Qualidade de Sementes de Trigo

O estudo parte do pressuposto da importância crucial da qualidade fisiológica das sementes para o sucesso do plantio de trigo, um cereal de grande relevância global. A pesquisa se concentra na prática comum, e legalmente permitida no Brasil, de salvar sementes para uso próprio, principalmente na região noroeste do Rio Grande do Sul. Apesar da legalidade, a qualidade destas sementes salvas é frequentemente desconhecida, podendo causar problemas no estabelecimento da cultura e impactar diretamente na produtividade. O objetivo principal do trabalho foi avaliar a qualidade das sementes salvas pelos produtores de trigo no município de Salvador das Missões – RS, buscando entender a relação entre as práticas de armazenamento e a qualidade fisiológica das sementes. A coleta de amostras (0,5kg cada) ocorreu em propriedades pré-selecionadas, levando-se em conta o conhecimento local e a diversidade de práticas de armazenamento. Os testes incluíram análise de germinação, vigor, massa de mil sementes, grau de umidade e peso volumétrico, com os resultados indicando um cenário preocupante em relação à qualidade das sementes salvas. A pesquisa destaca a necessidade de se analisar e melhorar as práticas de armazenamento e seleção de sementes para garantir a produtividade da cultura do trigo, considerando o impacto econômico desta atividade.

A metodologia da pesquisa envolveu a coleta de 38 amostras de sementes salvas de trigo no município de Salvador das Missões-RS, entre 24/04/2015 e 01/05/2015. As amostras, com aproximadamente 500 gramas cada, foram coletadas em diferentes propriedades, refletindo a diversidade de práticas de armazenamento observadas na região. Diversas cultivares foram identificadas, incluindo BRS 331, TBIO Iguaçu, TBIO Itaipu, Marfim, TBIO Mestre, TBIO Mirante, Fundacep Nova Era, BRS Parrudo, Quartzo, TBIO Seleto, TBIO Sinuelo e TBIO Tibagi. Os métodos de análise da qualidade das sementes incluíram testes de germinação (quatro repetições de 50 sementes em papel Germitest, em câmara Mangelsdorf a 20°C), vigor (comprimento de plântulas, quatro repetições de 10 sementes), umidade (método elétrico com medidor Manutec), massa de mil sementes e peso hectolítrico (balança hectolítrica Dallemolle, com correção para 13% de umidade). A coleta e preparação das amostras visaram garantir a representatividade do lote em cada propriedade, utilizando-se caladores de bolsa ou coleta manual, dependendo do tipo de armazenamento. O tratamento químico das sementes armazenadas também foi registrado, observando-se que apenas 8% das amostras não receberam nenhum tipo de tratamento contra pragas. A análise detalhada destes parâmetros permitiu uma avaliação completa da qualidade das sementes salvas, confrontando os resultados com valores de referência e estudos anteriores.

A análise dos resultados mostrou que uma porcentagem significativa (29%) dos lotes de sementes apresentaram taxas de germinação abaixo dos valores de referência. Aproximadamente 90% das amostras apresentaram vigor inferior ao recomendado. A umidade das sementes variou de 12% a 16,1%, com apenas uma amostra acima de 15%, exibindo também os menores índices de germinação e peso hectolítrico. Apenas 8% das amostras foram consideradas de alto vigor. Em relação ao peso hectolítrico, apenas uma amostra se enquadrou no Tipo 1, sete no Tipo 2 e 21 no Tipo 3, com as demais (mais de 23% do total) sem classificação, consideradas triguilho. A massa de mil sementes em todas as amostras ficou abaixo dos valores de referência para as cultivares. Os resultados foram comparados com dados de outros estudos. Por exemplo, os valores de peso hectolítrico encontrados em sete amostras foram comparáveis aos resultados de Ormond et al. (2013), que encontraram valores de 76,93 – 79,44 kg hl-1. Já os resultados de germinação foram comparados com estudos de Hossen et al. (2014) e Fanan et al. (2006), mostrando diferentes níveis de germinação em relação ao tempo de armazenamento e tratamentos aplicados. A variação nos resultados foi discutida em relação às condições climáticas da safra 2014, tipo de armazenamento e susceptibilidade varietal.

A pesquisa iniciou com a coleta de 38 amostras de sementes de trigo, cada uma com aproximadamente 500 gramas, em propriedades do município de Salvador das Missões – RS, entre 24/04/2015 e 01/05/2015. A seleção das propriedades levou em conta o conhecimento local sobre as práticas de armazenamento de sementes. O objetivo da metodologia de coleta foi garantir a representatividade das amostras, considerando a diversidade de métodos de armazenamento encontrados. Para isso, utilizou-se um calador de bolsa ou coleta manual, dependendo da categoria de armazenamento, assegurando-se que a amostra total fosse composta por várias subamostras coletadas em diversos pontos do lote. Cada amostra foi rigorosamente identificada com uma ficha contendo informações cruciais como o número da amostra, nome do produtor, data da coleta, localidade, cultivar, rendimento aproximado na colheita, tipo de armazenamento e se as sementes passaram por algum tratamento, especificamente expurgo. Após a coleta, as amostras foram levadas ao Laboratório de Sementes da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Cerro Largo, para a realização das análises.

O teste de germinação foi realizado utilizando quatro repetições de 50 sementes contadas manualmente, sobre folhas de papel Germitest, umedecidas com água destilada na proporção de 2,5 vezes a sua massa, seguindo a metodologia do rolo de papel. Os rolos foram identificados e acondicionados verticalmente em sacos plásticos em uma câmara de germinação Mangelsdorf, modelo TE-406 (Tecnal), a 20°C, para facilitar a aferição do comprimento das plântulas. Após oito dias, o comprimento das plântulas consideradas normais foi medido com uma régua, obtendo-se o comprimento médio. O teste de vigor, avaliado através do comprimento de plântula, seguiu procedimento similar ao teste de germinação, com quatro repetições de 10 sementes distribuídas no terço superior do papel Germitest, permitindo a expressão do seu potencial fisiológico sem impedimentos físicos. A metodologia aplicada buscou padronização para garantir a confiabilidade dos resultados e a comparabilidade com outros estudos.

Para determinar o teor de umidade das sementes, utilizou-se um medidor universal de umidade da marca Manutec, disponível no laboratório da UFFS, empregando o método elétrico, considerado destrutivo direto. Este método baseia-se na condutividade elétrica, relacionando a passagem de corrente com o teor de água nos grãos. As sementes foram comprimidas entre dois eletrodos, e a resistência elétrica medida foi convertida em uma leitura de umidade. A massa de mil sementes foi determinada conforme metodologias padrões, e para a determinação do peso hectolítrico (PH), utilizou-se uma balança hectolítrica Dallemolle com capacidade de 250 ml. O teste foi realizado em duas repetições, e os pesos obtidos foram corrigidos para 13% de umidade, utilizando tabelas de conversão, com o resultado final sendo a média das repetições em kg/hl-1. A escolha destas metodologias seguiu as Regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009), garantindo a padronização e a comparabilidade dos resultados com outros estudos da área.

A análise da germinação das sementes de trigo revelou resultados preocupantes. Dos lotes avaliados, 29% apresentaram percentuais abaixo dos valores de referência, indicando uma baixa qualidade de germinação em uma parcela significativa das amostras analisadas. Apesar disso, 16 amostras apresentaram percentual médio de germinação acima de 80%, valor mínimo exigido para comercialização de sementes básicas, conforme Instrução Normativa nº 45/2013 (ABRASEM). Três amostras, inclusive, mostraram percentuais acima de 90%, resultado semelhante a estudos como o de Hossen et al. (2014), que encontraram índices entre 90-94% após tratamento com fungicidas. Entretanto, a comparação com os resultados de Fanan et al. (2006), que obtiveram índices de germinação entre 80-97% (16 meses de armazenamento) e 65-98% (19 meses), demonstra a complexa relação entre tempo, métodos de armazenamento e a taxa de germinação das sementes. Essa variação destaca a importância de se considerar múltiplos fatores para garantir a qualidade das sementes.

A avaliação do vigor das sementes, realizada através da medição do comprimento das plântulas, indicou que cerca de 90% das amostras apresentaram valores abaixo do recomendado, reforçando a precariedade dos lotes analisados. Apenas 8% das amostras foram consideradas de alto vigor, com base nos resultados do comprimento de plântula. Os resultados obtidos foram comparados com pesquisas prévias, como as de Lima (2005), que encontrou valores de comprimento de plântula entre 23,7 e 31,3 cm em lotes de alto vigor, e Battisti et al. (2011), que reportaram valores médios entre 15,73 e 16,14 cm para lotes de baixo vigor. Estudos de Biaggioni et al. (2007) também mostraram valores entre 21-30 cm em testes de vigor. Essa discrepância entre os resultados reforça a importância de considerar as variações de metodologia e as condições específicas de cada estudo na interpretação dos dados de vigor, além das condições do solo e variações ambientais.

A análise do peso hectolítrico (PH) revelou uma ampla variação entre as amostras, refletindo a influência de diversos fatores, incluindo a cultivar, o tamanho das sementes, as condições ambientais e de armazenamento. Apenas uma amostra atingiu a classificação de Tipo 1, sete como Tipo 2 e 21 como Tipo 3, segundo a Instrução Normativa nº 7/2001 (MAPA), sendo que as demais 9 amostras não se enquadraram em nenhuma categoria, classificadas como triguilho. Essa classificação de mais de 23% das amostras como triguilho demonstra uma baixa qualidade geral do lote, possivelmente relacionada a fatores como alta incidência de doenças e chuvas na safra de 2014. Os valores de PH foram comparados com os achados de Picinini e Fernandes (2003) e Ormond et al. (2013), que encontraram valores entre 60,35-64,63 kg hl-1 e 76,93-79,44 kg hl-1 respectivamente, evidenciando a grande variabilidade. A massa de mil sementes mostrou-se consistentemente abaixo dos valores de referência das cultivares, influenciada pelo tamanho das sementes de cada cultivar, sendo um fator crucial para estimativa de semeadura. A alta variabilidade nos resultados reforça a complexidade da avaliação da qualidade de sementes de trigo.

Os resultados da pesquisa demonstram uma forte correlação entre a qualidade das sementes e a produtividade esperada na cultura do trigo. A baixa qualidade fisiológica observada em grande parte das amostras de sementes salvas, refletida principalmente nos baixos índices de germinação e vigor, indica um impacto negativo direto na capacidade produtiva das lavouras. A significativa porcentagem de lotes com germinação e vigor abaixo dos valores de referência sugere que o uso de sementes de baixa qualidade pode resultar em uma redução substancial da produtividade, afetando diretamente a rentabilidade dos agricultores. A pesquisa destaca a necessidade de se investir em práticas que garantam a qualidade das sementes utilizadas, como o armazenamento adequado e o tratamento contra pragas, visando maximizar a produtividade e a eficiência da produção de trigo.

A pesquisa aponta para a necessidade urgente de melhorias nas práticas de armazenamento e manejo das sementes de trigo, principalmente no que diz respeito à conservação das sementes salvas pelos produtores. A alta porcentagem de amostras com baixa germinação e vigor indica deficiências nos métodos de armazenamento e preservação utilizados pelos agricultores. A análise de diferentes métodos de armazenamento, como bolsas de sementes, tulhas e bags, revela que alguns métodos podem ser menos eficazes do que outros na preservação da qualidade das sementes. A presença de pragas em amostras que já haviam recebido tratamento químico indica a necessidade de uma revisão e aperfeiçoamento das técnicas de tratamento e de um maior controle na prevenção de infestações durante o período de armazenamento. A umidade elevada em algumas amostras também é um fator determinante na redução da qualidade. Portanto, recomenda-se a adoção de práticas mais eficientes para garantir a qualidade das sementes e a produtividade da cultura.

A pesquisa conclui que a qualidade das sementes de trigo, particularmente as sementes salvas, é um fator determinante para o sucesso da cultura e a obtenção de maior produtividade. Os resultados demonstram a necessidade de se priorizar o uso de sementes de alta qualidade fisiológica, com taxas adequadas de germinação e vigor, para garantir a rentabilidade da atividade. As práticas de armazenamento e tratamento de sementes precisam ser revistas e aperfeiçoadas para evitar a perda de qualidade e garantir a obtenção de melhores resultados. As informações obtidas neste estudo podem auxiliar na orientação de agricultores, incentivando a adoção de práticas mais eficientes de produção e armazenamento de sementes, com impacto positivo na produtividade e na sustentabilidade da cultura do trigo, especialmente no Rio Grande do Sul, onde esta atividade tem grande importância econômica. A pesquisa evidencia a necessidade de investimentos em tecnologias e capacitação para melhorar as práticas agrícolas na região.