
Lisina Digestível em Frangos
Informações do documento
Autor | Vinícius Camargo Caetano |
instructor | Douglas Emygdio de Faria |
Escola | Universidade de São Paulo, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos |
Curso | Zootecnia |
Local | Pirassununga |
Tipo de documento | Tese |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 2.90 MB |
Resumo
I. REVISÃO DE LITERATURA Conceito de Proteína Ideal e Exigência de Lisina para Frangos de Corte
Este estudo investiga a exigência de lisina digestível em frangos de corte, focando no impacto da proteína ideal no desempenho, na composição corporal, e no rendimento de carcaça. A revisão de literatura destaca a importância da lisina como aminoácido limitante em dietas avícolas, abordando diferentes pesquisas que estabeleceram diferentes níveis ótimos de lisina digestível para diferentes fases de crescimento (1 a 7 dias, 8 a 21 dias, 22 a 42 dias), linhagens (Cobb 500®, Ross), e parâmetros de avaliação (ganho de peso, conversão alimentar, rendimento de peito). A influência de fatores como o estresse calórico e o avanço genético das linhagens sobre a exigência de lisina também são considerados. Autores como Rostagno et al., Goulart et al., e Nasr & Kheiri são referenciados para seus estudos sobre a nutrição de frangos de corte e a otimização da lisina digestível.
3.1 Conceito de Proteína Ideal
A revisão inicia discutindo a evolução dos conceitos de formulação de rações para aves. Inicialmente, o foco era na proteína bruta, estimada pelo nitrogênio total, método que apresentava desvantagens por agrupar substâncias com funções fisiológicas distintas e ignorar a liberação de peptídeos e aminoácidos na digestão. Este método resultava em excessos ou deficiências de aminoácidos, desequilibrando a dieta. A necessidade de um balanço exato de aminoácidos essenciais, sem excessos ou deficiências, para maximizar a deposição proteica e o crescimento, levou ao conceito de Proteína Ideal, proposto por Mitchell (1964) e Penz (1996). O texto destaca que a formulação de uma dieta que atenda 100% do conceito de proteína ideal de forma economicamente viável ainda é um desafio, mas estudos buscam a aproximação desse ideal para minimizar excessos de aminoácidos e a consequente produção de amônia e poluição ambiental. A busca pelo equilíbrio ideal entre aminoácidos e proteína é justificada pelos altos custos com alimentação e a necessidade de maximizar o potencial genético das aves (Nasr; Kheiri, 2012).
3.2 Exigência de Lisina para Frangos de Corte no Desempenho
A proteína da ração é crucial para a formação de tecido muscular e impacta diretamente a conversão alimentar, a qualidade da carcaça e o ganho de peso. Entretanto, a satisfação das necessidades de aminoácidos individuais, e não apenas da proteína bruta, é fundamental para o desempenho ótimo das aves. A lisina é escolhida como aminoácido de referência por ser o primeiro aminoácido limitante em suínos e o segundo em aves, ser essencial (sem síntese endógena), possuir análise simples e grande disponibilidade de dados sobre sua concentração e digestibilidade em ingredientes. A revisão apresenta uma variedade de estudos que propõem diferentes níveis ótimos de lisina digestível para frangos de corte em diferentes faixas etárias (1-7, 8-21, 22-42 dias) e linhagens (Hubbard, Ross, Cobb). Existe uma variação significativa nas recomendações, atribuída aos avanços genéticos constantes das linhagens, que demandam um aumento mais rápido nos requerimentos de aminoácidos do que nos de energia. A revisão menciona que a exigência de lisina digestível costuma ser maior para conversão alimentar do que para ganho de peso.
3.3 Exigência de Lisina para Frangos de Corte no Rendimento de Carcaça
O progresso genético em frangos de corte resultou em crescimento alométrico positivo dos músculos do peito, aumentando a demanda por aminoácidos, especialmente lisina. A lisina compõe cerca de 7,5% da proteína da carcaça. A alimentação influencia a deposição de nutrientes, com a gordura abdominal aumentando linearmente com a relação energia/proteína na dieta. Estudos mostram resultados divergentes sobre a relação entre níveis de lisina e deposição de gordura. Alguns apontam supressão da deposição de gordura com altos níveis de lisina devido à menor relação energia/proteína, enquanto outros encontram resposta linear positiva para deposição de gordura com aumento de lisina. A idade das aves impacta na proporção proteína:gordura, com aves mais velhas apresentando maior deposição de gordura. Há uma correlação significativa entre peso de proteína e água na carcaça. A revisão cita estudos que mostram a importância da lisina para o rendimento de peito, mas com resultados conflitantes sobre ganho de peso.
3.5 Estresse por Calor em Frangos de Corte
A revisão aborda o impacto do estresse calórico no desempenho de frangos de corte, particularmente relevante no contexto brasileiro devido à diversidade climática e à prevalência de dias quentes e úmidos. Frangos, apesar de homeotérmicos, têm limitações na perda de calor devido às penas e ausência de glândulas sudoríparas, tornando-os suscetíveis ao estresse calórico. Esse estresse reduz o crescimento, o consumo de ração e piora a conversão alimentar. Em períodos prolongados, também diminui a deposição muscular peitoral e aumenta a deposição de gordura. O estresse calórico afeta o metabolismo proteico, reduzindo a síntese proteica e aumentando a proteólise, impactando negativamente a deposição proteica muscular. O impacto negativo da temperatura ambiente não é linear; tende a ser mais severo com temperaturas mais altas. Uma estratégia para lidar com o estresse calórico é aumentar o nível de proteína e aminoácidos na dieta para compensar a menor ingestão de alimento.
II. MATERIAL E MÉTODOS Delineamento Experimental e Avaliação do Desempenho
O estudo, aprovado pela CEUA/FZEA/USP (processo nº 8032260815), utilizou 1296 aves da linhagem Cobb 500® em dois ensaios: um de 1 a 42 dias de idade e outro de 22 a 42 dias. Os animais foram criados no Aviário Experimental do Laboratório de Avicultura da FZEA/USP, localizado em Pirassununga, SP (21º59’ S, 47º26’ O, 635m de altitude). Foram avaliados seis tratamentos com diferentes níveis de lisina digestível na dieta, utilizando milho e farelo de soja como base. As variáveis analisadas incluíram consumo de ração, ganho de peso, conversão alimentar, viabilidade criatória, índice de eficiência produtiva, rendimento de carcaça, e composição corporal (proteína bruta, extrato etéreo, matéria seca). O abate e processamento das aves foram realizados no Matadouro-Escola da PUSP-FC em Pirassununga.
4.1 Delineamento Experimental
O estudo, aprovado pela CEUA/FZEA/USP (processo nº 8032260815) e conduzido de acordo com a Lei Federal nº 11.794/2008 e normas do CONCEA, utilizou 1296 frangos de corte machos da linhagem Cobb 500®. Foram realizados dois ensaios no Aviário Experimental do Laboratório de Avicultura da FZEA/USP, localizado no Campus Fernando Costa da USP em Pirassununga, SP (21º59’ de latitude sul e 47º26’ de longitude oeste, altitude média de 635 metros). O ensaio 1 abrangeu as fases de 1 a 21 dias e 1 a 42 dias de idade, enquanto o ensaio 2 focou na fase de 22 a 42 dias. As aves foram alojadas em boxes com bebedouros tipo nipple e comedouros tubulares, utilizando maravalha como cama. Lâmpadas infravermelhas e campânulas a gás foram empregadas para aquecimento na fase inicial (até 7 dias). O fotoperíodo foi de 23 horas de luz e 1 hora de escuridão. Em ambos os ensaios, seis tratamentos foram utilizados, variando os níveis de lisina digestível na dieta, mantendo a relação dos demais aminoácidos com a lisina, seguindo o conceito de proteína ideal. Os níveis de lisina digestível foram diferentes para as fases de 1 a 21 dias e de 22 a 42 dias. Os animais foram distribuídos em 36 unidades experimentais, com 36 aves cada.
4.2 Tratamentos Experimentais Dietas e Procedimentos Afins
No ensaio 1, seis programas alimentares com diferentes níveis de lisina digestível foram utilizados, divididos em duas fases: 1 a 21 dias e 22 a 42 dias. No ensaio 2, os animais receberam uma dieta padrão (basal) até 21 dias, seguindo as recomendações de Rostagno et al. (2011), e posteriormente, seis programas de alimentação foram fornecidos até os 42 dias. As rações foram formuladas à base de milho e farelo de soja. As aves foram distribuídas nas parcelas, mantendo uma variação de 5% no peso médio inicial. O consumo de ração foi calculado considerando a diferença entre a quantidade fornecida e as sobras, corrigido pela mortalidade (Sakomura; Rostagno, 2007). A conversão alimentar foi calculada pela relação entre o consumo de ração e o ganho de peso corrigido. A viabilidade criatória foi determinada pelo número de aves vivas no início menos a mortalidade. O consumo individual de lisina foi calculado considerando o consumo de ração e o teor de lisina em cada tratamento. O índice de eficiência produtiva foi calculado aos 42 dias usando a fórmula: [(ganho de peso diário (g) x viabilidade criatória) / (conversão alimentar x 10)].
4.3 Avaliação do Desempenho Rendimento de Carcaça e Composição Corporal
As aves foram pesadas semanalmente para determinar o ganho de peso. Aos 21 dias (ensaio 1) e 42 dias (ensaios 1 e 2), sete aves por parcela foram selecionadas aleatoriamente: cinco para avaliação do rendimento e peso de carcaça total e cortes comerciais, e duas para análise da composição corporal. Após jejum de 12 horas, as aves foram insensibilizadas por eletrochoque e abatidas por sangria no Matadouro-Escola da Prefeitura do Campus de Pirassununga (PUSP-FC). Os procedimentos incluíram escaldamento, depenação e evisceração. Em relação ao tratamento T2 na fase de 1 a 21 dias, houve discrepância entre os valores do aminograma e os calculados; apesar disso, o tratamento foi mantido no estudo, atribuindo-se o erro a falhas na coleta ou análise das amostras. A metodologia detalha como foram avaliadas as características de desempenho, rendimento de carcaça e composição corporal, utilizando metodologias e referencias de trabalhos prévios.
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO Impacto dos Níveis de Lisina Digestível no Desempenho e Composição Corporal de Frangos de Corte
Os resultados demonstram a influência dos diferentes níveis de lisina digestível no desempenho e na composição corporal dos frangos de corte. A análise das diferentes fases de crescimento (1-21 dias e 22-42 dias) mostra a necessidade de níveis específicos de lisina digestível para otimizar o ganho de peso, a conversão alimentar, e o rendimento de carcaça, especialmente o rendimento de peito. Os dados obtidos são comparados com estudos prévios, apontando variações na exigência de lisina digestível em função da idade, linhagem genética e condições ambientais, incluindo o estresse calórico. A relação entre lisina digestível, deposição de proteína, e deposição de gordura na carcaça também é analisada, mostrando que níveis adequados de lisina digestível são cruciais para a qualidade da carne e a eficiência produtiva.
5.1 Desempenho dos Frangos de Corte
A análise do desempenho dos frangos de corte, considerando consumo de ração, ganho de peso, conversão alimentar e viabilidade, revelou que níveis mais baixos de lisina digestível na dieta limitaram o desempenho dos animais, especialmente nas fases iniciais. A digestibilidade proteica foi significativamente afetada pelo estresse calórico contínuo (De Souza et al., 2016), evidenciado pelas altas temperaturas e umidade registradas. Nos períodos de 1 a 21 dias e de 1 a 42 dias, embora as médias de rendimento e peso de carcaça não tenham mostrado diferenças significativas entre os níveis de lisina, o maior peso de proteína bruta na carcaça dos animais que receberam maior quantidade de lisina digestível, já nos primeiros 21 dias, indica sua influência na deposição proteica (Brito et al., 2016; Eits et al., 2002). Estudos anteriores (Costa et al., 2001; Bellaver et al., 2002; Goulart et al., 2008; Siqueira et al., 2013; Faridi et al., 2015; Rostagno et al., 2011, 2017; NRC, 1994) apresentam resultados variados quanto aos níveis ótimos de lisina digestível para diferentes parâmetros de desempenho, destacando a influência de fatores como a idade das aves, linhagem genética e condições ambientais.
5.2 Composição Corporal e Rendimento de Carcaça
A análise da composição corporal (matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, matéria mineral) e do rendimento de carcaça (rendimento de peito, coxa, sobrecoxa) mostrou resultados distintos entre as fases de crescimento. Nos primeiros 21 dias, os níveis de lisina digestível não afetaram significativamente a deposição de gordura. Resultados semelhantes foram encontrados por Eits et al. (2002), que mostraram que a deposição de gordura foi influenciada pela energia da dieta e não pela lisina. No entanto, a deposição proteica foi afetada pelo nível dietético de lisina digestível, exigindo 107,6% do recomendado por Rostagno et al. (2011). A lisina, além de sua ação direta no desenvolvimento muscular, também influencia outros aminoácidos no processo de síntese proteica (Brito et al., 2016; Wu et al., 2014). Entre 22 e 42 dias, apenas a porcentagem de peito apresentou diferença significativa, com resposta linear positiva em relação ao nível de lisina digestível. Resultados similares foram encontrados por Lilly et al. (2011), mostrando pior rendimento de peito em animais com dietas deficientes em lisina. A exigência de lisina para deposição proteica e rendimento de peito foi maior na fase final de criação, sugerindo que a suplementação de lisina (e outros aminoácidos) acima do recomendado na fase final é mais eficiente.
5.3 Deposição de Gordura e Considerações Econômicas
A deposição de gordura corporal aumentou em animais alimentados com dietas abaixo dos níveis recomendados de lisina digestível, com maior deposição de extrato etéreo (EE) entre 84% e 90,3% do recomendado, tanto em percentagem quanto em peso absoluto (Ghahri et al., 2010). Entretanto, este acréscimo de EE não foi observado nos níveis mais altos de lisina, diferentemente dos resultados encontrados por Nasr e Kheiri (2012). Eits et al. (2002) não encontraram relação entre níveis dietéticos de lisina e deposição de gordura, contrastando com os resultados deste estudo. O incremento de lisina na dieta pode não ser economicamente justificável devido ao seu custo, uma vez que níveis superiores ao recomendado podem não gerar aumento proporcional no desempenho ou rendimento. A análise completa dos resultados indica que a exigência de lisina digestível é maior que a recomendada por diversos autores, variando conforme a fase de crescimento e parâmetros avaliados. A pesquisa sugere a necessidade de uma avaliação custo-benefício para a suplementação de lisina em diferentes fases da criação.