Construção e gestão de materiais pedagógicos no ensino da matemática : uma adaptação do Método de Singapura no contexto da Educação Pré-Escolar e do 1.º Ciclo do Ensino Básico

Materiais Pedagógicos em Matemática: Método Singapura

Informações do documento

Autor

João Cristiano Figueiredo Abreu

Escola

Universidade dos Açores, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Departamento de Educação

Curso Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico
Tipo de documento Relatório de Estágio
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 9.53 MB

Resumo

I.A Importância dos Materiais Pedagógicos no Ensino da Matemática

Este estudo investiga a eficácia de materiais pedagógicos no ensino da matemática, focando-se na adaptação do Método de Singapura para a Educação Pré-Escolar e o 1º Ciclo do Ensino Básico. A pesquisa destaca a necessidade de aprendizagem significativa e a importância da seleção, elaboração e gestão adequadas dos recursos didáticos para promover o sucesso educativo. A utilização de materiais adequados contribui para a integração curricular e para o desenvolvimento de competências de resolução de problemas e raciocínio lógico, promovendo um ensino mais prático e eficaz, alinhado com os princípios da Investigação-Ação e inspirados em metodologias como Educational Design Research (EDR).

1. A Importância da Utilização Adequada de Materiais Pedagógicos

O documento inicia enfatizando a relevância da utilização eficaz de materiais pedagógicos no processo de ensino-aprendizagem. Diversos estudos científicos demonstram o impacto positivo desses recursos na promoção de aprendizagens significativas e na integração curricular, contribuindo diretamente para o sucesso educativo. A Matemática, dada a sua natureza fundamental na formação integral do aluno, exige um cuidado especial na elaboração e implementação dos materiais, garantindo uma abordagem científica e didática rigorosa. O texto argumenta que a utilização de recursos e práticas educativas adequadas é crucial para alcançar aprendizagens integradas e significativas em matemática, desde a infância. Este estudo, portanto, foca-se na criação e gestão de materiais pedagógicos para o ensino da matemática, baseando-se nos princípios científico-pedagógicos do Método de Singapura, especificamente para a Educação Pré-Escolar e o 1º Ciclo do Ensino Básico. A pesquisa visa contribuir para uma melhor compreensão de como os materiais pedagógicos podem ser usados para melhorar a qualidade da educação, especialmente na área da matemática.

2. Materiais Pedagógicos como Potenciadores da Aprendizagem em Matemática

A literatura especializada reconhece amplamente a importância dos materiais pedagógicos como ferramentas essenciais para o sucesso na aprendizagem. O texto destaca que a utilização adequada desses materiais proporciona à criança um papel ativo no processo educativo, incentivando a autonomia na resolução de problemas de forma coerente e contextualizada. A relação entre a construção e a gestão de materiais pedagógicos e o ensino da matemática é vista como fundamental, pois esses materiais facilitam o contacto direto e concreto com a realidade, permitindo uma abstração consistente e progressiva dos conceitos matemáticos. O objetivo do estudo é precisamente investigar o potencial científico e pedagógico desses materiais, buscando aprimorá-los continuamente. A abordagem não se limita a materiais tradicionais ou tecnológicos, mas sim a uma perspetiva ampla e integradora que valoriza a riqueza e diversidade de recursos disponíveis. Autores como Rodrigues (2013), Pacheco (2013), Garcia (2015) e Carvalho (2016) são citados para fundamentar essa visão abrangente da utilização dos materiais pedagógicos no processo de ensino-aprendizagem.

3. O Método de Singapura como Referencial Pedagógico

O estudo utiliza o Método de Singapura como base para a construção e gestão dos materiais pedagógicos. A fundamentação teórica para essa escolha reside na importância reconhecida do método, que enfatiza uma abordagem concreta, pictórica e abstrata (CPA) para o ensino da matemática. O texto descreve a necessidade de uma abordagem didática que promova a compreensão conceitual profunda dos temas matemáticos, em vez de uma memorização mecânica de regras e procedimentos. A citação de autores como Bruner (1960), Dienes (1970) e Skemp (1976) reforça a importância dos princípios da variabilidade percetiva e matemática e a necessidade de conexões entre diferentes temas matemáticos para uma aprendizagem significativa. A eficácia do Método de Singapura na resolução de problemas, especialmente através do uso do modelo de barras, é também destacada. O foco na construção de cidadãos fortes, desde a educação inicial, como apontado por Turner (2013) e o impacto da política educativa de Singapura no currículo, na formação docente e no acompanhamento individualizado dos alunos (Silvestre, 2015), são também elementos relevantes para justificar a escolha deste método como base para a pesquisa.

II.Construção e Validação de Materiais Pedagógicos Baseados no Método de Singapura

O trabalho desenvolvido durante o estágio pedagógico focou-se na construção e validação de materiais pedagógicos para o ensino da matemática, baseados na abordagem CPA (Concreto-Pictórico-Abstrato) do Método de Singapura. O processo incluiu a definição de objetivos, a escolha de suportes, a elaboração de projetos e a realização dos materiais. A validação dos materiais envolveu testes com grupos de alunos e feedback de docentes, visando a sua melhoria contínua e a garantia de sua eficácia na promoção da aprendizagem significativa.

1. Processos de Construção dos Materiais Pedagógicos

A construção dos materiais pedagógicos seguiu um processo estruturado, inspirado em princípios do Método de Singapura e com algumas características da Educational Design Research (EDR). O processo iniciou-se pela definição do tema e objetivo de cada material, associando-o a um conteúdo específico. Seguiu-se a escolha do suporte físico mais adequado, considerando o público-alvo e o tempo disponível para a construção. Uma fase crucial foi a elaboração do projeto, detalhando o que seria construído e como seria construído, assegurando que o material pedagógico se integrasse efetivamente no processo comunicativo, não apenas servindo como ilustração, mas sim como parte integrante da aprendizagem. A realização final do material concretizou as etapas de planeamento, visando alcançar a máxima eficácia e responder aos objetivos propostos. A ênfase na abordagem CPA (Concreto-Pictórico-Abstrato) é evidente, buscando uma progressão gradual na abstração dos conceitos matemáticos. A gestão adequada dos materiais, evitando a 'inversão didática' onde o material assume mais importância que a sua função pedagógica, foi também considerada fundamental para o sucesso da metodologia (Souza, 2007).

2. Validação e Aprimoramento dos Materiais

A validação dos materiais pedagógicos construídos envolveu um processo iterativo de melhoria contínua, baseado em contribuições diversas e trabalho colaborativo. Inicialmente, os materiais foram testados com um grupo reduzido de utilizadores (turma cooperante), permitindo ajustes iniciais. Posteriormente, uma segunda fase de testagem envolveu outras salas de aula, com a participação de educadoras e professoras, facilitando uma avaliação mais abrangente. Para sistematizar a recolha de dados desta segunda fase, utilizou-se uma checklist para avaliar a qualidade dos materiais, focando-se na relevância (validade de conteúdo), consistência (validade de construção), praticabilidade e eficácia. Este processo colaborativo, envolvendo cooperantes, orientadores de estágio e outros docentes, permitiu incorporar diversos contributos e aprimorar os materiais, garantindo uma maior adequação às necessidades dos alunos. A metodologia empregada buscou alinhar-se com os princípios da investigação-ação, refletindo a natureza dinâmica e iterativa do processo de desenvolvimento e validação dos materiais.

III.Aplicação Prática em Contexto de Estágio Educação Pré Escolar e 1º Ciclo

A aplicação prática dos materiais pedagógicos construídos ocorreu em contextos de Educação Pré-Escolar e 1º Ciclo do Ensino Básico. Na pré-escolar, o foco foi no desenvolvimento de noções matemáticas básicas, utilizando o caderno “Os meus primeiros números” como ferramenta chave para o reconhecimento e escrita de numerais. No 1º ciclo, as atividades incluíram projetos interdisciplinares, como “A nossa Romaria” e “As atividades económicas”, integrando o ensino da matemática em contextos reais e significativos. A observação das crianças/alunos e a recolha de dados permitiram avaliar a eficácia dos materiais e ajustar as práticas pedagógicas.

1. Aplicação dos Materiais na Educação Pré Escolar

Na Educação Pré-Escolar, a aplicação prática focou-se no desenvolvimento de noções matemáticas básicas, particularmente na aquisição do conceito da primeira dezena e do zero, bem como no desenvolvimento do pensamento lógico. Um material pedagógico central foi o caderno "Os meus primeiros números", construído com base nos princípios do Método de Singapura e utilizando a abordagem CPA (Concreto-Pictórico-Abstrato). Este caderno visava auxiliar as crianças no reconhecimento e na escrita dos numerais, etapa fundamental na Educação Pré-Escolar. A ênfase estava no reconhecimento e designação dos numerais antes da escrita propriamente dita, assegurando uma compreensão sólida dos conceitos antes da sua representação simbólica. A escolha dos temas a abordar seguiu a ordem de aprendizagem proposta pelo Método de Singapura, respeitando a lógica de consolidação de conceitos prévios antes da introdução de conceitos mais complexos. A avaliação da eficácia dos materiais foi feita através de observação direta e feedback dos alunos e educadores, permitindo ajustar as práticas pedagógicas em função das necessidades individuais e do grupo.

2. Aplicação dos Materiais no 1º Ciclo do Ensino Básico

No 1º Ciclo do Ensino Básico, a aplicação dos materiais pedagógicos integrou-se em projetos interdisciplinares, como "A nossa Romaria" e "As atividades económicas", com o objetivo de contextualizar a matemática no mundo real. A organização da sala de aula foi adaptada para facilitar o trabalho em grupo, essencial para a realização desses projetos. A abordagem pedagógica priorizou a aprendizagem ativa, com experiências que visavam desenvolver aprendizagens significativas e respeitavam a ordem de aprendizagem dos conceitos. Apesar de alguns alunos apresentarem dificuldades relacionais ou de autonomia, o interesse e a participação na maioria das atividades foram muito positivos. A implementação dos materiais pedagógicos visou desenvolver o raciocínio lógico abstrato, a resolução de problemas e a tomada de decisões. Em particular, o trabalho com o tema da reprodução humana na área de Estudo do Meio incluiu a recolha das conceções prévias dos alunos, a construção de um painel com os órgãos reprodutores e a apresentação de um vídeo sobre fecundação e gestação, demonstrando a eficácia da combinação de recursos multimédia para auxiliar a compreensão.

IV.Reflexão sobre o Estágio e Desafios da Pesquisa

O estágio pedagógico proporcionou uma experiência rica para a formação docente, permitindo a prática e a reflexão sobre a utilização de materiais pedagógicos e a implementação do Método de Singapura. A curta duração do estágio e a inexperiência em Educational Design Research (EDR) representaram desafios, mas o estudo demonstra a importância do uso de materiais pedagógicos inovadores para o sucesso no ensino da matemática. A pesquisa destaca a necessidade de formação contínua de docentes e a importância da integração da comunidade escolar no processo de ensino-aprendizagem.

1. Reflexão sobre o Estágio Pedagógico

O estágio pedagógico é apresentado como uma etapa fundamental e complexa no processo de formação docente. A experiência permitiu refletir sobre os desafios da organização e gestão do ensino-aprendizagem, considerando aspetos como a seleção de temáticas e conteúdos, a gestão do tempo e espaço, a escolha de estratégias e atividades, a utilização de materiais pedagógicos e a construção da relação pedagógica. A importância da articulação entre as características da comunidade escolar e do meio envolvente é igualmente destacada. As dinâmicas formativas inerentes ao estágio, incluindo o Projeto Formativo Individual, a observação, a planificação/intervenção e a avaliação/reflexão, foram consideradas uma mais-valia para a construção do percurso formativo. A interação com diversos intervenientes – orientadores de estágio, educadora e professora cooperantes, colegas, alunos, pais e outros profissionais – contribuiu significativamente para o desenvolvimento profissional. A experiência prática enriqueceu as práticas pedagógicas, potenciando aprendizagens diversas através de metodologias lúdicas e motivadoras.

2. Desafios e Limitações da Pesquisa

A curta duração dos estágios pedagógicos é apontada como um desafio, impondo um ritmo de trabalho intenso e dificultando o aprofundamento da fundamentação teórica e da reflexão sobre as práticas. A necessidade de ciclos sucessivos de observação, planificação, construção de materiais, intervenção e avaliação, limitou o tempo disponível para uma análise mais profunda. A inexperiência no campo da investigação exigiu um investimento adicional no aprofundamento de conhecimentos sobre a abordagem da Educational Design Research (EDR), utilizada como inspiração para algumas fases do trabalho. Apesar das limitações, a pesquisa demonstrou a relevância da utilização cuidadosa de materiais pedagógicos e a importância de uma formação docente contínua, que permita a adaptação e a melhoria de práticas pedagógicas de acordo com as necessidades dos alunos e as novas abordagens educacionais. A pesquisa reconhece a exigência da abordagem da Educational Design Research (EDR) e afirma apenas ter se aproximado de algumas das suas características.