Soja: Sementes e Desempenho Agronômico

A pesquisa foi conduzida na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Erechim/RS, durante os anos agrícolas de 2015/16 e 2016/17. Foram utilizados dois experimentos: um em laboratório, com delineamento inteiramente casualizado (DIC) em esquema fatorial 2x2 (cultivar e procedência), e outro a campo, em esquema fatorial 2x2x2 (cultivar, procedência e aplicação de fungicida), ambos com quatro repetições. As cultivares de soja estudadas foram NS 5445 IPRO e BMX Ativa RR, com sementes de procedência salva e certificada. As variáveis avaliadas incluíram germinação e sanidade das sementes, incidência de doenças fúngicas foliares, número de grãos por planta e produtividade de grãos. Os principais fungos identificados foram Aspergillus sp., Penicillium sp., e Fusarium sp. A metodologia para o teste de germinação adaptou as Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009), utilizando 200 sementes por tratamento, semeadas em papel Germitest e incubadas a 25 ± 2ºC com fotoperíodo de 12h. Duas contagens foram realizadas (5 e 8 dias). O teste de sanidade utilizou 200 sementes por tratamento, incubadas em caixas “Gerbox” a 25 ± 2ºC com fotoperíodo de 12h por sete dias, analisadas com microscópio estereoscópico e óptico para determinar a incidência de cada gênero fúngico. A análise de solo indicou teor médio de matéria orgânica de 3,6%.

O tratamento de sementes para ambas as cultivares incluiu a aplicação de piraclostrobina + tiofanato metílico + fipronil (200 mL/100 kg de sementes) e cobalto + molibdênio (100 mL/ha). As sementes foram inoculadas com 100g de inoculante à base de turfa contendo Bradyrhizobium elkanii (SEMIA 5019) e Bradyrhizobium japonicum (SEMIA 5079) para cada 50kg de sementes. Para os tratamentos com fungicida, foram realizadas quatro aplicações de trifloxistrobina + protioconazol (400 mL/ha + 150 mL/ha de adjuvante) nos estágios V6 e R1, e duas aplicações de azoxistrobina + benzovindiflupir (200 g/ha + 600 mL de adjuvante) nos estágios R5.1 e R6. Tratamentos sem fungicida também foram incluídos. Todas as parcelas receberam aplicações de inseticida quando necessário, de acordo com os níveis de dano econômico estabelecidos. As aplicações foram realizadas com pulverizador costal, com bico cônico TXA 8002 VK, pressurizado por CO2 a 29,0 Psi, com vazão de 150 L/ha. Controle de plantas daninhas foi realizado com herbicida nos estágios iniciais e remoção manual no estágio V6.

A semeadura foi realizada em 26/11/2015 e 15/11/2016 para os anos agrícolas 2015/16 e 2016/17, respectivamente, com espaçamento de 0,5m entre linhas e densidade de 18 sementes por metro linear, visando um estande final de 320.000 plantas/ha. Para a determinação da massa de mil grãos, foram feitas oito repetições de 100 grãos cada, pesadas após secagem em estufa a 105 ± 3°C por 24h e correção da umidade para 13% (BRASIL, 2009). O número de grãos por planta foi determinado a partir de uma amostra de seis plantas por parcela, coletadas na colheita. Os dados de precipitação e temperatura foram obtidos da estação meteorológica de Erechim-RS, vinculada ao INMET. A análise estatística dos dados foi realizada utilizando o software ASSISTAT versão 7.7 (SILVA & AZEVEDO, 2009), utilizando o teste de Tukey (p ≤ 0,05) para comparação de médias.

A análise da germinação e vigor das sementes revelou diferenças significativas entre sementes de procedência salva e certificada. Embora ambas as procedências (salva e certificada) atingiram a germinação mínima exigida para comercialização, as sementes de procedência certificada apresentaram maior vigor. Essa diferença foi mais acentuada no ano agrícola de 2016/17, onde a procedência certificada mostrou resultados superiores em ambas as cultivares (NS 5445 IPRO e BMX Ativa RR). No ano agrícola de 2015/16, a cultivar NS 5445 com sementes de procedência salva apresentou menor germinação em comparação com as outras três combinações (NS 5445 certificada, BMX Ativa certificada e salva). A cultivar BMX Ativa apresentou maior vigor com procedência certificada em 2016/17 (73,5%), enquanto a NS 5445 apresentou maior vigor com procedência salva. A presença de patógenos nas sementes salvas, associada a possíveis danos durante a colheita, secagem e armazenamento, pode ter interferido na germinação e vigor dessas sementes (Goulart, 1997; Rampim et al., 2016).

A avaliação da sanidade das sementes detectou a presença significativa dos fungos Aspergillus sp., Penicillium sp., e Fusarium sp. em ambas as cultivares e procedências. Em 2015/16, Penicillium sp. foi o fungo mais prevalente. A maior presença desses fitopatógenos nas sementes salvas, combinada com potenciais danos à integridade física e fisiológica das sementes durante a colheita, secagem e/ou armazenamento, provavelmente influenciou negativamente a germinação e o vigor dessas sementes (Goulart, 1997; Rampim et al., 2016). A maior ocorrência de fungos nas sementes de procedência salva corrobora a hipótese de que práticas inadequadas de beneficiamento e armazenamento podem comprometer a qualidade das sementes e, consequentemente, o desenvolvimento da lavoura. A comparação entre as porcentagens de incidência desses fungos nas sementes salvas e certificadas reforça a importância de práticas adequadas de produção e armazenamento de sementes para a cultura da soja.

A produtividade foi significativamente maior com o uso de sementes certificadas e a aplicação de fungicidas em ambos os anos agrícolas. No ano agrícola de 2016/17, não houve diferença estatística significativa na produtividade da cultivar NS 5445 entre as procedências (salva e certificada) com ou sem fungicidas. Já a cultivar BMX Ativa certificada apresentou redução de 22,3% na produtividade sem a aplicação de fungicidas. Em 2015/16, a cultivar NS 5445 apresentou redução de produtividade entre 15,6% e 13,5% nas parcelas com sementes salvas em relação às sementes certificadas. O peso de mil grãos não apresentou diferença estatística significativa em relação à procedência, mas houve diferença significativa para a cultivar e a aplicação de fungicidas. O número de grãos por planta foi maior com sementes certificadas combinadas com a aplicação de fungicidas, exceto para a cultivar BMX Ativa certificada sem fungicida em 2015/16. Esses resultados corroboram com estudos anteriores que demonstram o incremento na produtividade com a aplicação de fungicidas (Barros et al., 2008).

As principais doenças encontradas foram ferrugem asiática, oídio, míldio, septoriose e cercosporiose. A procedência das sementes não influenciou significativamente a incidência de ferrugem asiática, oídio e míldio. Porém, para septoriose e cercosporiose (doenças de final de ciclo), houve diferença estatística, sendo maior a incidência em sementes salvas. Em 2015/16, o complexo de doenças teve maior impacto na produtividade da cultivar BMX Ativa sem tratamento com fungicidas (redução de 57,8% na certificada e 53,5% na salva), enquanto a NS 5445 apresentou reduções menores (34% e 35,6%, respectivamente). O menor impacto em 2016/17 pode ser atribuído a um inverno com temperaturas abaixo da média, eliminando plantas hospedeiras alternativas de patógenos biotróficos (Embrapa, 2007). A aplicação de fungicidas reduziu significativamente a incidência de oídio, septoriose e cercosporiose, com resultados semelhantes aos relatados por outros autores (Gallotti et al., 2005; Guerzoni et al., 2003).

Os resultados deste estudo comprovam a importância da qualidade de sementes para a produtividade da soja. Sementes de procedência certificada demonstraram superioridade em termos de germinação e vigor, levando a maiores produtividades em comparação com sementes de procedência salva. Essa diferença foi particularmente evidente no ano agrícola de 2016/17. A escolha de sementes de alta qualidade, como as certificadas, é crucial para garantir um bom estabelecimento da lavoura e maximizar o potencial produtivo da cultura. A utilização de sementes salvas, apesar de economicamente atraente em curto prazo, pode acarretar perdas significativas em termos de produtividade devido à menor germinação e vigor, além do risco aumentado de doenças. A análise dos dados reforça a necessidade de investir em sementes certificadas, garantindo maior segurança e rentabilidade para a produção de soja.

A aplicação de fungicidas se mostrou fundamental para alcançar maiores produtividades, principalmente em conjunto com o uso de sementes certificadas. A combinação de ambos os fatores resultou nos melhores desempenhos em ambos os anos avaliados. Embora o peso de mil grãos tenha sido influenciado pela cultivar e pela aplicação de fungicidas, a procedência da semente não teve impacto significativo nesse componente de rendimento. A incidência de doenças, particularmente septoriose e cercosporiose (doenças de final de ciclo), foi significativamente menor com a aplicação de fungicidas, demonstrando sua eficácia no controle dessas doenças e, consequentemente, na melhoria da produtividade. A redução da severidade de doenças foliares como ferrugem asiática, oídio e míldio, também foi observada com o uso de fungicidas. A escolha do fungicida apropriado e o manejo adequado de sua aplicação são cruciais para alcançar os benefícios de controle de doenças e aumento da produtividade na cultura da soja.

Os resultados demonstram a interação complexa entre a qualidade da semente, a aplicação de fungicidas e as condições climáticas na produtividade da soja. As condições climáticas, especialmente as temperaturas mais baixas do inverno de 2016/17, influenciaram na severidade das doenças e consequentemente na produtividade. A cultivar também desempenhou um papel importante, com a BMX Ativa mostrando maior sensibilidade à ferrugem asiática. Para otimizar a produção, o uso de sementes certificadas, garantindo maior vigor e sanidade, associado à aplicação estratégica de fungicidas, contribui significativamente para o aumento da produtividade e para a redução de perdas causadas por doenças. O manejo integrado da cultura, considerando as condições climáticas e as características de cada cultivar, é fundamental para alcançar resultados satisfatórios e garantir a sustentabilidade da produção de soja. O estudo evidencia a necessidade de um manejo integrado da cultura, considerando os diversos fatores que influenciam a produtividade e a rentabilidade da soja.