Desempenho de cordeiros lactentes em sistema Creep Feeding

Desempenho de Cordeiros em Creep Feeding

Informações do documento

Autor

Bibiana Verdin De Andrade

Escola

Universidade Federal de Santa Catarina

Curso Zootecnia
Local Florianópolis
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.06 MB

Resumo

I.Desempenho Produtivo de Cordeiros em Creep Feeding

Este estudo avaliou o desempenho produtivo de cordeiros das raças Crioula Lanada e mestiços com Texel submetidos a dois tipos de suplementação em creep feeding: T1 (concentrado, ração comercial a 18% de proteína bruta) e T2 (volumoso, feno de alfafa). Foram utilizados 27 cordeiros (14 no T1 e 13 no T2), machos e fêmeas, de partos singulares e gemelares, distribuídos aleatoriamente. O objetivo era verificar se o tipo de suplementação influenciava o ganho de peso e a carga parasitária (contagem de ovos por grama de fezes - OPG). A pesquisa foi conduzida em uma área experimental em um sistema de Pastoreio Racional Voisin (PRV) em Santa Catarina, utilizando um creep feeder portátil. Apesar da diferença no tipo de alimentação, não houve diferença significativa (P>0,01) entre os tratamentos em relação ao peso ajustado, ganho médio diário (GMD) e OPG. A suplementação proteico/energética se mostrou mais eficiente que a ausência de suplementação. A alfafa, com seus teores de proteína bruta e nutrientes digestíveis totais (NDT), se apresentou como uma alternativa alimentar em potencial.

1. Objetivo e Metodologia da Pesquisa

O estudo objetivou avaliar o desempenho produtivo de cordeiros das raças Crioula Lanada e mestiços com Texel utilizando dois tipos de suplementação em creep feeding até o desmame. Foram utilizados 27 cordeiros, machos e fêmeas, oriundos de partos singulares e gemelares, divididos em dois grupos: T1 (concentrado - ração comercial a 18% de proteína bruta) e T2 (volumoso - feno de alfafa). Os cordeiros foram distribuídos aleatoriamente com suas mães, mantendo homogeneidade em relação ao sexo e tipo de parto. A suplementação foi fornecida em regime de consumo controlado (T1) e consumo voluntário (T2). O período experimental foi de 6 de agosto a 8 de outubro de 2015. A pesquisa utilizou um sistema de Pastoreio Racional Voisin (PRV) com 47 piquetes de 625 m² cada, e um creep feeder portátil para a administração dos suplementos. A coleta de dados incluiu pesagens semanais dos cordeiros, com ajustes de peso para diferentes idades (10, 20, 30, 40, 50, 60, 70 dias), e a contagem de ovos por grama de fezes (OPG) semanalmente a partir dos 30 dias de idade para monitoramento da infecção parasitária. Intervenção medicamentosa (Albendazol e Levamisol) foi realizada em animais com OPG ≥ 4000 e volume globular (VG) ≤ 20. A análise estatística utilizou o teste Tukey para comparação de médias.

2. Resultados Ganho de Peso e Contagem de Ovos

Não houve diferença significativa (P > 0,01) entre os tratamentos T1 e T2 em relação aos pesos ajustados, ganho médio diário (GMD) e contagem de ovos por grama de fezes (OPG). O ganho de peso diário do nascimento ao desmame (GPND) foi de 160 g/dia para T1 e 131 g/dia para T2, valores superiores aos encontrados em estudos anteriores com cordeiros mestiços Santa Inês. Apesar da similaridade entre os tratamentos, a suplementação proteico/energética demonstrou melhor desempenho em comparação a animais não suplementados. O peso médio ao nascer foi de 3,10 kg, próximo ao encontrado em outros estudos (3,08 kg). A análise dos dados levou em consideração fatores como variações no ganho de peso diário, atribuídas ao potencial genético dos cordeiros, a qualidade da dieta, o tipo de sistema de produção, o número de crias por parto, a produção leiteira da mãe e a contaminação ambiental por parasitas. O peso ao nascer não diferiu significativamente entre os grupos (P > 0,01), com médias de 3,26 kg para T1 e 2,94 kg para T2.

3. Discussão Fatores que Influenciaram o Desempenho

Embora não houvesse diferença significativa entre os tratamentos em relação ao ganho de peso, a suplementação com feno de alfafa (T2) pode ser justificada pela sua alta digestibilidade, que favorece a atividade metabólica ruminal e o estabelecimento de bactérias celulolíticas e protozoários. Em contraste, a alta fermentação dos alimentos concentrados (T1) pode reduzir o pH ruminal, desfavorecendo a digestão da fibra. A maior proporção de propionato no concentrado pode influenciar as características da carcaça, mas o consumo de forragem e leite materno, não mensurados, podem ter mascarado diferenças significativas no desempenho. O teor de fibra em detergente neutro (FDN) na dieta também é um fator relevante, pois afeta a taxa de passagem no rúmen. Níveis mais altos de FDN (43%) reduzem o consumo, enquanto níveis em torno de 30% são mais adequados. As análises bromatológicas do feno de alfafa mostraram valores esperados para esta leguminosa, indicando seu potencial como alimento alternativo. A infecção parasitária, potencialmente exacerbada pela pluviosidade, também pode ter afetado o consumo e o desempenho dos cordeiros, principalmente pela redução na utilização de nutrientes e aumento na perda de proteína endógena. A dinâmica social entre os cordeiros, com animais dominantes afetando o consumo dos submissos, também é um fator a ser considerado.

II.Raça Crioula Lanada e Suplementação Nutricional

A pesquisa focou na raça Crioula Lanada, uma raça brasileira especializada em produção de lã e peles, com origem controversa, possivelmente relacionada às raças Lacha, Romney Marsh e Corriedale. O estudo destacou a importância da suplementação nutricional para cordeiros em aleitamento, já que o leite e a pastagem podem ser insuficientes para garantir o bom desempenho. Um teor de 18% de proteína bruta na ração é considerado suficiente para um bom ganho de peso. A pesquisa também abordou os efeitos da forma de apresentação da ração (peletizada vs. farelada) e a importância da proteína e energia na dieta para o crescimento e a imunidade dos animais, especialmente contra parasitas como Haemonchus contortus. A resistência genética a nematoides também foi considerada, com menção à maior resistência natural da Crioula Lanada em comparação à Corriedale.

1. Características da Raça Crioula Lanada

A raça Crioula Lanada é uma raça ovina brasileira especializada na produção de lã e peles, considerada uma raça local. Sua origem é controversa, mas estudos da Embrapa Pecuária Sul apontam parentesco com a raça hispânica Lacha, além de Romney Marsh e Corriedale. A raça foi introduzida no Brasil pelos Jesuítas espanhóis no século XVII no Rio Grande do Sul e resultou de cruzamentos com raças da colonização portuguesa. Inicialmente, foram identificadas quatro variedades: Fronteira (sul do Rio Grande do Sul), Serrana ou Crioula Preta (nordeste gaúcho e planalto catarinense), Crioula Zebura ou Ovelha de Presépio (sul do Paraná), e Crioula Comum ou Ovelha Ordinária (acima do Paraná). No entanto, a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos Crioulos (ABCOC) reconhece apenas um padrão racial. A fase de aleitamento é crítica para o ganho de peso dos cordeiros, e a disponibilidade de nutrientes do leite e da pastagem pode ser insuficiente para garantir o desempenho ideal. Diversos estudos citados ressaltam a necessidade de suplementação nutricional nessa fase, buscando maximizar o ganho de peso e o desenvolvimento dos animais.

2. Necessidades Nutricionais e Suplementação em Cordeiros

Cordeiros em aleitamento possuem altas exigências nutricionais, especialmente proteína e energia, para o crescimento e desenvolvimento. Estudos mostram que um teor de 18% de proteína bruta (PB) na ração para cordeiros em aleitamento é suficiente para garantir um ganho médio diário satisfatório (140g), segundo Santra e Karim (1999). Outro estudo com cordeiros mestiços Suffolk, utilizando ração com 21% de PB nas formas farelada e peletizada, demonstrou melhor rendimento de carcaça com a forma peletizada, devido à maior digestão ruminal. A proteína é crucial para os processos vitais, incluindo crescimento, reparação tecidual, defesa imunológica, gestação e produção, e sua deficiência pode comprometer a taxa de crescimento e a produção de carne. A energia também é essencial para todas as funções metabólicas e para a deposição de proteína e gordura. Dietas deficientes em energia e proteína estão associadas à baixa taxa de crescimento. A suplementação, especialmente em sistemas de criação a pasto, é fundamental para corrigir déficits nutricionais e reduzir perdas econômicas. Além disso, contribui para melhores condições corporais da mãe, reduzindo a demanda energética da lactação e melhorando suas funções reprodutivas.

3. Suplementação e Resistência a Parasitas

A suplementação proteica está relacionada ao aumento da imunidade, com maior produção de anticorpos e consequente redução no número de ovos nas fezes (OPG), importante indicador de infecção por nematoides gastrintestinais. Estudos com cordeiros das raças Ile de France e Santa Inês demonstraram que o aumento do teor de proteína na dieta melhora a resistência à infecção por Haemonchus contortus. A resistência a nematoides gastrointestinais é uma característica herdável, importante para a seleção de animais mais produtivos. A raça Crioula Lanada, naturalmente infectada por Haemonchus contortus, apresentou menor carga parasitária em comparação com a raça Corriedale, indicando maior resistência genética. A infecção por nematoides gastrintestinais é um fator limitante na produção a pasto, causando crescimento retardado, perda de peso e redução do consumo voluntário de alimento. A suplementação, nesse contexto, pode auxiliar na resposta imunológica dos animais e na redução da carga parasitária, contribuindo para um melhor desempenho produtivo.

III.Creep Feeding e Controle de Parasitas

O creep feeding foi apresentado como uma estratégia de suplementação para aumentar o ganho de peso, reduzir a idade ao desmame e ao abate, complementando a alimentação materna e estimulando o desenvolvimento ruminal. O estudo mencionou trabalhos anteriores que demonstraram resultados positivos com o uso do creep feeding, mas também destacou a influência de fatores como a qualidade da dieta (teor de FDN, alto teor de fibra diminui o consumo), a carga parasitária, e a disponibilidade de leite materno no desempenho dos animais. A pesquisa analisou a influência da suplementação no controle de infecções por nematoides gastrintestinais, avaliando a OPG semanalmente e realizando tratamento medicamentoso (Albendazol e Levamisol) quando necessário. A maior pluviosidade foi apontada como fator que pode aumentar a infecção parasitária.

1. Creep Feeding Conceito e Objetivos

O creep feeding é uma técnica de suplementação alimentar utilizada na criação de cordeiros, fornecendo alimento sólido em um cocho acessível apenas aos cordeiros, separadamente das mães. Seu principal objetivo é o desmame de cordeiros mais pesados, permitindo um desmame precoce e um ganho de peso mais rápido. Essa estratégia complementa o fornecimento energético e proteico do leite materno, diminuindo a intensidade de amamentação e a demanda energética da lactação. O consumo de alimento sólido na fase de aleitamento estimula o desenvolvimento do rúmen e acelera o desenvolvimento corporal dos cordeiros, melhorando o desempenho produtivo e reduzindo as perdas econômicas em sistemas de pastoreio. Diversos estudos, citados no documento, demonstram a eficácia do creep feeding em promover ganho de peso em cordeiros, especialmente quando comparado a animais sem suplementação. A escolha do tipo de suplemento, concentrado ou volumoso, também influencia no resultado, sendo que a suplementação proteico/energética demonstra melhores resultados.

2. Impacto do Creep Feeding no Desempenho dos Cordeiros

Estudos prévios mostraram que o creep feeding contribui para o ganho de peso em cordeiros, reduzindo a idade ao desmame e ao abate. O experimento de Cardoso et al. (2006) com cordeiros Ile de France x Texel, suplementados com 18% de proteína bruta (PB) a partir dos 15 dias de idade, resultou em um peso vivo médio de 19,28 kg ao desmame aos 42 dias. No entanto, um alto teor de fibra em detergente neutro (FDN) (43%) na dieta pode reduzir o ganho médio diário (GMD) devido à menor eficiência de conversão alimentar. Dietas ricas em concentrado e com baixos níveis de FDN promovem maior GMD. A pesquisa atual, entretanto, não encontrou diferença significativa no ganho de peso entre os grupos de cordeiros alimentados com concentrado ou volumoso. Essa falta de diferença significativa pode ser atribuída a diversos fatores, como a ingestão de leite materno (não mensurada), o consumo de forragem (não mensurado) e o ambiente social, com animais dominantes possivelmente prejudicando o consumo dos submissos. Apesar de não ter atingido diferença significativa em relação ao ganho de peso, o uso de feno de alfafa como volumoso mostrou-se promissor, favorecendo a digestão da fibra.

3. Controle de Parasitas e Suplementação Protéica

A infecção por nematoides gastrintestinais é um fator limitante na produção ovina, causando crescimento retardado, perda de peso e redução do consumo de alimentos. A suplementação proteica contribui para o aumento da imunidade, reduzindo a carga parasitária, como demonstrado por Nogueira et al. (2009) que observaram redução no número de ovos nas fezes de cordeiros suplementados com concentrado. O monitoramento da infecção parasitária por meio da contagem de ovos por grama de fezes (OPG) foi realizado semanalmente a partir dos 30 dias de idade. Animais com OPG igual ou superior a 4000 e volume globular (VG) igual ou menor que 20 foram tratados com Albendazol e Levamisol. Apesar da monitorização, a infecção parasitária pode ser justificada pela maior contaminação ambiental, principalmente durante o periparto. A redução do consumo alimentar é um sintoma comum de infecção por nematoides, especialmente em animais jovens. Os nematoides gastrintestinais além de reduzir o consumo e a eficiência de utilização de nutrientes, aumentam a perda de proteína endógena no trato gastrointestinal. O estudo utilizou um equipamento conhecido como creep feeder portátil (ITC do Brasil – Castro, Paraná) para o fornecimento dos suplementos.

IV.Resultados e Discussão Ganho de Peso e OPG

Os resultados mostraram que não houve diferença significativa (P>0,01) entre os tratamentos (T1 e T2) no ganho de peso ajustado, ganho médio diário (GMD) e OPG. O ganho de peso diário do nascimento ao desmame (GPND) foi superior aos encontrados em estudos anteriores com cordeiros mestiços Santa Inês. As variações no GPND foram atribuídas ao potencial genético, à qualidade da dieta, ao sistema de produção, ao número de crias por parto, e à infecção parasitária. A suplementação com feno de alfafa, apesar de não apresentar diferença significativa em relação ao concentrado, demonstrou potencial por favorecer a atividade metabólica ruminal e por ser mais palatável. A ingestão de leite materno e a dinâmica social entre os animais também foram consideradas como fatores que podem ter influenciado os resultados.

1. Análise do Ganho de Peso

Os resultados mostraram que não houve diferença significativa (P > 0,01) entre os dois grupos experimentais (T1 - concentrado; T2 - volumoso) em relação ao peso ajustado aos 10, 20, 30, 40, 50, 60 e 70 dias de idade. O ganho de peso diário do nascimento ao desmame (GPND) foi de 160 g/dia para o grupo T1 e 131 g/dia para o grupo T2. Esses valores são superiores aos relatados por Freitas et al. (2005) para cordeiros mestiços Santa Inês (127,36 g/dia), mas inferiores aos observados por Peruzzi et al. (2015) em cordeiros Santa Inês em creep feeding (190 g/dia). As variações no GPND podem ser atribuídas a diversos fatores, incluindo potencial genético, qualidade da dieta, sistema de produção, número de crias por parto, produção de leite da ovelha, idade ao desmame e contaminação por parasitas gastrintestinais. O peso ao nascer também não apresentou diferença significativa entre os grupos, sendo 3,26 kg para T1 e 2,94 kg para T2, com média geral de 3,10 kg, similar a estudos anteriores. Embora a hipótese inicial fosse de que a suplementação com concentrado (T1) promoveria maior ganho de peso, os resultados mostraram que o feno de alfafa (T2), apesar de não significativamente diferente, justifica-se pela alta digestibilidade e estímulo à atividade ruminal.

2. Discussão sobre o Uso do Concentrado e do Volumoso

A suplementação com feno de alfafa, apesar de não ter apresentado diferença significativa no ganho de peso em comparação ao concentrado, pode ser vantajosa. Alimentos volumosos de alta digestibilidade favorecem a atividade metabólica ruminal, mantendo o pH adequado para o desenvolvimento de bactérias celulolíticas e protozoários. O concentrado, por outro lado, leva a uma maior fermentação, produzindo mais ácidos graxos voláteis (AGVs), principalmente propionato, e reduzindo o pH ruminal, o que pode desfavorecer a digestão da fibra, corroborando com Bargo et al. (2003). O concentrado também aumenta a proporção de propionato, influenciando nas características da carcaça, similar às observações de Pereira et al. (2010) em cordeiros Santa Inês. O teor de fibra em detergente neutro (FDN) é inversamente proporcional à taxa de passagem no rúmen; maior FDN implica menor capacidade de ingestão, confirmando Kozloski et al. (2006). O feno de alfafa mostrou teores de proteína bruta (PB) e nutrientes digestíveis totais (NDT) semelhantes a Moreira et al. (2001), sendo superior a fenos de gramíneas em proteína e cálcio (Pádua et al., 2006). O período de adaptação dos cordeiros à ração (T1) foi observado de 6 a 16 de agosto, com aumento gradativo do consumo após 27 de agosto, justificado pela maior adaptação e redução da disponibilidade de leite materno.

3. Infecção Parasitária e Consumo de Alimentos

Os valores médios de OPG (ovos por grama de fezes) não diferiram significativamente (P > 0,01) entre os tratamentos. A infecção parasitária pode estar associada à contaminação ambiental pelo período periparto, e a redução no consumo de alimentos é um sintoma comum em infecções por nematoides, principalmente em animais jovens com sistema imunológico em desenvolvimento. Nematoides gastrintestinais reduzem o consumo, a eficiência de utilização de nutrientes e aumentam a perda de proteína endógena. Em ambos os tratamentos, o consumo pode ter sido influenciado pela ingestão de leite e forragem (não mensurados), além do ambiente social, com animais dominantes afetando o consumo dos submissos. De acordo com Macedo (1995), o desmame pode ocorrer a partir dos 45 dias, quando o consumo de forragem é significativo e o leite materno diminui. A hipótese de aumento da infecção parasitária com o aumento da pluviosidade (Silva et al., 2003) também é considerada.