Peso de Cordeiros: Correlação com ECC

O estudo, realizado na Fazenda Experimental da UFSC entre fevereiro e outubro de 2015, teve como objetivo principal avaliar a influência das oscilações de peso e do escore de condição corporal (ECC) no desenvolvimento das ovelhas e no peso dos cordeiros ao nascer e ao desmame. Foram utilizadas 16 matrizes gestantes da raça Crioula Lanada, mantidas sob o sistema de Pastoreio Racional Voisin (PRV). O ECC foi medido quinzenalmente nos primeiros dois terços da gestação e semanalmente no terço final e início da lactação. Os pesos dos animais foram coletados por meio de pesagens em balança. A inseminação artificial em tempo fixo (IATF) foi utilizada, empregando-se sêmen congelado de carneiros Crioula Lanada da Embrapa Recursos Genéticos (Brasília, DF). Após a IATF, as ovelhas foram divididas em dois grupos para um repasse controlado, e a gestação foi confirmada por ultrassonografia após 40 dias. A análise estatística buscou correlacionar o ECC com o peso das matrizes e o peso dos cordeiros, distinguindo partos simples e gemelares.

A pesquisa focou na raça ovina Crioula Lanada, considerada uma raça rara no Brasil, originária do Rio Grande do Sul, desde a colonização portuguesa. A raça é descrita como tendo porte médio, comportamento ativo e gregário, com características marcantes como a face e extremidades desprovidas de lã e coloração variando do branco ao preto. As fêmeas adultas têm peso em torno de 40 kg e geralmente desmamam um cordeiro por ano com peso médio entre 16 e 18 kg. O sistema de Pastoreio Racional Voisin (PRV) foi utilizado, sendo um sistema de manejo que leva em conta o bem-estar animal, o meio ambiente e as plantas, com o conceito de tempo de repouso do pasto para um rebrote vigoroso e nutricionalmente superior. O PRV é considerado crucial para o sucesso na produção, com a sanidade e a alimentação como aspectos básicos. A pesquisa destaca a importância do conhecimento do ciclo reprodutivo e fisiológico, incluindo o estado nutricional, para intervenções eficientes como uso de suplementos e melhoria das pastagens em momentos críticos.

Os resultados da pesquisa mostraram diferenças significativas entre os grupos de ovelhas que tiveram partos simples e gemelares. As ovelhas que pariram gêmeos apresentaram peso médio de 44,33 kg e ECC de 1,82, com um peso total dos cordeiros desmamados de 19,93 kg. As ovelhas que tiveram partos simples, por sua vez, tiveram peso médio de 42,35 kg e ECC de 1,91, com um peso médio dos cordeiros desmamados de 14,17 kg. Embora o peso total dos cordeiros desmamados fosse maior nos partos gemelares, os cordeiros de partos simples foram individualmente mais pesados ao nascer (P<0,05). O estudo também indica que o peso do cordeiro ao nascer influenciou diretamente o peso ao desmame. O grupo de ovelhas com gestação única desmamou cordeiros mais pesados (P<0,05) do que o grupo com gestações gemelares. Esses dados demonstram a interação entre o tipo de parto, o ECC e o desenvolvimento dos cordeiros.

O estudo destaca o escore de condição corporal (ECC) como uma ferramenta mais precisa que a simples variação de peso para avaliar a adequação nutricional em ovinos. A principal vantagem do ECC reside na sua independência em relação ao número de fetos, tornando-o particularmente útil durante a gestação. O texto menciona que identificar ovelhas magras no final da gestação permite intervenções nutricionais eficazes, enquanto a identificação de ovelhas magras no início da gestação possibilita ajustes no programa de alimentação para atingir uma condição corporal ideal (3 ou 3,5) no parto. A avaliação do ECC fornece uma previsão confiável das reservas corporais disponíveis para suprir as necessidades do animal, e a forma como o ECC muda ao longo do tempo oferece insights sobre a orientação metabólica (anabolismo, catabolismo ou estado estável). Um intervalo de ECC entre 2 e 3,5 é considerado compatível com as práticas de alimentação na criação de ovinos, com um bem-estar metabólico ideal entre 2,5 e 3. Valores abaixo de 1,5 e acima de 3,5 devem ser evitados para prevenir distúrbios metabólicos e otimizar custos.

A pesquisa analisou a relação entre o ECC e o peso corporal das ovelhas durante as diferentes fases da gestação. Nos dois primeiros terços da gestação, foi observada uma correlação positiva entre o ECC e o peso, indicando ganho de peso e aumento das reservas corporais. No entanto, essa correlação se inverte no terço final da gestação, tornando-se negativa. Isso demonstra que, à medida que a gestação avança e o peso aumenta, as ovelhas mobilizam suas reservas corporais para o acelerado crescimento do feto. Esta mudança na correlação ressalta a importância de monitorar o ECC ao longo de todo o período gestacional, pois o peso por si só não reflete completamente o estado nutricional da ovelha. A avaliação do ECC, portanto, torna-se crucial para entender a disponibilidade de reservas corporais e para ajustar o manejo nutricional conforme as necessidades da gestação.

Após o parto, a ECC média das ovelhas decresceu com o avanço da lactação, atingindo valores abaixo de 2, indicando o aumento dos requerimentos nutricionais nessa fase. Essa observação corrobora estudos anteriores que mostram um declínio do ECC em ovelhas gestantes, chegando a valores críticos por volta do parto e período de amamentação. A diminuição do ECC no período pós-parto é atribuída ao aumento da demanda nutricional para a produção de leite. A pesquisa reforça a necessidade de monitoramento constante do ECC, não apenas durante a gestação, mas também durante a lactação, para garantir a adequada nutrição da matriz e o sucesso da produção de leite e a saúde da ovelha. Um manejo nutricional adequado é essencial para evitar problemas metabólicos e garantir a saúde e o desempenho reprodutivo futuro.

O documento enfatiza a importância da nutrição materna adequada para o sucesso na produção de cordeiros. A gestação é apontada como uma fase crítica no ciclo produtivo das ovelhas, especialmente no Brasil, onde o parto ocorre no inverno, período de menor crescimento das pastagens em algumas regiões. A nutrição inadequada durante a gestação pode impactar negativamente o crescimento e o desenvolvimento fetal. É fundamental o conhecimento preciso das exigências nutricionais das ovelhas, considerando fatores que afetam as necessidades de manutenção e de produção (crescimento, lactação e gestação). O documento cita a necessidade de se considerar as demandas nutricionais diferenciadas para ovelhas gestando um ou mais cordeiros, com as exigências sendo significativamente maiores no terço final da gestação, onde ocorre 70% do crescimento fetal. A diferença de peso entre ovelhas com um feto e ovelhas com gêmeos pode ultrapassar 4 kg nesse período. Uma estratégia eficaz na ovinocultura é fazer com que o animal retenha reservas em momentos de alta disponibilidade de forragem para mobilizá-las quando necessário, sendo o ECC o melhor indicador para avaliar e controlar esses mecanismos.

O flushing, definido como suplementação nutricional nas semanas que antecedem a cobertura, é apresentado como uma estratégia para melhorar a eficiência reprodutiva. A eficácia do flushing depende do balanço energético do animal: se a necessidade nutricional superar a ingestão, o animal utilizará suas reservas, entrando em balanço energético negativo (BEN). O flushing com nutrientes específicos, como ácidos graxos, é apontado como uma área para futuras pesquisas. Entretanto, o documento alerta para a necessidade de uma abordagem racional ao flushing, pois tanto a subnutrição quanto a supernutrição podem resultar em perdas reprodutivas. Fêmeas com ECC entre 2,0 e 2,5 devem ser suplementadas para ganhar peso e atingir um ECC de 3,0 a 3,5 antes da estação de monta. O texto ainda menciona que a suplementação por um curto período pode ser uma solução barata e eficiente para aumentar a taxa de natalidade em ovelhas criadas a pasto, melhorando a produção de colostro e a sobrevivência dos cordeiros. A sazonalidade das pastagens brasileiras e as variações climáticas também são fatores que devem ser considerados no planejamento nutricional.

A relação entre a nutrição materna e o desenvolvimento fetal é crucial para o desempenho produtivo do cordeiro. A compreensão das condições das pastagens brasileiras é fundamental para o estabelecimento de estratégias nutricionais mais adequadas à máxima eficiência produtiva e reprodutiva. Alterar bruscamente a dieta no final da gestação não garante bons resultados; o manejo nutricional deve ser planejado e controlado durante todo o período gestacional. Um balanço energético positivo, onde a ingestão supera os requerimentos, leva ao armazenamento de nutrientes como glicogênio e triglicérides ou à geração de calor metabólico. Algumas raças de ovelhas redirecionam energia para termoregulação e para as necessidades do feto, influenciando o peso ao nascer, a sobrevivência e o desempenho reprodutivo futuro. O relaxamento da imunidade no periparto (período ao redor do parto) é descrito, onde a demanda por nutrientes pode ser até seis vezes maior que em animais não reprodutivos, competindo com as funções reprodutivas por recursos escassos. A toxemia da prenhez, caracterizada por hipoglicemia, cetonemia, etc., ocorre em gestações gemelares quando o aporte nutricional é insuficiente, levando à excessiva mobilização de gordura.