Reserva Natural Serra Pico da Vara
Informações do documento
| Autor | Gerald Le Grand |
| Escola | Universidade dos Açores |
| Curso | Ecologia |
| Tipo de documento | Proposta de Projeto |
| Idioma | Portuguese |
| Formato | |
| Tamanho | 18.03 MB |
Resumo
I.Ameaças à Laurissilva Açoreana e ao Priolo Pyrrhula murina
Este documento destaca a situação crítica da Laurissilva Açoreana em São Miguel, particularmente no Vale da Ribeira do Guilherme, último refúgio de diversas espécies endêmicas e raras, incluindo o ameaçado Priolo (Pyrrhula murina). A principal ameaça é a política florestal atual, que promove monoculturas densas de Cryptomeria japonica, uma espécie exótica invasora que sufoca a vegetação nativa. Outras plantas exóticas invasoras, como a Conteira (Hedychium gardnerianum) e Clethra arborea, também representam uma séria ameaça à biodiversidade do local. A área abriga pelo menos 2/3 das plantas endêmicas do arquipélago, muitas delas encontradas apenas neste vale, como a Vicia denessiana. A conservação deste ecossistema único é urgente para proteger não só o Priolo, mas também a rica biodiversidade da flora e faunaendêmica dos Açores.
1. Degradação da Vegetação Nativa e Ameaças à Biodiversidade
A vegetação nativa dos Açores encontra-se cada vez mais restrita e fragmentada, muitas vezes em estado avançado de degradação. A vegetação endêmica, embora relativamente uniforme no arquipélago, apresenta variações entre ilhas e ao longo de um gradiente Este-Oeste, devido a diferenças climáticas. O documento destaca a preocupação com a perda acelerada desse patrimônio biológico. A principal ameaça é a política florestal atual, que prioriza o replantio de áreas impróprias para agricultura com uma única espécie arbórea exótica em povoamentos densos, destruindo a vegetação endêmica, mesmo em pequenos vales e ravinas. Esta prática leva à perda de habitat para numerosas espécies, incluindo plantas e animais. A falta de conhecimento da fauna e microfauna associada à Laurissilva Açoreana, exceto para vertebrados, agrava a situação. O texto aponta para a necessidade urgente de rever essa política e implementar medidas eficazes de conservação da biodiversidade.
2. O Priolo Pyrrhula murina Uma Espécie em Perigo de Extinção
A zona em estudo é crucial para a sobrevivência do Priolo (Pyrrhula murina), também conhecido como Dom-fafe Açoreano, uma ave considerada extinta até sua redescoberta. Esta área representa o último habitat conhecido para esta espécie, com uma população relictual estimada em menos de 20 casais em 1980. A localização específica da população relictual do Priolo é um vale isolado, onde a Laurissilva fornece um nicho ecológico essencial, embora a ave não esteja estritamente dependente dela. A ecologia do Priolo permanece pouco conhecida, assim como seus movimentos dentro e fora do vale ao longo do ano. O estudo desta espécie e a preservação do seu habitat são objetivos centrais do projeto, dada a sua extrema vulnerabilidade e a ameaça de extinção. A falta de pesquisas científicas prévias, especialmente em entomologia, sublinha a urgência em estudar e proteger essa biodiversidade única.
3. Espécies Invasoras como Ameaça à Laurissilva e ao Priolo
A invasão de plantas exóticas representa uma ameaça grave à flora endêmica dos Açores. A Cryptomeria japonica, uma conífera exótica, é particularmente problemática, crescendo rapidamente e suplantando a vegetação nativa por competição e asfixia, especialmente no Vale da Ribeira do Guilherme. As plantações de Cryptomeria utilizam duas técnicas: o arrasamento da vegetação primitiva e plantio direto no meio da vegetação existente, ambas co-existindo na zona de estudo. A Conteira (Hedychium gardnerianum), originária da China, é outro exemplo marcante de planta invasora, que se espalhou rapidamente pelo arquipélago, cobrindo extensas áreas, principalmente em São Miguel. A Clethra arborea, migrante recente da Madeira, representa uma ameaça emergente, presente apenas neste vale, devendo ser erradicada para evitar a sua expansão para outras áreas. A falta de registos de captura de invertebrados neste vale reforça a necessidade de pesquisa, e a preservação da Laurissilva nativa é fundamental para a preservação da fauna e microfauna associada.
4. O Vale da Ribeira do Guilherme Último Refúgio da Laurissilva e do Priolo
O Vale da Ribeira do Guilherme, em São Miguel, é destacado como o último refúgio da Laurissilva Açoreana e do Priolo. Este vale abriga uma elevada concentração de plantas endémicas raras, representando pelo menos dois terços das espécies endêmicas do arquipélago, algumas já extintas em outros locais. A sua singularidade botânica torna este vale um sítio de extrema importância para a conservação. A localização de uma população relictual de morcegos endêmicos (Nyctalus azoreum) reforça o valor biológico da área. A falta de estudos botânicos e entomológicos intensivos neste vale sublinha a lacuna de conhecimento sobre a sua biodiversidade, justificando a realização de pesquisa científica detalhada. A classificação informal da área como Reserva Botânica Natural, sem estatuto oficial e com delimitação vaga, evidencia a necessidade de uma proteção oficial e eficaz, para controlar a invasão de plantas exóticas.
II.Justificação para a Criação de uma Reserva Natural Integral
A conservação da natureza nos Açores é praticamente inexistente. O desaparecimento progressivo das biocenoses endêmicas, sem protestos da opinião pública, leva à extinção de várias espécies vegetais e animais. O Vale da Ribeira do Guilherme, classificado informalmente como Reserva Botânica Natural, representa a última oportunidade de preservar um fragmento significativo da Laurissilva Açoreana em São Miguel. Esta área é única, com uma composição vegetal distinta das Laurissilvas da Madeira e Canárias. A sua proteção é vital para a preservação da riqueza genética do arquipélago e para as gerações futuras, particularmente considerando a fragilidade dos ecossistemas insulares. O estudo da ecologia do Priolo (Pyrrhula murina), presente apenas neste local, e a proteção do morcego endêmico Nyctalus azoreum, são também justificativas cruciais para a criação de uma Reserva Natural Integral.
1. Ausência de Conservação da Natureza nos Açores
A conservação da natureza nos Açores é considerada inexistente, tanto em termos de ações práticas quanto de conscientização da população sobre os problemas ambientais. Essa falta de atuação leva ao desaparecimento progressivo das biocenoses endêmicas, sem protestos públicos, resultando na extinção de inúmeras espécies vegetais e animais e na perda irreversível de uma grande parte do patrimônio biológico do arquipélago. A fragilidade dos ecossistemas insulares, com sua simplificação estrutural e vulnerabilidade a eventos externos, torna essa situação ainda mais preocupante. A ausência de medidas efetivas de conservação resulta na perda irreparável da biodiversidade açoriana, incluindo espécies únicas e valiosas para futuras gerações. A situação atual exige uma mudança imediata de postura, com a implementação de políticas eficazes de proteção ambiental.
2. Importância da Laurissilva Açoreana e sua Vegetação Endêmica
A Laurissilva Açoreana representa o último refúgio para diversas espécies vegetais endêmicas, muitas consideradas raras ou até mesmo muito raras, algumas das quais são extremamente sensíveis às atividades agrícolas, cortes de árvores, plantações de espécies exóticas e pressão intensa do gado. A maior parte dessas plantas endêmicas mostra-se altamente vulnerável às práticas de manejo inadequado. A Laurissilva alberga uma fauna e microfauna associada, ainda pouco conhecida, à exceção dos vertebrados. A conservação desta floresta é fundamental para a manutenção da biodiversidade do arquipélago. O texto destaca a importância da preservação da riqueza genética da Laurissilva para as futuras gerações. A área em estudo concentra uma grande parte da biodiversidade endêmica, com pelo menos dois terços das plantas endêmicas do arquipélago presentes na zona, sendo, em alguns casos, o único local onde essas espécies são encontradas. Algumas já desapareceram de outros locais, tornando o vale o seu último refúgio, como é o caso da Vicia denessiana.
3. Justificativa Centrada no Priolo Pyrrhula murina e no Vale da Ribeira do Guilherme
O Vale da Ribeira do Guilherme é identificado como o último refúgio da Laurissilva Açoreana em São Miguel e abriga uma população relictual do Priolo (Pyrrhula murina), uma espécie de ave considerada extinta até sua redescoberta em 1980. Esta população é extremamente pequena, consistindo de apenas cerca de 20 casais. A Laurissilva desempenha um papel fundamental no nicho ecológico do Priolo, justificando a necessidade de preservação deste ecossistema. A ecologia do Priolo é desconhecida, assim como seus padrões de deslocamento dentro do vale. O estudo desta espécie e de sua ecologia constitui um dos focos principais do projeto de criação da Reserva Natural Integral. O vale também abriga uma população de morcegos endêmicos, Nyctalus azoreum. A sua presença reforça a justificativa para a criação de uma área protegida, destacando a importância da conservação deste habitat único e sua rica biodiversidade.
4. Apoios Institucionais e a Necessidade de Ação Urgente
A criação da Reserva Natural Integral conta com o apoio de diversas entidades, incluindo a Comissão Regional do Ambiente, a Universidade dos Açores (Departamento de Ecologia e Divisão de Proteção da Natureza e Ornitologia, sob a liderança do Prof. Dr. Vasco Garcia), o Museu de Carlos Machado de Ponta Delgada, o N.P.E.P.V.S. (Delegação dos Açores) e o Governo Regional dos Açores. A redescoberta do Priolo e as ameaças ao seu habitat reforçam a importância do projeto e aumentam a probabilidade de obter mais apoio nacional e internacional. A maior parte da área de estudo pertence ao Governo Regional, que pode contribuir diretamente para a conservação da natureza ao promover a criação imediata da reserva. O documento enfatiza a necessidade de ação urgente para preservar este último refúgio de flora endêmica e habitat do Priolo, antes que a degradação seja irreversível.
III.Proposta e Apoios ao Projeto
O projeto para a criação de uma Reserva Natural Integral no Maciço do Pico da Vara em São Miguel tem o apoio da Universidade dos Açores, através do seu Departamento de Ecologia e Divisão de Proteção da Natureza e Ornitologia (dirigida pelo Prof. Dr. Vasco Garcia). Outros apoios incluem o Museu de Carlos Machado de Ponta Delgada, o N.P.E.P.V.S. (Delegação dos Açores), e o Governo Regional dos Açores, a quem pertence grande parte da área em questão. O projeto visa estabelecer os limites e as condições de gestão desta reserva, salvaguardando o último refúgio da flora endêmica dos Açores e do Priolo (Pyrrhula murina). Há ainda o apoio de entidades internacionais, evidenciando a relevância global deste projeto de conservação. A urgência da implementação do projeto está ligada à ameaça iminente das espécies exóticas invasoras e à necessidade de proteger este hotspot de biodiversidade.
1. Projeto de Reserva Natural Integral no Maciço do Pico da Vara
O documento propõe a criação de uma Reserva Natural Integral no Maciço do Pico da Vara, na Ilha de São Miguel, Açores. Este projeto visa proteger o último refúgio da Laurissilva Açoreana e garantir a sobrevivência do Priolo (Pyrrhula murina), uma ave endêmica em risco de extinção. A proposta inclui a delimitação precisa da área a ser protegida e a definição de estratégias de gestão para a conservação da biodiversidade, controlando a expansão de espécies exóticas invasoras e implementando medidas de proteção adequadas. O projeto enfatiza a importância de proteger não só o Priolo, mas também a rica flora e fauna endêmicas da região, garantindo a preservação da sua singularidade genética para as gerações futuras. A urgência do projeto está relacionada à rápida degradação do habitat, causada principalmente por espécies exóticas invasoras.
2. Apoios Institucionais e Governamentais
O projeto conta com o apoio da Universidade dos Açores, especificamente do seu Departamento de Ecologia e Divisão de Proteção da Natureza e Ornitologia, liderada pelo Professor Dr. Vasco Garcia. Esta divisão tem trabalhado na análise de bibliografia científica sobre o arquipélago e na prospeção de diferentes ilhas para avaliar as medidas necessárias à conservação da natureza. O projeto também beneficia do apoio do Museu de Carlos Machado em Ponta Delgada e do N.P.E.P.V.S. através da sua delegação nos Açores. Crucialmente, o Governo Regional dos Açores, proprietário da maior parte da área de estudo, é um parceiro fundamental para a concretização do projeto, podendo promulgar o estatuto de reserva e definir os seus limites e condições de gestão. A menção a apoios de fontes estrangeiras e internacionais indica a dimensão e relevância do projeto em escala global, reforçando a sua importância para a conservação da biodiversidade.
3. Perspectivas Futuras e Necessidade de Pesquisa
O projeto representa o início de uma série de iniciativas para o estudo e conservação de zonas importantes para a biodiversidade em diferentes ilhas dos Açores. São mencionados exemplos, como um projeto para um Parque Regional na Ilha do Pico e Reservas Naturais Integrais marinhas e terrestres nos ilhéus das ilhas Graciosa e Santa Maria. A necessidade de pesquisa científica é enfatizada, com foco no desenvolvimento de um programa de pesquisa e regras de acesso bem definidas para a área protegida, para evitar que os próprios cientistas causem danos ao ecossistema frágil. O documento salienta a importância do controlo das visitas e autorizações de coleta na área em questão, em colaboração com as autoridades florestais dos Açores. O manejo da reserva deverá equilibrar a proteção da fauna e flora com uma economia realista e sustentável.
