comparadas às vacas Holandesas puras. No entanto, observa-se que o cruzamento de vacas escandinavas com Holandesas prejudicou o teor de lactose, destacando a complexidade da interação entre os genótipos e a produção de componentes específicos do leite. A análise dos resultados indica que a escolha da raça para cruzamento deve considerar não apenas a produção total de leite, mas também a composição desejável para atender às necessidades da indústria de lácteos.

4. Contagem de Células Somáticas e Teor de Uréia

A contagem de células somáticas (CCS) e o teor de uréia no leite não diferiram significativamente entre os grupos genéticos. Apesar da ausência de diferença estatística na CCS, é importante notar que o grupo HF x SV apresentou numericamente maior concentração de CCS, enquanto o grupo F1 x MB mostrou maior percentual de lactose. Essa observação sugere uma possível relação entre a CCS e a composição do leite, um tema que merece investigação mais aprofundada. A concentração de uréia no leite, correlacionada com o teor de proteína na dieta, não mostrou diferenças significativas entre os grupos, indicando que a dieta fornecida foi equilibrada em termos de nitrogênio para todos os animais. A avaliação do nitrogênio uréico no leite é importante para ajustar a oferta de proteína na alimentação e evitar excessos que podem impactar negativamente na fertilidade dos animais. A ausência de diferenças significativas na CCS e no teor de uréia entre os grupos indica boa saúde geral do rebanho e manejo adequado da alimentação.

II.Revisão Bibliográfica Panorama da Produção Leiteira Mundial e Brasileira

A revisão bibliográfica contextualiza a pesquisa, destacando a importância do melhoramento genético para aumentar a produtividade leiteira. Foram apresentados dados sobre a produção mundial de leite, com destaque para os maiores produtores (EUA, Índia, China, Brasil, Federação Russa e Alemanha). A pesquisa contrasta a produção intensiva com raças especializadas como a Holandesa, predominante em países como os EUA, com a realidade brasileira, onde a maior parte da produção provém de animais mestiços, combinando a rusticidade do zebu com o potencial leiteiro das raças europeias. A utilização de cruzamento de bovinos, especialmente com raças zebuínas como Gir e Guzerá, é apresentada como estratégia para melhorar a produtividade do rebanho nacional, buscando equilibrar produção e adaptação às condições climáticas tropicais. A revisão também aborda os impactos da endogamia na saúde e fertilidade dos animais, justificando a utilização do cruzamento como ferramenta para reduzir seus efeitos negativos.

1. Produção Leiteira Mundial Um Cenário Contrastivo

A revisão inicia com um panorama da produção leiteira global, destacando os principais países produtores em 2012: Estados Unidos, Índia, China, Brasil, Federação Russa e Alemanha, responsáveis por 44% dos 625 milhões de toneladas produzidas. Essa informação estabelece um contexto amplo para a discussão subsequente sobre a produção leiteira brasileira. A comparação entre países evidencia diferentes estratégias de produção: enquanto países como os Estados Unidos baseiam sua produção em genótipos especializados, principalmente a raça Holandesa, com alto potencial genético leiteiro (Almeida, 2007), o Brasil apresenta um cenário distinto, com aproximadamente 70% da produção originária de animais mestiços zebu-europeus (Verneque et al., 2008). Essa característica mista permite uma maior adaptação às condições climáticas tropicais do país, exemplificada pela maior produção leiteira em estados como Minas Gerais (Santos et al., 2010). A União Europeia, embora tenha a raça Holandesa como base genética e seja a maior produtora mundial, apresenta também uma parcela significativa de animais com duplo propósito (leite e carne), principalmente na Alemanha (Europäische Kommission, 2015; Stolz, 2014). Essa diversidade de abordagens na produção leiteira mundial demonstra a necessidade de estratégias específicas para cada contexto.

2. A Realidade Brasileira Cruzamento e Heterosis

A revisão destaca o uso do cruzamento de bovinos leiteiros taurinos com zebuínos (raças Gir e Guzerá) como estratégia para aumentar a produtividade do rebanho brasileiro, que apresenta baixa produtividade por animal e por área (Verneque et al., 2008). O cruzamento visa explorar a heterose, ou vigor híbrido, que resulta em animais com mecanismos bioquímicos e fisiológicos aprimorados para lidar com condições ambientais adversas (Verneque et al., 2008). A heterose, definida por Pereira (2008) como o acasalamento de animais com parentesco distante, gera ganhos genéticos em diversas características, incluindo reprodução, rusticidade e produção. A revisão também aborda os riscos da endogamia, que pode levar à redução na produção, baixa fertilidade e menor resistência a adversidades ambientais (Queiroz et al., 2000; Verneque et al., 2008). A utilização de animais mestiços no Brasil representa uma tentativa de equilibrar a alta produção leiteira das raças europeias com a rusticidade e adaptação do zebu ao clima tropical, buscando otimizar a produção em condições desafiadoras. A baixa produtividade leiteira no Brasil, ocupando apenas a 17ª posição mundial com média de 1381 litros/vaca/ano em comparação com países como Arábia Saudita (10.438 litros/vaca/ano em 2010), Israel (10.336 litros/vaca/ano) e Estados Unidos (9.593 litros/vaca/ano) em 2010 (Gomes, 2011), evidencia a necessidade contínua de estratégias de melhoramento genético, como o cruzamento, para aumentar a produtividade.

3. Endogamia e Estratégias de Cruzamento

A revisão discute o impacto da endogamia na constituição genética de populações de bovinos, resultando em aumento da homozigose e diminuição da heterozigose, sem afetar as frequências gênicas (Queiroz et al., 2000). Apesar dos riscos à saúde animal, a endogamia é utilizada por alguns criadores para manter a uniformidade de características desejadas em animais de elite. No entanto, esse processo é reconhecido como deteriorador do vigor, desenvolvimento e desempenho reprodutivo, além de reduzir a resistência a adversidades ambientais (Queiroz et al., 2000). O cruzamento é também destacado como uma estratégia para reduzir a endogamia e seus efeitos negativos na produção, fertilidade e sobrevivência (Verneque et al., 2008). A prática de cruzamentos alternados em bovinos leiteiros é ilustrada com exemplos nos Estados Unidos (desde 1949, utilizando principalmente animais Holandeses com Guernsey) e na Europa (Alemanha, com o sistema Tricross, que combina três raças diferentes, como Holandesa, Montbeliarde e Sueca Vermelha) (Mertens et al., 2011). Essa revisão contextualiza a escolha do cruzamento como metodologia na pesquisa, destacando-o não só como uma estratégia para aumentar a produção leiteira, mas também para mitigar os efeitos deletérios da endogamia e melhorar a resistência a doenças. A utilização de raças como Holandesa, Sueca Vermelha, Norueguesa Vermelha e Montbeliarde na pesquisa justifica-se nesse contexto de melhoramento genético através do cruzamento.

III.Resultados e Discussões Análise Comparativa dos Grupos Genéticos

Os resultados da análise da produção leiteira mostraram similaridade (P>0,05) entre vacas Holandesas, F1 (Holandesa x Sueca Vermelha) e F1 x Montbeliarde, mas diferenças significativas (P<0,07) em relação ao grupo F1 (Holandesa x Norueguesa Vermelha). A composição do leite também foi analisada, com variações no teor de proteína, teor de gordura, e lactose entre os grupos. O estudo observou que o teor de proteína diferiu significativamente (P<0,01) entre as vacas Holandesas e F1 (Holandesa x Sueca Vermelha). A CCS e o nível de uréia no leite foram também analisados, mostrando correlações com a produção leiteira e a composição do leite. A discussão contextualiza os resultados com estudos anteriores, comparando-os com a literatura especializada sobre heterose, endogamia e o impacto na produtividade leiteira e fertilidade.

1. Produção de Leite Comparação entre Grupos Genéticos

A análise da produção de leite (litros/vaca/dia) revelou similaridade (P>0,05) entre os grupos de vacas Holandesas (HF), HF x Sueca Vermelha (HF x SV), e F1 x Montbeliarde (F1 x MB). Este resultado é consistente com achados de Knob (2015) e Brähmig (2011), que não encontraram diferenças na produção de leite entre animais cruzados (Holandês x Simental) e animais puros da raça Holandesa. Porém, o grupo HF x Norueguesa Vermelha (HF x NV) apresentou produção significativamente menor (P<0,07), cerca de 2,9 litros/vaca/dia a menos que o grupo das Holandesas puras. Essa diferença sugere uma influência do mérito genético no desempenho produtivo. Ao corrigir a produção de leite para 4% de gordura, as diferenças entre os grupos tornaram-se não significativas (P>0,05), indicando que a variação na composição do leite pode compensar as diferenças na produção total de leite. A produção de leite diária corrigida para 4% de gordura foi semelhante entre todos os grupos genéticos, demonstrando que, apesar das diferenças na produção de leite bruto, a produção de sólidos, particularmente a gordura, foi similar. A análise da produção de leite demonstra a complexidade da interação entre os genótipos e os fatores ambientais na determinação da produção final.

2. Composição do Leite Proteína Gordura e Lactose

A composição do leite foi avaliada considerando o teor de proteína, gordura e lactose. O teor de proteína (Tabela 2) apresentou diferença significativa (P<0,01) apenas entre as vacas Holandesas (3,42%) e as HF x SV (3,52%), indicando possível mérito genético deste cruzamento. A produção de proteína (kg/dia) foi similar entre os grupos HF, HF x SV e F1 x MB, mas inferior no grupo HF x NV. A relevância da concentração proteica é destacada pela necessidade de maior volume de leite com teor de proteína menor para a produção de queijo (Faria, 2014). O teor de gordura foi superior nas vacas mestiças (HF x SV e HF x NV), enquanto as F1 x MB apresentaram a menor média (3,99%). A produção de lactose foi maior nas vacas HF e F1 x MB, coerente com sua maior produtividade em leite fluido. O cruzamento das vacas escandinavas com Holandesas resultou em menor teor de lactose, enquanto a produção de proteína e gordura em kg/dia não foi positivamente afetada. A análise da composição do leite demonstra como o cruzamento de raças pode influenciar a produção de diferentes componentes do leite, exigindo uma análise criteriosa da composição nutricional ideal para a obtenção dos produtos finais.

3. Indicadores de Saúde CCS e Teor de Uréia

A contagem de células somáticas (CCS) e o teor de uréia no leite não mostraram diferenças significativas entre os grupos. Apesar disso, o grupo HF x SV apresentou numericamente maior CCS, enquanto o grupo F1 x MB exibiu maior percentual de lactose. Essa observação sugere uma possível associação entre CCS e a composição do leite, necessitando estudos mais aprofundados. A concentração de uréia no leite, relacionada ao teor de proteína da dieta, não apresentou variação significativa entre os grupos, indicando balanceamento nutricional adequado. O monitoramento do nitrogênio ureico é crucial para ajustar a dieta e evitar excessos de nitrogênio que impactam na fertilidade. A similaridade no teor de uréia e CCS indica a manutenção da saúde do rebanho. A análise desses indicadores de saúde complementa a avaliação do impacto do cruzamento de raças, considerando aspectos relevantes para a qualidade do leite e a fertilidade dos animais. A ausência de variações significativas na CCS e teor de ureia sugere um manejo nutricional adequado e um bom estado de saúde geral dos animais em todos os grupos genéticos.