Contribución al estudio de las parasitosis que afectan a los colúbridos en cautiverio: posible correlación con las propiedades de sus venenos

Parasitos em Colúbridos em Cativeiro

Informações do documento

Autor

María Lucía Bustos

instructor María Elisa Peichoto
Escola

Universidade Federal da Integração Latino-Americana

Curso Biociências
Tipo de documento Dissertação de mestrado
Local Foz do Iguaçu
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 6.63 MB

Resumo

I.Parasitas em Serpentes Colubrídeas em Cativeiro na Argentina

Este estudo investiga a prevalência e diversidade de parasitas em serpentes colubrídeas (Colubridae) mantidas em dois serpentários na Argentina. Foram analisados 30 espécimes durante os primeiros 90 dias de cativeiro, utilizando exames clínicos e coproparasitológicos seriados. Observou-se uma alta prevalência de parasitosis (83%), incluindo endoparasitas e ectoparasitas. Os nematódeos rabdítidos foram particularmente comuns, com impacto potencial na estrutura e função da glândula de Duvernoy, afetando a produção de veneno. Foram identificados também outros parasitas como pentastômidos (Pentastomida) e outros nematódeos. As condições climáticas quentes e úmidas da região Nordeste Argentina contribuíram para a alta taxa de infestação. Espécies como Philodryas patagoniensis, Leptophis ahaetulla marginatus, e Oxyrhopus guibei foram estudadas.

1. Introdução e Objetivo do Estudo

O estudo teve como objetivo determinar a frequência e a diversidade de parasitas em serpentes colubrídeas mantidas em cativeiro em dois serpentários na Argentina. A motivação surgiu da alta morbi-mortalidade observada em ofídios em cativeiro, frequentemente associada a doenças relacionadas ao estresse, e da escassez de informações sobre a fauna parasitária em colubrídeos. A pesquisa se concentra na região Nordeste da Argentina, conhecida por sua rica biodiversidade de serpentes. O estudo utilizou exames clínicos e análises coproparasitológicas seriadas em 30 espécimes durante os primeiros 90 dias de cativeiro. Um total de 25 serpentes (83%) apresentaram parasitas, incluindo endoparasitas e ectoparasitas. A pesquisa também investigou o impacto dos parasitas na estrutura da glândula de Duvernoy e na qualidade do veneno produzido, contribuindo para o conhecimento da prevalência e diversidade parasitária em colubrídeos desta região, bem como suas consequências na saúde geral das serpentes e na função do seu aparelho venenoso. A região Nordeste Argentina abriga uma alta diversidade de espécies, sendo Misiones e Corrientes as províncias com maior riqueza de serpentes (Giraudo, 2014).

2. Métodos de Coleta e Análise

A identificação das espécies de colubrídeos foi baseada nas chaves taxonômicas de Giraudo (2004). O exame clínico seguiu a metodologia de Varela (2002), incluindo métodos de contenção, histórico clínico, exame físico completo, e medidas morfométricas (comprimento rostro-cloaca). As análises coproparasitológicas seriadas foram realizadas utilizando a técnica de sedimentação por centrifugação do formol-éter (técnica de Richie, descrita por Barriga, 2002) para detecção de endoparasitas (incluindo coccídeos, pentastômidos e nematódeos). Em casos de morte, necropsias e análises histopatológicas foram realizadas para determinar a causa da morte e observar lesões sistêmicas. Microscopia óptica e microscopia eletrônica de varredura (MEB) foram usadas para identificação de parasitas a nível de espécie. A caracterização do veneno de colubrídeos focou em espécies infectadas com rabdítidos, utilizando eletroforese SDS-PAGE e Tricina-SDS-PAGE para análise do perfil proteico. A escolha da técnica de enriquecimento por flotação para o diagnóstico de coccídeos, pentastômidos e nematódeos foi justificada pela pequena quantidade de amostra fecal obtida de serpentes, conforme Klingenberg (2007).

3. Resultados Prevalência e Tipos de Parasitas

A prevalência geral de parasitosis foi de 83%, com nematódeos rabdítidos sendo os endoparasitas mais frequentes, seguidos por ascárideos e diaphanocephalídeos (prevalência variando entre os serpentários). A prevalência de coccídeos variou entre 12% e 25% dependendo da espécie de colubrídeo. Foram encontrados pentastômidos dos gêneros Raillietiella (espécie furcocerca) e Cephalobaena (espécie tetrapoda) em serpentes do gênero Philodryas, confirmando achados de Christoffersen (2013) e Almeida (2007). A presença de Amblyomma dissimile foi registrada em Philodryas patagoniensis, sendo o primeiro relato desta ectoparasitose nesta espécie. As lesões observadas, especialmente em P. patagoniensis, foram consistentes com as descritas na literatura para pentastômidos adultos, indicando a severidade da infecção. A pesquisa também identificou lesões granulomatosas e outros achados histopatológicos, associados à presença de parasitas como nematódeos e bactérias (Gram-positivas, possivelmente Clostridium).

4. Discussão e Conclusões

A alta prevalência de parasitas (83%) observada no estudo contrasta com resultados de pesquisas em outros países, onde a prevalência foi significativamente menor, provavelmente devido a fatores climáticos e ambientais mais favoráveis. A comparação com estudos em Pisa (Itália), Lisboa (Portugal) e Eslovênia destaca a influência das condições climáticas (temperatura, umidade e precipitação) na taxa de infestação. Os resultados reforçam a importância de realizar análises coproparasitológicas seriadas para melhorar a detecção de parasitas. O impacto dos nematódeos rabdítidos na glândula de Duvernoy e na composição do veneno precisa de investigações futuras com maior número de amostras para confirmar as alterações observadas. O estudo sugere que as condições climáticas quentes e úmidas do Nordeste Argentino criam um ambiente propício para parasitas em serpentes, sobretudo os nematódeos rabdítidos. O trabalho destaca a necessidade de protocolos de manejo em cativeiro que considerem a prevenção e tratamento de parasitoses para o bem-estar dos animais.

II.Métodos de Diagnóstico e Análise de Veneno

O diagnóstico de parasitas foi realizado através de exames coproparasitológicos seriados, utilizando técnicas de sedimentação e microscopia óptica e eletrônica de varredura (MEB). A análise de veneno se concentrou em amostras de Leptophis ahaetulla marginatus, Philodryas olfersii olfersii, e Philodryas patagoniensis, focando em amostras de serpentes infectadas com rabdítidos. A eletroforese em gel de poliacrilamida com dodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE) e Tricina-SDS-PAGE foram utilizadas para analisar o perfil proteico do veneno, buscando diferenças entre amostras de serpentes infectadas e não infectadas. Resultados preliminares sugeriram alterações na composição do veneno em serpentes infectadas.

1. Diagnóstico Parasitário Exames Coproparasitológicos e Microscopia

O diagnóstico parasitário neste estudo se baseou principalmente em exames coproparasitológicos seriados, uma abordagem justificada pela pequena quantidade de fezes obtida em serpentes e pela necessidade de aumentar a sensibilidade na detecção de parasitas, especialmente em casos de infestações leves (Klingenberg, 2007). A técnica empregada foi a de sedimentação por centrifugação do formol-éter, ou técnica de Richie (Barriga, 2002), escolhida por sua eficiência na recuperação de ovos e larvas de parasitas em amostras de fezes. Outras técnicas, como a de sedimentação comum com Tween 80 (Cordero del Campillo, 2001) e métodos de flotação (Klingenberg, 2007), foram consideradas, mas a técnica de Richie se mostrou mais adequada para as necessidades do estudo. A microscopia óptica foi utilizada para a análise inicial das amostras, e a microscopia eletrônica de varredura (MEB) foi empregada para a identificação definitiva de algumas espécies de parasitas, permitindo uma melhor caracterização morfológica e taxonômica dos organismos encontrados, principalmente em casos de parasitas como pentastômidos (Heymons, 1935; Rego, 1983; Christoffersen, 2013).

2. Análise do Veneno Eletroforese e Microscopia Eletrônica

A análise do veneno se concentrou em amostras obtidas de serpentes infectadas com rabdítidos, por se acreditar que este parasita poderia invadir a glândula de Duvernoy e consequentemente alterar a composição e as propriedades do veneno (Divers, 2014). A eletroforese em gel de poliacrilamida com dodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE) e a eletroforese Tricina-SDS-PAGE foram utilizadas para a análise do perfil proteico do veneno. A escolha do tipo de eletroforese (SDS-PAGE ou Tricina-SDS-PAGE) dependia da composição do veneno, com o uso de gel a 15% para venenos com componentes de baixa massa molecular (Sánchez et al., 2018). As análises foram realizadas em condições redutivas e não redutivas, permitindo observar possíveis diferenças na composição do veneno entre serpentes infectadas e não infectadas. A microscopia eletrônica de varredura (MEB) também foi utilizada para a observação de larvas de rhabditidae encontradas nas amostras de veneno, embora estas amostras tenham sido descartadas para análises posteriores, devido à contaminação.

III.Tratamentos e Implicações para a Saúde das Serpentes

O tratamento de parasitas incluiu o uso de fenbendazol para nematódeos e sulfas para coccídeos. A eficácia do tratamento foi avaliada através de exames coproparasitológicos repetidos, mostrando redução significativa na carga parasitária. Lesões histopatológicas observadas em necropsias indicaram impactos significativos em vários órgãos, particularmente nos pulmões, devido a infestações de pentastômidos. A alta prevalência de parasitas em serpentes colubrídeas em cativeiro, especialmente os rabdítidos, destaca a necessidade de melhores práticas de manejo para garantir o bem-estar animal e a saúde das serpentes.

1. Tratamento de Parasitoses Protocolos e Eficácia

O tratamento das parasitoses foi conduzido de acordo com as recomendações da literatura, considerando as características específicas de cada tipo de parasita e a resposta individual dos animais. Para nematódeos, foi utilizado fenbendazol na dose de 25 mg/kg por via oral, durante 7 dias, com 2 a 3 aplicações, um protocolo baseado nas recomendações de diversos autores (Mader, 2006; Riera, 2008; Martinez-Silvestre, 2007; Klingenberg, 2007; Mitchell et al., 2009; Tracchia, 2018). A eficácia do tratamento foi avaliada por meio de exames coproparasitológicos repetidos, demonstrando uma redução significativa no número de ovos nas fezes após 2 a 3 semanas. Para coccídeos, foram utilizadas sulfas (Sulfadimetoxina e Sulfametoxasol) em protocolos similares aos recomendados por Frye (2016), enquanto para trematódeos, o Praziquantel foi administrado em doses e frequência compatíveis com as recomendações de Tracchia (2018). Ambos protocolos demonstraram resultados satisfatórios. A decisão de tratar ou não determinada parasitose foi baseada no critério clínico e na avaliação da carga parasitária, já que a presença de um número constante de parasitas pode estimular a imunidade do animal (Martínez-Silvestre, 2007), e tratamentos desnecessários podem enfraquecer as defesas naturais. No caso dos pentastômidos, muitos autores recomendam não realizar tratamento, pois a infecção costuma ser autolimitante (Jacobson, 2007; Mader, 2006), e essa foi a abordagem adotada neste estudo, exceto em casos de alta carga parasitária que resultaram em óbito.

2. Implicações para a Saúde e Mortalidade dos Ofídios

A alta prevalência de parasitoses observada no estudo, especialmente de nematódeos rabdítidos, teve implicações significativas na saúde e mortalidade das serpentes colubrídeas em cativeiro. As necropsias realizadas em 5 dos 7 animais que morreram durante o estudo revelaram lesões sistêmicas associadas à presença de parasitas e infecções bacterianas. A presença de parasitas como pentastômidos causou lesões pulmonares graves, incluindo microhemorragias, infiltrado inflamatório e eosinofilia (Paré, 2008; Tracchia, 2018). Lesões granulomatosas foram encontradas em diversos órgãos, como uma resposta inflamatória comum à infecção parasitária (Zimmerman, 2010; Jacobson, 2007). Em um dos espécimes, foi observada enterite grave associada a uma alta carga parasitária de ascárideos, demonstrando o impacto severo destes parasitas no trato gastrointestinal (Klingenberg, 2007; Taylor, 2016). Embora não tenham sido realizados diagnósticos de doenças virais ou micóticas devido a limitações de recursos, a alta diversidade de parasitas e as lesões observadas sugerem que estes fatores contribuíram significativamente para a morte de muitos dos ofídios.

IV.Comparação com Outros Estudos e Conclusões

Os resultados deste estudo são comparados com pesquisas realizadas em outros países (Itália, Portugal, Polônia, Eslovênia) com prevalência de parasitas variando significativamente dependendo do clima e das condições ambientais. A alta prevalência (83%) encontrada na região Nordeste da Argentina destaca a importância das condições climáticas locais na parasitose em colubrídeos. A pesquisa contribui para a compreensão da diversidade parasitária em colubrídeos da região e para o desenvolvimento de estratégias de manejo mais eficazes para reduzir a morbi-mortalidade em cativeiro. A investigação sobre o impacto de rabdítidos na glândula de Duvernoy e na composição do veneno é uma contribuição relevante à herpetologia e medicina veterinária.

1. Comparação com Estudos Internacionais Prevalência de Parasitas e Fatores Ambientais

A alta prevalência de parasitas (83%) encontrada neste estudo em serpentes colubrídeas do nordeste da Argentina difere significativamente dos resultados encontrados em pesquisas similares conduzidas em outros países. Estudos realizados em Pisa (Itália), por exemplo, apresentaram prevalência muito menor de endoparasitas, provavelmente devido às condições climáticas menos favoráveis ao desenvolvimento e multiplicação de parasitas, com temperaturas e umidade mais baixas e precipitação reduzida. Da mesma forma, um estudo em Lisboa (Portugal) relatou uma prevalência de 12,5% em colubrídeos, e um estudo na Eslovênia obteve 37,5% de animais com endoparasitas. Essas variações na prevalência parasitária demonstram a forte influência das condições ambientais, como temperatura, umidade e precipitação, na dinâmica das infestações parasitárias. A alta umidade e temperatura no nordeste argentino, contrastando com os locais dos estudos comparativos, propiciam condições mais favoráveis à proliferação de parasitas, explicando a maior prevalência observada neste estudo. A análise de apenas uma amostra fecal por serpente nos estudos comparativos também pode ter contribuído para a subestimação da prevalência de parasitoses.

2. Discussão sobre a Prevalência de Rhabditidae e Outros Parasitas

A prevalência de nematódeos rabdítidos foi significativamente alta neste estudo, corroborando a observação de Melgarejo-Giménez (2006) que os descreve como endoparasitas comuns em serpentes em cativeiro. Contudo, estudos em outros locais, como Cracóvia (Polônia), mostraram prevalência muito baixa (8%), refletindo as condições climáticas frias e secas da região. Para coccídeos, a prevalência variou entre 12% e 25% neste estudo, superior à encontrada em outros estudos (3% e 6%, respectivamente, em Carvalho, 2018 e Regner, 2015). A baixa prevalência de diaphanocephalídeos observada (17% em um dos serpentários) está de acordo com a literatura, que indica poucas ocorrências deste tipo de parasita em serpentes (Okulewicz et al., 2014; Rataj et al., 2011). A detecção de Amblyomma dissimile em Philodryas patagoniensis é um achado inédito, ressaltando a importância do estudo para expandir o conhecimento sobre ectoparasitoses em colubrídeos da Argentina. A diferença na frequência entre os parasitas nos dois serpentários estudados, pode ser devido a pequenas diferenças ambientais ou mesmo de manejo, apesar das condições climáticas similares.

3. Conclusões e Recomendações

Este estudo contribui com informações relevantes sobre a prevalência e diversidade de parasitas em colubrídeos do nordeste da Argentina, destacando a alta frequência de parasitoses (83%) e a importância das condições climáticas na dinâmica parasitária. A pesquisa revela a necessidade de um manejo adequado em cativeiro, visando a redução do estresse e a prevenção de infestações parasitárias. A influência dos nematódeos rabdítidos na glândula de Duvernoy e na qualidade do veneno, embora sugerida, requer estudos mais aprofundados com maior número de amostras. A alta prevalência de parasitas encontrada enfatiza a importância de exames coproparasitológicos seriados, especialmente em ambientes com condições climáticas favoráveis à infestação parasitária. Os resultados demonstram a necessidade de estratégias de manejo em cativeiro que incluam exames regulares, tratamento eficaz e ambiente controlado, contribuindo para o bem-estar e a saúde das serpentes colubrídeas.