Biodegradação dos compostos benzeno, tolueno e xileno em microcosmos

Biodegradação BTEX em Microcosmos

Informações do documento

Autor

Renata Braz

Escola

Universidade Federal de Santa Catarina

Curso Química - Bacharelado
Tipo de documento Relatório de Estágio Supervisionado II
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.02 MB

Resumo

I. Remediação de Aquíferos Contaminados com Derivados de Petróleo Biodegradação Anaeróbica Utilizando Sulfato como Receptor de Elétrons

Este estudo investiga a eficácia da biodegradação anaeróbica na remediação de aquíferos contaminados por benzeno, tolueno e xilenos (BTX), componentes presentes na gasolina. A pesquisa foca na utilização de sulfato como receptor de elétrons em um processo de sulfatorredução, buscando avaliar sua eficiência na degradação dos contaminantes. Para isso, foram utilizados microcosmos simulando as condições de um aquífero, com solo e água coletados na Fazenda Ressacada. Os resultados serão analisados em relação a concentração de BTX, sulfeto, e outros metabólitos, como acetato e metano.

1. Introdução Contaminação de Aquíferos por Derivados de Petróleo e a Biodegradação

A introdução contextualiza o problema da contaminação de aquíferos por derivados de petróleo, focando principalmente nos compostos benzeno, tolueno e xilenos (BTX), presentes na gasolina. A gravidade do problema é destacada pela importância dos aquíferos como reservatórios de água doce, essenciais para o abastecimento da população. A contaminação por BTX torna a água imprópria para consumo humano devido à alta toxicidade desses compostos. A biodegradação, processo de consumo dos contaminantes por bactérias, é apresentada como uma das principais estratégias de tratamento para a remediação dessas águas contaminadas. A escassez de água potável no planeta e a crescente contaminação de aquíferos reforçam a urgência de encontrar métodos eficazes e sustentáveis de tratamento de águas contaminadas. O texto também destaca que 30% da água doce do planeta está confinada em aquíferos, mostrando a importância da sua proteção e remediação em casos de contaminação. A solubilidade de benzeno, tolueno e o-xileno em água é apresentada, mostrando seus altos níveis de solubilidade em água, indicando maior facilidade de contaminação e movimentação pela água subterrânea.

2. Revisão Bibliográfica Métodos de Remediação e Biodegradação Anaeróbica

Esta seção aborda diferentes métodos de remediação de águas subterrâneas contaminadas por petróleo e seus derivados, com ênfase nos compostos BTX. A biodegradação anaeróbica é apresentada como uma alternativa viável, destacando a utilização de receptores de elétrons como estratégia para estimular o processo. São mencionados exemplos de receptores de elétrons como nitrato, ferro (III), sulfato e dióxido de carbono, com a sulfatorredução sendo o foco principal do estudo. As condições para a ocorrência da biodegradação, incluindo a influência de parâmetros como pH, temperatura, e potencial redox são discutidas, ressaltando a importância do ambiente anóxico para a biodegradação anaeróbica. São mencionadas diferentes técnicas de remediação in situ, como bioventilação, aspersão de ar e bioestimulação com receptores de elétrons. A escolha da técnica ideal depende da demanda de contaminante e das características do local afetado. Em situações de escassez de nutrientes e receptores de elétrons, são necessárias tecnologias ativas de remediação para acelerar o processo de descontaminação. A bioestimulação anaeróbica é apontada como uma tecnologia economicamente viável, pois utiliza receptores de elétrons mais estáveis quimicamente que o oxigênio.

3. Materiais e Métodos Descrição dos Microcosmos e Técnicas Analíticas

A metodologia descreve em detalhes o uso de microcosmos para simular um aquífero contaminado. Solo e água da Fazenda Ressacada foram utilizados na montagem dos microcosmos, aos quais foram adicionados benzeno, tolueno, o-xileno e sulfato de sódio. A criação de condições anóxicas foi obtida através da purga com nitrogênio gasoso antes do lacre dos frascos. O monitoramento ocorreu a cada 15 dias, sacrificando um microcosmo para análise. A análise dos compostos BTX foi realizada por cromatografia gasosa com detector de ionização de chama. Outras análises foram realizadas para quantificar outros íons e metabólitos, utilizando técnicas como espectrofotometria para a determinação de ferro II e sulfeto, e cromatografia líquida para a determinação de ânions como acetato, brometo, cloreto, nitrato, nitrito, fosfato e sulfato. A preparação das amostras de solo para análise de Fe(II) envolveu a extração com ácido clorídrico. A quantificação de bactérias totais, arqueas e sulfatorredutoras foi feita através da técnica de PCR quantitativo. Detalhes sobre os equipamentos e reagentes utilizados em cada etapa são fornecidos, incluindo informações sobre padrões e métodos de calibração. A concentração de sulfato de sódio utilizada foi de 10 mg L⁻¹.

II. Metodologia Experimentos em Microcosmos

O trabalho empregou uma abordagem experimental utilizando microcosmos, que simulam em escala reduzida as condições de um aquífero. Foram adicionados BTX e sulfato de sódio a uma concentração pré-determinada (10 mg L⁻¹ de sulfato), em um ambiente anóxico, conseguido através da purga com nitrogênio. O monitoramento da biodegradação ocorreu em intervalos de 15 dias, com análise dos compostos BTX por cromatografia a gás, e outros parâmetros (sulfato, sulfeto, acetato, metano, etc.) por diferentes técnicas analíticas, incluindo cromatografia iônica e espectrofotometria. O experimento foi realizado no laboratório com controle rigoroso de temperatura (23-27 ºC) e luz.

1. Montagem dos Microcosmos Simulação de Aquífero Contaminado

A metodologia centralizou-se na construção de microcosmos para simular um aquífero contaminado. Amostras de solo (20g) e água (98mL) foram coletadas na Fazenda Ressacada e utilizadas na montagem dos microcosmos. Cada microcosmo recebeu uma concentração de 60 mg L⁻¹ de benzeno, tolueno e o-xileno (BTX), além de 10 mg L⁻¹ de sulfato de sódio, atuando como receptor de elétrons na biodegradação anaeróbica. Antes da adição dos contaminantes, os microcosmos foram purgados com nitrogênio gasoso para criar um ambiente anóxico, essencial para o desenvolvimento das bactérias sulfatorredutoras. Após a purga e a adição dos compostos, os frascos de penicilina (100mL) foram lacrados e mantidos sob controle de temperatura e luz. Um total de 20 microcosmos foram preparados, sendo que um era sacrificado a cada 15 dias para análise dos compostos BTX através de cromatografia a gás com detector de ionização de chama. O controle rigoroso de temperatura entre 23-27°C e a manutenção no escuro visavam minimizar interferências externas no processo de biodegradação. A escolha da Fazenda Ressacada como fonte de solo e água demonstra a utilização de uma amostra representativa para simulação de condições reais de aquíferos.

2. Análises Químicas e Microbiológicas Técnicas Empregadas

Além da análise dos compostos BTX, o estudo incluiu a quantificação de diversos outros parâmetros para uma avaliação completa do processo de biodegradação. A espectrofotometria foi utilizada para análise de ferro II e sulfeto. A cromatografia líquida permitiu a determinação de ânions como acetato, brometo, cloreto, nitrato, nitrito, fosfato e sulfato. A cromatografia a gás, além dos BTX, também foi utilizada para quantificar o metano, um produto metabólico importante do processo. A escolha das técnicas analíticas demonstra a abrangência do estudo, visando analisar não apenas os contaminantes, mas também o consumo de sulfato e a produção de metabólitos, fornecendo subsídios para a compreensão do processo de biodegradação. Para a quantificação dos BTX e metano, foi utilizada cromatografia gasosa, com as amostras sendo submetidas à extração por adsorção em fase sólida (SPME) com fibras revestidas com PDMS. A análise foi realizada em triplicata, minimizando erros e aumentando a confiabilidade dos resultados. Detalhes sobre os equipamentos, incluindo modelos específicos de cromatógrafos e detectores, são descritos, indicando a precisão das técnicas empregadas. A preparação das amostras, incluindo o tratamento do solo, também é minuciosamente detalhada, garantindo a reprodutibilidade dos resultados.

3. Análise Microbiológica Quantificação de Bactérias

Para complementar a análise química, o estudo também incluiu a quantificação de diferentes grupos bacterianos. A metodologia incluiu a quantificação de bactérias totais, arqueas e bactérias sulfatorredutoras. Para isso, foi utilizada a técnica de PCR quantitativa, que permitiu amplificar pequenas quantidades de DNA e quantificar a população de cada grupo bacteriano. O método envolveu a extração de DNA do solo utilizando um kit específico (MOBIO Power soil™ Kit), seguida da filtração à vácuo com membranas Milipore de 0,22µm. A extração de DNA envolveu diversas etapas de adição de soluções químicas e centrifugações, garantindo a pureza do DNA para a posterior análise por PCR. A utilização de iniciadores e sondas específicas para cada grupo bacteriano permitiu a detecção e quantificação seletiva de cada população, fornecendo informações cruciais sobre a composição e atividade da comunidade microbiana envolvida na biodegradação. A análise foi realizada em um equipamento HT 7900 PCR Applied Biosystems, disponível no LAMEB (Laboratório Multiusuário de estudos em Biologia - MIP/UFSC). Essa parte do estudo fornece informações essenciais para correlacionar a atividade microbiana com a eficiência da biodegradação.

III. Resultados e Discussões Eficácia da Sulfatorredução

A análise dos resultados focou na avaliação da eficiência da sulfatorredução na degradação dos compostos BTX. Apesar da observação de produção de sulfeto e acetato, não houve um decaimento significativo na concentração dos BTX ao longo dos 200 dias do experimento. A formação de metano sugere a ocorrência de metanogênese, possivelmente devido a presença de matéria orgânica no solo, que competiu com os BTX como fonte de energia para as bactérias. A baixa concentração de sulfato adicionado (10 mg L⁻¹) e a possível presença residual de oxigênio após a purga com nitrogênio podem ter influenciado na ineficiência da biodegradação via sulfatorredução. A estequiometria da reação de biodegradação do benzeno foi utilizada para comparar os resultados obtidos.

1. Concentração de BTX Ausência de Degradação Significativa

As análises realizadas ao longo de 200 dias não mostraram um decaimento significativo na concentração dos compostos BTX (benzeno, tolueno e o-xileno). A variação observada nos valores pode ser atribuída a erros experimentais, considerando que se trata de compostos voláteis e que as análises foram realizadas em apenas uma replicata. A possível perda durante a adição dos compostos, bolhas de ar na microseringa, ou imprecisões na calibração da mesma são apontadas como potenciais fontes de erro. A dificuldade em extrair alíquotas pequenas, repetidas vezes para completar o volume necessário para a análise também pode ter contribuído para a variabilidade dos resultados. Para avaliar a possível degradação, seria necessário realizar cálculos de taxa de biodegradação utilizando a equação de cinética de biodegradação. A ausência de um decaimento consistente na concentração dos BTX indica que o processo de sulfatorredução, sob as condições testadas, não foi eficaz na remoção desses contaminantes.

2. Análise dos Metabólitos Evidências de Metanogênese e Acetato

Apesar da falta de degradação significativa dos BTX, a presença de metabólitos como acetato e metano, e o crescimento bacteriano, sugerem a ocorrência de biodegradação de outros compostos presentes no meio. A alta concentração de acetato (aproximadamente 17 mg L⁻¹) observada pode estar relacionada à matéria orgânica presente naturalmente no solo, que foi preferencialmente utilizada pelas bactérias como fonte de energia. Após o consumo do oxigênio residual (hipótese levantada devido à metodologia de purga com nitrogênio), a metanogênese se tornou mais pronunciada, comprovada pelo aumento da concentração de metano e das bactérias arqueas. Essa observação sugere que, mesmo com a intenção de criar condições anóxicas, vestígios de oxigênio podem ter permanecido, favorecendo inicialmente a degradação aeróbica de compostos orgânicos com produção de acetato e, posteriormente, a metanogênese. A maior concentração de sulfeto encontrada foi de 0,041 mg L⁻¹, em 31 e 141 dias, e não corresponde à quantidade teórica esperada pela estequiometria da reação de sulfatorredução do benzeno.

3. Eficiência da Sulfatorredução Resultados Inconclusivos

Os resultados não demonstram a predominância da sulfatorredução como rota de biodegradação para os BTX nas condições experimentais. O consumo de sulfato foi inferior à quantidade teórica necessária para degradar os BTX presentes, estimada a partir do balanço estequiométrico para a degradação do benzeno (composto mais solúvel). A quantidade de sulfeto formada também não correspondeu ao esperado pela estequiometria, indicando baixa eficiência desta rota metabólica sob as condições do experimento. A concentração de sulfato utilizada (10 mg L⁻¹) foi menor do que a encontrada em solos norte-americanos (aproximadamente 100 mg L⁻¹), mas a redução se justificou para evitar a possível inibição bacteriana por alta salinidade. A ausência de adição de nutrientes ao solo e à água também pode ter influenciado na eficiência do processo. A conclusão é que a sulfatorredução, nas condições simuladas, não se mostrou uma rota eficiente para a biodegradação dos BTX.

IV. Conclusão Limitações e Perspectivas da Bioestimulação Anaeróbica com Sulfato

O uso de microcosmos permitiu um controle preciso das variáveis, simulando as condições de um aquífero contaminado. Entretanto, os resultados indicam que a bioestimulação anaeróbica com sulfato, na concentração utilizada, não se mostrou eficaz na biodegradação dos compostos BTX no solo e água testados. A presença de matéria orgânica no solo e possível falha na purga com nitrogênio foram fatores limitantes. Futuras pesquisas devem considerar a otimização da concentração de sulfato, a adição de nutrientes e a garantia de condições totalmente anóxicas para melhorar a eficiência da remediação. A Fazenda Ressacada serviu como local de coleta do solo e água utilizados na simulação de aquífero.

1. Eficácia da Bioestimulação Anaeróbica com Sulfato Resultados e Limitações

A conclusão principal do estudo é que a bioestimulação anaeróbica com sulfato, utilizando a metodologia de microcosmos e a concentração de 10 mg L⁻¹ de sulfato de sódio, não demonstrou eficácia significativa na biodegradação dos compostos BTX. Apesar da detecção de metabólitos como sulfeto e acetato, a concentração dos BTX permaneceu praticamente inalterada durante os 200 dias do experimento. A análise estequiométrica da reação de degradação do benzeno indicou que a quantidade de sulfato consumida foi inferior ao esperado para a degradação completa dos BTX, reforçando a baixa eficiência da sulfatorredução nesse contexto. A formação de metano e o aumento da concentração de acetato sugerem que outras rotas metabólicas, possivelmente a metanogênese, foram favorecidas, provavelmente devido à presença de matéria orgânica no solo utilizado, que serviu como fonte de energia para as bactérias. A hipótese de que vestígios de oxigênio, apesar da purga com nitrogênio, podem ter influenciado na predominância dessas outras vias é considerada.

2. Importância do Uso de Microcosmos e Considerações sobre o Solo Utilizado

O uso de microcosmos se mostrou vantajoso para o estudo, permitindo o controle de parâmetros como temperatura e pH, facilitando a simulação de um aquífero contaminado em escala de laboratório. Essa metodologia minimiza a necessidade de estudos em larga escala, que podem ser dispendiosos e apresentar riscos de contaminação ambiental. No entanto, a utilização de solo e água sem modificação da composição original, com o intuito de simular as condições de um aquífero real, pode ter sido um fator limitante. A presença de matéria orgânica no solo in natura pode ter direcionado as bactérias a utilizar esta fonte de carbono e energia, em detrimento dos BTX adicionados. Esta observação ressalta a importância de levar em consideração as características intrínsecas do solo em estudos de biorremediação. A coleta do solo e água na Fazenda Ressacada, sem alterações em sua composição, visava simular as condições reais de um aquífero.

3. Perspectivas Futuras e Recomendações para Melhoria da Eficácia

Apesar dos resultados, o estudo ressalta a necessidade de futuras pesquisas para otimizar a bioestimulação anaeróbica com sulfato para a remediação de aquíferos contaminados com BTX. Recomenda-se investigar a influência da concentração de sulfato, testando valores superiores aos utilizados neste trabalho, e também a adição de nutrientes para garantir condições adequadas para o crescimento e atividade das bactérias sulfatorredutoras. A otimização do processo de purga com nitrogênio para garantir condições totalmente anóxicas é crucial para que a sulfatorredução seja a rota metabólica predominante. A inclusão de análises mais abrangentes sobre a comunidade microbiana presente no solo também poderia fornecer informações valiosas para compreender melhor a interação entre as bactérias e os contaminantes. Em resumo, o estudo destaca o potencial da bioestimulação anaeróbica com sulfato, mas enfatiza a necessidade de ajustes metodológicos para maximizar a sua eficácia na remediação de aquíferos contaminados.