Aspectos da colaboração profissional docente mobilizados em um estudo de aula (Lesson study) no contexto brasileiro

Lesson Study e Colaboração Docente

Informações do documento

Autor

Ana Paula Tomasi

instructor/editor Profª. Pós-Drª. Adriana Richit
Escola

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Curso Educação
Tipo de documento Dissertação
Local Chapecó
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.35 MB

Resumo

I.O Estudo de Aula como Abordagem para o Desenvolvimento Profissional Docente

Esta pesquisa qualitativa investiga o impacto do estudo de aula no desenvolvimento profissional de oito professores de matemática do ensino fundamental (anos finais) de escolas públicas estaduais da 15ª CRE do Rio Grande do Sul. Baseada nas teorias de Andy Hargreaves e Mônica Thurler sobre cultura profissional e colaboração, a pesquisa analisou a experiência dos professores em um ciclo de estudo de aula realizado entre agosto e dezembro de 2019, com 12 encontros quinzenais de 3 horas. O objetivo principal foi compreender os aspectos da colaboração profissional vivenciados pelos docentes.

1. O Desenvolvimento Profissional Docente e a Colaboração

O texto inicia abordando o desenvolvimento profissional docente, destacando a importância da colaboração como um elemento fundamental para a troca de ideias, experiências e reflexões sobre a prática pedagógica. O estudo de aula (lesson study) é apresentado como uma abordagem formativa que prioriza a colaboração, sendo cada vez mais investigada no Brasil devido ao seu potencial de crescimento profissional dos professores. A pesquisa se propõe a investigar e compreender os aspectos da colaboração profissional vivenciados por um grupo de professores participantes de um estudo de aula, com foco na prática letiva docente, em sua natureza reflexiva e colaborativa. A metodologia escolhida é qualitativa e interpretativa, baseada nos pressupostos teóricos sobre cultura e colaboração profissional de Andy Hargreaves e Mônica Thurler. A pesquisa enfatiza o potencial do estudo de aula para favorecer o desenvolvimento profissional, sendo esse o foco central da investigação.

2. A Pesquisa Participantes Metodologia e Coleta de Dados

A pesquisa envolveu oito professores de matemática que atuam nos anos finais do ensino fundamental em escolas públicas estaduais da 15ª Coordenadoria Regional de Educação (15ª CRE) do Rio Grande do Sul. O estudo de aula ocorreu entre agosto e dezembro de 2019, com 12 encontros quinzenais de 3 horas, realizados nas dependências da 15ª CRE. A coleta de dados se baseou em registros produzidos a partir da observação dos encontros, transcrição de gravações de áudio das sessões e notas de campo da aula de investigação (terceira etapa do estudo de aula). Essa combinação de métodos visa a obtenção de um retrato abrangente da experiência colaborativa dos professores durante o estudo de aula. A riqueza dos dados coletados possibilita uma análise detalhada dos aspectos da colaboração profissional no contexto específico do estudo de aula.

3. Resultados Preliminares Cinco Aspectos da Colaboração Profissional

A análise do material empírico revelou cinco aspectos importantes da colaboração profissional vivenciados pelos professores: partilha de anseios, angústias, objetivos e experiências; apoio e incentivo mútuo, criando condições para a participação de todos; diálogo como um processo formativo que valoriza a voz de cada participante e a negociação de decisões; cooperação, com os professores demonstrando proatividade; e reflexão partilhada, um aspecto considerado novo e fundamental para uma análise crítica da docência. Estes cinco pilares da colaboração foram identificados como essenciais para o sucesso do estudo de aula e para o desenvolvimento profissional dos professores envolvidos. O foco na partilha de experiências e na reflexão conjunta demonstra a importância da interação e da troca de saberes para o aprimoramento da prática pedagógica.

II.Aspectos da Colaboração Profissional no Estudo de Aula

A análise dos dados (notas de campo, transcrições de áudios e entrevistas) revelou cinco aspectos cruciais da colaboração no estudo de aula: partilha de experiências e angústias, apoio e incentivo mútuo, diálogo e negociação de decisões, cooperação proativa e reflexão partilhada. A reflexão partilhada, em particular, foi identificada como um elemento inovador, permitindo uma análise crítica e profunda da prática pedagógica. A pesquisa destaca a importância da reflexão e do diálogo para a construção de um ambiente de aprendizagem profissional colaborativa.

1. Partilha de Experiências e Angústias

O estudo de aula proporcionou um espaço para a partilha de anseios, angústias, objetivos e experiências de sala de aula entre os professores. Essa partilha foi crucial para o fortalecimento do grupo e para o planejamento da aula de investigação. Professores como Adelle e Judy compartilharam experiências e dificuldades enfrentadas em sala de aula, influenciando diretamente as escolhas de tarefas e materiais didáticos para a aula de investigação. A abertura em compartilhar as inseguranças e medos relacionados à experimentação de novas práticas, como a aula de investigação, demonstrou a importância da confiança e do apoio mútuo dentro do grupo. A partilha de impressões sobre as turmas e alunos, expectativas e angústias antes da aula de investigação, contribuiu para um planejamento mais embasado e sensível às necessidades dos alunos.

2. Diálogo e Negociação de Decisões

O diálogo foi um aspecto marcante do estudo de aula, caracterizado por um processo formativo que valorizava a voz de todos os participantes e a negociação de decisões. A professora Judy descreveu a colaboração como um processo coletivo onde todas as opiniões foram valorizadas, sem que uma ideia prevalecesse sobre a outra. O consenso era alcançado através da troca de ideias e da busca de alternativas. A ausência de imposição de ideias reforça a horizontalidade das relações e a busca coletiva pela melhor solução. Este ambiente de diálogo e negociação foi fundamental para a definição do tópico curricular (área e perímetro de formas geométricas planas) e do ano escolar (8º ano) para a aula de investigação, demonstrando a importância da participação ativa de todos os professores no processo decisório.

3. Apoio e Incentivo Mútuo e Cooperação

O apoio e incentivo mútuo foram muito valorizados pelos professores, criando condições para a participação e o envolvimento de todos em todas as etapas do estudo de aula. A professora Ellie descreveu o grupo como receptivo e colaborativo, onde todos se preocupavam em partilhar experiências e ajudar uns aos outros. A cooperação se manifestou na proatividade dos professores na realização das diferentes atividades, ultrapassando a individualidade e fomentando a responsabilidade coletiva. A disposição em auxiliar os colegas no planejamento da aula de investigação demonstra um forte sentimento de pertencimento e confiança mútua dentro do grupo. O exemplo da socialização da aula planejada, onde cada professor opinou e contribuiu para o sucesso do outro grupo, demonstra a eficácia do apoio e incentivo mútuo no processo colaborativo.

4. Reflexão Partilhada Um Aspecto Inovador

A reflexão partilhada, considerada um aspecto inovador neste estudo, permitiu aos professores pensarem de forma crítica e profunda sobre a docência. A discussão sobre a importância de explorar os conceitos matemáticos básicos antes de introduzir conceitos mais complexos, como área e perímetro, demonstra a profundidade da reflexão sobre os processos de ensino e aprendizagem. A professora Ellie destacou a necessidade de o professor se colocar no lugar do aluno para avaliar a clareza das tarefas propostas. A professora Kadu reforçou a importância de um planejamento detalhado, especialmente em situações de ensino remoto. A análise conjunta sobre os desafios e sucessos na aula de investigação permitiu a identificação de pontos fortes e fracos do processo, levando a uma reformulação da prática pedagógica, exemplificando o potencial transformador da reflexão compartilhada.

III.O Estudo de Aula e a Prática em Sala de Aula

O estudo analisou o planejamento e a implementação de uma aula de investigação (terceira etapa do estudo de aula) sobre área e perímetro de figuras geométricas planas com alunos do 8º ano. A colaboração entre os professores foi fundamental em todas as etapas, desde a escolha do tópico curricular até a análise dos resultados. O processo destacou a importância de considerar as dificuldades dos alunos no planejamento, a necessidade de reflexão sobre a própria prática e a valorização das experiências individuais para a construção de um conhecimento coletivo. As escolas participantes estavam localizadas em Gaurama e Marcelino Ramos, RS.

1. Escolha do Tópico e da Turma para a Aula de Investigação

O início do estudo de aula foi marcado pela cuidadosa escolha do tópico curricular a ser trabalhado com os alunos e a definição da turma para a aula de investigação. Os professores demonstraram grande preocupação em selecionar um tópico que estivesse alinhado com os conteúdos já trabalhados em sala de aula, garantindo o entendimento da atividade proposta. Houve um amplo debate e reflexão sobre as dificuldades dos alunos em diferentes tópicos da matemática nos anos finais do ensino fundamental. Os professores anteciparam possíveis obstáculos para a implementação da aula de investigação e sugeriram estratégias e materiais didáticos que pudessem facilitar o aprendizado dos alunos. Através de um diálogo e negociação de decisões, o grupo definiu o tema 'área e perímetro de formas geométricas planas' e o 8º ano como o ano escolar para a aula de investigação. Essa fase inicial demonstra a importância da colaboração e da reflexão conjunta na escolha de um tópico relevante e adequado às necessidades dos alunos.

2. Planejamento da Aula de Investigação Trabalho em Grupo e Subgrupos

O planejamento da aula de investigação, que envolveu seis sessões de três horas cada, foi realizado de forma colaborativa, alternando entre trabalho em grupo e em dois subgrupos. A decisão de trabalhar em subgrupos foi tomada pelos próprios professores, buscando uma dinâmica que favorecesse a colaboração, o envolvimento de todos e o aprofundamento das discussões. Essa estratégia permitiu uma análise mais detalhada das leituras e facilitou a discussão de aspectos referentes à proposta de aula. O trabalho em subgrupos culminou na elaboração de duas versões muito similares da aula de investigação, que foram posteriormente lecionadas para turmas distintas de alunos em escolas diferentes (Gaurama e Marcelino Ramos, RS). A organização flexível do trabalho demonstra a adaptabilidade e a eficiência da colaboração no processo de planejamento.

3. Implementação e Reflexão sobre a Aula de Investigação

A implementação da aula de investigação permitiu aos professores vivenciar uma experiência colaborativa e observar as reações dos alunos às atividades propostas. A professora Ellie destacou que, apesar de um certo estranhamento inicial dos alunos à presença de vários observadores, a dinâmica da aula favoreceu seu engajamento, superando as dificuldades iniciais. A professora Filipa mencionou o desconforto dos alunos com a observação, mas enfatizou que a atividade permitiu aos professores atuarem como investigadores das ações dos alunos, em vez de apenas instrutores. Os relatos das professoras Ellie e Filipa, corroborados por outras, demonstram a riqueza da experiência de observação da aula e a possibilidade de os professores analisarem a própria prática e a dos pares a partir de uma perspectiva diferente. A aula de investigação permitiu observar diferentes formas de resolução e de aprendizagem, permitindo aos professores um feedback para o aprimoramento das suas práticas.

IV.Resultados e Conclusões Impacto do Estudo de Aula na Colaboração e no Desenvolvimento Profissional

Os resultados demonstram que o estudo de aula proporcionou um ambiente rico em colaboração profissional, favorecendo o desenvolvimento profissional dos professores. A partilha de experiências, o diálogo aberto, o apoio mútuo, e a cooperação foram fatores decisivos para o sucesso da iniciativa. A reflexão partilhada sobre a prática pedagógica gerou novas perspectivas e contribuiu para a melhoria do ensino e da aprendizagem dos alunos. A pesquisa sugere que o estudo de aula, como metodologia de desenvolvimento profissional docente, é eficaz em promover a colaboração e a reflexão na prática, gerando impactos positivos na educação matemática no contexto brasileiro.

1. A Colaboração como Fator Chave para o Sucesso do Estudo de Aula

A análise dos dados evidencia a colaboração como elemento crucial para o sucesso do estudo de aula e o desenvolvimento profissional dos professores. A pesquisa demonstra como a partilha de experiências, o diálogo aberto e a negociação coletiva de decisões impulsionaram o processo. O apoio mútuo e o incentivo constante entre os participantes criaram um ambiente de confiança e segurança, permitindo que cada professor se sentisse acolhido e valorizado. A cooperação proativa dos professores, demonstrado em seu engajamento nas diversas atividades, foi fundamental para a realização das etapas do estudo. A pesquisa destaca a importância do estudo de aula como uma metodologia inovadora, capaz de promover um desenvolvimento profissional docente significativo. O nível de envolvimento dos professores, com 90% das sessões contando com a presença de todos, demonstra o alto grau de engajamento gerado pelo formato colaborativo do estudo de aula.

2. Reflexão Partilhada e Mudança na Prática Docente

A pesquisa destaca a reflexão partilhada como um elemento inovador e transformador do estudo de aula, possibilitando aos professores uma análise profunda e crítica da sua prática. A troca de experiências e a discussão coletiva de diferentes estratégias de ensino contribuíram para o desenvolvimento de novas perspectivas e o aprimoramento do conhecimento sobre o tema abordado (área e perímetro). A capacidade de os professores se colocarem no lugar do aluno, buscando uma melhor compreensão das dificuldades de aprendizagem, demonstra o impacto da reflexão na prática pedagógica. A observação mútua durante a aula de investigação e a posterior análise permitiram identificar pontos fortes e fracos na condução da aula, fornecendo um feedback valioso para a melhoria da prática. A constatação de que o planejamento colaborativo permite antecipar as respostas e dificuldades dos alunos, ao contrário do planejamento individual, demonstra a riqueza gerada pela reflexão conjunta. A reflexão partilhada não apenas melhorou o ensino de um tópico específico da matemática, mas também contribuiu para novas aprendizagens profissionais, demonstrando o impacto do estudo de aula no desenvolvimento profissional.

3. Conclusões e Desafios da Pesquisa

A pesquisa conclui que o estudo de aula, com sua ênfase na colaboração e na reflexão partilhada, favoreceu significativamente o desenvolvimento profissional dos professores participantes. A experiência mostrou a eficácia da abordagem em promover a troca de experiências, o diálogo, o apoio mútuo e a cooperação, elementos essenciais para a melhoria da prática docente. A pesquisa também destaca a reflexão partilhada como um elemento inovador, capaz de gerar mudanças significativas na prática em sala de aula. Apesar do sucesso da iniciativa, o estudo reconhece a complexidade do processo de investigação qualitativa e os desafios em manter o foco na colaboração profissional, mesmo diante de outros elementos relevantes para o desenvolvimento profissional. O estudo sugere que o estudo de aula é uma abordagem formativa promissora no contexto da educação matemática brasileira, e que a análise dos limites e do alcance da colaboração podem se tornar temas de pesquisas futuras.