
Boas Práticas Ordenha: Leite Açores
Informações do documento
Autor | José Luís Valente Silva |
instructor | Professor Doutor José Estevam da Silveira Matos |
Escola | Universidade dos Açores, Departamento de Ciências Agrárias |
Curso | Tecnologia e Segurança Alimentar |
Tipo de documento | Mestrado |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 2.35 MB |
Resumo
I.Avaliação da Higiene da Ordenha em Exploração Leiteira na Ilha Terceira
Este estudo avaliou a higiene da ordenha em 20 explorações leiteiras da Ilha Terceira, Açores, envolvendo 258 vacas (159 em salas de ordenha fixas e 99 em unidades móveis). O objetivo principal foi contribuir para a elaboração de um Manual de Boas Práticas de Ordenha, requisito essencial para um futuro plano HACCP na produção de leite de alta qualidade açoriana. A avaliação focou pontos críticos de controlo, utilizando três testes quantitativos: higiene dos tetos, grau de hiperqueratose da ponta do teto e higiene dos úberes, complementados por inquéritos aos ordenhadores sobre seus procedimentos. Uma análise SWOT sintetizou os pontos fortes e fracos encontrados na higiene da ordenha.
1. Objetivo e Metodologia do Estudo
O estudo teve como objetivo principal avaliar a higiene da ordenha em 20 explorações leiteiras da Ilha Terceira, Açores, com o intuito de contribuir para a criação de um Manual de Boas Práticas de Manejo de Ordenha e, consequentemente, para o desenvolvimento de um plano HACCP para a produção de leite de alta qualidade na região. Para alcançar esse objetivo, foram utilizados três testes quantitativos para avaliar a higiene dos úberes, o grau de hiperqueratose na ponta do teto e a higiene da extremidade do teto. Além disso, um inquérito foi aplicado aos ordenhadores para compreender os procedimentos da rotina de ordenha. No total, 258 vacas foram avaliadas, sendo 159 em explorações com salas de ordenha fixas e 99 em explorações com unidades de ordenha móveis. Uma análise SWOT foi realizada para sintetizar os pontos fortes e fracos encontrados na higiene da ordenha das explorações estudadas. A amostragem buscou incluir pelo menos 10 vacas por exploração ou 20% do efetivo total, considerando um mínimo de 30-40 vacas em lactação por exploração.
2. Análise da Higiene dos Úberes e Tetos
A análise dos resultados revelou que a maioria das explorações não praticava uma boa preparação dos úberes antes da ordenha, levando a falhas de higiene consideráveis. Embora não tenha sido encontrada uma relação direta entre úberes sujos e falhas de higiene do teto, a conclusão contraria alguns estudos anteriores, como o de Schreiner & Ruegg (2003). Foi observada hiperqueratose na ponta do teto em grande parte das vacas, indicando problemas no funcionamento da máquina de ordenha. Comparando explorações com salas de ordenha móveis e fixas, constatou-se que as explorações com unidades móveis apresentavam melhor pré-preparação dos úberes. Correlações entre os testes de higiene e contagens de células somáticas e de mesófilos totais não foram estatisticamente significativas, provavelmente devido à influência de outras variáveis. Os testes quantitativos mostraram-se úteis para o controle de pontos críticos em um plano HACCP, e a análise SWOT comprovou sua utilidade na sumarização de pontos fortes e fracos, auxiliando na elaboração de um manual de boas práticas.
3. Implicações para a Qualidade do Leite e Boas Práticas
O estudo destaca a importância da higiene da ordenha para a qualidade do leite e a prevenção de mastite. A falta de uma boa preparação dos úberes e a presença de hiperqueratose, indicativa de problemas na máquina de ordenha, são fatores que comprometem a qualidade do leite. Embora a maioria das explorações utilizasse vasos sanitários para a ordenha de animais com mastite, a higiene dos úberes ainda apresentava falhas em muitas delas. A ausência de correlação entre a higiene dos úberes e dos tetos sugere a necessidade de um enfoque em outras áreas para melhorar a higiene geral do processo de ordenha. A pesquisa sugere que os testes quantitativos utilizados podem ser valiosas ferramentas para o controle de pontos críticos em um plano HACCP, contribuindo para a produção de leite com menor contaminação bacteriana. A análise SWOT se mostrou eficiente na identificação de pontos fortes e fracos, fornecendo informações relevantes para a elaboração de um manual de boas práticas que contemple todos os aspectos relevantes do manejo da ordenha.
II.Resultados dos Testes de Higiene
Os resultados revelaram deficiências na higiene dos tetos em muitas explorações, com poucas apresentando preparação higiênica eficiente antes da ordenha. Elevados graus de hiperqueratose foram detectados na maioria das vacas, indicando mau funcionamento das máquinas de ordenha. Embora a maioria das explorações utilizasse um vaso sanitário para ordenha de animais com mastite, a higiene dos úberes apresentou níveis de sujidade elevados em muitas delas. Curiosamente, não houve correlação estatisticamente significativa entre a higiene dos úberes e a higiene dos tetos, contrariando alguns estudos. As explorações com unidades de ordenha móveis mostraram melhor pré-preparação dos úberes comparadas às explorações com salas fixas.
1. Higiene dos Tetos
A análise da higiene dos tetos, utilizando um sistema de pontuação, revelou que a maioria das 20 explorações leiteiras estudadas apresentavam deficiências significativas na higienização antes da ordenha. Apenas duas explorações (uma com sala fixa e outra com unidade móvel) obtiveram pontuações inferiores a 15%, indicando uma pré-preparação higiênica eficiente dos úberes. A grande maioria das explorações apresentou indicadores fracos, sugerindo deficiências na rotina pré-ordenha, como lavagem, pré-desinfecção e secagem dos tetos. Interessantemente, entre as explorações com salas fixas, apenas uma utilizava estabulação livre, e esta apresentou as pontuações mais altas no Teste 1, apesar de os animais apresentarem elevado grau de sujidade, possivelmente devido à estabulação e umidade ambiente dos Açores. Mesmo executando todos os passos recomendados, a exploração demonstrava falhas na execução destes procedimentos, indicando que a simples adoção dos passos não garante a eficácia da higiene.
2. Grau de Hiperqueratose dos Tetos
O teste para avaliar o grau de hiperqueratose na ponta dos tetos, baseado nos trabalhos de Neijenhuis et al. (2001) e Mein et al. (2001), indicou elevados graus de hiperqueratose na maioria das vacas, sugerindo falhas no funcionamento da máquina de ordenha. Nenhuma das 20 explorações apresentou percentuais abaixo de 20%, o nível máximo recomendado pela University of Minnesota (2003). Embora a maioria das explorações verificasse o vácuo antes da ordenha, apenas 25% verificavam o pulsador regularmente, apenas fazendo isso quando surgia algum problema. Segundo Zadoks et al. (2001), o funcionamento incorreto da máquina aumenta o risco de infecções intramamárias, reforçando a necessidade de verificação regular do vácuo e pulsadores. O estudo observou que todas as explorações realizavam duas ordenhas diárias, fator que não se mostrou relacionado com os níveis de hiperqueratose. As explorações com salas fixas apresentaram ligeiramente menos casos de hiperqueratose e contagens de células somáticas (CCS) inferiores às explorações móveis, mas sem correlação significativa entre hiperqueratose e CCS, em concordância com Gleeson et al.
3. Higiene dos Úberes
A avaliação do grau de sujidade nos úberes durante a ordenha mostrou que 14 das 20 explorações apresentavam pontuações acima de 25%, indicando altos níveis de sujidade. O teste foi realizado entre maio e julho de 2011, minimizando a influência de condições climáticas extremas. A análise comparativa entre explorações com salas de ordenha fixa e móveis não revelou uma relação significativa entre a higiene dos úberes e a higiene dos tetos (nível de significância maior que 0,05), refutando a hipótese nula. Isso sugere que a presença de úberes sujos não implica necessariamente tetos sujos, contrariando alguns estudos. A análise dos inquéritos apontou melhores cuidados de manejo e higiene nas explorações com salas fixas em relação às explorações com unidades móveis, especialmente no uso da água para lavagem, na pré-desinfecção e chamuscagem dos tetos. Ambas as categorias de explorações utilizavam vasos sanitários para ordenha de animais com mastite, e 90% das explorações realizavam desinfecção dos tetos pós-ordenha.
III.Fatores Influenciando a Qualidade do Leite e Prevenção de Mastite
A qualidade do leite está diretamente ligada à higiene da ordenha, à saúde e bem-estar animal, e à prevenção de mastite. A contagem de células somáticas (CCS) e a contagem de mesófilos totais (TMC) foram analisadas, mas não mostraram correlação significativa com os testes de higiene, sugerindo a influência de outras variáveis. A prevenção de mastite requer atenção a diversos fatores, incluindo a correta higiene dos tetos, uso adequado de desinfetantes (iodo, cloro, etc.), e manutenção regular da máquina de ordenha, incluindo verificação de vácuo e pulsador. Práticas como a ordenha dos primeiros jatos de leite para o chão, desinfeção pós-ordenha e secagem adequada dos tetos foram avaliadas em relação à sua eficácia na redução da contaminação bacteriana e na prevenção de mastite.
1. Contagem de Células Somáticas CCS e Contagem de Mesófilos Totais TMC
O estudo analisou a relação entre os testes de higiene e os parâmetros microbiológicos CCS e TMC. Contrariamente ao esperado, não se encontrou correlação estatisticamente significativa entre esses parâmetros. Essa ausência de correlação indica que, para se obterem baixas contagens de microrganismos no leite, diversos procedimentos de higiene devem ser considerados e executados em conjunto. A pré-preparação eficiente dos tetos para a ordenha é fundamental, mas não suficiente para garantir a qualidade microbiológica do leite. Outros fatores, não contemplados nesta análise, influenciam significativamente a CCS e a TMC, demonstrando a complexidade da relação entre as práticas de higiene e a qualidade microbiológica final do leite. Uma abordagem holística à higiene, combinando a limpeza adequada dos úberes e tetos com outros procedimentos, é necessária para garantir uma baixa contagem de células somáticas e mesófilos totais.
2. Prevenção de Mastite e Higiene da Ordenha
A qualidade do leite e a prevenção de mastite são diretamente impactadas pela higiene da ordenha. A pesquisa destaca a importância de práticas como a ordenha dos primeiros jatos de leite diretamente no chão (em vez de em um recipiente, para evitar contaminação), a desinfecção dos tetos pós-ordenha, e a secagem adequada dos tetos com toalhas descartáveis ou de uso individual para cada animal. O uso de toalhas impregnadas com desinfetante é desaconselhado para tetos sujos, pois a concentração e o tempo de contato são insuficientes para inativar as bactérias. A correta desinfecção dos tetos deve englobar toda a área de contato tetina/teto, e a imersão é mais eficiente que a aspersão. A eficácia dos desinfetantes (iodo, cloro, ácido dodecil benzeno sulfônico, clorohexidina) é afetada pela presença de matéria orgânica e outros fatores, como a temperatura da água de lavagem e o tempo de contato. A manutenção regular da máquina de ordenha, incluindo a verificação de vácuo e pulsador, é crucial para evitar lesões nos tetos e prevenir infecções.
IV.Implicações para Boas Práticas e HACCP
Os testes quantitativos utilizados mostraram-se ferramentas importantes para o Controlo de Pontos Críticos no contexto de um plano HACCP, auxiliando na identificação de áreas de melhoria na higiene da ordenha. A análise SWOT contribuiu para a sistematização da informação necessária para a elaboração de um Manual de Boas Práticas, destacando a importância de integrar a higiene da ordenha com as outras vertentes da gestão da exploração leiteira, como a saúde e bem-estar animal e sanidade, para garantir a produção de leite de alta qualidade e segurança alimentar.
1. Testes Quantitativos como Ferramentas para o HACCP
O estudo conclui que os testes quantitativos utilizados (avaliação da higiene dos tetos, grau de hiperqueratose e higiene dos úberes) podem ser ferramentas importantes no controle de pontos críticos (PCCs) dentro de um sistema HACCP para a produção de leite. A identificação precisa de áreas com falhas de higiene, revelada pelos testes, permite uma intervenção direcionada e eficaz na prevenção de riscos à segurança alimentar. A implementação de um plano HACCP requer a identificação e controle dos PCCs, e esses testes fornecem dados quantitativos para essa avaliação, auxiliando na definição de medidas corretivas e na melhoria contínua das práticas de higiene na ordenha. A utilização destes testes em conjunto com a análise SWOT permite uma visão completa dos pontos fortes e fracos da exploração, contribuindo para uma gestão mais eficaz da produção e segurança do leite.
2. Análise SWOT e Manual de Boas Práticas
A análise SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças) mostrou-se uma metodologia valiosa para a sumarização das fraquezas e pontos fortes encontrados na higiene da ordenha das explorações leiteiras estudadas. Esta ferramenta de análise permitiu organizar e sistematizar a informação obtida, facilitando a identificação de áreas para melhoria e a elaboração de um Manual de Boas Práticas de Manejo de Ordenha. A análise SWOT, ao identificar as deficiências e potenciais de melhoria, contribui diretamente para a elaboração de um manual prático e direcionado às necessidades específicas das explorações leiteiras, incluindo as melhores práticas para a higiene da ordenha e a prevenção de problemas como a mastite. A sistematização da informação gerada pela análise SWOT é um passo crucial para a implementação eficaz de um plano HACCP e para o aumento da qualidade e segurança do leite produzido.