Osteotomia Salter em Doença de Perthes

O principal objetivo deste estudo é analisar o prognóstico após o tratamento cirúrgico da doença de Legg-Calvé-Perthes, especificamente comparando a eficácia da osteotomia de Salter mais varizante em relação a outros métodos cirúrgicos. A pesquisa busca verificar se a osteotomia de Salter mais varizante resulta em uma melhora significativa no prognóstico dos pacientes. Para alcançar este objetivo, serão analisados dados de pacientes após o tratamento, utilizando-se entrevista médica para coleta de informações clínicas e raio-x simples para avaliação radiográfica. Os resultados radiográficos serão analisados de acordo com os critérios de Stulberg, enquanto a avaliação clínica será feita através do Harris Hip Score. Este enfoque permite uma comparação robusta da osteotomia de Salter mais varizante com outras intervenções cirúrgicas no tratamento da doença de Legg-Calvé-Perthes, fornecendo evidências para a escolha de um método mais eficaz.

A doença de Legg-Calvé-Perthes é um distúrbio idiopático da cabeça do fêmur, caracterizado por osteocondrose asséptica na epífise proximal. Essa condição é causada por uma perda temporária do suprimento vascular na região, levando a necrose avascular da cabeça do fêmur. A doença apresenta uma evolução previsível, mas o prognóstico varia, com cerca de 20% dos pacientes apresentando um mau prognóstico independente do tratamento, frequentemente devido ao diagnóstico tardio por exame radiológico simples. Existem diversos métodos de classificação da doença, incluindo os sistemas de Catterall, Salter e Thompson, Herring, Ritterbusch, Shantharam e Gelinas, e Laredo, cada um com suas implicações para o tratamento. A manutenção da forma esférica da epífise proximal do fêmur é crucial para um bom prognóstico, sendo essencial que essa forma seja preservada até a maturação esquelética. O tratamento pode ser conservador, cirúrgico ou sintomático, sendo a escolha influenciada por fatores como a idade do paciente, o grau de colapso do pilar lateral e o envolvimento da cabeça femoral.

O tratamento da doença de Legg-Calvé-Perthes visa manter a cabeça do fêmur centralizada no acetábulo, prevenindo deformidades e restaurando a mobilidade do quadril. As opções terapêuticas incluem métodos conservadores e cirúrgicos. A classificação de Laredo é particularmente relevante para a tomada de decisões quanto ao tratamento, sugerindo que os grupos I e II são passíveis de tratamento conservador, enquanto os grupos III e IV requerem intervenção cirúrgica precoce para conter a cabeça femoral. Já o grupo V apresenta deformidades estabelecidas, demandando procedimentos mais complexos. A classificação de Laredo demonstra um maior valor prognóstico em comparação com as classificações de Catterall e Herring, especialmente para a osteotomia de Salter. A osteotomia de Salter, combinada com a osteotomia varizante, surge como uma abordagem cirúrgica que visa maximizar a correção da cabeça femoral, buscando benefícios que excedem os de cada procedimento isoladamente. Apesar disso, o tratamento ideal permanece controverso, e a escolha entre abordagens conservadoras e cirúrgicas depende da avaliação de sinais prognósticos favoráveis ou desfavoráveis.

A avaliação radiográfica da doença de Legg-Calvé-Perthes, utilizando métodos como o raio-x simples, embora útil, pode não fornecer uma análise precisa do acometimento da cabeça do fêmur, especialmente em estágios iniciais. Para uma avaliação mais completa, outros métodos de imagem, como a artrografia e a ressonância magnética, são considerados necessários. A classificação artrográfica de Laredo, composta por cinco grupos (I a V), oferece um valor prognóstico significativo, permitindo a identificação de lesões iniciais, como o achatamento da cabeça do fêmur ou o fenômeno de abdução em dobradiça. Grupos de maior risco (III e IV) indicam a necessidade de procedimentos cirúrgicos para manter a cabeça femoral dentro do acetábulo, enquanto o grupo V, devido à gravidade das deformidades, requer procedimentos mais complexos. Esta avaliação mais precisa permite direcionar o tratamento de forma mais eficaz, contornando as limitações da avaliação por raio-x simples, que poderia levar a um tratamento inadequado. A classificação de Laredo é mais precisa para determinar o tratamento com a osteotomia de Salter.

O estudo emprega uma metodologia observacional, longitudinal e retrospectiva, utilizando o desenho de coorte. O período da pesquisa abrange os anos de 2011 a 2017, focando em pacientes diagnosticados com a doença de Legg-Calvé-Perthes e tratados no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital São Vicente de Paulo (IOT/HSVP), em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. O trabalho de campo, realizado entre janeiro e dezembro de 2018, envolveu a coleta de dados por meio de entrevistas médicas com os pacientes e a análise de raio-x simples padronizados. A escolha por um estudo retrospectivo justifica-se pela praticidade e acessibilidade aos dados existentes no IOT/HSVP. A limitação desta abordagem é o potencial de informações incompletas nos prontuários, o que de fato ocorreu no estudo, e a dificuldade de contato com pacientes, conforme descrito. A pesquisa busca avaliar o prognóstico a longo prazo dos pacientes tratados com a osteotomia de Salter mais varizante.

A coleta de dados se baseou em duas fontes principais: entrevistas médicas e raio-x simples. As entrevistas médicas forneceram informações clínicas, que foram posteriormente analisadas utilizando o Harris Hip Score, um sistema padronizado para a avaliação da função articular do quadril, abrangendo aspectos como dor, claudicação, auxiliares da marcha, e mobilidade. Os raio-x simples, por sua vez, permitiram a avaliação radiográfica, baseada nos critérios de Stulberg, um sistema de classificação para a doença de Legg-Calvé-Perthes. Além da classificação de Stulberg, o ângulo Center Edge (CE) foi medido nos raio-x para complementar a análise radiográfica. Foi realizada uma busca nos bancos de dados do hospital para identificar os pacientes elegíveis para o estudo, e a seleção final se baseou em critérios de inclusão e exclusão. Uma dificuldade encontrada foi a falta de informações completas no pré-operatório em alguns prontuários, resultando na utilização apenas dos raio-x pré-operatórios e dados clínicos atuais na análise do ângulo CE. Todas as avaliações, tanto clínicas quanto radiográficas, foram realizadas pela mesma equipe de pesquisadores, garantindo consistência na metodologia.

Os pacientes foram contatados por telefone para agendar consultas no ambulatório, sem custo para os mesmos. Para pacientes residentes em Passo Fundo, foi oferecido vale-transporte; para aqueles de outras cidades, foi estabelecida uma logística com a Secretaria Municipal de Saúde. Todos os pacientes foram atendidos pela mesma equipe de avaliadores. Antes da participação, os pacientes foram devidamente esclarecidos sobre a pesquisa e seu consentimento informado foi obtido. A pesquisa considerou os aspectos éticos da pesquisa com seres humanos, visando minimizar riscos como a revelação da identidade dos pacientes (nomes substituídos por números) e constrangimentos (exames em local reservado). Os procedimentos de raio-x foram realizados de acordo com os protocolos de segurança do hospital, minimizando a exposição à radiação. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) e pelo Comitê de Pesquisa do Hospital São Vicente de Paulo. Os contatos para dúvidas sobre o estudo foram fornecidos, incluindo o contato do professor orientador, Jung Ho Kim, e do pesquisador Bruno Hidemi Tominaga.

O processo de coleta de dados apresentou algumas dificuldades. A principal delas foi a de obter contato com os pacientes previamente tratados para a realização das entrevistas e avaliações. Além disso, verificou-se uma falta de informações completas nos prontuários, principalmente no que diz respeito aos dados pré-operatórios. Essa ausência de informações completas impactou a análise, limitando a abrangência dos resultados. Apesar dessas dificuldades, a metodologia aplicada permitiu a análise de dados relevantes disponíveis, como os raio-x pré-operatórios, que foram cruciais para a avaliação do ângulo Center Edge (CE) e sua comparação com os dados clínicos atuais dos pacientes. A pesquisa, apesar das dificuldades encontradas na coleta de dados, conseguiu prosseguir com a análise dos dados disponíveis, visando contribuir para o conhecimento sobre o prognóstico da doença de Legg-Calvé-Perthes após osteotomia.

A análise radiográfica foi conduzida utilizando a classificação de Stulberg, e o cálculo do ângulo Center Edge (CE) foi realizado em todos os raio-x pré-operatórios disponíveis. Essa análise permitiu uma avaliação da condição da cabeça do fêmur antes da intervenção cirúrgica. Paralelamente, a avaliação clínica se baseou no Harris Hip Score, que forneceu uma medida da função articular do quadril após o tratamento. A combinação dessas duas abordagens — radiográfica e clínica — permitiu uma análise multifacetada dos resultados, buscando correlacionar as características radiográficas com a função articular. O uso do Harris Hip Score foi crucial para a avaliação do impacto da intervenção cirúrgica na qualidade de vida dos pacientes, considerando diversos aspectos como dor, mobilidade e capacidade funcional. A análise completa dos dados irá comparar os resultados da osteotomia de Salter mais varizante com outros métodos cirúrgicos.

Os resultados preliminares indicam que a metodologia proposta, apesar das dificuldades na coleta de dados, foi efetiva na obtenção de informações relevantes. A análise completa dos resultados, comparando a osteotomia de Salter mais varizante com outros métodos cirúrgicos, utilizando os critérios de Stulberg e o Harris Hip Score, será apresentada posteriormente. A revisão bibliográfica realizada para o estudo mostrou a escassez de artigos científicos sobre o tratamento da doença de Legg-Calvé-Perthes com osteotomia de Salter mais varizante, evidenciando a importância e a originalidade deste trabalho. Os resultados, portanto, têm o potencial de contribuir significativamente para a compreensão do prognóstico dessa doença e para a otimização das estratégias de tratamento. A análise da amplitude de movimento do quadril, medida goniometricamente em uma parte dos pacientes, também será incluída na análise completa, permitindo comparações mais robustas com estudos existentes, como o conduzido por Park et al. (2017).

O estudo foi realizado no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital São Vicente de Paulo (IOT/HSVP), localizado em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Os dados foram coletados retrospectivamente, abrangendo o período entre 2011 e 2017. Esta escolha temporal permite a análise de um conjunto considerável de casos tratados para a doença de Legg-Calvé-Perthes neste hospital específico. A localização geográfica do estudo, Passo Fundo-RS, é relevante para contextualizar a população estudada e as possíveis características regionais que podem influenciar os resultados. A delimitação temporal contribui para a homogeneidade da amostra em relação aos métodos de tratamento empregados no período. Informações adicionais sobre o número total de pacientes tratados pela instituição neste período e o número de pacientes incluídos na pesquisa complementam a descrição.

A pesquisa utilizou diferentes métodos de classificação para avaliar a doença de Legg-Calvé-Perthes e os resultados do tratamento. A classificação de Stulberg foi empregada na análise radiográfica, enquanto o Harris Hip Score serviu para avaliar clinicamente a função do quadril. Outras classificações, como a de Laredo, foram mencionadas e provavelmente serão utilizadas para contextualizar o tratamento escolhido para cada paciente. A utilização de múltiplos métodos de classificação permite uma análise mais completa e robusta dos resultados, minimizando os vieses inerentes a cada método individualmente. A combinação da avaliação radiográfica e clínica permite uma visão mais completa do prognóstico, correlacionando os achados radiológicos com a função articular e a qualidade de vida dos pacientes. A menção a outros estudos, como o de Park et al. (2017), indica uma base comparativa para os resultados da pesquisa.

Para os pacientes, o benefício principal da participação na pesquisa é a avaliação da cabeça do fêmur e a identificação da necessidade de novas intervenções, baseadas em exames clínicos e radiográficos. Em relação à comunidade, o estudo visa contribuir para uma melhor análise do tratamento da doença de Legg-Calvé-Perthes realizado no IOT/HSVP, Passo Fundo -RS, possibilitando comparações com outros centros e fornecendo evidências para a escolha de um tratamento mais eficaz. A participação na pesquisa envolve riscos, como a possível revelação da identidade dos pacientes. Para mitigar esse risco, os nomes dos pacientes foram substituídos por números. Outros riscos, como constrangimento e exposição à radiação devido ao raio-x, foram minimizados através de protocolos de segurança e a escolha de um local reservado para os exames. Contatos para esclarecimento de dúvidas foram fornecidos: Prof. Me. Jung Ho Kim e Bruno Hidemi Tominaga, além do contato da Universidade Federal da Fronteira Sul e do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.