Assessoria Pedagógica: Estudo de Caso

O documento inicia destacando a mudança de um modelo tradicional de ensino, onde professores trabalhavam individualmente em suas salas de aula com pouca reflexão conjunta, para um modelo que utiliza a pedagogia diferenciada e a assessoria pedagógica. A pedagogia diferenciada é apresentada como uma abordagem que visa melhorar a aprendizagem dos alunos, considerando-os atores principais do seu desenvolvimento intelectual. Essa abordagem, porém, demanda um trabalho colaborativo e articulado entre o professor titular e o professor assessor, exigindo um processo de formação-ação reflexivo e contínuo. A pesquisa busca investigar os modos de colaboração entre professores, bem como as fragilidades que podem impedir a melhoria dos resultados acadêmicos. A metodologia utilizada é plural, combinando estudo de caso, análise documental, questionários, observação e entrevistas coletivas, o que permite uma análise abrangente e multifacetada do tema. A importância da reflexão para a ação é sublinhada como elemento chave na eficácia da assessoria pedagógica e na formação docente contínua. O sucesso do modelo depende fortemente da colaboração e da capacidade de adaptação às necessidades individuais dos alunos.

O estudo se concentra no contexto dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP), cujo objetivo é promover o sucesso escolar dos alunos e gerar uma cultura profissional mais interativa. O programa TEIP, em suas três gerações, busca auxiliar os profissionais de educação a encontrar respostas para as dificuldades de uma sociedade vulnerável e precária (Castel, 2002). Innerarity (2009) é citado, afirmando que a vulnerabilidade das sociedades as torna mais fortes, incentivando a evolução e adaptação. O programa TEIP1, baseado no princípio da discriminação positiva e na igualdade de oportunidades (Barbieri, 2013), visava descentralizar o processo educativo e considerar as barreiras ao sucesso escolar, incluindo a inclusão. As ações implementadas pelas escolas TEIP ao longo do tempo demonstram a mitigação do abandono escolar. O Agrupamento de Escolas do Sudeste de Baião (AESB), com a visão de valorizar o sucesso acadêmico e os valores de uma sociedade justa e igual, utiliza a diferenciação pedagógica como eixo de intervenção do programa TEIP (desde 2009), buscando melhorias contínuas nas aprendizagens e nos resultados acadêmicos. O programa TEIP3, por exemplo, introduz um Plano Plurianual de Melhoria a três anos (2014/2017), demonstrando o compromisso com a avaliação contínua e a melhoria das práticas educativas.

O texto aborda a necessidade de construir e diversificar tarefas educativas, envolvendo os alunos ativamente no processo de aprendizagem para alcançar o sucesso educacional. A escola e a educação devem fornecer as bases culturais para que os produtos educativos atendam a exigências de qualidade (Delores et al., 1997). Métodos didáticos flexíveis e inovadores são cruciais para cativar alunos com dificuldades de aprendizagem. A criação de oportunidades e itinerários educativos opcionais (Perrenoud, 2000) contribui para um ambiente propício à aprendizagem. A renovação das práticas exige reflexão sobre o papel dos profissionais e alunos na escola (Hutmacher, 1995). A eficiência escolar envolve adaptação à mudança, correção de erros e progressos contínuos (Bolívar, 2012). O documento critica a tendência das escolas em priorizar a aprendizagem dos alunos em detrimento da aprendizagem dos professores, enfatizando que o objetivo final é converter a escola em uma instituição capaz de resolver seus próprios problemas (Bolívar, 2012). A motivação para desenvolver o potencial individual é fundamental para o êxito educacional, contrastando com pedagogias que nivelam por baixo (Alberioni, 2012). A aprendizagem significativa requer a renovação das didáticas e estratégias de ensino, com foco nas necessidades individuais dos alunos. A escola precisa integrar dimensões de comunicação e desenvolvimento humano integral, requerendo reflexão, interação e continuidade em redes profissionais (Segóvia, 2001). Um currículo centrado no aluno (Roldão, 1999) e valores de cidadania são essenciais para gerar motivação e sucesso escolar, necessitando de partilha entre escola, família e comunidade. O sucesso escolar não é apenas um resultado acadêmico, mas a realização das finalidades sociais da escola (Machado e Alves, 2015).

A investigação sobre a Assessoria Pedagógica nas escolas TEIP utilizou uma metodologia de natureza eclética, conforme Creswell (2012), combinando diversas técnicas de recolha e análise de dados. O estudo de caso foi a estratégia principal, permitindo um aprofundamento da realidade específica do contexto analisado. A escolha desta metodologia permite a análise profunda de um caso particular, fornecendo informações ricas e detalhadas sobre a implementação e os impactos da Assessoria Pedagógica. A natureza eclética da metodologia assegura uma visão multifacetada do fenómeno, evitando conclusões limitadas por uma única perspectiva. A diversidade metodológica fortalece a validade e a confiabilidade dos resultados, permitindo triangular dados e informações de diferentes fontes e ângulos.

A recolha de dados envolveu múltiplas técnicas para garantir uma análise completa e abrangente da Assessoria Pedagógica. A análise documental incluiu a revisão de relatórios de autoavaliação, documentos arquivados e publicações relevantes, fornecendo informações sobre o funcionamento da assessoria ao longo do tempo, permitindo identificar pontos fortes, fracos e as sugestões para melhoria. A aplicação de questionários a 12 docentes permitiu obter uma perspectiva mais ampla sobre as práticas de assessoria, suas percepções e os desafios encontrados na implementação. A observação participante da investigadora, enquanto coautora do objeto em estudo, proporcionou uma compreensão profunda das dinâmicas em sala de aula e das interações entre os professores e os alunos. Por fim, a entrevista coletiva com 6 professores permitiu a obtenção de informações mais ricas e a discussão aprofundada de temas relevantes. A combinação destas técnicas permitiu triangular os dados, aumentando a validade e a credibilidade dos resultados, e fornecendo diferentes perspectivas sobre a eficácia da Assessoria Pedagógica na melhoria das aprendizagens.

A análise dos dados incluiu a interpretação de informações obtidas através das diferentes técnicas de recolha de dados. A análise documental, particularmente útil e fidedigna por não ser condicionada por opiniões subjetivas (Afonso, 2014), foi complementada pela análise de relatórios de assessoria pedagógica em Português e Matemática, entre 2009 e 2014, permitindo identificar o número de alunos beneficiados e as dificuldades encontradas. A observação participante, conforme Meirinhos e Osório (2010), assumiu um papel construtivo e ativo na investigação, embora com variações dependendo das técnicas utilizadas. Os dados foram tratados de forma a respeitar os princípios éticos da investigação científica (Creswell, 2012), garantindo a confidencialidade e o anonimato dos participantes. A complexidade do processo de recolha e registo de dados, particularmente através da observação participante e das notas de campo, exigiu atenção especial a cuidados metodológicos, garantindo a concreticidade e a precisão das informações registadas (Afonso, 2005). A análise integrada das diferentes fontes de informação permitiu construir um entendimento holístico e aprofundado da Assessoria Pedagógica e dos seus impactos na melhoria das aprendizagens.

A análise dos dados, compreendendo o período de 2009 a 2014, revela uma evolução significativa na implementação e na compreensão da Assessoria Pedagógica (AP) nas escolas em estudo. Observa-se uma trajetória de aprimoramento das práticas, partindo de um cenário inicial (2009/10) com resultados pouco expressivos em termos de melhoria da aprendizagem, principalmente em Matemática. Inicialmente, a AP sofria de pouca reflexão sobre as dinâmicas empregadas, reduzida articulação entre professores, planificação deficiente das atividades e insuficiente envolvimento do professor assessor. Entretanto, a partir do ano letivo de 2011/12, nota-se uma melhor compreensão e reflexão sobre a medida, tanto por parte dos docentes quanto dos discentes. A implementação de sessões semanais de trabalho conjunto para professores de Português e Matemática, a partir de 2013/2014, reforçou a articulação e a avaliação das AP. Um inquérito realizado em 2013/2014 a professores assessores (n=6), alunos (n=49) e encarregados de educação (n=49) contribuiu para o ajuste das modalidades de AP e a melhoria da escola, destacando pontos fortes a serem desenvolvidos para o sucesso dos alunos. A adaptação da aula ao ritmo de cada aluno demonstrou impactos positivos na concentração e no comportamento estudantil.

As perceções dos professores sobre a Assessoria Pedagógica foram obtidas através de entrevistas e questionários, revelando um consenso sobre a sua mais-valia para um ensino mais diferenciado, com a formação de grupos homogéneos e maior articulação entre professor titular e assessor. A melhoria das aprendizagens e dos resultados escolares dos alunos é o objetivo central, mas os professores reconhecem a importância do estudo e treino dos alunos após as aulas como fator crucial para o sucesso da AP. Apesar do reconhecimento da sua importância, existem desafios como o número elevado de alunos necessitando de assessoria e a dificuldade de manter o progresso dos alunos quando estes retornam às suas turmas de origem. A rotatividade de alunos na Assessoria, embora necessária, pode causar regressão no aprendizado. A diferença de ritmo de trabalho entre o professor titular e o assessor também é apontada como um obstáculo, principalmente nos momentos de avaliação. A avaliação formativa contínua é considerada essencial, pois a evolução dos alunos não é visível a curto prazo. Há uma ênfase na necessidade de continuidade no processo de aprendizagem, envolvendo os alunos em seu desenvolvimento e utilizando métodos flexíveis e sustentáveis.

A análise dos resultados demonstra uma evolução positiva da Assessoria Pedagógica no período analisado (2009-2014), contribuindo para a melhoria da escola e das aprendizagens. A ação formativa realizada em 2011/12 pelo Serviço de Apoio à Melhoria das Escolas (SAME) da Universidade Católica Portuguesa fundamentou teoricamente a Diferenciação Pedagógica na forma de Assessoria Pedagógica, problematizando funções e papéis dos professores. A reflexão para a ação e o questionamento da eficácia da medida foram cruciais para a evolução das práticas. Apesar de progressos significativos, principalmente a partir de 2011/12, a pesquisa aponta para a necessidade de aprimorar a reflexão sobre as dinâmicas utilizadas, a articulação entre professores, a planificação das atividades e o envolvimento do professor assessor. Resultados mais expressivos foram observados em Português do que em Matemática. A melhoria da escola se reflete em diálogos, cultura e resultados, com a necessidade de generalizar as inovações bem-sucedidas. A abertura ao meio, partilha e celebração das conquistas são fatores importantes para a transformação. A democratização do ensino, essencial no combate às desigualdades sociais, continua a ser a esperança de acesso a uma vida melhor (Vieira, 2013).