Aspectos da filosofia católica em Portugal na segunda metade do século XX

Neotomismo em Portugal (Século XX)

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Autor

J. Pinharanda Gomes

Escola

Não especificado no texto

Curso Filosofia
Ano de publicação Não especificado exatamente, mas o texto indica pesquisa abrangendo de 1950 a 1970 aproximadamente.
Local Lisboa (implicada pela menção ao Centro de Estudos Escolásticos em Lisboa)
Tipo de documento Ensaio
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.20 MB

Resumo

I.O Tomismo e o Neo escolasticismo em Portugal 1950 1960

Este período testemunha um florescimento do pensamento tomista em Portugal, impulsionado pelo Centro de Estudos Escolásticos (Lisboa, 1950), ligado à Mocidade Portuguesa. A instituição promoveu a pesquisa histórica na filosofia e a redescoberta de figuras como Frei João de São Tomás, impulsionado por figuras como Jacques Maritain. O ano tomista (1955) marcou um auge desta atividade, com conferências em várias cidades (Porto, Faro, Coimbra, Aveiro). A influência tomista também se estendeu à Revista Portuguesa de Filosofia (1945) e à coleção bibliográfica 'Filosofia', publicadas pelos Jesuítas de Braga, que buscavam renovar a tradição aristotélico-tomista, integrando elementos da escolástica moderna.

1. O Surgimento do Centro de Estudos Escolásticos e a Promoção do Tomismo

O texto destaca o surgimento do Centro de Estudos Escolásticos em Lisboa, em 1950, como um marco para o desenvolvimento do tomismo em Portugal. Ligado à Mocidade Portuguesa e às atividades universitárias, o Centro herdou experiências de grupos católicos anteriores, como o grupo A/a (1941-1942), e o grupo doutrinal da revista Aléo (1941-1945). A pesquisa histórica na área da filosofia, focada nos valores tomistas portugueses, foi uma atividade central. A redescoberta de Frei João de São Tomás, impulsionada pela divulgação feita por Jacques Maritain em 1940 no Congresso do Mundo Português, é apontada como um sinal positivo deste movimento. O Centro desempenhou um papel crucial na difusão do pensamento tomista, com a produção de diversas obras de pesquisa.

2. O Ano Tomista de 1955 e a Disseminação do Pensamento de São Tomás

Em 1955, o Centro de Estudos Escolásticos celebrou o ano tomista, organizando conferências em várias cidades portuguesas durante o mês de março. António Alberto de Andrade palestrou no Seminário do Porto; Luís Ribeiro Soares em Faro, com a conferência “São Tomás, um Filósofo”; Joaquim Ferreira Gomes em Coimbra; e João Ameal em Aveiro, abordando o tema das filosofias efêmeras e da filosofia perene. Paralelamente, realizou-se uma Semana de Estudos Tomistas no Seminário dos Olivais. Estes eventos mostram o esforço de disseminação do pensamento de São Tomás para além dos círculos acadêmicos, alcançando um público mais amplo e consolidando a importância do tomismo na cena intelectual portuguesa da época. A amplitude geográfica das conferências indica a penetração das ideias tomistas no país.

3. A Influência Tomista na Faculdade de Filosofia de Braga e a Renovação da Tradição Aristotélico Tomista

O texto também destaca a influência tomista na Faculdade de Filosofia de Braga, onde a Companhia de Jesus, por meio da Revista Portuguesa de Filosofia (iniciada em 1945, como suplemento da Brotéria) e da coleção bibliográfica 'Filosofia', divulgou a doutrina tomista, escotista e suareziana. A atividade jesuítica em Braga tinha como objetivo a restauração do Curso Conimbricense, de acordo com o Ratio Studiorum, buscando renovar a tradição aristotélico-tomista sem, contudo, fechar as portas à escolástica moderna. A influência da constituição Deus Scientarum Dominus (Vaticano I) e da encíclica Humani Generis (Pio XII) é mencionada como base para essa renovação escolástica. A abordagem demonstra uma preocupação em atualizar a tradição filosófica clássica para o contexto moderno.

II. Nacionalismo Integralismo e o Tomismo como resposta ao Marxismo

O ambiente nacionalista e a preocupação com a influência marxista influenciaram o desenvolvimento da filosofia católica em Portugal. Grupos como o da revista Cidade Nova (Coimbra, 1950-1958), de orientação monárquica e tomista, e a publicação Ordem Nova, defendiam o tomismo contra ideias consideradas opostas, como as de António Sérgio e Leonardo Coimbra. A defesa do tomismo foi uma resposta intelectual ao republicanismo e ao que era percebido como ameaça comunista.

1. O Nacionalismo e o Integralismo como Contexto para o Tomismo

O texto situa o desenvolvimento do tomismo em Portugal no contexto de um forte nacionalismo e de uma preocupação com o avanço do marxismo. Este ambiente influenciou a forma como o tomismo foi recebido e desenvolvido. O nacionalismo, mesmo questionado na sua relação com o cristianismo, levou a uma preferência por ideais integralistas, representados pela 'Nação Portuguesa', em oposição ao ideário da 'Seara Nova', considerado mais próximo do republicanismo e, eventualmente, do comunismo. Esta oposição ideológica moldou o debate intelectual da época, colocando o tomismo numa posição de defesa contra o que era percebido como ameaças ideológicas externas.

2. A Revista Ordem Nova e a Defesa do Tomismo contra Posições Opostas

A publicação nacionalista Ordem Nova desempenhou um papel crucial na defesa do tomismo contra as doutrinas consideradas opostas de António Sérgio e Leonardo Coimbra. Embora ambos fossem criticados, a Ordem Nova evitava ligar explicitamente a condenação de António Sérgio a Leonardo Coimbra, reconhecendo as diferenças metodológicas entre ambos. A publicação defendia o tomismo como uma alternativa intelectual e ideológica às correntes de pensamento consideradas perigosas, numa época marcada pela tensão ideológica da Guerra Fria e a preocupação com a influência comunista. Manuel Múrias, com um artigo sobre a renovação escolástica na Ordem Nova, exemplifica essa defesa do tomismo contra influências consideradas negativas.

3. Desconfiança em relação a Leonardo Coimbra e a Afirmação do Tomismo

O texto evidencia uma certa desconfiança em relação a Leonardo Coimbra, devido ao seu republicanismo e adesão tardia à Igreja, mesmo que sua obra revelasse uma comunhão real com o pensamento cristão. Esta desconfiança demonstra a complexa relação entre o nacionalismo, o catolicismo, e o pensamento político em Portugal. A defesa do tomismo nesse contexto não era apenas uma questão filosófica, mas também uma posição política e ideológica, contrapondo-se à influência de intelectuais republicanos e a percepção de uma aproximação destes com o marxismo. A preferência pelo tomismo representou, para muitos, uma afirmação de valores nacionais e religiosos em resposta à ameaça ideológica percebida.

III.A Influência de Jacques Maritain e o Personalismo

A partir da década de 1960, as traduções das obras de Jacques Maritain, como Princípios duma Política Humanista e A Pessoa e o Bem Comum, trouxeram o personalismo para o debate intelectual português. Este movimento, ligado ao catolicismo progressista, encontrou eco em grupos ligados à Livraria Morais e ao Círculo de Humanismo Cristão, procurando conciliar fé e modernidade. A influência de Maritain e do personalismo foi particularmente forte em grupos católicos, sociais e de apostolado, servindo como uma alternativa ao comunismo e ao fascismo.

1. A Chegada do Personalismo de Jacques Maritain a Portugal

A influência de Jacques Maritain e do personalismo em Portugal se intensifica a partir da década de 1960, com a publicação das primeiras traduções de suas obras. A tradução de Princípios duma Política Humanista (1960), por António Alçada Baptista, e de A Pessoa e o Bem Comum (1962), por Vasco Miranda, marcam este momento. Essas traduções, publicadas na coleção “O Tempo e o Modo” da Livraria Morais, dirigida por Alçada Baptista, contribuíram para disseminar o pensamento social católico, incluindo autores brasileiros como Gustavo Corção, que era bastante lido na época. A publicação das obras de Maritain, em conjunto com as de Emanuel Mounier ( O Personalismo e Manifesto ao Serviço do Personalismo), é apontada como uma iniciativa de divulgação do catolicismo progressista, apesar de apresentar falhas, como a falta de textos introdutórios.

2. A Recepção do Personalismo e sua Influência em Grupos Intelectuais

O personalismo de Maritain, particularmente seu ensaio Christianisme et Démocratie, influenciou a forma como alguns grupos em Portugal buscavam envolver a Igreja na política temporal. Essa influência é mais notória em grupos ligados a obras católicas, sociais e de apostolado. Um exemplo é o grupo coimbrão-lisbonense da revista Cidade Nova, que reunia intelectuais monárquicos de orientação tomista com vínculos a Maritain, como Henrique Barrilaro Ruas. Esses grupos, através de uma abordagem afirmativa, contrariavam as tendências comunizantes de publicações como Sol Nascente e, principalmente, Seara Nova, que evoluiu de um idealismo republicano para um cripto-comunismo, segundo a perspectiva do autor.

3. Crítica ao Personalismo e a busca por um Sistema Ético Integral

O texto menciona uma crítica ao intento de Alfredo Pimenta de conciliar o positivismo com o tomismo, visto por Álvaro Ribeiro como uma tentativa de conciliar uma heresia com uma dogmática. Essa crítica reflete um debate sobre a compatibilidade entre diferentes correntes filosóficas no âmbito do pensamento católico. António José de Brito, por sua vez, apresentou um contraponto à onda personalista, argumentando que o personalismo não deveria ser um setor de um sistema ético, mas sim um sistema ético completo. A posição de Brito não é identificada como anti-personalista, mas sim como uma tentativa de integrar a pessoa e a comunidade numa visão mais abrangente. A discussão sobre o personalismo revela a complexidade do debate filosófico católico em Portugal.

IV. Existencialismo e Fenomenologia no Contexto Católico Português

A introdução do existencialismo em Portugal, com influências germânicas (Hartmann, Heidegger) e francesas (Marcel, Sartre, Camus), gerou debates importantes. Autores como Delfim Santos e Celestino Pires integraram o existencialismo ao pensamento tomista, buscando conciliar as duas correntes. A obra de António Quadros destacou o caráter existencial da cultura portuguesa, enquanto figuras como Salette Tavares analisaram a influência de Gabriel Marcel. A relação entre existencialismo e tomismo foi um tema central, com a Revista Portuguesa de Filosofia debatendo estas ideias ativamente.

1. O Existencialismo como Filosofia Importada e o Existencial como Característica da Cultura Portuguesa

O texto argumenta que o existencialismo, enquanto filosofia, foi importado e aculturado em Portugal, em contraste com o existencial, que é considerado inerente à cultura portuguesa. António Quadros é citado como demonstrador dessa visão existencial na cultura e literatura portuguesas, apontando para uma transição da visão para a transvisão. A ideia central é que, embora o existencialismo tenha influenciado o pensamento português, ele não é uma expressão original da cultura nacional, mas sim um elemento externo que se adaptou ao contexto local. A existência, no contexto português, não é vista como um vazio, como no prólogo de Camus a Calígula, mas sim como uma vida situada e significativa.

2. Influências Germânicas e Francesas no Existencialismo Português

A introdução do existencialismo em Portugal ocorreu em duas etapas principais. Primeiramente, através da influência germânica, com nomes como Hartmann e Heidegger. Delfim Santos, com Fundamentação Existencial da Pedagogia (1946), é apresentado como um exemplo dessa primeira fase. Posteriormente, o existencialismo cristão francês, especialmente através de Gabriel Marcel, ganhou destaque. Marcel, que visitou Portugal e proferiu palestras, influenciou o trabalho de Salette Tavares, considerada uma exegeta do seu pensamento. Vieira de Almeida traduziu a obra de Marcel, Os Homens contra o Homem. A obra de Carlos Branco, Metafísica e Mundo Contemporâneo, também é mencionada como influenciada por essa corrente. As duas vertentes, germânica e francesa, moldaram a recepção e o desenvolvimento do existencialismo no contexto português.

3. O Existencialismo no Congresso Internacional de Filosofia de Roma 1946 e sua Recepção em Portugal

A problemática existencialista foi debatida intensamente no Congresso Internacional de Filosofia de Roma em 1946. Pio XII, em sua alocução, destacou a importância do debate, mas também expressou preocupação com os horizontes fechados do existencialismo niilista. Em Portugal, a Revista Portuguesa de Filosofia publicou estudos exegéticos do existencialismo, indicando a recepção e o debate em torno dessas ideias no país. A condenação das doutrinas de Sartre (1948) e a encíclica Humani Generis (1950) de Pio XII, contra o existencialismo ateu, aumentaram o interesse, ainda que crítico, pelo existencialismo. O texto sugere que a recepção do existencialismo em Portugal foi um processo gradual, influenciado por diferentes fontes e marcado pelo debate entre diferentes vertentes filosóficas.

4. Conciliação entre Tomismo e Existencialismo Cristão

O texto aponta para uma tentativa de conciliação entre o tomismo e o existencialismo cristão, particularmente na Revista Filosofia do Centro de Estudos Escolásticos, co-dirigida por Maria Manuela Saraiva (com formação existencialista) e António Alberto de Andrade. A influência de autores como Nicolau Hartmann, J. Maréchal e Husserl, seguindo a linha de Gilson e Sertillanges, é destacada. Celestino Pires, com sua obra Inteligência e Pecado em S. Tomás de Aquino (1961), é citado como exemplo de uma aproximação entre o pensamento tomista e o método hermenêutico-exegético de Heidegger. Essa conciliação reflete uma tentativa de integrar as novas metodologias filosóficas – fenomenologia e existencialismo – ao pensamento tomista, sem descartar a tradição.

V.A Filosofia Portuguesa Uma identidade em construção

A busca por uma 'Filosofia Portuguesa', iniciada por Álvaro Ribeiro e seus discípulos, envolveu a construção de uma identidade filosófica nacional, distante do positivismo e da influência puramente estrangeira. O movimento buscava uma síntese entre a herança escolástica (Aristotelismo, Agostinianismo, Tomismo) e as correntes filosóficas contemporâneas. Publicações como o jornal 57 e o trabalho de figuras como António Quadros, Orlando Vitorino, e Afonso Botelho, marcaram esta busca por uma antropologia filosófica própria, integrando a experiência existencial e a tradição religiosa portuguesa.

1. O Problema da Filosofia Portuguesa Uma Questão de Identidade

O texto apresenta a busca por uma 'Filosofia Portuguesa' como um projeto central. Álvaro Ribeiro, um discípulo de Leonardo Coimbra, destaca em seu opúsculo O Problema da Filosofia Portuguesa (1943) a necessidade de construir uma filosofia genuinamente portuguesa, em vez de simplesmente importar e adaptar filosofias estrangeiras. Para Ribeiro, o abandono da escolástica marcou uma queda na filosofia portuguesa. A tarefa, segundo ele, não é encontrar uma 'filosofia em Portugal', mas sim uma 'filosofia portuguesa', que deve se basear na herança cultural e nas aptidões coletivas do povo português, envolvendo uma nova leitura da língua, da literatura, e da própria história filosófica nacional. O objetivo é criar um sistema filosófico que reflita a identidade portuguesa.

2. A Filosofia Portuguesa e sua Relação com a Tradição Escolástica e a Cultura Nacional

A 'Filosofia Portuguesa' proposta por Álvaro Ribeiro e seus seguidores não rejeita a tradição escolástica, mas a vê como um período de formação. A visão criacionista de Álvaro Ribeiro enfatiza o papel do homem não apenas como herdeiro, mas também como construtor da filosofia. Ele defende a incorporação de elementos da tradição escolástica, como o aristotelismo, mas com uma interpretação renovada, adaptando-a à sensibilidade moderna. O movimento buscava uma síntese entre elementos da tradição (Aristóteles, a Bíblia) e influências contemporâneas, sempre buscando uma ligação profunda com a cultura e a história de Portugal. A ideia central era a construção de uma filosofia que não fosse apenas uma cópia de modelos estrangeiros, mas que se enraizasse na identidade nacional.

3. O Movimento 57 e a Busca por uma Presença Consistente na Cena Intelectual

O jornal 57, surgido em 1957 por ocasião do centenário do nascimento de Sampaio Bruno, é apresentado como um movimento de intervenção social e cultural que buscava dar forma à problemática da 'Filosofia Portuguesa'. O movimento reivindica uma genealogia espiritual que vai de Aristóteles à Bíblia, passando pelos Conimbricenses, Hegel e Leonardo Coimbra. O 57 congregava jovens pensadores, cada qual com sua contribuição original para a construção dessa filosofia, visando uma presença intelectual consistente na sociedade portuguesa. A lista de intelectuais associados ao movimento – Francisco da Cunha Leão, António Quadros, Orlando Vitorino, Afonso Botelho, António Braz Teixeira, Fernando Sylvan, António Telmo e Luís Zuzarte – ilustra a diversidade de abordagens dentro do projeto comum. O colóquio de 1962 sobre “O que é o Ideal Português?”, sob a égide de Álvaro Ribeiro, marcou o fim do 57 como movimento coletivo, mas seu legado continuou a influenciar a cena intelectual portuguesa.

VI.A Filosofia e a Arte Poética no Contexto Católico

A interação entre filosofia e estética é explorada, com foco em autores como Francisco Costa e João Mendes, que analisavam a relação entre fé e literatura, e António Quadros, que utilizava uma perspectiva existencial e hermenêutica na sua crítica literária. Apesar do declínio de uma produção poética explicitamente cristã na segunda metade do século XX, figuras como António Salvado mantiveram a tradição de uma poesia profundamente conectada com a experiência religiosa e filosófica. O documento destaca a influência de autores como Ruy Cinatti e José Régio, mostrando a complexa intersecção entre a filosofia católica, a literatura, e a religião em Portugal.

1. A Reflexão Católica sobre Estética Literária Francisco Costa e João Mendes

O texto observa que a reflexão católica sobre estética literária, na segunda metade do século XX, parece ter-se concentrado na obra de Francisco Costa e João Mendes. Francisco Costa desenvolveu uma doutrina sobre a relação entre a fé e a literatura, especialmente o romance, defendendo um 'realismo integral' necessariamente cristão. João Mendes, por sua vez, realizou uma análise abrangente da literatura portuguesa, enriquecendo-a com uma fundamentação filosófica e teológica. A contribuição de ambos é reconhecida, mas o texto sugere que a influência desses autores pode ter sido limitada, representando um certo estagnamento na reflexão sobre estética literária no período.

2. A Contribuição de António Quadros para a Exegese Literária

António Quadros é apresentado como uma figura importante na exegese literária de perspectiva filosófica, embora não se identificasse explicitamente como um escritor católico. Sua vasta bibliografia aborda a literatura portuguesa, utilizando uma lente filosófica existencial e hermenêutica, analisando tanto a prosa quanto a poesia. O texto destaca a forte influência católica em seu pensamento, especialmente após o ensaio O Movimento do Homem (1964). Obras como Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista, A Ideia de Portugal na Literatura Portuguesa dos Últimos Cem Anos, e Estruturas Simbólicas do Imaginário na Literatura Portuguesa exemplificam sua abordagem única e sua ligação profunda entre a filosofia e a literatura, demonstrando uma visão profundamente católica, ainda que não explicitamente declarada como tal em sua crítica.

3. A Tradição da Poesia Ligada à Vivência Filosófica e Religiosa e sua Evolução

O texto observa a existência de uma tradição na poesia portuguesa que se mostra intimamente ligada à vivência filosófica e religiosa. São mencionadas relações entre alguns filósofos e poetas: Junqueiro e Bruno, Pascoaes e Leonardo Coimbra, José Régio e Álvaro Ribeiro. No entanto, o autor nota um possível declínio dessa tradição na segunda metade do século XX. Apesar disso, aponta a continuidade dessa ligação em poetas como Sophia de Mello Breyner Andresen, Ruy Belo, Ruy Cinatti, entre outros. O texto salienta a falta de um poeta cristão que pudesse modelar a criatividade de uma experiência religiosa na mesma magnitude de José Régio ou Pascoaes. António Salvado é mencionado como um importante poeta dessa vertente, embora a sua relação com a filosofia e a religião seja considerada ambígua pelo autor.