
Bromatologia de Aveia, Azevém e Nabo
Informações do documento
Autor | Alessandro Ulrich |
instructor | Bernardo Berenchtein |
Escola | Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim |
Curso | Agronomia |
Local | Erechim |
Tipo de documento | Trabalho de Conclusão de Curso |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 585.09 KB |
Resumo
I.Materiais e Métodos
Este estudo avaliou a composição bromatológica, a produção de gases e a degradabilidade in vitro de três espécies forrageiras: aveia (Avena sativa), azevém (Lolium multiflorum) e nabo forrageiro (Raphanus sativus). Amostras de folhas e caules foram coletadas em agosto de 2017 e analisadas nos laboratórios de Bromatologia e Nutrição Animal da UFFS (Erechim-RS) e LANA/CENA/USP (Piracicaba-SP). A metodologia incluiu a quantificação da matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina (LIG). A análise da produção de gases e degradabilidade utilizou inóculo ruminal de ovinos. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com oito repetições por amostra.
1. Coleta e Preparação das Amostras
As amostras de aveia, azevém e nabo forrageiro foram coletadas em agosto de 2017. Em cada amostra, as partes da planta foram separadas em folha e caule. Após a separação, cada componente (folha e caule) foi pesado individualmente para determinar o peso de cada espécie. Esse processo de separação e pesagem seguiu uma metodologia rigorosa para garantir a precisão das análises subsequentes. A obtenção de amostras representativas é crucial para a confiabilidade dos resultados de composição bromatológica, produção de gases e degradabilidade. A separação em folha e caule permite avaliar as diferenças na composição nutricional entre as diferentes partes da planta. A etapa de pesagem precisa garante a correta quantificação das amostras nas análises posteriores, evitando erros de interpretação dos resultados. A escolha do mês de agosto para a coleta reflete um período específico do ciclo de crescimento das forrageiras, influenciando na composição nutricional e nos resultados da pesquisa.
2. Análises Bromatológicas
As análises bromatológicas foram realizadas no laboratório de Bromatologia e Nutrição Animal da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Erechim-RS. Utilizando os métodos descritos pela Association of Official Analytical Chemistry - AOAC (1990), foram quantificados diversos parâmetros importantes: matéria seca (MS), utilizando um processo de secagem em estufa a 100°C por 24 horas após pré-secagem a 65°C; matéria orgânica (MO); extrato etéreo (EE), por extração com éter etílico; proteína bruta (PB), por meio de digestão, destilação e titulação; além de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina (LIG), seguindo os métodos de Van Soest et al. (1991). A escolha do laboratório e os métodos utilizados garantem a padronização e confiabilidade das análises, permitindo comparações consistentes entre as espécies forrageiras. A determinação precisa desses componentes bromatológicos é fundamental para a avaliação do valor nutricional das forrageiras para animais ruminantes, fornecendo informações detalhadas sobre seu teor de nutrientes e frações fibrosas.
3. Análise de Produção de Gases e Degradabilidade In Vitro
As análises de produção de gases (PG) e degradabilidade verdadeira da matéria orgânica foram realizadas no laboratório de Nutrição Animal do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (LANA/CENA/USP), em Piracicaba-SP. O método utilizado foi um ensaio in vitro, onde as amostras foram incubadas em garrafas de vidro (160 mL) na presença de solução tampão e inóculo ruminal de ovinos. Este procedimento simular o ambiente ruminal, permitindo avaliar a degradação da matéria orgânica pelos microrganismos presentes no rúmen. O inóculo foi obtido de ovinos da raça Santa Inês criados no biotério do LANA/CENA/USP, com cânula ruminal permanente e alimentação a pasto com suplementação de concentrado. As metodologias seguidas foram as descritas por Maurício et al. (1998) e Bueno et al. (2005). O uso de um inóculo ruminal garante a representatividade da microbiota ruminal na degradação das forragens, fornecendo resultados mais próximos da realidade digestiva em ruminantes. O experimento utilizou um delineamento experimental inteiramente casualizado, com um esquema fatorial 2x3 (partes de planta x espécies), e oito repetições por amostra para garantir a precisão e a confiabilidade das análises.
II.Resultados Análise Bromatológica
A análise bromatológica mostrou que a aveia e o azevém apresentaram teores semelhantes de MS, MO, PB, EE, FDN, FDA e LIG, com valores maiores nas folhas do que nos caules. O nabo apresentou teores inferiores de MS e MO, especialmente nas folhas. A lignina, relacionada à menor digestibilidade, foi maior nas folhas de aveia e nabo.
1. Matéria Seca MS
A análise da matéria seca (MS) revelou diferenças significativas (p<0,05) entre as espécies estudadas, com maior teor encontrado nas folhas. A folha de aveia apresentou o maior valor de MS (90,55%), seguida pela folha de azevém (90,39%). Embora não houvesse diferença significativa (p>0,05) entre os caules, estes apresentaram valores de MS menores que as folhas correspondentes: 89,00% para o azevém e 88,98% para a aveia. Este resultado demonstra uma variação na concentração de matéria seca entre as diferentes partes da planta e entre as espécies, um fator importante na avaliação do valor nutricional para ruminantes. A metodologia para determinação da MS envolveu pesagem em cadinhos esterilizados em estufa, a 100°C por 24 horas, após pré-secagem a 65°C, conforme Silva & Queiroz (2009). A diferença de peso entre as amostras antes e após a secagem representou a umidade bruta.
2. Outros Componentes Bromatológicos
A análise de outros componentes bromatológicos mostrou que os teores de matéria orgânica (MO) e de matéria mineral (MM) foram mais elevados nas folhas em comparação com os caules, similarmente ao observado no extrato etéreo (EE). No entanto, para a matéria orgânica (MO), observaram-se diferenças significativas (p<0,05) entre as plantas. Os maiores teores de MO foram encontrados no caule do nabo e no caule do azevém, enquanto que, na aveia, a concentração de MO foi superior nas folhas. Para fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), o nabo apresentou valores inferiores nas folhas (53,25% e 28,99%, respectivamente) comparado ao caule (57,32% e 44,4%, respectivamente). Os teores de lignina foram mais elevados nas folhas do nabo e da aveia, consistentes com a literatura que associa a lignina à baixa digestibilidade (Van Soest et al., 1967). Os resultados encontrados se mostraram próximos aos reportados por Fontanelli et al. (2012) para aveia, azevém e nabo forrageiro em termos de MS, MO, FDN e FDA. Essas variações na composição nutricional entre as partes da planta e entre as espécies refletem na digestibilidade e no potencial nutricional para os animais.
III.Resultados Produção de Gases e Degradabilidade
A produção de gases e a degradabilidade foram significativamente maiores para a aveia e o azevém em comparação com o nabo, provavelmente devido aos glicosinolatos presentes neste último. O azevém apresentou o maior volume total de gases produzidos, indicando maior potencial de degradabilidade pelos microrganismos ruminais. A degradabilidade da FDN e FDA também foi maior na aveia e no azevém. Os resultados de degradabilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e degradabilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO) foram correlacionados com os teores de parede celular, fibra e proteína.
1. Produção de Gases
A análise da produção de gases, realizada in vitro, revelou diferenças significativas entre as forrageiras estudadas. O azevém, independentemente da parte da planta (folha ou caule), apresentou o maior volume total de gases (p>0,05), indicando um maior potencial de degradabilidade pelos microrganismos ruminais. Em contraponto, o nabo demonstrou ser a forrageira com o menor volume de gases produzidos durante a incubação, sugerindo menor degradação. Para o nabo, o volume foi significativamente menor, especialmente no caule (87,2 mL/gMS-1), possivelmente devido ao alto conteúdo de carboidratos não estruturais presentes nas gramíneas e à presença de glicosinolatos. Os resultados foram ajustados de acordo com o modelo de France et al. (1993), para melhor avaliar o potencial nutritivo de cada forrageira. A produção de gases é um indicador crucial da fermentação ruminal e sua relação direta com a degradabilidade dos alimentos, como apontado por Velásquez (2006), permitindo estimar o aproveitamento da forragem pelo animal. A diferença significativa na produção de gases entre as espécies estudadas destaca a importância de se considerar este parâmetro na avaliação da qualidade nutricional para ruminantes.
2. Degradabilidade da Matéria Orgânica
A degradabilidade verdadeira da matéria orgânica, também avaliada in vitro, mostrou diferenças significativas (p>0,05) entre as forrageiras. O nabo apresentou a menor degradabilidade (p<0,05), com valores significativamente mais baixos na fração folha (51,14%) em comparação com a fração caule (80,04%). Aveia e azevém apresentaram degradabilidade similar, independentemente da parte da planta analisada, conforme relatado por Santos (2006). A menor digestibilidade do nabo pode ser atribuída à presença de glicosinolatos, moléculas bioativas que tornam os nutrientes indisponíveis aos microrganismos ruminais, como apontado por Norsworthy (2003) e Romero (2014). Estes últimos autores também destacam a influência tóxica dos glicosinolatos na microbiota ruminal, interferindo na produção de gases e na fermentação ruminal. Velásquez (2006) constatou menores coeficientes de digestibilidade in vitro em gramíneas tropicais, corroborando a relação entre a composição química e a degradabilidade in vitro. A alta correlação observada entre a digestibilidade in vitro e os conteúdos de parede celular, fibra e proteína reforça a importância da composição bromatológica na avaliação da qualidade das forragens.
IV.Discussão e Conclusão
Os resultados sugerem que a aveia e o azevém são forragens de maior valor nutricional para ruminantes, apresentando alta degradabilidade e produção de gases. A menor performance do nabo é atribuída à presença de glicosinolatos, que impactam a digestibilidade. A utilização de consórcios entre as espécies forrageiras pode ser benéfica para a diversificação da alimentação de ruminantes, explorando os bons teores de proteína e energia das gramíneas. O estudo destaca a importância da análise de degradabilidade in vitro e produção de gases para a avaliação da qualidade nutricional de forragens para ruminantes.
1. Comparação entre Espécies Forrageiras
A discussão centraliza-se na comparação da degradabilidade e produção de gases entre aveia, azevém e nabo forrageiro. Aveia e azevém demonstraram superioridade em ambos os aspectos, enquanto o nabo apresentou resultados inferiores, atribuídos à presença de glicosinolatos. Essa diferença na degradabilidade é discutida em relação à composição bromatológica, especialmente os teores de fibra (FDN e FDA) e lignina, demonstrando a importância destes componentes na digestibilidade dos alimentos. A aveia se destaca pela maior degradabilidade da matéria seca, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido e proteína bruta no rúmen. A pesquisa cita trabalhos anteriores (Bueno, 2002; Fontanelli et al., 2012; Silva & Queiroz, 2002) para contextualizar os resultados e comparar os dados obtidos com valores de referência na literatura. A influência dos glicosinolatos na redução da digestibilidade do nabo é discutida com base nos trabalhos de Norsworthy (2003) e Romero (2014), que analisam a ação dessas moléculas bioativas na fermentação ruminal. A utilização de consórcios entre as plantas é sugerida como uma estratégia para diversificar a alimentação de ruminantes e aproveitar os bons teores proteicos e energéticos das forrageiras.
2. Implicações para a Nutrição de Ruminantes
A conclusão reforça a superioridade da aveia em termos de degradabilidade de nutrientes no rúmen, comparada ao azevém e, principalmente, ao nabo. A inferioridade do nabo é diretamente relacionada à presença de glicosinolatos, que prejudicam a digestão. O estudo destaca a importância da combinação de análises bromatológicas e de produção de gases in vitro para avaliar o valor nutricional de forragens para ruminantes. A alta taxa de degradação, especialmente de proteína bruta, na aveia sugere seu grande potencial na alimentação animal, reforçando a necessidade de pesquisas sobre forragens ricas em proteína e de baixo custo, como apontado por Pires (2006). O fator de partição (FP) calculado se encontra dentro da faixa recomendada por Makkar (2004), indicando a eficiência da síntese microbiana. O estudo também contrasta os resultados com pesquisas em forragens tropicais (Velásquez, 2006), mostrando a relevância de investigar diferentes espécies forrageiras em diversos contextos. A possibilidade de se utilizar consórcios entre as plantas para melhorar a dieta e a produção animal é mencionada devido aos bons índices de teores proteicos e energéticos (fibra) das plantas estudadas. A pesquisa considera a produção de metano, um importante subproduto da fermentação ruminal, que também apresentou diferenças significativas entre as espécies.