
Zooplancton Açoriano: Estudo em Lagoas
Informações do documento
Autor | Ana Mafalda Gomes Vieira da Cruz |
instructor | Doutor Vítor Manuel da Costa Gonçalves |
Escola | Universidade dos Açores |
Curso | Biodiversidade e Ecologia Insular |
Tipo de documento | Dissertação (Mestrado) |
Local | Ponta Delgada |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 822.33 KB |
Resumo
I.Metodologia de Amostragem do Zooplâncton de Água Doce dos Açores
Este estudo analisou a biodiversidade de zooplâncton dulçaquícola em 22 massas de água distribuídas por cinco ilhas dos Açores: Santa Maria, São Miguel, Pico, Flores e Corvo. A amostragem ocorreu principalmente no verão de 2011, com amostras adicionais no outono de 2011 e primavera e inverno de 2012 em lagoas profundas de São Miguel e Flores. Locais específicos incluem a Lagoa dos Milagres (Santa Maria), Lagoas Azul, Verde, Santiago, Rasa das Sete Cidades, Furnas, Fogo, São Brás, Congro, Canário, e Empadadas Norte e Sul (São Miguel), Lagoas Capitão, Caiado, Peixinho, Rosada e Paul (Pico), e Lagoas Funda, Rasa, Comprida e Lomba (Flores), além da Lagoa do Caldeirão (Corvo). O foco principal foi a identificação de taxa de zooplâncton, registando novos registros para os Açores e para cada ilha.
1. Locais de Amostragem
A amostragem de zooplâncton foi realizada em 22 massas de água, distribuídas por cinco ilhas do arquipélago dos Açores: Santa Maria, São Miguel, Pico, Flores e Corvo. Em Santa Maria, a Lagoa dos Milagres foi amostrada. Em São Miguel, as lagoas amostradas foram: Azul, Verde, Santiago, Rasa das Sete Cidades, Furnas, Fogo, São Brás, Congro, Canário, Empadadas Norte e Empadadas Sul. No Pico, as amostras foram coletadas nas lagoas Capitão, Caiado, Peixinho, Rosada e Paul. Na ilha das Flores, as lagoas Funda, Rasa, Comprida e Lomba foram amostradas, enquanto que na ilha do Corvo, a amostragem ocorreu na Lagoa do Caldeirão. A campanha principal de amostragem ocorreu no verão de 2011, exceto para a Lagoa dos Milagres, amostrada no verão de 2012. A diversidade de locais de amostragem demonstra um esforço considerável para representar a variedade de habitats de água doce no arquipélago, buscando uma compreensão abrangente da composição e distribuição do zooplâncton dulçaquícola nos Açores.
2. Amostragem Sazonal
Além da amostragem principal de verão de 2011, uma amostragem sazonal complementar foi realizada em lagoas profundas de São Miguel e Flores, durante o verão e outono de 2011, e inverno e primavera de 2012. Esta abordagem permitiu a avaliação da variação temporal na composição e abundância das comunidades de zooplâncton. Em São Miguel, as lagoas Azul, Verde, Santiago, Furnas, Congro e Fogo foram incluídas na amostragem sazonal. Nas Flores, as lagoas selecionadas foram Funda, Rasa, Comprida e Lomba. A escolha de lagoas profundas para a amostragem sazonal sugere um foco na análise da influência de fatores ambientais sazonais sobre as comunidades de zooplâncton em ambientes lacustres mais estáveis e profundos, permitindo uma avaliação mais precisa das mudanças ao longo do ano. A restrição às ilhas de São Miguel e Flores indica a presença de lagoas profundas com características propícias para estudos de variações sazonais nestes locais.
II.Resultados da Análise da Comunidade de Zooplâncton
Foram identificados 108 taxa de zooplâncton em 20 lagoas, com a Lagoa de Santiago apresentando a maior riqueza (43 taxa) e a Lagoa do Peixinho a menor (3 taxa). Espécies como Diaphanosoma mongolianum e Cyclopidae foram encontradas em 17 das 20 lagoas. A análise demonstrou diferenças significativas na comunidade de zooplâncton entre as estações do ano, principalmente entre verão e as demais estações, com espécies associadas a estados eutróficos e temperaturas mais altas, como Ascomorpha sp., D. mongolianum, Cyclopidae, Gastropus hyptopus, e A. saltans, contribuindo significativamente para essa variação sazonal. Não houve diferenças significativas entre lagoas profundas e pouco profundas. A análise biogeográfica revelou uma predominância de espécies cosmopolitas (60%), particularmente entre os Rotíferos (84%). Dois endemismos foram identificados: Eucyclops agiloides azorensis e Metacyclops mendocinus insulensis.
1. Riqueza e Distribuição Taxonômica
A análise da comunidade de zooplâncton revelou a presença de 108 taxa em 20 lagoas dos Açores. A riqueza taxonômica variou significativamente entre as lagoas, com um máximo de 43 taxa na Lagoa de Santiago e um mínimo de 3 na Lagoa do Peixinho. O número médio de taxa por lagoa foi de 9. É importante notar que nenhum dos 108 taxa foi observado em todas as lagoas. Diaphanosoma mongolianum e Cyclopidae se destacaram pela presença em 17 das 20 lagoas. Por outro lado, 37 taxa foram encontrados em apenas uma lagoa, com lagoas como São Brás, Santiago e Caiado apresentando 6, 6 e 5 taxa exclusivos, respectivamente. Esta alta variabilidade na riqueza e distribuição de taxa entre as lagoas sugere a influência de fatores ambientais locais na estrutura das comunidades de zooplâncton, necessitando de investigações futuras para identificar esses fatores com maior precisão. A análise demonstra a complexidade da biodiversidade zooplanctônica nos Açores.
2. Variação Sazonal da Comunidade
O teste ANOSIM indicou diferenças significativas (R = 0.281; p = 0.001) na abundância de zooplâncton entre as quatro estações do ano em lagoas profundas dos Açores. As comunidades de outono e inverno não diferiram significativamente, enquanto que as comunidades de verão se mostraram menos semelhantes às demais estações (Verão/Inverno: R = 0.401; p = 0.001; Outono/Primavera: R = 0.399; p = 0.001). Espécies como Ascomorpha sp., D. mongolianum, Cyclopidae, G. hyptopus, e A. saltans contribuíram mais significativamente para essas diferenças, especialmente no verão, sugerindo uma forte relação entre a abundância dessas espécies e fatores ambientais como temperatura e fotoperíodo. A análise da contribuição relativa dos taxa para a dissimilaridade entre as estações, utilizando o teste SIMPER, permitiu identificar os taxa chave responsáveis pelas diferenças observadas entre os pares de estações, reforçando a importância da sazonalidade na estrutura das comunidades de zooplâncton.
3. Biogeografia do Zooplâncton
A análise biogeográfica indicou que a fauna zooplanctônica dulçaquícola dos Açores é predominantemente cosmopolita (60%), com 84% das espécies de Rotífera pertencentes a essa categoria. Apenas 9% das espécies apresentaram distribuição holártica/neotropical, enquanto uma pequena porcentagem foi classificada como neártica (6%) ou paleártica, holártica e holártica/afrotropical (5%). Apenas duas subespécies de copépodes foram identificadas como endemismos dos Açores: Eucyclops agiloides azorensis e Metacyclops mendocinus insulensis. A predominância de espécies cosmopolitas sugere dispersão ampla e capacidade de adaptação a diferentes condições ambientais. A presença de endemismos, por outro lado, destaca a importância dos Açores como um centro de biodiversidade, mesmo com a baixa diversidade zooplanctônica em comparação com sistemas continentais.
III.Discussão e Conclusões sobre a Diversidade Zooplanctônica Açoriana
Este estudo contribuiu para o conhecimento da diversidade de invertebrados de água doce dos Açores, aumentando o número de registros para 291 espécies de invertebrados de água doce e 2717 espécies animais no arquipélago. Apesar da baixa diversidade zooplanctônica em comparação com sistemas continentais, os Açores se mostraram mais diversos que outras ilhas oceânicas, possivelmente devido à distância do continente, idade geológica das ilhas e elevada diversidade de habitats de água doce. A comunidade de zooplâncton mostrou-se mais influenciada por fatores top-down (temperatura da água e fotoperíodo) do que bottom-up (disponibilidade de nutrientes). São Miguel e Flores apresentaram a maior riqueza de espécies, provavelmente devido a um maior esforço de amostragem e presença de lagoas maiores. Estudos futuros devem focar-se na dinâmica populacional, variações sazonais e espaciais, e no papel de fatores como a sílica e o potássio na estrutura da comunidade de zooplâncton.
1. Aumento do Conhecimento da Diversidade de Invertebrados de Água Doce
Este estudo contribuiu significativamente para o conhecimento da diversidade de invertebrados de água doce nos Açores, adicionando 141 novos taxa de zooplâncton à lista já existente. Isso representa um aumento de 20,75% no número de espécies de invertebrados de água doce registradas, elevando o total para 291 espécies. Considerando a fauna total, o acréscimo foi de 1,88% no reino Animalia nos Açores, atingindo 2717 espécies. Os dados indicam a ainda incipiente compreensão da complexidade da fauna invertebrada dulçaquícola açoriana, como apontado por Raposeiro et al. (2012), e ressaltam a importância contínua de pesquisas para uma avaliação mais completa da biodiversidade aquática do arquipélago. A ilha de São Miguel apresentou o maior número de novos registros para os Açores (49), seguida das Flores (26), Pico e Corvo (11 cada), e Santa Maria (4). Em relação a novos registros por ilha, o Corvo liderou com 10, seguido das Flores (8) e Santa Maria (6).
2. Distribuição Biogeográfica e Padrões de Diversidade
A análise biogeográfica da fauna zooplanctônica dulçaquícola açoriana revelou uma predominância de espécies cosmopolitas (60%), sendo particularmente marcante entre os rotíferos (84%). A maioria das espécies de Rotífera identificadas nos Açores são cosmopolitas, contrastando com a situação em regiões como a zona Paleártica, onde famílias como Notommatidae e Dicramophoridae apresentam maior diversidade (Segers, 2008). A baixa diversidade de Rotifera nos Açores é significativa, comparada a outras regiões do mundo. Apesar da baixa diversidade zooplanctônica em relação a sistemas continentais, a riqueza observada nos Açores é superior à de outras ilhas oceânicas, sugerindo a existência de nichos ecológicos adequados. A presença de dois endemismos de copépodes, Eucyclops agiloides azorensis e Metacyclops mendocinus insulensis, reforça a importância da conservação da biodiversidade aquática açoriana.
3. Influência de Fatores Ambientais e Conclusões
A variação sazonal na comunidade de zooplâncton é significativa, principalmente devido à abundância de espécies associadas a condições eutróficas e altas temperaturas, como Ascomorpha saltans, Gastropus hyptopus e Diaphanosoma mongolianum, mais abundantes no verão. Temperatura da água e fotoperíodo mostraram relação positiva com a comunidade, enquanto a disponibilidade de minerais como cálcio e sílica apresentaram correlação negativa. A ausência de diferenças significativas entre comunidades de lagoas profundas e pouco profundas sugere a dispersão facilitada de espécies cosmopolitas e a pouca influência do estado trófico. O papel de fatores como sílica e potássio requer estudos adicionais, assim como a resposta da comunidade ao estado trófico da lagoa. Apesar do aumento significativo no número de taxa registrados, muitas dúvidas permanecem sobre a composição taxonômica, necessitando de confirmação da identificação de algumas espécies e amostras adicionais em habitats menos estudados.