
Assepsia de Sementes de Feijão Crioulo
Informações do documento
Autor | Yasmin Tomazi |
Escola | Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus de Laranjeiras do Sul |
Curso | Agronomia - Linha de Formação em Agroecologia |
Tipo de documento | Trabalho de Conclusão de Curso |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 223.90 KB |
Resumo
I.Objetivos e Metodologia
Este estudo avaliou diferentes métodos de assepsia em sementes de feijão-comum (Phaseolus vulgaris) para controlar a contaminação por fungos Aspergillus sp. e Penicillium sp., principais patógenos de sementes. Foram testados diversos tratamentos: radiação UV-C, imersão em álcool 70%, hipoclorito de sódio (NaClO) 2% (com e sem ácido acético), ácido peracético 1%, e termoterapia (seca e úmida). Avaliou-se a qualidade fisiológica das sementes após os tratamentos, analisando a germinação, o índice de velocidade de germinação (IVG), o crescimento de plântulas e a sanidade. Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Germinação e Crescimento de Plantas da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS-LS), em Laranjeiras do Sul - PR, utilizando sementes de feijão crioulo da safra 2018, obtidas de um produtor rural do Assentamento Oito de Junho.
1. Objetivo da Pesquisa
O trabalho teve como objetivo principal avaliar a eficácia de diferentes métodos de assepsia na qualidade fisiológica e sanidade de sementes de Phaseolus vulgaris (feijão comum). A pesquisa buscou determinar qual tratamento seria mais eficiente em controlar a contaminação por fungos, especificamente Aspergillus sp. e Penicillium sp., sem causar danos significativos à viabilidade das sementes. A escolha de métodos de assepsia eficazes e de baixo impacto é crucial para a produção agrícola, especialmente para produtores que utilizam sementes crioulas, muitas vezes armazenadas sem controle de sanidade e com maior probabilidade de contaminação por patógenos. O estudo se concentrou na análise da germinação, índice de velocidade de germinação (IVG), crescimento das plântulas e sanidade das sementes após a aplicação dos diferentes tratamentos. A metodologia rigorosa, incluindo o uso do teste de Tukey a 5% de probabilidade, garantiu a confiabilidade dos resultados obtidos na pesquisa. A seleção de sementes crioulas, com suas características de rusticidade e resistência, reflete a preocupação com a preservação da biodiversidade e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis.
2. Materiais e Métodos Utilizados
Para alcançar os objetivos propostos, foram utilizadas sementes de feijão crioulo da safra 2018, obtidas de um produtor rural do Assentamento Oito de Junho, município de Laranjeiras do Sul – PR. Os experimentos foram realizados no Laboratório de Germinação e Crescimento de Plantas da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS-LS), campus Laranjeiras do Sul – PR. As sementes foram inoculadas com uma suspensão fúngica contendo 10 ± 5 conídios/mL de Aspergillus sp. e Penicillium sp. Após a inoculação, foram aplicados diversos tratamentos: um grupo controle (com e sem inoculação), diferentes tempos de exposição à radiação UV-C (1, 3 e 5 minutos), imersão em álcool 70% (1 e 2 minutos), tratamento com hipoclorito de sódio (NaClO) 2% (com e sem adição de ácido acético, por 3 minutos), aplicação de ácido peracético 1% (3 e 6 minutos), e termoterapia seca e úmida a 60°C e 70°C (com tempos de exposição específicos). Após os tratamentos, as sementes foram submetidas a testes de germinação, índice de velocidade de germinação (IVG), crescimento das plântulas e sanidade, utilizando-se o método “Blotter-test” para a identificação de patógenos. Os dados obtidos foram analisados estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o programa Sisvar 5.6 para análise estatística, com transformação dos dados de sanidade em raiz quadrada elevada (^5).
3. Delineamento Experimental e Análises Estatísticas
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com inoculação de dois gêneros de fungos (Penicillium sp. e Aspergillus sp.), treze tratamentos (incluindo os diferentes métodos de desinfecção de sementes) e dois controles (um com e outro sem inoculação de fungos). Foram realizadas quatro repetições para os testes de IVG e porcentagem de germinação, com 50 sementes por tratamento. O “Blotter test” foi realizado com quatro repetições de 25 sementes, enquanto os testes de crescimento de plântulas, massa fresca e seca foram conduzidos com cinco repetições de 20 sementes por tratamento. A comparação de médias foi realizada utilizando o teste de Tukey a 5% de probabilidade. Para a análise estatística, os dados de sanidade foram transformados utilizando raiz quadrada elevada (^5) no programa Sisvar 5.6 (Ferreira, 2014). Esta abordagem estatística rigorosa permitiu a comparação precisa da eficácia dos diferentes métodos de assepsia na qualidade fisiológica das sementes de Phaseolus vulgaris.
II.Resultados Eficácia dos Tratamentos na Desinfecção de Sementes
Os tratamentos com hipoclorito de sódio (NaClO) 2%, com e sem ácido acético, mostraram-se mais eficazes no controle dos fungos Aspergillus sp. e Penicillium sp., causando menor prejuízo à germinação e ao vigor das sementes. O álcool 70% também apresentou bons resultados. A termoterapia úmida, embora eficiente no controle dos patógenos, resultou em alta mortalidade das sementes. A termoterapia seca apresentou resultados intermediários. A inoculação dos fungos afetou significativamente a germinação e o vigor das sementes de feijão. A análise estatística foi realizada utilizando o teste de Tukey a 5% de probabilidade.
1. Eficácia do Hipoclorito de Sódio e Álcool
Os resultados demonstraram que o hipoclorito de sódio (NaClO) a 2%, com e sem a adição de ácido acético, foi o tratamento mais eficaz no controle dos fungos Aspergillus sp. e Penicillium sp.. Este método apresentou alta eficiência na redução da incidência fúngica, com taxas de germinação superiores a 80% em muitos casos, se aproximando do controle sem inoculação. O tratamento com álcool 70% também demonstrou boa eficácia no controle fúngico, apresentando resultados comparáveis ao hipoclorito em alguns aspectos. A eficácia desses tratamentos pode ser atribuída à capacidade do NaClO de eliminar patógenos e ao seu baixo efeito fitotóxico nas sementes, enquanto o álcool atua como um germicida de ação quase imediata. É importante ressaltar que embora o álcool seja eficiente, ele não possui ação residual, característica que difere dos tratamentos com hipoclorito. Esses resultados reforçam a importância desses desinfetantes como alternativas para o controle de doenças em sementes de feijão.
2. Impacto da Termoterapia na Desinfecção e Germinação
A termoterapia, tanto seca quanto úmida, apresentou resultados distintos. Enquanto a termoterapia seca a 60°C e 70°C foi eficiente em reduzir a incidência de fungos, não impactando tanto a germinação, a termoterapia úmida, aplicada a 60°C e 70°C por 30 minutos, se mostrou altamente eficiente no controle de patógenos. No entanto, este método causou alta mortalidade das sementes, reduzindo drasticamente a porcentagem de germinação (0% a 5,5%). Essa alta mortalidade ressalta a importância de se determinar o binômio temperatura/tempo ideal para cada espécie, evitando o comprometimento da qualidade fisiológica das sementes. A termoterapia úmida, apesar de eficaz no controle de patógenos, demonstrou ser prejudicial à fisiologia da semente, possivelmente devido a efeitos danosos sobre as membranas celulares e extravasamento de metabólitos. Os resultados sugerem que a termoterapia seca pode ser uma alternativa mais viável, necessitando, porém, de otimização para maximizar sua eficácia.
3. Comparação entre Tratamentos e Controle da Infecção Fúngica
A inoculação dos fungos Aspergillus sp. e Penicillium sp. afetou diretamente a germinação e o vigor das sementes, comparado ao grupo controle sem inoculação. Os tratamentos de assepsia testados apresentaram diferentes níveis de eficácia no controle da contaminação fúngica. Tratamentos com ácido peracético apresentaram resultados intermediários, sendo o de 3 minutos eficaz contra Penicillium sp., mas não contra Aspergillus sp. Observa-se uma possível relação de antibiose e competição entre fungos e bactérias, visto que os tratamentos com menor incidência de fungos apresentaram maior contaminação bacteriana. A análise comparativa de todos os tratamentos permitiu identificar o hipoclorito de sódio a 2% como o método mais promissor para a assepsia das sementes de feijão, por apresentar um bom equilíbrio entre eficácia no controle fúngico e preservação da qualidade fisiológica das sementes. A escolha do método de desinfecção deve levar em consideração não apenas a eficácia no controle dos patógenos, mas também a preservação da qualidade das sementes.
III.Resultados Impacto na Qualidade Fisiológica das Sementes
Os tratamentos com NaClO 2% com e sem ácido acético foram os que menos afetaram a qualidade fisiológica das sementes, apresentando altas taxas de germinação e IVG. Tratamentos como a termoterapia úmida causaram danos significativos, reduzindo drasticamente a germinação. Os resultados demonstram que a escolha do método de desinfecção é crucial para balancear o controle de patógenos e a preservação da viabilidade das sementes de Phaseolus vulgaris.
1. Efeito dos Tratamentos na Germinação e Índice de Velocidade de Germinação IVG
A análise da porcentagem de germinação revelou que os tratamentos com hipoclorito de sódio (NaClO) a 2%, com e sem ácido acético, apresentaram resultados próximos ao grupo controle sem inoculação, indicando que esses tratamentos não prejudicaram significativamente a germinação. O tratamento com NaClO a 2% mais ácido acético apresentou a maior média de germinação (88,5%), seguido pelo tratamento com NaClO a 2% (83,5%). Em contrapartida, a termoterapia úmida a 60°C e 70°C causou um impacto severo, resultando em taxas de germinação de 0% e 5,5%, respectivamente. No que diz respeito ao Índice de Velocidade de Germinação (IVG), o tratamento com NaClO a 2% com ácido acético mostrou-se o menos prejudicial ao vigor das sementes, apresentando resultados similares a outros tratamentos como UV-C (1 e 5 minutos), termoterapia seca a 60°C e 70°C, e o controle com inoculação. A termoterapia úmida, mais uma vez, teve um efeito extremamente negativo, comprometendo significativamente o vigor das sementes. Esses resultados indicam que a escolha do método de assepsia é crucial para preservar a qualidade fisiológica das sementes.
2. Análise do Crescimento de Plântulas e Massa Fresca e Seca
O crescimento das plântulas foi avaliado considerando o comprimento da parte aérea e da raiz. No comprimento da parte aérea, os tratamentos com UV-C (1, 3 e 5 minutos), álcool 70% (1 e 2 minutos), NaClO a 2%, ácido peracético (3 e 6 minutos) e termoterapia seca (60°C e 70°C) não diferiram do controle com inoculação, sugerindo que não houve impacto negativo significativo. No entanto, no comprimento da raiz, a termoterapia seca a 70°C, NaClO a 2% com ácido acético e a termoterapia úmida (60°C e 70°C) apresentaram os menores valores. Em relação à massa fresca e seca da parte aérea, não houve diferença significativa entre os tratamentos, exceto pela termoterapia úmida que causou mortalidade quase total. Já na massa fresca da raiz, os maiores valores foram observados nos tratamentos com UV-C (1, 3 e 5 minutos), NaClO a 2% (com e sem ácido acético) e termoterapia seca (60°C e 70°C), sem diferença significativa com o controle. Na massa seca da raiz, apenas a termoterapia úmida causou diferença significativa. Esses dados corroboram a observação de que a termoterapia úmida é altamente prejudicial ao desenvolvimento das plântulas.
3. Mortalidade de Sementes e Ocorrência de Plantas Anormais
A análise da porcentagem de sementes mortas revelou que o álcool 70% (1 e 2 minutos), ácido peracético (3 minutos) e a termoterapia úmida (60°C e 70°C) causaram maior mortalidade, sendo que a termoterapia úmida a 60°C resultou em 100% de mortalidade. A ocorrência de plantas anormais apresentou relação direta com a contaminação fúngica, com o controle sem inoculação apresentando menor incidência de anormalidades. O tempo de imersão das sementes em álcool (2 minutos) aparentemente foi suficiente para atingir as camadas internas, possivelmente afetando a permeabilidade das membranas celulares. A alta mortalidade observada na termoterapia úmida sugere um dano significativo às membranas e extravasamento de metabólitos, comprometendo a viabilidade das sementes. Esses dados reforçam a necessidade de cautela na utilização da termoterapia úmida e a importância de se considerar a interação temperatura/tempo para cada tratamento, buscando minimizar os danos à qualidade fisiológica das sementes.
IV.Conclusão
O estudo concluiu que o hipoclorito de sódio a 2%, com ou sem a adição de ácido acético, representa a melhor opção para a desinfecção de sementes de feijão, assegurando um eficiente controle de fungos como Aspergillus sp. e Penicillium sp. sem comprometer significativamente a germinação e o vigor das sementes. Métodos como a termoterapia úmida devem ser utilizados com cautela devido à sua alta toxicidade para as sementes. A pesquisa destaca a importância da escolha de tratamentos de sementes adequados para otimizar a produção de feijão, especialmente considerando a utilização de sementes crioulas e a necessidade de práticas sustentáveis de cultivo.
1. Recomendação do Hipoclorito de Sódio para Assepsia de Sementes
Considerando os resultados obtidos, o estudo conclui que o hipoclorito de sódio (NaClO) a 2%, com ou sem ácido acético, se apresenta como o método mais adequado para a assepsia de sementes de feijão (Phaseolus vulgaris). Este tratamento demonstrou alta eficácia no controle dos fungos Aspergillus sp. e Penicillium sp., causando menor prejuízo à qualidade fisiológica das sementes, com taxas de germinação e IVG satisfatórios. A eficácia do NaClO em eliminar patógenos e seu baixo efeito fitotóxico nas sementes justificam sua recomendação como método de desinfecção. A simplicidade e baixo custo da aplicação desse tratamento o tornam uma opção viável para agricultores, especialmente aqueles que trabalham com sementes crioulas, que frequentemente apresentam maior risco de contaminação fúngica devido às práticas de armazenamento tradicionais.
2. Cautela com a Termoterapia Úmida e Importância da Otimização de Métodos
Embora a termoterapia úmida tenha se mostrado eficiente no controle de patógenos, seu alto índice de mortalidade de sementes (chegando a 100% a 60°C) demonstra sua inviabilidade como método de assepsia para Phaseolus vulgaris. Os resultados ressaltam a importância de se analisar cuidadosamente o binômio temperatura/tempo para cada método de termoterapia e espécie vegetal, visando encontrar o ponto ideal que garanta o controle de patógenos sem comprometer a viabilidade e a qualidade fisiológica das sementes. Outros métodos, como a termoterapia seca e o uso de álcool, apresentaram resultados positivos em diferentes aspectos, mas o hipoclorito de sódio se destacou por sua eficiência e menor impacto na germinação e vigor das sementes. A escolha do melhor tratamento deve considerar o equilíbrio entre eficácia no controle de patógenos e a preservação da qualidade das sementes.
3. Implicações para a Produção de Feijão e Práticas Agrícolas Sustentáveis
Este estudo contribui para o desenvolvimento de práticas agrícolas mais sustentáveis, fornecendo informações relevantes para a produção de feijão, particularmente para aqueles que utilizam sementes crioulas. O uso de métodos de assepsia eficazes é fundamental para minimizar perdas na produção, garantir a qualidade das sementes e evitar o uso excessivo de agroquímicos. A pesquisa destaca a importância da escolha de métodos de desinfecção adequados, considerando a eficácia no controle de patógenos e os possíveis impactos na fisiologia e no vigor das sementes. O hipoclorito de sódio a 2%, com e sem ácido acético, apresenta-se como uma alternativa promissora, aliando eficiência a práticas de produção mais sustentáveis, contribuindo para a preservação da biodiversidade e aumento da produtividade na agricultura.