Decolonialidade: uma Análise da Formação Continuada de Docentes da Rede Estadual de Ensino no Município de Foz do Iguaçu/PR

Decolonialidade na Formação Docente

Informações do documento

Autor

Wagner Grizorti

instructor Prof. Dr. Gerson Galo Ledezma Meneses
Escola

Universidade Federal da Integração Latino-Americana

Curso Integração Latino Americana
Local Foz do Iguaçu
Tipo de documento Dissertação
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 706.01 KB

Resumo

I. INTRODUÇÃO O Preconceito na Educação Básica

Esta pesquisa investiga a presença do preconceito e da discriminação na educação básica estadual do município de Foz do Iguaçu/PR, focando na formação continuada de professores do ensino médio. O estudo busca compreender como a colonialidade do saber e o eurocentrismo impactam as práticas pedagógicas e a formação docente, afetando a construção de uma escola intercultural e democrática.

1.1 Contradição entre a Democracia Legal e a Realidade Escolar

A introdução destaca a contradição entre o discurso democrático presente na Constituição Federal de 1988, que garante direitos iguais a todos, e a realidade escolar brasileira, marcada pela presença de preconceitos e discriminação. A existência de preconceitos e discriminação em redes sociais e mídias, afetando estudantes, pais, professores e funcionários da rede pública e privada em todos os estados, é apresentada como um paradoxo a ser enfrentado. A busca por uma transformação educacional é proposta como objetivo central, visando uma escola culturalmente democrática e equânime, onde a formação continuada de professores desempenha um papel fundamental na discussão e reflexão sobre esses temas. A pesquisa se justifica pela necessidade de um estudo sobre a educação estadual básica em Foz do Iguaçu/PR, analisando como a formação continuada de professores do ensino médio aborda o processo de colonização e o preconceito existente no ambiente escolar. O objetivo é compreender e ressignificar a prática pedagógica para contextualizar novas circunstâncias e a atuação docente, entendendo a formação continuada como parte do desenvolvimento profissional ao longo da carreira.

1.2 A Formação Continuada como Instrumento de Transformação

A seção enfatiza a importância da formação continuada de professores como um caminho para transformar a escola em um espaço culturalmente democrático e equitativo. Preparar professores para refletir e trabalhar com a diversidade cultural significa criar espaços para a coexistência de diferentes concepções. O docente é considerado um agente crucial nesse processo, pois sua atitude e formação influenciam significativamente o processo educativo, podendo contribuir positivamente ou criar obstáculos ao desenvolvimento dos alunos. A introdução aponta para a necessidade de articular novos saberes na construção da docência, dialogando com todos os envolvidos no processo de formação. A pesquisa busca especificar e abordar o tema da formação continuada, entendida como um processo contínuo de desenvolvimento profissional que visa a dar um novo sentido à prática pedagógica, permitindo a contextualização em novas circunstâncias e a ressignificação da atuação do professor. Essa transformação é vista como fundamental para combater o preconceito e a discriminação que permeiam o ambiente escolar.

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Colonialismo Colonialidade e Pedagogia Decolonial

A pesquisa se baseia nos conceitos de colonialismo e colonialidade do saber de Quijano e Mignolo, analisando como essas estruturas de poder se manifestam na educação. O estudo destaca a importância de uma pedagogia decolonial e intercultural, que desafie o eurocentrismo e promova a valorização dos saberes subalternizados. A pedagogia crítica, inspirada em Freire e Fals Borda, é apresentada como um caminho para a transformação educacional.

III. FORMAÇÃO DOCENTE E A COLONIALIDADE EDUCACIONAL

Este capítulo discute o impacto do modelo educativo colonial na formação de professores no Brasil. A pesquisa aponta para a necessidade de uma formação continuada que promova a decolonização epistêmica, a desconstrução de currículos monoculturais, e o desenvolvimento de competências para uma educação intercultural. A pesquisa também aborda os desafios da profissão docente, a falta de valorização do professor, e a necessidade de uma formação que valorize a reflexão crítica e a autonomia profissional.

3.1 O Sistema Educacional Brasileiro como Herança Colonial

Este capítulo inicia discutindo o sistema educacional brasileiro como herança do modelo educativo colonial, segundo Legramandi e Gomes (2019, p.26). Analisa-se o problema da colonização e da colonialidade educacional e sua influência na formação de professores, a partir de princípios epistemológicos do pensamento pós-colonial. O texto destaca que os sistemas educacionais brasileiros, desde sua gênese, apresentam características hegemônicas, eurocêntricas e coloniais. Essas características se consolidaram e suas intenções foram validadas, mesmo que baseadas em ações dominadoras e autoritárias, legitimadas por modelos políticos e políticas educacionais de influência europeia e norte-americana. O foco é no mercado, menosprezando as dimensões formativas, emancipatórias e humanizadoras da educação. Os paradigmas educacionais vigentes são definidos como monoculturais, atendendo aos interesses das classes dominantes e a um colonialismo interno que perpetua desigualdades e exclusão social. O desafio é ressignificar as marcas da colonialidade e desconstruir currículos monoculturais.

3.2 O Desafio da Formação Continuada para a Decolonização Epistêmica

O problema da formação de professores é abordado como antigo e atual, com pesquisas mostrando a necessidade de investigações contínuas e políticas educacionais consistentes. A formação continuada é apresentada como uma estratégia crucial para a decolonização epistêmica. O papel ativo do professor em seu próprio desenvolvimento é destacado, valorizando a relação entre teoria e prática na formação docente, incluindo a reflexão crítica. A complexidade da profissão docente é enfatizada, pois além dos conhecimentos específicos e técnicos, espera-se que o professor modifique atitudes e comportamentos dos alunos. A discussão aborda a concepção da docência como profissão, referenciando Pimenta (1996) para destacar a influência dos valores, da história de vida e dos saberes do professor em sua prática cotidiana. A análise considera a necessidade de autonomia na tomada de decisões e a adequação metodológica ao contexto, buscando um ensino que não seja apenas técnico, mas que envolva comprometimento político, valores éticos e morais, e o desenvolvimento pessoal.

3.3 A Formação Continuada no Paraná e a Imagem Docente

A seção reflete sobre a evolução da formação continuada de professores da rede pública estadual do Paraná, em Foz do Iguaçu. A formação continuada do estado acontece duas vezes ao ano, totalizando dezesseis horas, com foco em discussão de temas e construção de planos de aula. O desafio de modificar matrizes curriculares dos cursos de licenciatura para atender às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Continuada (DCN, Resolução nº 2, de 1º de julho de 2014) é mencionado. A concepção do “ser professor” é fundamental para definir o perfil do egresso, as disciplinas curriculares e o perfil dos professores formadores. A criticidade, reflexividade, pesquisa e autonomia são consideradas indispensáveis à formação de um educador progressista, conforme Freire (2015). A valorização da profissão docente ao longo do tempo é analisada, contrastando o prestígio anterior com a situação atual, onde a profissão perdeu importância em comparação com outras profissões como médico e advogado. A construção e desconstrução da imagem docente através das vivências é discutida, baseando-se em Arroyo (2000), que enfatiza a responsabilidade do professor no processo de formação do educando. A construção de uma nova cultura da formação de professores, segundo Nóvoa (1995), é considerada essencial, envolvendo a mobilização da experiência em dimensões pedagógicas e conceituais de produção de saberes.

IV. A PESQUISA DE CAMPO EM FOZ DO IGUAÇU Resultados da Formação Continuada

A pesquisa de campo, realizada com 15 professores de uma escola estadual em Foz do Iguaçu, utilizou formulários do Google para investigar a percepção dos docentes sobre a formação continuada. Os resultados indicam que a maioria dos professores sente-se desmotivada ou necessitando de mais atenção, com a formação continuada mostrando-se insuficiente para abordar temas como diversidade de gênero e interculturalidade. A pesquisa também explora a percepção dos professores sobre sua identidade profissional, a relação com a colonialidade em suas práticas e a necessidade de formação em novas tecnologias. A formação continuada oferecida pelo Estado do Paraná (16 horas anuais) e o currículo (CREP) são criticados por serem engessados e pouco eficazes para promover uma mudança significativa nas práticas pedagógicas.

4.1 Metodologia da Pesquisa de Campo em Foz do Iguaçu

Este capítulo descreve a pesquisa de campo realizada com 15 professores de uma escola pública estadual na região norte de Foz do Iguaçu, Paraná. Inicialmente, a intenção era utilizar grupos focais, mas a falta de tempo dos professores, muitos com aulas em outras instituições no mesmo dia, impossibilitou essa abordagem. A pesquisa foi então adaptada para o formato eletrônico, utilizando a ferramenta Formulários Google. Essa mudança metodológica permitiu que os professores respondessem à entrevista de forma assíncrona, escolhendo o dia, horário e local de sua preferência. A escolha da plataforma online visou facilitar o máximo possível a participação dos sujeitos, com a intenção de criar um clima que os fizesse sentir-se à vontade para revelar seus sentimentos, pensamentos, dificuldades e conflitos. O roteiro da entrevista combinava perguntas fechadas e abertas, com as perguntas fechadas servindo para coletar dados mais objetivos ou fazer a transição entre tópicos, enquanto as questões abertas permitiam a livre explanação dos sujeitos.

4.2 Resultados da Pesquisa Formação Continuada e Identidade Profissional

Os resultados da pesquisa de campo, analisados a partir das respostas dos professores, parecem estar relacionados a questões de conhecimento, identidade profissional e mercado de trabalho. Algumas indagações norteiam a análise: a escola oferece formação adequada aos professores? Há falta de valorização do professor? Quais os efeitos das mudanças nos processos de produção e divulgação de conhecimentos e informações na prática docente? Como os professores percebem o seu papel atual e o significado que atribuem à profissão no contexto contemporâneo? Quais os impactos da formação no mercado de trabalho em educação e como os professores os enfrentam? Os professores buscam ir além da formação continuada, baseando-se em uma educação intercultural e decolonial? A pesquisa aponta que muitos professores utilizam seus finais de semana para correção de atividades e avaliações, indicando uma sobrecarga de trabalho. Muitos demonstram não saber usar tecnologias, questionando como poderiam integrá-las às suas aulas. A pesquisa online permitiu aos professores maior flexibilidade na resposta, mas a impossibilidade de observar reações diretas limitou a profundidade da análise qualitativa dos dados.

4.3 Análise dos Dados Sentimento de Valorização e Temas da Formação Continuada

A análise dos dados incluiu gráficos que abordam o sentimento dos professores em relação ao trabalho na escola e os temas mais recorrentes na formação continuada. Em relação ao sentimento, a maioria (46,7%) se sente necessitando de mais atenção, e outra parcela considerável (40%) se sente desmotivada. A opção 'Animado com o processo educativo' não foi escolhida por nenhum professor. Quanto aos temas da formação continuada, 65% dos professores relataram que os temas mais frequentes giram em torno da diversidade de gênero e da interculturalidade, temas considerados relevantes, mas de conhecimento superficial entre os docentes, conforme apontado pelas pedagogas da escola. A formação continuada, segundo a análise, não oferece suporte suficiente para uma discussão mais aprofundada desses temas. Outros temas menos frequentes mencionados incluem família na escola (15%), avaliação (10%) e outros (10%). A formação continuada do estado do Paraná, com 16 horas anuais, é criticada por sua estrutura engessada, pouco eficaz para promover mudanças significativas nas práticas pedagógicas, sendo comparada à 'Escola de Gesso', uma metáfora para a rigidez do currículo estadual (CREP).

V.CONCLUSÃO Desafios e Perspectivas para a Formação Docente

A pesquisa conclui que a formação continuada de professores precisa ser repensada para superar os impactos da colonialidade e promover uma educação verdadeiramente intercultural e decolonial. A formação deve ser crítica, reflexiva, e orientada pela prática pedagógica dos professores, em um processo de construção coletiva de conhecimento. É fundamental que a formação aborde questões de preconceito, diversidade, e igualdade, fortalecendo a autonomia profissional dos docentes e a sua capacidade de promover a transformação social através da educação. A pesquisa destaca a urgência de políticas públicas que valorizem o professor e promovam condições adequadas de trabalho e aprendizagem em Foz do Iguaçu e no Paraná.

5.1 Necessidade de Repensar a Formação Continuada

A conclusão reitera a necessidade de repensar a formação continuada de professores para superar os impactos da colonialidade e promover uma educação intercultural e decolonial. A formação precisa ser crítica e reflexiva, baseada na prática pedagógica dos professores, em um processo de construção coletiva de conhecimento. A formação deve abordar temas como preconceito, diversidade e igualdade, fortalecendo a autonomia profissional e a capacidade dos docentes de promover a transformação social por meio da educação. A pesquisa destaca a importância da formação em novas tecnologias, considerando a crescente necessidade de integração dessas ferramentas no processo de ensino-aprendizagem. A pesquisa aponta para a necessidade de políticas públicas que valorizem o professor, promovendo melhores condições de trabalho e aprendizagem.

5.2 Formação Docente Crítica Reflexiva e Contextualizada

A conclusão enfatiza que a formação continuada não pode ser um objetivo externo, mas sim interno, impactando o comportamento e gerando uma atitude de mudança constante. A formação deve incluir um reconhecimento da Didática e da didática específica da disciplina em que o professor atua. A formação deve capacitar o professor a lidar com a resistência e as atitudes dos alunos, uma vez que o professor não pode transmitir o que não vivencia e reflete. A formação continuada deve articular teoria e prática não como campos distantes, mas como aspectos constitutivos da mesma realidade (Herrera-González, 2010). A construção do conhecimento pedagógico deve considerar a aprendizagem e os contextos como eixo fundamental, embasada numa proposta pedagógica crítica que leve em conta a interação dos sujeitos e as possibilidades emancipatórias. A formação docente, sob a ótica colonial e patriarcal, não é considerada crítica; caracterizada como conquista do espírito profissional (Zuin, 2014), muitas vezes serve aos interesses instrumentais do governo, impondo a formação sem espaço para argumentação. É necessário considerar a complexidade do ensino e a disputa sobre ele como objeto de investigação (Calvo; Camargo; Pineda; 2008).

5.3 Desconstruindo o Modelo Colonial na Formação Docente

A conclusão propõe desconstruir a formação de professores baseada em modelos pedagógicos do contexto americano e europeu, confrontando a concepção técnica do ato educativo e o sentido experimental da pesquisa. O objetivo é estabelecer um eixo central na prática da formação continuada pedagógica, com uma percepção crítica-reflexiva, baseada na apropriação da aprendizagem do movimento cultural. Isso permite caracterizar um conhecimento construído a partir dos agentes pedagógicos e os significados e tensões que emergem na sala de aula. A formação continuada deve preparar os professores para lidar com as relações de poder, concorrência e competitividade impostas pelo mundo globalizado. O professor deve orientar criticamente esses comportamentos, preparando seus alunos para um olhar crítico, para que possam promover uma coexistência pacífica e tolerante na sociedade. Esse esforço exige responsabilidade, respeito, tolerância, solidariedade e ética, requisitos fundamentais para uma prática docente comprometida com a formação contínua e permanente. A pesquisa busca tornar inteligíveis as experiências e saberes dos professores, fomentando o diálogo e a invenção de novas maneiras de ver e praticar a educação.