
Meliponicultura: manejo da abelha M. bicolor
Informações do documento
Autor | Edimar Tenutti |
Escola | Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) |
Curso | Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo |
Tipo de documento | Trabalho de conclusão de curso de graduação |
Local | Laranjeiras do Sul |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 11.51 MB |
Resumo
I.A Importância da Meliponicultura e o Estudo de Melipona bicolor schencki Guaraipo
Este trabalho se concentra na meliponicultura, focando no estudo da abelha Melipona bicolor schencki (conhecida como guaraipo), uma espécie nativa ameaçada de extinção no sul do Brasil. A pesquisa destaca a importância da conservação dessa abelha, que desempenha um papel crucial na polinização da Mata Atlântica e Floresta Ombrófila Mista. A escassez de informações sobre o manejo e a criação racional de M. bicolor schencki justifica este estudo, que busca resgatar o conhecimento tradicional e científico sobre a espécie.
1. A Meliponicultura como Foco do Estudo
O trabalho apresenta a meliponicultura como o eixo central da pesquisa, com o objetivo claro de compilar informações sobre a biologia e o manejo da abelha Melipona bicolor schencki (guaraipo). A escolha da guaraipo se justifica pela sua importância ecológica e pelo seu status de espécie ameaçada de extinção, necessitando de estudos para sua conservação e manejo sustentável. A pesquisa busca preencher uma lacuna no conhecimento sobre essa abelha, fornecendo um compêndio de informações úteis tanto para pesquisadores quanto para meliponicultores. A metodologia utilizada inclui uma revisão bibliográfica completa, combinada com pesquisa documental de primeira mão, com foco em levantar os conhecimentos práticos dos criadores da espécie. O objetivo final é fornecer subsídios para a preservação da M. bicolor schencki, contribuindo para sua recuperação e utilização sustentável dentro da meliponicultura.
2. Importância Ecológica e Econômica da Guaraipo M. bicolor schencki
A pesquisa sublinha a importância da guaraipo (M. bicolor schencki) para os ecossistemas da Mata Atlântica e Floresta Ombrófila Mista, atuando como um polinizador fundamental. A preservação de seu habitat natural, que inclui árvores de médio e grande porte com ocos para nidificação, é crucial para garantir a sobrevivência da espécie. O trabalho aponta a necessidade de conscientização dos agricultores sobre a importância da conservação da guaraipo e de seu habitat. O estudo aborda a questão da baixa demanda de mercado pelo mel da abelha, o que dificulta o incentivo à sua produção em escala comercial. Em muitos mercados, este mel de abelha sem ferrão enfrenta desconfiança por falta de conhecimento do consumidor, sendo o mel de Apis mellifera mais conhecido e aceito. A pesquisa reconhece a importância econômica potencial da meliponicultura envolvendo a guaraipo, mas enfatiza a necessidade de superar os desafios de mercado para tornar essa atividade economicamente viável e assim assegurar a conservação desta espécie importante para o meio ambiente.
3. Escassez de Informação e Necessidade de Pesquisa sobre a Guaraipo
O estudo destaca a significativa escassez de publicações científicas sobre Melipona bicolor schencki (guaraipo), principalmente no que diz respeito às técnicas de manejo e produção. A pesquisa argumenta que essa lacuna de informação compromete a conservação da espécie. Aponta-se a existência de um único manual com informações sobre o manejo de três espécies de abelhas sem ferrão, incluindo a guaraipo, mas reconhecendo-se a falta de detalhes específicos sobre esta última. A destruição de habitats naturais, com o desmatamento e substituição por áreas agrícolas, é apontada como a principal causa da diminuição drástica das populações de guaraipo, reforçando a urgência em pesquisas que promovam a sua conservação por meio da meliponicultura e o conhecimento de seu manejo. A inclusão da guaraipo em listas de espécies ameaçadas de extinção no Paraná e Rio Grande do Sul ilustra a gravidade da situação e a necessidade de ações imediatas para sua preservação. A domesticação e a criação racional são apresentadas como ferramentas essenciais para evitar a extinção dessa espécie endêmica.
II.Biologia e Características da Melipona bicolor schencki Guaraipo
A guaraipo (M. bicolor schencki) constrói seus ninhos em troncos ocos próximos ao solo, daí seu nome popular "pé-de-pau". A pesquisa descreve aspectos biológicos da espécie, como a construção do ninho (incluindo discos de cria, potes de pólen e mel), seu comportamento e a preferência por flora nativa de regiões frias (ex: Eugenia sp., Campomanesia xanthocarpa). A pesquisa também aborda as diferenças entre colônias poliginicas e monogínicas.
1. Habitat e Ninho da Guaraipo
A Melipona bicolor schencki, ou guaraipo, caracteriza-se por construir seus ninhos em troncos ocos de árvores, preferencialmente na parte baixa, próxima ao solo. Esse comportamento lhe rendeu o nome popular de "pé-de-pau", pois, muitas vezes, o ninho se estende até as raízes. A escolha do local de nidificação demonstra uma preferência por ambientes específicos. A pesquisa descreve a estrutura interna do ninho, incluindo os discos de cria, envoltos por um invólucro de cerúmen, e os potes de pólen e mel, distribuídos ao redor do ninho. O tamanho e a forma dos potes de alimento variam de acordo com o espaço disponível na colmeia e a época do ano, sendo maiores durante o período de maior florada. A construção do ninho é finalizada com o batume, uma estrutura de geoprópolis (mistura de terra e resina) que delimita as extremidades, conferindo-lhe maior densidade e dureza. A descrição detalhada do ninho da guaraipo contribui para o entendimento de suas necessidades ecológicas e para o desenvolvimento de técnicas de manejo adequadas em meliponicultura.
2. Características Físicas e Comportamento Social
A guaraipo apresenta um corpo robusto, com asas que dificilmente ultrapassam o limite do abdômen. Na entrada da colmeia, é depositada uma mistura de barro e resinas, a geoprópolis. Ao contrário de outras espécies, a formação de uma nova rainha na guaraipo é determinada geneticamente, e não pela alimentação larval, indicando uma estratégia reprodutiva particular. A pesquisa menciona a origem indígena dos nomes populares dos meliponíneos, como guaraipo, destacando a profunda relação entre os povos tradicionais e esses insetos. A origem do nome guaraipo é discutida, com menções a variações como guarubu e guaripú, e a sua relação com a construção do ninho em paus ocos. O nome popular "eira-aviyú", que significa abelha coberta por pilosidade, é citado, demonstrando a precisão das descrições indígenas da abelha. A compreensão das características físicas e comportamentais da guaraipo é essencial para o seu manejo eficiente na meliponicultura.
3. Distribuição Geográfica e Adaptação Climática
Embora os meliponíneos geralmente se adaptem melhor a climas quentes, próximos à região equatorial e tropical, a guaraipo apresenta uma distribuição que inclui regiões de clima temperado, na zona de transição com o clima subtropical mesotérmico. O limite austral da espécie é mencionado como o Rio Grande do Sul, próximo ao Uruguai e a região central da Argentina. A presença da guaraipo em regiões mais frias, como Cambará (SC), indica sua capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas. O texto menciona a presença da espécie na Mata Atlântica e Florestas de Araucárias Ombrófila Mista, realçando sua importância para a biodiversidade da região Sul do Brasil. Esta biologia específica da abelha impacta diretamente as práticas de manejo em meliponicultura, tornando necessário considerar fatores climáticos para o seu sucesso. A informação sobre sua distribuição geográfica é fundamental para o estabelecimento de estratégias de conservação e para a localização de populações para estudos futuros.
III.Metodologia da Pesquisa Levantamento de Dados sobre o Manejo da Guaraipo
A metodologia empregou pesquisa exploratória, combinando pesquisa bibliográfica com pesquisa documental de primeira mão. Foram entrevistados seis meliponicultores: cinco em Santa Catarina (Jean Carlos Locatelli, Silvino Milak, Jorge Venson, Rosalino Scrimin e José Carlos Wegrznoski, vinculados à AMESG) e um no Paraná (Flavio José Gowacki). As entrevistas, transcritas e analisadas através da técnica de história oral híbrida, forneceram informações valiosas sobre as técnicas tradicionais e atuais de manejo da guaraipo, incluindo métodos de divisão de colmeias e práticas de alimentação.
1. Seleção de Participantes e Coleta de Dados
A pesquisa utilizou uma abordagem exploratória, combinando pesquisa bibliográfica com pesquisa documental de primeira mão. O foco foi a coleta de informações sobre o manejo da Melipona bicolor schencki (guaraipo) diretamente de meliponicultores experientes. A seleção dos participantes considerou a trajetória e o conhecimento dos criadores na região sul do Brasil, especificamente nos estados do Paraná e Santa Catarina, dada a distribuição geográfica da espécie. Foram entrevistados seis meliponicultores: cinco em Santa Catarina, vinculados à Associação de Meliponicultores da Encosta da Serra Geral (AMESG) – Jean Carlos Locatelli, Silvino Milak (Criciúma), Jorge Venson (Balneário Rincão), Rosalino Scrimin (Urussanga) e José Carlos Wegrznoski (Mafra) – e um em Laranjeiras do Sul, Paraná, Flavio José Gowacki. A coleta de dados se deu através de um questionário semi-estruturado, gravado em áudio e posteriormente transcrito, permitindo uma análise detalhada das práticas de manejo.
2. Análise de Dados e Técnica da História Oral Híbrida
Os dados obtidos por meio das entrevistas foram confrontados com documentos históricos, utilizando-se a técnica da história oral híbrida. Esse método permitiu cruzar as informações obtidas oralmente com dados de outras fontes, enriquecendo a análise e validando os conhecimentos empíricos dos meliponicultores. A história oral híbrida foi crucial para contextualizar as práticas de manejo da guaraipo ao longo do tempo, considerando as mudanças sociais e ambientais que impactaram a atividade. A análise considerou a escassez de informações escritas sobre o tema, buscando equiparar a fonte oral com a escrita, método particularmente importante no âmbito acadêmico para validar conhecimentos empíricos tradicionais, muitas vezes não documentados. Os dados foram sistematizados para criar um material de consulta útil para pesquisadores e meliponicultores interessados na conservação e no manejo da M. bicolor schencki.
3. Abordagem da Pesquisa e Contexto Histórico
A pesquisa contemplou um período de julho a outubro de 2015, abrangendo os estados de Santa Catarina e Paraná devido à distribuição da M. bicolor schencki. A escolha da amostra, embora pequena, foi justificada pela riqueza de informações obtidas. Os relatos dos meliponicultores remetem às décadas de 1940 a 1970, período em que a extração de mel era realizada de forma extrativista, sem o devido cuidado com a preservação das colmeias. A comparação entre os relatos e a realidade atual permitiu analisar as mudanças nas práticas de manejo da guaraipo ao longo do tempo e a influência de fatores como o desmatamento na redução das populações. A metodologia focou em registrar e organizar as etapas das técnicas de manejo, possibilitando a replicação dessas práticas por outros meliponicultores. A pesquisa buscou complementar os dados, buscando em documentos históricos informações sobre a espécie, sua nomenclatura e a relação com os povos indígenas.
IV.Técnicas de Manejo e Produção de Melipona bicolor schencki Guaraipo
O estudo apresenta modelos de colmeias adaptados para a guaraipo, incluindo caixas verticais e horizontais. As informações coletadas descrevem diferentes métodos de divisão de colmeias (1:1, 2:1, 3:1, incluindo a técnica de orfandade) e abordam o controle de pragas (como o forídeo Pseudohypocera kerteszi). A pesquisa também discute a coleta e o processamento do mel, incluindo a possibilidade de produção de mel fermentado, similar ao mel maranhense. A importância da alimentação energética e proteica (pólen de Apis, ração de soja e leveduras) para o sucesso da criação é discutida, assim como a utilização de xarope com suco de limão e a influência da luminosidade e umidade no desenvolvimento das colónias.
1. Modelos de Colmeias para Guaraipo
O estudo descreve modelos de colmeias adaptados para o manejo da Melipona bicolor schencki (guaraipo), propondo alternativas para otimizar a produção e a criação racional da espécie. É apresentado um modelo de colmeia vertical, adaptado das colmeias INPA e ACRIAPA, com dimensões específicas (20cm x 20cm de espaço interno, dois módulos de 8cm para o ninho e um porão/lixeira de 2cm). Este modelo permite a adição de melgueiras para produção de mel e para divisões de famílias, possibilitando o aumento do volume da colmeia conforme a necessidade. A utilização de uma membrana plástica preta entre a melgueira e a tampa facilita as vistorias. Outro modelo apresentado é uma colmeia horizontal simples, também com adaptações para facilitar o manejo e a reprodução, incluindo um estrado na base para auxiliar na circulação de abelhas e evitar o contato dos discos de cria com o fundo, garantindo sucesso nas multiplicações. A padronização das colmeias é discutida, considerando as vantagens e desvantagens em relação à estética e à variação de volume.
2. Métodos de Divisão de Famílias e Cuidados
O documento detalha diferentes métodos de divisão de colmeias para a guaraipo, com variações de acordo com a experiência dos meliponicultores. São apresentados os métodos 1:1, 2:1 e 3:1 (ou método fracionado), explicando a lógica de execução de cada um, incluindo a doação de discos de cria maduros, campeiras e alimento. A importância do deslocamento da colmeia matriz após a divisão é destacada para evitar o retorno das abelhas. A técnica da orfandade é mencionada, envolvendo a remoção da rainha poedeira e discos de cria jovens para criar uma nova colmeia. A pesquisa ressalta a importância de cuidados específicos na realização das divisões, como minimizar danos aos discos de cria para evitar a atração de forídeos (Pseudohypocera kerteszi), pragas importantes na meliponicultura. A utilização apenas de potes de alimento lacrados e a alimentação complementar com xarope artificial são recomendadas.
3. Alimentação Coleta de Mel e Controle de Pragas
O texto aborda a importância da alimentação na criação da guaraipo, incluindo dietas energéticas e proteinadas. A utilização de xarope com suco de limão é discutida, considerando a aceitação pelas abelhas e os potenciais efeitos de uma dieta mais ácida. A melhor época para a extração de mel varia de região para região, sendo recomendado aguardar duas semanas após o auge da florada. A coleta é relatada para a região de Mafra-SC até o final de novembro, mas recomenda-se observar as épocas de floradas locais. A alimentação energética durante o inverno é importante se o mel for retirado após o fim das floradas. A pesquisa menciona o controle de pragas, especialmente o forídeo, sugerindo o uso de iscas externas e internas com vinagre, destacando as divergências entre meliponicultores sobre a eficácia de iscas internas. O texto também menciona a técnica de mel fermentado, consumido tradicionalmente por Maias e atualmente empregada por meliponicultores maranhenses, como uma forma de agregar valor e aumentar a conservação do produto.
V.Conclusão Preservação da Melipona bicolor schencki Guaraipo através da Meliponicultura
O trabalho conclui que a Melipona bicolor schencki (guaraipo) é uma espécie vulnerável à extinção devido à destruição de seu habitat. A meliponicultura é apresentada como uma ferramenta crucial para a sua preservação, destacando a necessidade de pesquisas futuras e a importância da transferência de conhecimento entre os meliponicultores e a comunidade científica. A padronização das técnicas de manejo e a conscientização sobre a importância da espécie para a polinização são essenciais para garantir a sobrevivência desta abelha nativa.
1. A Meliponicultura como Ferramenta de Conservação
A conclusão enfatiza a vulnerabilidade da Melipona bicolor schencki (guaraipo) à extinção, apontando a destruição de seu habitat como a principal causa. A meliponicultura é apresentada como uma ferramenta crucial para a conservação da espécie, permitindo a sua criação racional e a proteção de seu patrimônio genético. O estudo destaca a necessidade de se dar mais atenção às abelhas sem ferrão, considerando que muitas espécies, incluindo a guaraipo, estão em risco. A domesticação e a criação racional são apontadas como medidas essenciais para evitar a extinção em diversas regiões do Brasil, salientando a urgência de ações concretas para a preservação da espécie. A pesquisa destaca a importância da combinação de conhecimento tradicional e científico para alcançar o sucesso na conservação da guaraipo.
2. Necessidade de Pesquisas e Transferência de Conhecimento
A conclusão ressalta a escassez de estudos sobre a guaraipo, limitando o conhecimento sobre sua biologia e manejo. O trabalho destaca a importância da realização de novas pesquisas que aprofundem o entendimento da espécie, incluindo aspectos de seu comportamento, reprodução e interação com o meio ambiente. A pesquisa sugere que um conhecimento mais profundo sobre a guaraipo e seu manejo na meliponicultura é necessário para garantir a sua conservação. A transferência de conhecimento entre pesquisadores e meliponicultores é fundamental para a eficácia das ações de conservação, combinando o conhecimento empírico tradicional com a pesquisa científica. O trabalho serve como um primeiro passo nesse sentido, fornecendo informações essenciais para futuras pesquisas e para o desenvolvimento de estratégias de manejo sustentável.
3. Perspectivas Futuras para a Preservação da Guaraipo
O trabalho finaliza com a ênfase na importância da padronização das técnicas de manejo para garantir a eficácia das ações de conservação da guaraipo. A conscientização sobre a importância da espécie para a polinização e para a biodiversidade é também destacada como crucial. A pesquisa ressalta a necessidade de se considerar os fatores ambientais, como a umidade e a incidência de luz solar, no processo de criação da guaraipo. A utilização do pólen precisa ser melhor explorada como parte do manejo e o desenvolvimento de um padrão próprio para o mel de abelhas sem ferrão, incluindo critérios microbiológicos, é fundamental para a sua comercialização e incentivo à sua produção sustentável. Em resumo, a meliponicultura é apresentada como um instrumento essencial para a conservação da M. bicolor schencki, mas seu sucesso depende de esforços conjuntos de pesquisa, transferência de conhecimento e adoção de práticas adequadas de manejo.