Efeito da correção orgânica e da fertirrigação na cultura da hortelã-pimenta (Mentha x piperita) no modo de produção biológico

Hortelã-pimenta: Fertirrigação e Correção Orgânica

Informações do documento

Autor

Sandra Cristina Ruas Sá Carvalho

instructor Professor Doutor Luís Miguel Cortez Mesquita de Brito
Curso Agricultura Biológica
Tipo de documento Trabalho de Mestrado
Idioma Portuguese
Formato | PDF
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Resumo

I.A Importância Histórica e Científica das Plantas Aromáticas e Medicinais PAM

O documento explora o uso de plantas aromáticas e medicinais ao longo da história, desde o antigo Egito (Papiro de Ebers, 1550 a.C.), Grécia e Roma até ao Renascimento e os Descobrimentos, destacando o trabalho de figuras como Garcia de Orta e sua obra "Coloquios dos simples". A pesquisa moderna busca aprofundar o conhecimento empírico sobre as virtudes e utilizações dessas plantas, focando na composição química e na obtenção de óleos essenciais.

1. Conhecimento Empírico e o Progresso Científico

O texto inicia abordando a utilização do ópio da papoula, 4000 anos antes do conhecimento da extração de morfina, como exemplo do conhecimento empírico sobre os efeitos das plantas. Este conhecimento, acumulado ao longo da antiguidade nos impérios Egípcio, Grego e Romano, foi transmitido através dos Árabes para a Europa. A partir do Renascimento e impulsionado pelas viagens dos Descobrimentos, os cientistas ocidentais expandiram consideravelmente esses conhecimentos sobre as plantas, suas virtudes e utilizações, marcando uma transição do conhecimento empírico para um método científico mais rigoroso. A obra de Font Quer (1973) é citada como referência nesse desenvolvimento do conhecimento botânico. Essa longa história demonstra a importância histórica e contínua das plantas na terapia e na sociedade, estabelecendo um contexto para a pesquisa mais aprofundada sobre plantas aromáticas e medicinais que se segue no documento.

2. O Papiro de Ebers e os Tratados Médicos Antigos

O papiro de Ebers, datado de aproximadamente 1550 a.C., é apresentado como um marco fundamental. Este antigo tratado médico egípcio lista mais de 700 espécies de plantas e suas formulações terapêuticas (Adly, 1982; Petrovska, 2012). A introdução do papiro, “Aqui começa o livro relativo à preparação dos remédios para todas as partes do corpo humano”, evidencia a sua importância como o primeiro tratado médico egípcio conhecido. O documento destaca a presença de plantas aromáticas em muitas das formulações, mostrando a integração dessas plantas na medicina antiga e fornecendo um elo entre as práticas tradicionais e o desenvolvimento científico futuro relacionado às plantas aromáticas e medicinais.

3. Garcia de Orta e os Coloquios dos Simples

O documento destaca a contribuição de Garcia de Orta, médico e botânico que viveu na Índia por mais de trinta anos. Sua obra, “Coloquios dos simples, e drogas he cousas medicinais da Índia”, escrita em Goa (Orta, 1895), é analisada como um trabalho fundamental. Escrita na forma de diálogo, a obra reflete a opinião de Garcia de Orta baseada em experiência pessoal, esclarecendo pontos polêmicos de obras anteriores e fornecendo descrições precisas de fármacos até então desconhecidos (Liberato, 2011; Cunha et al., 2014). A contribuição de Garcia de Orta ilustra a importância da observação e documentação direta das plantas e seus usos em diferentes contextos geográficos, consolidando o conhecimento sobre plantas medicinais e a sua aplicação prática.

4. Aspectos Botânicos das Plantas Aromáticas e seus Óleos Essenciais

A seção descreve características botânicas das plantas aromáticas, focando na produção e acumulação de óleos essenciais em estruturas especializadas. Esses óleos são compostos voláteis pertencentes a diferentes grupos químicos, solúveis em solventes orgânicos e gorduras, mas praticamente insolúveis em água (Sartor, 2009; Figueiredo et al., 2008). A concentração de compostos aromáticos não é uniforme em toda a planta, levando a indústria a utilizar partes específicas (folhas, flores, frutos) ricas nesses constituintes (Siani et al., 2000; Nabais, 2008; Cunha et al., 2014). Esta seção estabelece a base científica para a compreensão da composição e extração dos óleos essenciais, ligando as características botânicas às aplicações industriais e terapêuticas.

5. Aplicações Industriais e Benefícios Adicionais das Plantas Aromáticas

A importância econômica das plantas aromáticas é destacada através de suas aplicações na perfumaria e indústria cosmética, onde os óleos essenciais são a principal matéria-prima. A perfumaria utiliza cerca de 30% da produção mundial de plantas aromáticas, muitas vezes substituindo óleos essenciais por produtos sintéticos mais econômicos, enquanto a indústria cosmética demonstra uma tendência crescente de substituir sintéticos por produtos naturais equivalentes devido a questões sanitárias e de mercado (Alvarez, 2006; Garcia-Nieto, 2000). Além disso, as plantas aromáticas são importantes para a apicultura, fornecendo mel e pólen de alta qualidade (Morujo, 2010), e possuem ação fitossanitária na proteção vegetal, oferecendo alternativas naturais aos pesticidas sintéticos, alinhadas com os princípios da agricultura biológica (Palos e Gorgues, 2008). Esta seção destaca a versatilidade das plantas aromáticas, indo além de seus usos tradicionais.

6. Variedades Químicas e a Importância da Seleção de Variedades

O documento chama atenção para a existência de variedades químicas em plantas aromáticas, onde populações morfologicamente idênticas podem apresentar composições químicas distintas (Cunha et al., 2014). Esta variabilidade genética e ambiental influencia as aplicações terapêuticas e industriais de uma mesma espécie em diferentes regiões. A necessidade de selecionar variedades específicas com base no tipo e quantidade de constituintes ativos é enfatizada, destacando a importância da consideração de aspectos agronômicos e econômicos no cultivo de plantas aromáticas e medicinais (Cunha et al., 2013). A escolha criteriosa das variedades é crucial para garantir a qualidade e eficácia dos produtos derivados, seja para uso medicinal ou industrial.

7. Panorama da Produção de PAM em Portugal Continental

Um inquérito de 2012 sobre a produção de plantas aromáticas e medicinais em Portugal Continental (GPP, 2013) revela que a maioria dos produtores em modo de produção biológico (MPB) se concentra na orla costeira norte/centro e no Alentejo (90%). Cerca de dois terços das explorações são em MPB, representando quase todos os produtores que comercializam plantas secas. A atividade agrícola é, em metade dos casos, a tempo parcial, com explorações médias de 2,5 hectares. Os produtores em MPB têm explorações menores (1,65 ha em média) que os produtores convencionais (4,84 ha). O mercado é predominantemente interno para os produtores convencionais e externo para os produtores biológicos. Esses dados fornecem um contexto sobre a produção nacional de PAM e sua relação com o mercado, destacando a importância do MPB no cenário português.

II. Óleos Essenciais Extração e Propriedades

A extração de óleos essenciais de plantas aromáticas é crucial, com processos como destilação a vapor e prensagem a frio. A composição química varia entre espécies e mesmo dentro de uma mesma espécie (variedades químicas), influenciando as suas aplicações na perfumaria, cosmética, e apicultura. O mentol e a mentona são componentes importantes do óleo essencial de hortelã-pimenta, por exemplo, com concentrações variáveis dependendo de fatores como genótipo e clima.

1. Características e Composição dos Óleos Essenciais

O texto define os óleos essenciais como compostos voláteis, geralmente pertencentes a vários grupos químicos, extraídos de plantas aromáticas. Esses óleos são arrastáveis pelo vapor de água, praticamente insolúveis em água, mas solúveis em solventes orgânicos e gorduras (Sartor, 2009; Figueiredo et al., 2008). A concentração desses compostos aromáticos varia entre os diferentes órgãos da planta, sendo rara a utilização da planta inteira na extração industrial. Na maioria das vezes, utilizam-se as folhas, inflorescências e flores, enquanto frutos, raízes e rizomas são usados com menos frequência (Nabais, 2008; Cunha et al., 2014). A proporção específica de cada composto químico confere a característica própria de cada óleo essencial, influenciando diretamente suas propriedades e aplicações.

2. Métodos de Extração de Óleos Essenciais

A extração industrial de óleos essenciais é detalhada, seguindo normas internacionais (ISO 9235, 1997; Norma Portuguesa NP 90, 1987). A destilação da matéria vegetal, com ou sem vapor de água, é o método principal para a obtenção de óleos essenciais, sendo a expressão mecânica do epicarpo de frutos do gênero Citrus uma exceção (Cunha et al., 2014). A qualidade dos óleos essenciais, e por conseguinte, seu valor, dependem diretamente do teor e tipo de óleo essencial produzido pela planta e da sua composição. A destilação e a expressão são os processos de obtenção industrial mais comuns, sendo a escolha do método dependente do tipo de planta e do resultado pretendido.

3. Aplicações dos Óleos Essenciais em Indústrias

Os óleos essenciais são matéria-prima fundamental na perfumaria e indústria cosmética, embora a perfumaria utilize cerca de 30% da produção mundial e frequentemente substitua óleos naturais por produtos de síntese mais econômicos (Álvarez, 2006). A indústria cosmética, em contraponto, vem substituindo progressivamente os produtos sintéticos por equivalentes naturais, tanto odoríferos e aromáticos como corantes, por motivos de segurança e aceitação do mercado (Álvarez, 2006). A proibição de antioxidantes sintéticos em países desenvolvidos levou a indústria a pesquisar antioxidantes naturais em plantas aromáticas (Garcia-Nieto, 2000), demonstrando a importância crescente dos óleos essenciais de origem natural.

4. Outras Aplicações e o Potencial das Plantas Aromáticas

Para além da perfumaria e cosmética, o documento menciona outras aplicações importantes para as plantas aromáticas. A atração de abelhas para o desenvolvimento da apicultura é um exemplo, com a produção de mel e pólen de alta qualidade (Morujo, 2010). Outra aplicação relevante é a sua ação fitossanitária na proteção vegetal. Muitas plantas aromáticas possuem princípios ativos com propriedades bacteriostáticas, bactericidas, germicidas, fungicidas, nematocidas, inseticidas e herbicidas, oferecendo uma proteção vegetal natural e não tóxica, compatível com a agricultura biológica (Palos e Gorgues, 2008). Este ponto reforça a multifuncionalidade das plantas aromáticas e seu potencial como recurso sustentável.

III.Cultivo da Hortelã Pimenta Boas Práticas e Desafios

O cultivo da hortelã-pimenta requer atenção a fatores agronômicos: solo (pH entre 5,5 e 7,0, rico em matéria orgânica), irrigação (frequente, mas com atenção à salinidade da água), propagação (a partir de estolhos), controle de pragas e doenças (como a ferrugem causada por Puccinia menthae), e colheita (idealmente antes ou durante a floração, em dia seco, para maximizar o rendimento de óleo essencial). O uso de telas de solo e a fertirrigação são práticas a considerar. Estudos, como os realizados por Mitchell (1998), fornecem recomendações sobre fertilização para otimizar a produção. A produção em modo biológico (MPB) é também um foco, com 90% dos produtores em Portugal Continental localizados na orla costeira norte/centro e Alentejo (dados GPP, 2013).

1. Condições de Solo para o Cultivo de Hortelã Pimenta

A hortelã-pimenta adapta-se a diversos tipos de solo, incluindo os mais pesados (argilosos), desde que bem drenados e livres de encharcamento no inverno (Cunha et al., 2013). Solos ligeiros, areno-argilosos e de aluvião são os mais favoráveis, ricos em matéria orgânica (MO) e com pH entre 5,5 e 7,0, assegurando boa retenção de humidade (DAIS, 2009). Munöz (1987) sugere um pH entre 6 e 7,5. Solos argilosos, compactos e secos, ou com água estagnada, prejudicam o crescimento e reduzem o rendimento de óleo essencial. A planta tolera altitudes até 1500m, necessitando de proteção contra ventos fortes e quentes em regiões específicas (Munöz, 1987). A escolha correta do solo é crucial para garantir um bom desenvolvimento e produtividade da cultura.

2. Propagação e Plantação

A propagação da hortelã-pimenta é realizada a partir de estolhos, livres de pragas e doenças, para evitar a contaminação do solo (Weller et al., 2000; Anon, 2010). O processo é rápido e pode ocorrer em qualquer época do ano, sendo primavera e outono as mais adequadas para o plantio definitivo, garantindo um estabelecimento mais rápido. Caso os estolhos não sejam plantados imediatamente, devem ser mantidos em local sombreado, ligeiramente húmido e cobertos com pano, priorizando o plantio o mais fresco possível. O espaçamento entre os estolhos deve ser de 70 cm, a uma profundidade de 5 a 10 cm (Munöz, 1987). A correta preparação e plantio dos estolhos são fundamentais para o sucesso do cultivo.

3. Irrigação e Gestão de Água

A hortelã-pimenta requer rega frequente e adequada. Plantas adultas necessitam de rega pelo menos três vezes por semana, mantendo o solo constantemente húmido, mas bem drenado (DAIS, 2009). Apesar de alguns produtores utilizarem o stress hídrico antes da colheita para aumentar a concentração de óleos, existe divergência entre autores. Loomis (1976), citado por Mitchell et al. (1993), defende o manejo do stress hídrico para aumentar a retenção foliar, enquanto Clark e Menary (1980), também citados por Mitchell et al. (1993), e por Clark e Read (2000) relatam rendimentos ótimos em níveis mais elevados de irrigação. Munöz (1987) e Mitchell (1997) destacam a importância da irrigação durante o crescimento e após a colheita para a sobrevivência das plantas. A qualidade da água de rega é crucial, considerando a salinidade e a concentração de íons, pois o excesso de sais pode danificar a cultura e o solo (GPP, 2013).

4. Pragas e Doenças

A hortelã-pimenta é suscetível a diversas pragas e doenças. Para o controle de pragas, recomenda-se o aumento da biodiversidade na exploração, criando habitats para organismos auxiliares (Godinho, 2014). Em relação às doenças, a ferrugem (Puccinia menthae) é uma preocupação, manifestando-se em pontos amarelados que escurecem nas folhas, podendo levar à sua queda (Neto et al., s/d; Munöz, 1987). O controle dessa doença envolve evitar solos encharcados e realizar podas regulares (Alves, 2010). Outras doenças incluem antracnoses causadas por fungos como Sphaceloma menthae, Erysiphe biocellata, Phyllosticta menthae e Verticillium alba-atrum (Cunha et al., 2013). Prevenção e monitoramento são fundamentais para a saúde da cultura.

5. Colheita e Pós Colheita

A hortelã-pimenta tem desenvolvimento entre março e abril, podendo ser colhida entre maio e outubro, com 4 a 6 cortes por ano em Portugal (Alves, 2013). O momento ideal para a colheita, para obtenção de óleos essenciais, é imediatamente antes da floração, quando cerca de 10% das plantas estão em plena floração (Weller et al., 2000; Hart et al., 2010), maximizando a produção e qualidade. Para infusões, a colheita deve ocorrer antes da floração. A colheita deve ser feita em dia de sol, com tempo seco e após a secagem do orvalho (DAIS, 2009). As plantas colhidas devem ser acondicionadas em caixas plásticas rasas, com boa circulação de ar, protegidas da luz, para minimizar a oxidação e fermentação (Alves, 2013). A secagem adequada é crítica para a qualidade do produto final, com Gasparin (2012) sugerindo temperatura até 50ºC e velocidade do ar entre 0,3 e 0,5 m/s.

IV. Fertilização e Produtividade da Hortelã Pimenta

A fertilização, tanto orgânica como mineral, é vital para o crescimento da hortelã-pimenta. A matéria orgânica (MO) do solo é fundamental, impactando diretamente a produtividade, como demonstrado num ensaio com dois tipos de solo (solo P com baixo teor de MO e solo M com teor médio). A aplicação de fertilizantes, incluindo fertirrigação, e o uso de produtos enraizantes foram testados, com resultados mostrando que o teor de MO do solo é mais determinante para a produtividade do que a fertilização adicional em si. Produtores como Nuno Azeredo (Casa de Penalva) exemplificam sistemas de secagem inovadores.

1. Fertilidade do Solo e Agricultura Biológica

A fertilização é crucial para o cultivo de hortelã-pimenta, especialmente em modo de produção biológico (MPB). A fertilidade do solo, definida pela capacidade de fornecer nutrientes essenciais em quantidade e proporção adequadas, depende de suas propriedades físicas, químicas e biológicas (Brito, 2007). A agricultura biológica prioriza o equilíbrio natural e o ciclo de nutrientes, com a matéria orgânica atuando como reservatório de nutrientes. Macronutrientes (N, P, K) são necessários em maior quantidade e, na maioria das vezes, sua disponibilidade no solo é insuficiente para a produção agrícola, necessitando de aplicação na forma de fertilizantes. Micronutrientes, por sua vez, são absorvidos em menor quantidade, podendo causar intoxicação em excesso (MADRP, 1997). A fertilização busca suprir deficiências e aumentar a produtividade, seguindo boas práticas agrícolas, como aquelas referidas no Código de Boas Práticas Agrícolas (MADRP, 1997).

2. Fertilização Orgânica em MPB

Na fertilização orgânica em MPB, utilizam-se produtos da decomposição de matéria vegetal morta e excrementos animais, seguindo regulamentos como 834/2007 do Conselho e 889/2008 da Comissão (Ferreira, 2012a). O agricultor biológico prioriza recursos da própria exploração ou de outras explorações em MPB: rotações e consociações de culturas, adubação verde e resíduos de culturas e animais. Fertilizantes de origem convencional são excepcionalmente autorizados. A sustentabilidade e o respeito ao meio ambiente são princípios fundamentais. A produção mundial anual de resíduos vegetais (3,8 x 10⁹ toneladas) e estrume (7 x 10⁹ toneladas) destaca o potencial de reaproveitamento desses materiais orgânicos na fertilização, embora se deva ter cuidado com a qualidade dos fertilizantes para evitar contaminação por metais tóxicos (Thangarajan et al., 2013; Santos et al., 2010).

3. Mineralização e Nitrificação do Azoto

O azoto orgânico em fertilizantes orgânicos, principalmente na forma proteica, sofre transformações no solo (aminização, amonificação, nitrificação) realizadas por microrganismos. Estas transformações levam à mineralização do azoto, convertendo o azoto orgânico em azoto nítrico, passando por azoto amoniacal (MADRP, 1997; Cordovil, 2004). O azoto orgânico não está imediatamente disponível para as plantas, que o absorvem após a mineralização. Este é um processo gradual e complexo, dependendo de fatores como temperatura, humidade, arejamento e acidez do solo. Mitchell (1998) elaborou uma tabela de recomendação de fertilização para hortelã-pimenta nos EUA, considerando perdas por volatilização e lixiviação, indicando quantidades de N a aplicar na primavera e verão. Muitos produtores optam pela fertirrigação, aplicando 4,5 a 7 kg N ha⁻¹ em cada irrigação até a colheita.

4. Resultados de Ensaio Experimental

Um ensaio experimental comparou o efeito do solo e da fertilização na produção de hortelã-pimenta. Utilizaram-se dois tipos de solo: solo P (baixo teor de MO) e solo M (teor médio de MO). Apesar de aumentos aparentes no peso fresco e seco com a aplicação de fertilizantes, incluindo fertirrigação e corretivo orgânico (“Fertimax Agro Mix”), não foram observadas diferenças significativas. O efeito do solo, no entanto, foi significativo, com o solo M duplicando a produção em comparação com o solo P. Resultados contradizem alguns autores (Singh et al., 1989; Court et al., 1993; Pollack, 1995; Mitchell e Farris, 1996; David et al., 2007; DAIS, 2009) que indicam aumento na produção com maior fertilização, possivelmente devido ao curto período entre a aplicação e a colheita. A utilização de enraizante não justificou seu uso, com o aumento na produção atribuído ao teor de MO do solo (Roselem et al., 1999; Vieira e Santos, 2005).

5. Conclusões sobre Fertilização e Produtividade

O efeito do solo é determinante na produção de hortelã-pimenta. Solos com maior teor de matéria orgânica (MO) resultam em maior produtividade, reforçando a filosofia do MPB que foca no enriquecimento do solo em MO. Recomenda-se um solo rico em MO na instalação da cultura, pois a hortelã-pimenta permanece no solo por 3-4 anos, muitas vezes com tela de cobertura, limitando a incorporação de nutrientes a fertirrigação, o que pode ser dispendioso. A aplicação de fertilizantes é importante, mas a qualidade do solo, em termos de MO, é o fator mais determinante para a produção, mesmo sem nutrição de luxo, sugerindo que nutrientes disponíveis em grandes quantidades podem aumentar a produção sem necessariamente aumentar a concentração de nutrientes na planta. Recomenda-se um limiar mínimo de 3% de MO no solo para a cultura de hortelã-pimenta.

V.Conclusão Otimizando a Produção de Hortelã Pimenta

A pesquisa demonstra a importância do solo rico em matéria orgânica para maximizar a produção de hortelã-pimenta. A aplicação de fertilizantes é importante, mas a qualidade do solo é primordial, reforçando os princípios do modo de produção biológico (MPB). O estudo destaca a necessidade de gestão adequada da irrigação, controle de pragas e doenças, e técnicas de colheita e secagem para otimizar o rendimento de óleo essencial e a qualidade do produto final. O estudo sugere um limiar mínimo de aproximadamente 3% de MO no solo para melhores resultados.

1. Importância da Matéria Orgânica do Solo

A principal conclusão do estudo é a influência determinante da matéria orgânica (MO) do solo na produtividade da hortelã-pimenta. Solos com teores mais elevados de MO resultam em produções significativamente maiores. Essa constatação reforça a filosofia da agricultura biológica (MPB), que prioriza o enriquecimento do solo em MO. A recomendação principal é a utilização de solos com o maior teor de MO possível na fase de instalação da cultura, uma vez que a hortelã-pimenta permanece no solo por 3 a 4 anos. A prática de incorporar estrume no solo é sugerida como forma de aumentar o teor de MO, especialmente considerando que a utilização de telas de cobertura de solo, comum na produção, limita a incorporação de nutrientes por outras vias que não a fertirrigação, a qual pode ser dispendiosa. Para garantir resultados positivos, recomenda-se um nível mínimo de aproximadamente 3% de MO no solo.

2. Eficácia de Fertilizantes e Fertirrigação

O estudo analisou o efeito da fertilização, incluindo fertirrigação e corretivos orgânicos, na produção de hortelã-pimenta. Embora os resultados tenham indicado aumentos aparentes de peso fresco e seco com a aplicação de fertilizantes, as diferenças não foram estatisticamente significativas. Isso sugere que, nas condições do ensaio, outros fatores tiveram maior impacto na produtividade do que a simples adição de nutrientes. O uso de produtos enraizantes também não se mostrou eficaz na melhora da produção. A utilização de fertilizantes, principalmente aqueles com azoto, pode ser cara e ter baixa eficiência, especialmente quando o tempo entre a poda e a colheita é curto. Adubos líquidos para fertirrigação, embora possam favorecer o crescimento em certas condições, também são produtos dispendiosos, e seu uso nem sempre compensa o aumento de rendimento obtido.

3. Limitações do Ensaio e Sugestões Futuras

O estudo destaca a limitação do ensaio realizado em vasos, comparando-o com a situação em campo. A menor disponibilidade de nutrientes no solo dos vasos, em relação ao campo, pode ter influenciado os resultados, especialmente na relação entre o número de folhas e a altura das plantas. A menor variabilidade no número de caules em comparação com o número de folhas sugere que o número de caules seria um indicador mais preciso de produção em ensaios de vasos, devido à limitação imposta pelo volume de terra. Em campo, as plantas dispõem de maior volume de solo e nutrientes, permitindo um crescimento mais livre. O estudo demonstra claramente a importância da matéria orgânica no solo para a produtividade, mas pesquisas adicionais em campo seriam necessárias para complementar os resultados e avaliar mais profundamente o impacto da fertirrigação e de outros fatores na produção de hortelã-pimenta.

Referência do documento

  • Hortelã que é pimenta!!! – Plantas aromáticas, medicinais e condimentares (Alves, L.)