Currículos Latino-Americanos: a formação pregressa das/dos estudantes internacionais da UNILA

Currículos Latino-Americanos: UNILA

Informações do documento

Autor

Juliana Pirola Da Conceição Balestra

Escola

Universidade Federal Da Integração Latino-Americana (UNILA)

Curso Educação
Tipo de documento Relatório Final
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 7.56 MB

Resumo

I.Seleção de Estudantes Internacionais na UNILA Processo e Evolução

A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) seleciona anualmente estudantes internacionais desde 2010, conforme sua Lei de Criação (Lei nº 12.189/2010). Inicialmente, o processo era indireto, com os candidatos se inscrevendo por meio dos Ministérios da Educação de seus países. A partir de 2012, a UNILA passou a definir critérios mínimos de seleção (cidadania, ensino médio completo, maioridade). Em 2014, a responsabilidade pela seleção foi transferida para a Pró-reitoria de Relações Institucionais e Internacionais (PROINT), estabelecendo um processo em duas etapas: uma eliminatória (documentação) e outra classificatória (análise do histórico escolar, com média mínima de 6,0 e um Fator de Correlação — FC — para bonificar até 20% da nota, baseado na relação entre a área do ensino médio e a área do curso pretendido). A inscrição é gratuita e online, aberta a candidatos de 32 países da América Latina e do Caribe, com a exigência de conclusão do ensino médio fora do Brasil e comprovação de nacionalidade latino-americana ou caribenha. Este processo de seleção de estudantes internacionais na UNILA é fundamental para a sua missão institucional e promove a integração regional.

1. Fase Inicial da Seleção 2010 2014 Processo Indireto

Entre 2010 e 2014, a seleção de estudantes internacionais pela UNILA era indireta. Os candidatos deveriam se inscrever por meio dos Ministérios da Educação ou órgãos equivalentes em seus países de origem, os quais aplicavam seus próprios critérios de seleção. Somente países com acordos de cooperação com a UNILA participavam deste processo. Essa fase inicial demonstra uma abordagem menos centralizada e dependente de parcerias internacionais para o ingresso de estudantes estrangeiros. A UNILA, mesmo nessa fase inicial, já demonstrava seu comprometimento com a sua missão institucional de integração latino-americana, buscando parcerias com países como Paraguai, Uruguai, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Chile, Peru, Venezuela, El Salvador, Guatemala, Nicarágua e Haiti.

2. Estabelecimento de Critérios e Centralização do Processo 2012 2014

A partir de 2012, a UNILA iniciou a definição de critérios mínimos de seleção para estudantes internacionais, uniformizando as exigências. Esses critérios incluíam a cidadania do país de origem, a conclusão do ensino médio ou equivalente e a idade mínima de 18 anos. Essa etapa representou um passo importante rumo à centralização do processo seletivo, dando maior controle à UNILA sobre a escolha dos seus estudantes internacionais. A mudança, que visava maior clareza e transparência no processo de seleção, buscava garantir um padrão mínimo de qualificação para os candidatos. Essa nova etapa se consolidou em 2014, com a regulamentação pela Comissão Superior de Ensino (COSUEN), que transferiu a responsabilidade da Pró-reitoria de Graduação (PROGRAD) para a Pró-reitoria de Relações Institucionais e Internacionais (PROINT).

3. Processo de Seleção em Duas Etapas a partir de 2014

A partir de 2014, o processo de seleção de estudantes internacionais na UNILA passou a ser realizado em duas etapas. A primeira etapa é eliminatória, focando na verificação da documentação apresentada pelos candidatos e na sua conformidade com os requisitos estipulados no edital. A segunda etapa é classificatória, baseada na análise do histórico escolar dos candidatos considerados aptos na fase anterior. Nesta fase, utiliza-se a média aritmética simples das notas obtidas no ensino médio ou equivalente, com uma nota de corte de 6,0. Os candidatos são classificados por curso, considerando-se a primeira e segunda opção, respeitando-se a distribuição de vagas entre os países e a Nota de Classificação (NC), calculada pela fórmula: NC = (1 + FC) * NEM (onde NEM é a Nota do Ensino Médio e FC é o Fator de Correlação, que pode bonificar até 20% da nota). O Fator de Correção considera a relação entre a área do ensino médio e a área do curso escolhido. A inscrição passou a ser totalmente online e gratuita, diretamente pelo site da UNILA.

4. Requisitos para Inscrição e Destinação de Vagas

A inscrição no processo seletivo da UNILA para estudantes internacionais é realizada online e gratuitamente, diretamente pelo site da instituição. O processo está aberto a candidatos de 32 países da América Latina e do Caribe, excluindo brasileiros, mesmo os binacionais. Os requisitos incluem a comprovação legal da nacionalidade latino-americana ou caribenha, a conclusão do ensino médio ou equivalente integralmente fora do Brasil, a ausência de vínculo ativo com a UNILA e a maioridade (18 anos) até a data da matrícula. O Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI UNILA 2013-2019) estabelece a distribuição de vagas na proporção de 50% para estudantes brasileiros e 50% para estudantes de países da América Latina e Caribe, permitindo, excepcionalmente, o ingresso de estudantes de outras regiões do mundo. Os documentos de inscrição são arquivados na UNILA, servindo como fonte de dados valiosos sobre a educação secundária na América Latina e Caribe.

II.Análise Comparativa da Educação Secundária na América Latina

O estudo analisou históricos escolares de estudantes internacionais da UNILA, focando na educação secundária na América Latina e no Caribe. A pesquisa revelou uma grande diversidade nos sistemas educacionais, com variações significativas na duração do ensino secundário (de 2 a 6 anos), terminologia utilizada (“Secundaria”, “Secondary School”, etc.), e estrutura curricular. Muitos países apresentam um ciclo básico comum seguido de um ciclo diversificado, com diferentes ênfases e especializações. A análise comparativa de currículos latino-americanos destacou a ênfase em Matemática e Línguas, com variações na inclusão de Ciências Sociais e outras áreas. A pesquisa utilizou como referência a idade prevista para cada nível de ensino e o período de escolarização obrigatória em cada país, identificando a diversidade de estruturas curriculares e a falta de um perfil único de estudante internacional na UNILA. A pesquisa consultou documentos educacionais de cada país e estudos da UNESCO para criar tabelas de equivalência entre os níveis de ensino.

1. Metodologia e Fontes de Dados

A análise comparativa da educação secundária na América Latina se baseou em históricos escolares de estudantes internacionais da UNILA. Esses documentos, arquivados no SIGAA e no portal Inscreva da UNILA, forneceram informações sobre os componentes curriculares, sistemas de avaliação e títulos de conclusão em diversos países. Para contextualizar os dados, foram elaboradas tabelas de equivalência entre os níveis de ensino, utilizando documentos educacionais de cada país e estudos de organismos internacionais como a UNESCO. A análise dos dados foi realizada em reuniões quinzenais entre agosto e dezembro de 2018, com os históricos escolares impressos e com a desidentificação dos estudantes. A idade prevista para cada nível de ensino e o período de escolarização obrigatória foram considerados como pontos de referência para a análise comparativa, permitindo uma visão geral sobre a educação básica nos países analisados.

2. Variações na Duração e Terminologia da Educação Secundária

O estudo revelou uma grande heterogeneidade nos sistemas educacionais da região. A duração da educação secundária varia significativamente entre os países, indo de dois anos (Colômbia e Haiti) a seis anos (Bolívia, Costa Rica, Guatemala e Nicarágua), passando por três anos (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Equador e México) e quatro anos (Chile, República Dominicana e Belize) e cinco anos (Peru, Guiana e Venezuela). Não há consenso sobre o ponto exato de transição entre o ensino primário e secundário, nem sobre a terminologia empregada, com variações como “Secundaria”, “Secondary School”, e outras designações. As razões para essas diferenças são complexas e dependem de fatores como tradição escolar, expectativas e finalidades do nível de ensino, influência de países vizinhos, recursos disponíveis e pressão de organismos internacionais.

3. A Educação Secundária Diversificada e Padronização Curricular

Em diversos países latino-americanos, a educação secundária é estruturada em dois ciclos: um ciclo básico comum, com matérias gerais, e um ciclo diversificado ou superior, onde os estudantes escolhem uma área de conhecimento, definindo seus planos de estudo e titulação. O ciclo básico complementa a educação primária, enquanto o ciclo diversificado oferece opções para atender as necessidades e interesses dos estudantes, muitas vezes em escolas distintas, resultando em diferenciação curricular (disciplinas, metodologias e carga horária). O modelo diversificado reflete uma crescente padronização global influenciada pelo Estado, organizações internacionais e especialistas acadêmicos, mesmo antes da criação de organizações como a UNESCO, Banco Mundial e OCDE. Esse processo de padronização é observado através de relatórios e recomendações de especialistas em educação, conferências internacionais e, historicamente, pela imposição de currículos nos sistemas educacionais coloniais. As disciplinas são geralmente divididas em seis áreas: Línguas e Literatura, Matemática, Ciências Naturais, Ciências Sociais, Educação Artística e Educação Física, sendo a ênfase dada para Línguas e Matemática, com variações entre os países.

4. Desafios para a Integração de Estudantes Internacionais na UNILA

A diversificação da educação secundária em diferentes países da América Latina impõe desafios à UNILA na seleção e integração de estudantes internacionais. A falta de componentes curriculares básicos em determinadas áreas em alguns países (ex: ausência de Ciências Sociais no Equador, ou Biologia na Bolívia e El Salvador) prejudica a preparação destes alunos para os cursos de graduação na UNILA nestas áreas. A variabilidade na duração da educação secundária e nos currículos dificulta a elaboração de um perfil único para estudantes internacionais, tornando necessária uma análise mais detalhada e contextualizada de cada caso. A comparação direta com o modelo brasileiro ignora as especificidades de cada sistema, valorizando somente as notas obtidas e desconsiderando métodos de avaliação, áreas de conhecimento e outras nuances dos sistemas educacionais. A Venezuela, por exemplo, apresenta uma disparidade, considerando apenas dois anos de sua educação secundária de cinco anos. A pesquisa destaca a necessidade de adaptação dos critérios de seleção para contemplar a diversidade de sistemas educacionais na região.

III.Desafios e Implicações da Diversidade Curricular

A pesquisa identificou desafios relacionados à grande diversidade de estruturas curriculares na educação secundária latino-americana. A falta de uniformidade na duração e nos componentes curriculares da educação secundária, comparada com o padrão brasileiro, dificulta a avaliação equitativa dos candidatos. A ausência de componentes curriculares específicos em alguns países (como Ciências Sociais no Equador ou Biologia na Bolívia e El Salvador) impacta na preparação dos estudantes para cursos de graduação na UNILA nessas áreas. A análise de documentos curriculares de diversos países (como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Honduras, Nicarágua, Paraguai, Peru, República Dominicana, Santa Lúcia, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela) revelou a complexidade de equiparar esses sistemas ao padrão brasileiro, destacando a necessidade de considerar as especificidades de cada sistema educativo na seleção de estudantes internacionais. A UNILA precisa aprimorar os métodos de avaliação para garantir a equidade e considerar a diversidade dos sistemas educacionais latino-americanos no processo de seleção de estudantes internacionais.

1. Desigualdade na Duração e Estrutura da Educação Secundária

A análise da educação secundária na América Latina revela uma grande variação na duração dos estudos, que oscila entre dois e seis anos, dependendo do país. Essa diferença na duração afeta diretamente a comparação entre os currículos e a avaliação dos estudantes internacionais que buscam ingresso em universidades brasileiras. A falta de padronização dificulta a equivalência de diplomas e a compreensão do nível de conhecimento adquirido pelos alunos de diferentes países. A simples comparação de notas desconsidera a diversidade de sistemas de avaliação e o peso das disciplinas em cada currículo nacional, impactando na equidade do processo seletivo. A ausência de uma base comum dificulta a avaliação justa dos candidatos e requer uma análise mais aprofundada de cada sistema educacional.

2. Lacunas Curriculares e Implicações para o Ensino Superior

A pesquisa identificou lacunas significativas nos currículos da educação secundária de alguns países latino-americanos, afetando a preparação de seus estudantes para o ensino superior em instituições como a UNILA. A ausência de componentes curriculares específicos, como Ciências Sociais no Equador ou Biologia na Bolívia e El Salvador, representa um desafio para alunos que desejam ingressar em cursos relacionados a essas áreas na UNILA. Essa falta de alinhamento entre os currículos do ensino secundário e as necessidades dos cursos de graduação pode impactar o desempenho acadêmico dos estudantes internacionais e exigir esforços adicionais de nivelamento por parte da instituição. A disparidade entre os currículos acentua a necessidade de estratégias de adaptação e integração dos alunos, considerando as diferentes formações prévias.

3. Dificuldades na Equiparação dos Sistemas Educacionais

O estudo destaca as dificuldades em equiparar os diferentes sistemas educacionais latino-americanos a um padrão único, frequentemente baseado no sistema brasileiro. A comparação direta de notas, sem considerar as especificidades de cada sistema, pode levar a uma avaliação injusta e imprecisa dos candidatos. A metodologia atual desconsidera as diferenças nas formas de avaliação, nas ênfases curriculares e nas áreas do conhecimento privilegiadas em cada país. Essa falta de consideração pela diversidade implica em uma equiparação superficial e injusta, potencialmente privilegiando estudantes de países com sistemas educacionais mais próximos ao padrão brasileiro. A pesquisa enfatiza a necessidade de se desenvolver metodologias de avaliação mais justas e abrangentes, que levem em conta as especificidades culturais e educacionais de cada país.

4. Necessidade de Adaptação do Processo Seletivo da UNILA

Considerando as diferenças significativas entre os sistemas educacionais da América Latina, o estudo recomenda a revisão do processo seletivo da UNILA para garantir maior equidade e justiça na avaliação dos candidatos internacionais. A atual metodologia de equiparação ao padrão brasileiro precisa ser repensada, buscando alternativas que considerem a diversidade curricular e as especificidades de cada país. A implementação de novas estratégias de avaliação que considerem as diferentes estruturas curriculares e formas de ensino é fundamental para assegurar que todos os candidatos tenham uma oportunidade justa de ingresso na UNILA. O respeito à diversidade e a busca por uma avaliação mais justa são cruciais para o sucesso do projeto de internacionalização da UNILA.