Contributo para a criação do serviço educativo da Fundação Sousa D'Oliveira : o desenvolvimento de laços entre o espólio arqueológico e os públicos mais jovens

A pesquisa iniciou com um levantamento da história, estatutos e atividades da Fundação Manuel Sousa d'Oliveira, revelando a inexistência de um serviço educativo formal. O espólio arqueológico, resultado das diversas campanhas arqueológicas de Manuel Sousa d'Oliveira, apresentava-se disperso e sem um inventário completo, dificultando a sua apresentação e contextualização. Para minimizar essa dificuldade, o estudo recorreu a diários de campanha e jornais da época, utilizando os comunicados de Manuel Sousa d'Oliveira sobre o andamento dos trabalhos arqueológicos como fontes de informação. Essa falta de organização prejudicava a potencial divulgação do patrimônio arqueológico e a sua utilização em ações educativas, destacando a urgente necessidade de criar um serviço para esse propósito. A pesquisa focou-se em como aproveitar este importante acervo para atividades educativas e como promover a divulgação do trabalho e legado de Sousa d’Oliveira.

Os objetivos da Fundação, especialmente aqueles relacionados com a arqueologia, foram analisados. O estudo identificou metas como o fomento de estudos arqueológicos nos Açores, a promoção de iniciativas culturais e a divulgação do trabalho realizado por Manuel Sousa d'Oliveira. Estas metas serviram como base para a definição de estratégias e ações que garantiriam o cumprimento dos objetivos propostos, alinhando as atividades com a missão da Fundação. A pesquisa utilizou os estatutos e objetivos da Fundação como referenciais para definir ações que dialogassem com sua missão, garantindo a coerência entre a proposta de serviço educativo e o propósito da instituição. A conexão entre os objetivos da fundação e as propostas de serviço educativo foi um fator-chave para a construção do projeto.

O patrimônio da Fundação Manuel Sousa d'Oliveira é composto por uma herança deixada por seus pais, bens adquiridos ao longo da vida do fundador e um dote atribuído pela Associação Arqueológica dos Açores. Este patrimônio inclui um prédio misto, um prédio urbano, um prédio rústico, um apartamento em Caldas da Rainha, um talhão para sepultura no cemitério dos Arrifes, um vasto espólio arqueológico-museológico, uma biblioteca rica e diversificada e o recheio de uma casa, incluindo móveis, obras de arte e peças de artesanato. O foco deste estudo, porém, concentra-se principalmente no vasto espólio arqueológico-museológico, buscando estratégias para sua melhor gestão, preservação e principalmente, para a sua divulgação através de um serviço educativo. A riqueza e diversidade do patrimônio além do acervo arqueológico reforçam a importância da Fundação para a comunidade e sua necessidade de estruturar ações de divulgação e acesso público.

Considerando as condições físicas e estruturais inadequadas da Fundação para a implementação de um serviço educativo e a divulgação eficaz do espólio arqueológico, a pesquisa propõe uma parceria com o Museu de Vila Franca do Campo. Essa escolha justifica-se pela localização do museu, no local onde Manuel Sousa d'Oliveira desenvolveu a maior parte de seus trabalhos arqueológicos nos Açores. O museu já possui uma sala dedicada à arqueologia e a Manuel Sousa d'Oliveira, além de recursos humanos qualificados para orientar os visitantes em atividades educativas. A parceria visa otimizar os recursos e garantir a eficácia do serviço educativo, aproveitando a infraestrutura e expertise do Museu de Vila Franca do Campo para alcançar melhor os objetivos de divulgação do espólio. A solução de parceria é apresentada como a mais viável e eficaz para a implementação do projeto.

O texto inicia abordando a função educativa dos museus, destacando-a como fundamental. A partir da definição de museu, são enumeradas funções chave: estudo e investigação, incorporação, inventário e documentação, conservação, segurança, interpretação, exposição e educação. O estudo enfatiza a importância de investigar para fundamentar ações, adquirir objetos de valor patrimonial e cultural, conservar e preservar o espólio, divulgar o patrimônio e usar as exposições para ensinar e educar. Essa discussão contextualiza a pesquisa, justificando a análise de práticas educativas em museus como parte essencial da proposta para a Fundação Manuel Sousa d'Oliveira. A inclusão da educação como função primordial dos museus define o contexto para a análise subsequente das práticas educativas, e como estas contribuem para a valorização e divulgação do património.

Considerando a importância da função educativa dos museus para a aproximação do público mais jovem, o estudo analisou o panorama museológico português da última década do século XX e primeira década do século XXI. Baseando-se no trabalho de Mário Antas sobre boas práticas educativas em museus de arqueologia em Portugal, um levantamento foi realizado em uma amostra de nove museus. As estratégias para a promoção e divulgação do conhecimento nesses museus abrangiam diversas tipologias de atividades educativo-culturais: visitas guiadas, ateliês, oficinas, workshops, atividades de expressão plástica, corporal e dramática, dramatização/teatro, visitas a monumentos e percursos pedestres temáticos, jogos pedagógico-didáticos, jogos virtuais, visualização de vídeos e filmes, maletas pedagógicas e exposições. Essa variedade de atividades demonstra a riqueza e diversidade das práticas existentes, servindo de inspiração e referência para a criação da proposta para a Fundação.

O estudo apresenta exemplos concretos de práticas educativas de museus portugueses com coleções arqueológicas. São mencionados exemplos como visitas guiadas com dramatização (Museu Nacional de Arqueologia), maletas pedagógicas e o projeto “O Museu vai à Escola” (Museu Nacional de Arqueologia), oficinas didáticas de arqueologia, focando cerâmica castreja e símbolos e letras (Museu da Sociedade Martins Sarmento), e atividades diversificadas no Museu Municipal de Baião. O Museu de Portimão também é apresentado com suas oficinas educativas, e o Museu Monográfico de Conímbriga, com suas atividades relacionadas às ruínas romanas. O Museu Municipal de Setúbal apresenta suas atividades que incluem visitas guiadas, ateliês temáticos, exposições e video-projeções. O Centro de Arqueologia de Avis também é mencionado, com suas atividades diversificadas em Arqueologia. Estas descrições detalhadas ilustram a variedade de abordagens e metodologias existentes, servindo como referências para a construção de um serviço educativo inovador e adaptado às necessidades da Fundação.

Devido às condições físicas e estruturais inadequadas da Fundação Manuel Sousa d'Oliveira para a implementação de um serviço educativo completo e a necessidade de promover seu espólio arqueológico, a proposta centraliza-se em uma parceria com o Museu de Vila Franca do Campo. A escolha deste museu justifica-se pela sua localização estratégica, no local onde Manuel Sousa d'Oliveira realizou grande parte de seu trabalho arqueológico nos Açores. Além disso, o museu já dispõe de uma sala dedicada à arqueologia e a Manuel Sousa d'Oliveira, bem como recursos humanos qualificados capazes de orientar visitantes e conduzir atividades educativas. Esta parceria estratégica visa otimizar recursos, garantir a eficácia do serviço educativo, e aproveitar a infraestrutura e a expertise do museu para alcançar os objetivos de divulgação do espólio arqueológico da Fundação. A localização do museu no local de maior atuação de Sousa d'Oliveira permite uma experiência mais imersiva e contextualizada para os participantes.

A proposta inclui três atividades educativas, planejadas para serem realizadas no Museu de Vila Franca do Campo. A primeira atividade visa apresentar Manuel Sousa d'Oliveira e introduzir conceitos básicos de arqueologia, sua importância e a função de um arqueólogo. A segunda atividade, intitulada “Era uma vez Vila Franca do Campo por Sousa d'Oliveira”, propõe uma visita guiada com dramatização, que pode culminar em um jogo de perguntas (tipo quiz) ou servir como introdução à terceira atividade. A terceira atividade é uma exposição sobre o trabalho de Manuel Sousa d'Oliveira, focando seus achados arqueológicos e a história da região, visando também promover reflexões sobre o futuro da arqueologia nos Açores. As três atividades trabalham em conjunto para alcançar o objetivo de disseminar o conhecimento sobre o espólio, o seu contexto histórico e a importância do trabalho de Manuel Sousa d'Oliveira, conectando o público jovem ao patrimônio cultural da região.

A organização da exposição, a terceira atividade proposta, baseia-se no trabalho de Sofia Lapa. Considerando três elementos fundamentais: objetos selecionados (acervo expositivo), itinerários propostos (narrativas subjacentes ao desenho da exposição) e mediadores (elementos de mediação expositiva escritos), a exposição será estruturada em três núcleos temáticos. O primeiro núcleo focará no autor (Manuel Sousa d'Oliveira), o segundo na sua obra (achados arqueológicos e seu significado) e o terceiro no futuro da arqueologia nos Açores. A exposição busca ir além da simples apresentação de objetos, integrando narrativas e elementos de mediação que tornem a experiência mais significativa e educativa para o público. O objetivo é proporcionar uma experiência imersiva e completa, integrando diferentes formas de comunicação e aproximação com o público jovem.

A conclusão do estudo demonstra a viabilidade da implementação do serviço educativo proposto para a Fundação Manuel Sousa d'Oliveira. A parceria com o Museu Municipal de Vila Franca do Campo se apresenta como crucial para superar as limitações estruturais da Fundação. O documento destaca a disponibilidade do museu para colaboração, reforçando a possibilidade de enriquecer a oferta cultural de ambas as instituições e contribuir para o enriquecimento do conhecimento sobre a arqueologia açoriana e a figura de Manuel Sousa d'Oliveira. A proposta de atividades educativas, detalhada e contextualizada, demonstra-se exequível e promissora. A estruturação das atividades, levando em conta a pesquisa em práticas educativas em museus e as características do espólio arqueológico, aumenta as chances de sucesso e impacto da iniciativa. A colaboração entre a Fundação e o museu representa uma sinergia para a preservação e divulgação do patrimônio cultural da região.

A implementação do serviço educativo proposto terá um impacto significativo no enriquecimento cultural e na divulgação histórica. A parceria entre a Fundação e o Museu de Vila Franca do Campo proporcionará um acesso mais amplo ao espólio arqueológico, enriquecendo a oferta cultural da região. O projeto contribuirá para um melhor conhecimento sobre o trabalho realizado nos Açores no campo da arqueologia, reconhecendo a figura de Manuel Sousa d'Oliveira como seu impulsionador. Além disso, a iniciativa contribuirá para a divulgação da história local e dos Açores, tornando o patrimônio arqueológico acessível e compreensível para um público mais amplo, especialmente o público jovem. A abordagem educativa e a parceria estratégica visam maximizar o alcance e o impacto da divulgação do espólio, garantindo a preservação e valorização do patrimônio para as gerações futuras.