Aproveitamento do farelo de soja no desenvolvimento de meios e processos para a obtenção produtos proteicos e derivados

Farelo de Soja: Produtos Proteicos

Informações do documento

Autor

Flávia De Faria Caetano

instructor Prof. Dr. Osvaldo De Freitas
Escola

Universidade De São Paulo, Faculdade De Ciências Farmacêuticas De Ribeirão Preto

Curso Ciências Farmacêuticas
Tipo de documento Tese De Doutorado
Local Ribeirão Preto
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 3.09 MB

Resumo

I.Extração e Concentração de Proteína de Soja

Este estudo investigou a otimização da extração de proteína de soja a partir do farelo (pós-extração de óleo). A metodologia empregada envolveu a padronização do tamanho de partícula do farelo e a avaliação de diferentes condições de extração, incluindo a relação sólido/solvente (ótimo em 1:30 m/v), pH (9.0 ajustado com NaOH 4.0 M), e tempo (45 minutos). Sob as condições ótimas, um rendimento de aproximadamente 68,6% de extrato com 84% de proteína foi alcançado. Brasil, como segundo maior produtor mundial de soja, se destaca como fonte potencial dessa matéria-prima de baixo custo e alto teor proteico.

1.1. Origem e Potencial da Soja

A soja, amplamente cultivada globalmente, destaca-se como uma leguminosa com alto teor proteico e baixo custo. O Brasil, o segundo maior produtor mundial, possui grande potencial para o desenvolvimento de produtos baseados em proteína de soja isolada ou seus derivados. A pesquisa utiliza farelo de soja (após extração do óleo) como substrato para a obtenção de concentrados proteicos, que servirão de base para a produção de hidrolisados enzimáticos.

1.2. Otimização da Extração da Proteína de Soja

A extração da proteína de soja foi otimizada através da manipulação de diversos parâmetros. O tamanho de partícula do farelo de soja influenciou diretamente a eficiência do processo extrativo, com a redução do tamanho das partículas aumentando a superfície de contato e melhorando o rendimento. A relação sólido/solvente mostrou-se crucial, com a proporção de 1:30 (m/v) proporcionando os melhores resultados. O pH ideal foi estabelecido em 9,0, ajustado com NaOH 4,0 M, e o tempo de extração de 45 minutos. Após a extração, a filtração e um ajuste de pH para 4,5 com HCl 2,0 M permitiram a precipitação das proteínas. Nestas condições ótimas, foi obtido um rendimento de aproximadamente 68,6% de extrato com um teor proteico de 84%.

1.3. Métodos Extrativos Comparativos

O estudo comparou diferentes métodos extrativos para a obtenção do concentrado proteico de soja. Embora não sejam detalhados no fragmento, a pesquisa utilizou um método padrão além de outros métodos, incluindo pré-tratamento ácido com pré-extração a pH 4,5 a 55 ºC seguida de extração padrão. A comparação dos métodos focou no rendimento em massa bruta e na quantidade total de proteína extraída. O método padrão, principalmente na relação farelo/solvente de 1:30 (m/v), mostrou-se superior em termos de rendimento, enquanto o método com pré-tratamento ácido apresentou rendimento inferior e foi descartado. A análise da massa de proteína no extrato e no farelo residual, em relação à massa inicial de proteína no farelo, confirmou a superioridade do método padrão.

II.Hidrólise Enzimática da Proteína de Soja

O hidrolisado de proteína de soja foi preparado utilizando diferentes endopeptidases (Neutrase® 0.8L, Alcalase® 2.4L e papaína) e uma exopeptidase (Flavourzyme® 1000L). A Alcalase® 2.4L apresentou o melhor perfil de peptídeos, com uma relação proteína/enzima de 7,5 mg:10 µL e tempo de incubação de 30 minutos a 55°C em tampão fosfato de sódio 30 mM. A purificação parcial do hidrolisado em coluna de Sephadex G25, eluída com tampão acetato de sódio (50 mM, pH 5.0), removeu o glicerol da enzima, solucionando problemas de secagem.

2.1 Seleção e Avaliação de Enzimas

A hidrólise enzimática do concentrado proteico de soja foi realizada utilizando diferentes enzimas para otimizar o perfil de peptídeos. Foram avaliadas as endopeptidases Neutrase® 0.8L, Alcalase® 2.4L e papaína, além da exopeptidase Flavourzyme® 1000L. A escolha das enzimas baseou-se na sua capacidade de hidrolisar ligações peptídicas, gerando fragmentos de diferentes tamanhos. As enzimas endopeptidases atuam no interior da cadeia polipeptídica, enquanto a exopeptidase cliva preferencialmente as extremidades. A caracterização dos hidrolisados obtidos envolveu a análise da distribuição de tamanhos dos peptídeos, buscando-se um perfil ideal para a subsequente complexação com metais. A pesquisa visava obter um hidrolisado com melhor perfil de peptídeos, considerando sua qualidade e conteúdo de aminoácidos, tanto qualitativamente quanto quantitativamente.

2.2 Otimização do Processo de Hidrólise com Alcalase 2.4L

A enzima Alcalase® 2.4L demonstrou ser a mais eficiente na geração do perfil desejado de peptídeos. As condições ótimas de hidrólise com esta enzima foram determinadas, incluindo a relação proteína/enzima (7,5 mg:10 µL), o tempo de incubação (30 minutos), a temperatura (55°C) e o uso de solução tampão fosfato de sódio (30 mM). No entanto, um problema foi identificado: a presença de glicerol oriundo da enzima impedia a secagem do hidrolisado. Este inconveniente foi contornado com a purificação parcial da mistura enzimática em coluna de Sephadex G25, utilizando tampão acetato de sódio (50 mM, pH 5,0), obtendo-se um concentrado enzimático sem perda de atividade. O método de purificação utilizando a coluna cromatográfica Sephadex G25 permitiu a remoção do glicerol, possibilitando a secagem do hidrolisado e sua posterior utilização na etapa de complexação com metais.

III.Preparação de Complexos Metálico Peptídicos

A partir do hidrolisado de proteína de soja, foram preparados complexos/quelatos metálico-peptídicos com cobre, ferro, zinco e manganês. A determinação do ponto de equivalência metal/ligante foi realizada por métodos eletroquímicos (voltametria cíclica e titulação potenciométrica), e a quantificação do metal por absorção atômica. Os teores de metais ligados foram: 15,19% de manganês, 5,55% de ferro, 3,13% de cobre e 2,94% de zinco. A análise econômica demonstrou viabilidade para a produção do complexo de zinco, mas a viabilidade dos demais produtos dependeria da escala de produção.

3.1. Complexação com diferentes metais

Complexos metálicos foram preparados utilizando o hidrolisado de proteína de soja como ligante e sais de cobre, ferro, zinco e manganês. A formação dos complexos metal-peptídeo, também referidos como quelatos, foi um foco central da pesquisa. A determinação do ponto de equivalência metal/ligante foi crucial para otimizar a complexação, sendo alcançado através de métodos eletroquímicos, como voltametria cíclica e titulação potenciométrica. A quantificação dos metais ligados foi realizada por espectrometria de absorção atômica, revelando diferentes porcentagens de ligação para cada metal: 15,19% para manganês, 5,55% para ferro, 3,13% para cobre e 2,94% para zinco. A variação na quantidade de metal ligado sugere diferentes afinidades entre os peptídeos do hidrolisado e cada metal, um aspecto importante para futuras aplicações e otimizações do processo.

3.2. Determinação da Estequiometria e Métodos Analíticos

A determinação da estequiometria da reação de complexação foi realizada com precisão utilizando métodos eletroquímicos. Voltametria cíclica e titulação potenciométrica foram empregadas para determinar o ponto de equivalência metal/ligante, indicando a proporção ideal de metal e ligante para a formação do complexo. A quantificação precisa da quantidade de metal ligado aos peptídeos foi efetuada através de espectrometria de absorção atômica. A reprodutibilidade e eficiência desses métodos analíticos foram importantes para garantir a confiabilidade dos resultados. Para o ferro, a confirmação do ponto de equivalência foi feita com a adição de tiocianato de potássio, revelando uma pequena quantidade residual de ferro não complexado. A análise do zinco por voltametria cíclica indicou uma ligação menos estável em comparação com o ferro e o manganês. A diferença de afinidade entre os metais e os peptídeos foi observada e analisada.

3.3. Teorias da Ligação e Afinidade Metálica

A formação dos complexos metal-peptídeo pode ser explicada pelo princípio de ácido e base de Lewis, onde os peptídeos atuam como bases (doadores de par de elétrons) e os metais como ácidos (aceitadores de par de elétrons). A teoria do campo cristalino também é aplicada para explicar as diferentes cores observadas nos complexos, relacionando a interação dos ligantes com os orbitais d do metal e a consequente separação dos níveis de energia. A compreensão dessas teorias é crucial para a interpretação das diferentes afinidades observadas entre os diferentes metais e os peptídeos do hidrolisado de proteína de soja, permitindo uma melhor compreensão das propriedades e potenciais aplicações desses complexos.

IV.Análise Econômica da Produção

A viabilidade econômica da produção dos produtos derivados do farelo de soja (hidrolisado de proteína de soja e complexos metálicos) foi avaliada utilizando o Valor Presente Líquido (VPL) e a simulação de Monte Carlo. A análise considerou custos de implantação, custos de produção (incluindo custos de enzimas como a Alcalase® 2.4L e resina Sephadex G-25), e diferentes escalas de produção. A análise conjunta do VPL e a simulação de Monte Carlo permitiu estimar a probabilidade de sucesso do projeto considerando as variações do mercado e incertezas nos custos, principalmente relacionados à aquisição da Alcalase® 2.4L em larga escala.

4.1. Metodologias de Análise Econômica

A viabilidade econômica da produção dos produtos desenvolvidos (complexos metálicos e hidrolisado de proteína de soja) foi avaliada utilizando-se duas metodologias complementares: o Valor Presente Líquido (VPL) e a análise de sensibilidade via simulação de Monte Carlo. O VPL, um método tradicional, fornece um único valor que indica a viabilidade do projeto considerando os fluxos de caixa projetados. A simulação de Monte Carlo, por sua vez, introduz incertezas nas variáveis do processo, gerando uma distribuição de VPLs e, consequentemente, uma probabilidade de sucesso ou insucesso do projeto. Essa combinação de métodos permite uma avaliação mais robusta da viabilidade econômica, considerando as incertezas inerentes a fatores de mercado e custos de produção.

4.2. Custos de Implantação e Produção

A análise econômica considerou os custos de implantação do projeto, incluindo os equipamentos necessários para a produção em diferentes escalas. O custo total de equipamentos foi estimado em R$ 283.215,39, sendo o Spray Dryer o equipamento mais caro (R$ 145.000,00). A resina Sephadex G-25, componente essencial do processo de purificação, também representou um custo significativo (R$ 67.927,38). A análise de custos de produção considerou diferentes etapas: produção diária de 1kg, e produção diária de 1kg para cada complexo metálico (cobre, ferro, zinco e manganês). O custo da enzima Alcalase® 2.4L representou um custo significativo, sendo sua aquisição um desafio devido à comercialização exclusiva através de representante. A variação de custos entre os diferentes complexos metálicos refletiu a diferença de preços e quantidades utilizadas de cada sal metálico.

4.3. Escalabilidade e Desafios na Análise Econômica

Uma das maiores dificuldades encontradas na análise foi a obtenção de orçamentos para equipamentos em escala de produção maior. A falta de fornecimento de orçamentos por alguns fabricantes, principalmente quando o objetivo da pesquisa era revelado, limitou a análise de escalabilidade do projeto. A cotação de alguns produtos, como a Alcalase® 2.4L e a resina Sephadex G-25, por meio de representantes exclusivos, aumentou o custo final e dificultou a projeção de custos para volumes maiores de compra. Consequentemente, a determinação do aumento de escala de produção ficou comprometida pela ausência de informações precisas sobre o custo de matérias-primas e equipamentos em maior escala. A análise considera que o uso de parte da estrutura de produção para outras atividades reduz custos em algumas etapas.