As redes sociais nos espaços escolares: mecanismos de socialização e construção do "self"

Redes Sociais na Escola: Socialização e Self

Informações do documento

Autor

Edinéia Tonato

Escola

Universidade Federal da Fronteira Sul

Curso Ciências Sociais
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.59 MB

Resumo

I.Redes Sociais e o Ambiente Escolar Socialização e Construção do Self

Este estudo investiga o impacto das redes sociais (como Facebook e WhatsApp) na socialização e na construção do self de estudantes do ensino médio noturno da Escola Rua do Saber. A pesquisa, utilizando métodos qualitativos e quantitativos (60 estudantes na pesquisa quantitativa e 10 na qualitativa), busca compreender como o uso de celulares com acesso às redes sociais influencia as relações interpessoais, tanto presenciais quanto virtuais, dentro e fora da sala de aula. A análise considera a influência de teóricos como Goffman, Thompson e Recuero, explorando conceitos como apresentação do self, interação mediada, e a formação de identidade online. Um dos focos é o uso do celular durante as aulas, seus impactos na concentração e no desempenho escolar, e as diferentes perspectivas dos alunos sobre sua utilização como ferramenta facilitadora ou como distração.

1. Objetivo e Metodologia da Pesquisa

O estudo, intitulado "As redes sociais nos espaços escolares: mecanismos de socialização e construção do self", tem como objetivo principal compreender a representação e apresentação dos sujeitos, e os processos de socialização dos estudantes no ambiente escolar, considerando o significado que atribuem ao uso das redes sociais. A pesquisa busca verificar se o uso das redes sociais influencia no distanciamento ou reformulação das relações face a face nos intervalos escolares, mapeando o uso de celulares com acesso a redes sociais pelos estudantes do ensino médio noturno da Escola Rua do Saber e suas implicações na dinâmica das aulas e intervalos. Para isso, recorre a recortes históricos da influência da modernidade nos espaços escolares e utiliza uma metodologia mista, combinando dados quantitativos (60 estudantes) e qualitativos (10 estudantes). A escola, antes das redes sociais, é contrastada com a realidade atual, destacando a redução de interação e socialização face a face. O estudo também aborda as situações de constrangimento e busca por popularidade nas redes sociais, e a complexa relação entre família e uso das redes sociais pelos alunos, muitas vezes se mostrando em um movimento pendular entre apoio e controle.

2. Influência das Redes Sociais nas Relações Interpessoais

A pesquisa analisa como as redes sociais, principalmente Facebook e WhatsApp, impactam as relações interpessoais dos estudantes. Observa-se uma mudança significativa na dinâmica dos intervalos escolares, com 83% dos entrevistados afirmando que o uso das redes sociais altera o ambiente. O uso de celulares em sala de aula também é um ponto central, gerando debates sobre concentração e desempenho escolar. Embora muitos estudantes reconheçam os impactos negativos na aprendizagem, muitos insistem no uso dos dispositivos, mesmo cientes das consequências para sua concentração e rendimento. O estudo utiliza as teorias de Goffman, Thompson e Recuero para analisar a construção do self mediada pelas redes sociais, explorando a apresentação do self, interação mediada e a formação de identidade online. A pesquisa aponta para a necessidade de compreender a complexidade do fenômeno, considerando tanto os aspectos positivos da socialização quanto os negativos relacionados ao uso excessivo e seus possíveis danos.

3. A Construção do Self e a Identidade Online

Um ponto crucial da pesquisa é a análise da construção do self e da identidade online dos estudantes, influenciada pelo uso das redes sociais. O estudo utiliza a perspectiva teórica de Erving Goffman para analisar a apresentação do self nas redes sociais, comparando-a com a interação face a face. A pesquisa também aborda as contribuições de Thompson, focando na natureza do self em um mundo mediado, e as diferenças entre interação face a face e interação mediada. Recuero é citada por enfatizar as representações e construções identitárias no ciberespaço. A pesquisa observa a busca por popularidade e a exposição da intimidade como características marcantes do uso das redes sociais por jovens, conforme apontado por Neto (2012). O estudo destaca a criação de perfis nas redes sociais como uma forma de apresentação do self, influenciando as relações de socialização e interação. A pesquisa explora como os estudantes constroem e reconstruem seu eu social nas redes, compartilhando angústias, sentimentos, valores e interesses.

4. Impactos Geracionais e a Relação Família Escola

A pesquisa evidencia os impactos geracionais do uso das redes sociais na escola e na família. O estudo destaca a ambivalência da relação família-estudante nas redes sociais, ora vista positivamente (apoio), ora negativamente (fiscalização). Há um claro embate geracional, com pais, avós e conhecidos criticando o tempo excessivo gasto nas redes sociais. A pesquisa observa como as novas formas de interação mediada transformam as relações e comportamentos, gerando mudanças significativas nos espaços escolares e na dinâmica familiar. Apesar de uma visão majoritariamente positiva sobre o papel das redes sociais na construção de amizades, o estudo sinaliza que os impactos, apesar de emblemáticos e ainda em transição, podem acarretar consequências significativas na escola (aulas e intervalos) e na família. A pesquisa destaca a importância de considerar a multiplicidade de transformações nas formas de interação social causadas pelo uso de tecnologias, especialmente no contexto da escola e das relações familiares.

II.O Uso do Celular em Sala de Aula Desafios e Implicações

A pesquisa revela um uso intenso de celulares em sala de aula, mesmo com a conscientização dos estudantes sobre os impactos negativos na concentração e na aprendizagem. Há um embate geracional, com os estudantes utilizando os aparelhos para comunicação e interação com amigos, mesmo em assuntos extracurriculares, enquanto alguns veem o celular como ferramenta para auxiliar nas atividades pedagógicas. A proibição do uso do celular é vista de forma ambivalente, com alguns estudantes defendendo sua necessidade para determinadas tarefas e outros reconhecendo a importância da concentração. O estudo destaca a necessidade de adaptação das práticas pedagógicas para lidar com essa realidade do uso de tecnologia no ambiente escolar.

1. A Presença Massiva do Celular em Sala de Aula

O estudo revela que o uso de celulares com acesso a redes sociais durante as aulas na Escola Rua do Saber é um fenômeno significativo e disseminado, mesmo que estudos anteriores não o tivessem como foco principal. Essa prática acarreta desdobramentos importantes para os princípios básicos da educação, afetando diretamente o processo de ensino e aprendizagem. A nova dinâmica em sala de aula representa um desafio à concentração, interação, comunicação e socialização entre os atores sociais presentes. Embora a maioria dos estudantes reconheça as consequências negativas para a concentração e o aprendizado, a pesquisa indica que muitos persistem no uso dos dispositivos móveis durante as aulas. O estudo destaca a necessidade de se abordar essa realidade na busca por soluções e adaptações pedagógicas.

2. Perspectivas Divergentes sobre o Uso do Celular Facilidade x Distrações

As entrevistas com os alunos da Escola Rua do Saber demonstram visões divergentes sobre o uso de celulares em sala de aula. Enquanto alguns estudantes reconhecem o impacto negativo na concentração e, consequentemente, no desempenho escolar, expressando a necessidade de proibição ou restrição para manter o foco na aula, outros defendem o uso do celular como ferramenta facilitadora para certas atividades, pesquisas ou para se comunicar sobre assuntos extracurriculares. A pesquisa destaca essa dualidade de opiniões, onde alguns alunos veem o celular como uma ajuda em algumas situações e um obstáculo em outras. A percepção do uso do celular como ferramenta facilitadora, porém, não descarta seu papel como distração significativa, impactando diretamente na concentração e participação efetiva nas aulas. As opiniões relatadas evidenciam a complexidade de gerir o uso da tecnologia no ambiente escolar.

3. Implicações Pedagógicas e o Embate Geracional

A inserção das tecnologias, especificamente o uso de celulares com acesso às redes sociais, no ambiente escolar, impacta significativamente as práticas tradicionais de ensino e aprendizagem. O método tradicional de ensino, pautado em relações face a face e eventualmente recursos audiovisuais, é confrontado com as novas dinâmicas geradas pelo uso constante de celulares. Essa mudança gera conflitos e exige adaptação dos métodos e modelos tradicionais, criando um embate geracional. A pesquisa apresenta relatos de estudantes que sofreram consequências, como advertências e suspensões, por uso inadequado do celular em sala de aula, refletindo um conflito entre a realidade tecnológica dos alunos e as regras e expectativas da escola. A massificação do acesso a dispositivos móveis com internet e redes sociais transforma a dinâmica dos espaços, relações e comportamentos dentro da escola, gerando impactos geracionais evidentes.

III.Amizades e Redes Sociais Laços e Implicações

O estudo analisa o papel das redes sociais na formação e manutenção de amizades, observando como as plataformas virtuais influenciam os laços humanos. Os estudantes utilizam as redes sociais para construir e fortalecer amizades, compartilhar experiências, e construir sua identidade online. No entanto, a pesquisa também aborda os aspectos negativos, como a exposição excessiva, a busca por popularidade, e situações de constrangimento ou cyberbullying. A relação família-estudante nas redes sociais é descrita como ambivalente: em alguns momentos como apoio, em outros como fiscalização. A pesquisa também analisa a influência das redes sociais na subjetividade, identidade, e na construção do self, considerando as diferentes formas de interação social – face a face, mediada e híbrida.

1. Redes Sociais como Ferramentas de Fortalecimento de Amizades

A pesquisa destaca o papel central das redes sociais na dinâmica das amizades entre os estudantes da Escola Rua do Saber. As plataformas online são utilizadas para construir, fortalecer e manter laços de amizade, contribuindo para a socialização e interação entre os jovens. O estudo observa que as redes sociais permitem a criação de grupos e comunidades virtuais que ampliam as possibilidades de conexão e interação, muitas vezes se estendendo além dos limites da escola. A pesquisa cita Sara Villas (2009) para contextualizar a noção de sociabilidade, destacando elementos como troca, cortesia e similaridade como componentes importantes nas relações de amizade, tanto online quanto offline. A pesquisa também menciona o WhatsApp, onde os estudantes participam de inúmeros grupos, demonstrando a importância da plataforma para a comunicação e interação com amigos, familiares e colegas de trabalho. A pesquisa conclui que as redes sociais, apesar dos aspectos negativos, contribuem significativamente para a construção e o reforço dos laços de amizade entre os estudantes.

2. Aspectos Negativos do Uso de Redes Sociais nas Amizades

Apesar dos aspectos positivos na construção e manutenção das amizades, o estudo também destaca as implicações negativas do uso das redes sociais. A pesquisa menciona as situações de constrangimento, exposição de conteúdos íntimos e situações embaraçosas que podem ocorrer nas redes sociais, afetando as relações de amizade. A busca por popularidade e a competição em torno de índices de popularidade nas plataformas online, conforme apontado por Neto (2012), também são aspectos problemáticos. A pesquisa apresenta relatos de estudantes que vivenciaram situações desagradáveis, como discussões e conflitos gerados por publicações nas redes sociais. A utilização de redes sociais como palco para fofocas e a disseminação de informações negativas também são mencionadas, demonstrando que o uso inadequado pode impactar negativamente as relações entre os jovens. A pesquisa aponta para a necessidade de se considerar os potenciais riscos e problemas relacionados ao uso das redes sociais na dinâmica das amizades.

3. A Família nas Redes Sociais Um Papel Ambivalente

A pesquisa analisa a presença da família nas redes sociais dos estudantes e a complexa relação que se estabelece. A participação da família no ambiente virtual é descrita como um movimento pendular, ora positiva (apoio e força), ora negativa (fiscalização e controle). A pesquisa observa que, embora a família possa oferecer suporte e encorajamento aos estudantes através das redes sociais, também pode gerar constrangimentos e desconforto, especialmente quando há monitoramento excessivo das publicações. Esse controle pode ser sentido pelos adolescentes como invasivo, afetando sua liberdade de expressão e suas relações virtuais. Os relatos evidenciam a dualidade da relação família-adolescente no espaço virtual, onde o apoio e a proximidade se misturam com a vigilância e a preocupação com a imagem e o comportamento dos jovens online. A pesquisa ressalta a necessidade de se equilibrar a participação da família na vida online dos filhos.

IV.Resultados e Conclusões A Escola Rua do Saber e a Contemporaneidade

A pesquisa na Escola Rua do Saber indica que as redes sociais, principalmente Facebook e WhatsApp, têm um impacto significativo na dinâmica escolar, alterando os intervalos e as aulas. Embora haja impactos negativos no desempenho escolar e na concentração, as redes sociais também se configuram como importantes ferramentas de socialização e fortalecimento de amizades. A relação entre escola, redes sociais, amizades e família é complexa, com a família tendo um papel ambivalente de apoio e controle. A pesquisa conclui que o uso de redes sociais é um fenômeno complexo e multifatorial, com implicações para a educação e para a sociedade, requerendo novas abordagens pedagógicas e uma compreensão mais aprofundada dos seus impactos geracionais.

1. Redes Sociais e a Dinâmica Escolar na Escola Rua do Saber

A pesquisa realizada na Escola Rua do Saber demonstra que o uso das redes sociais, principalmente Facebook e WhatsApp, impacta significativamente a dinâmica dos intervalos escolares, com 83% dos entrevistados confirmando alterações no cenário. O uso de celulares em sala de aula também provoca mudanças expressivas nas formas de apreender, afetando a concentração e o desempenho escolar. Apesar dos impactos negativos na concentração e desempenho, a pesquisa também destaca a potencialidade das redes sociais para a socialização, interação e comunicação entre os estudantes. Essa nova configuração das interações transforma, modifica, formula e reformula o self dos estudantes, criando um círculo de ações e relações no ambiente virtual que influencia suas interações no mundo real. A pesquisa utiliza métodos qualitativos e quantitativos para analisar a complexa relação entre escola, redes sociais, amizades e família, buscando entender a multiplicidade e a multicausalidade das transformações nas formas de interação social.

2. Aspectos Positivos e Negativos do Uso das Redes Sociais Uma Visão Equilibrada

A pesquisa na Escola Rua do Saber revela uma visão ambivalente sobre o uso das redes sociais, com os estudantes tendendo a valorizar os aspectos positivos, especialmente para o fortalecimento das amizades, mais do que os negativos. Embora se reconheça a influência negativa no desempenho escolar e na concentração, a pesquisa aponta para a importância das redes sociais na socialização e interação entre os alunos. A pesquisa cita Neto (2012), que relaciona o uso frequente de redes sociais com a busca por popularidade, status e prestígio, mas também com exposições, atitudes violentas e violação de identidade. Apesar de não aprofundar nesses aspectos negativos, a pesquisa sinaliza a existência desses problemas e suas relações com a construção do self dos estudantes. A pesquisa destaca a necessidade de se considerar a complexidade do fenômeno, reconhecendo tanto os aspectos positivos quanto os riscos e desafios envolvidos no uso das redes sociais.

3. Conclusões Fortalecimento de Laços Humanos em um Contexto Contemporâneo

A pesquisa conclui, com base em metodologias qualitativas e quantitativas, que a ligação entre escola, redes sociais, amizade e família forma um complexo e emblemático cenário na contemporaneidade. O estudo observa um fortalecimento dos laços humanos significativos, apesar dos impactos negativos em determinados contextos. A relação família-redes sociais é analisada como dual, com a família ora atuando como suporte, ora como fiscalizadora. O estudo reforça que as redes sociais, apesar de suas limitações, expandem e fortalecem os laços humanos. A pesquisa aponta para a importância de se considerar a complexidade do fenômeno para o desenvolvimento de estratégias que promovam um uso mais consciente e equilibrado das redes sociais, mitigando seus potenciais riscos e maximizando seus benefícios para o aprendizado e a socialização dos estudantes. O uso das redes sociais representa um desafio e uma oportunidade para a escola.