
Empreendedorismo na Educação Infantil
Informações do documento
Autor | Ângela Marisa Duarte Sá |
instructor | Professora Doutora Ana Cristina Coelho Barbosa |
Escola | Mestrado em Educação Pré-Escolar |
Curso | Educação Pré-Escolar |
Tipo de documento | Relatório Final de Prática de Ensino Supervisionada |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 7.88 MB |
Resumo
I.Metodologia e Enquadramento da Pesquisa Qualitativa em Educação de Infância
Este estudo qualitativo, realizado em Viana do Castelo, Portugal, investiga a implementação de um projeto de educação empreendedora numa sala de Jardim de Infância com 20 crianças (10 meninas e 10 meninos) entre 3 e 4 anos. A pesquisa utiliza uma abordagem exploratória, devido à escassez de estudos sobre empreendedorismo na educação de infância. A metodologia inclui observação, entrevistas, análise de documentos (incluindo o Plano Anual de Atividades - PAA), e gravações audiovisuais. A análise de dados segue o modelo de Miles e Huberman, com foco na triangulação de informações para garantir a validade dos resultados. O estudo utilizou como referência o manual "Ter ideias para mudar o mundo" (CEAN, 2009) e "The Big 13" (Rotherham Ready), focando no desenvolvimento de soft skills em crianças através de atividades lúdicas e aprendizagem baseada em projetos.
1. Enquadramento da Pesquisa e Questões de Investigação
A pesquisa, realizada no contexto de uma Prática de Ensino Supervisionada (PES), em Viana do Castelo, Portugal, teve como objetivo principal analisar o desenvolvimento de habilidades empreendedoras (soft skills) em crianças do pré-escolar através da implementação de um projeto pedagógico. As questões norteadora eram: (2) Quais as dificuldades identificadas nas crianças ao longo do projeto? e (3) Como caracterizar a articulação entre o projeto e a abordagem curricular? Para responder a estas questões, utilizou-se o manual "Ter ideias para mudar o mundo" (CEAN, 2009), que serviu de base para a construção de uma proposta pedagógica focada na implementação de um projeto empreendedor em nível pré-escolar. O estudo se concentrou na análise das habilidades empreendedoras desenvolvidas, nas dificuldades encontradas pelas crianças e nas potencialidades da interação com os campos e domínios das OCEPE (Objetivos de Educação Pré-Escolar). A escolha da metodologia qualitativa se justifica pela escassez de pesquisas sobre o tema, tornando o estudo inovador no contexto da implementação de projetos empreendedores com crianças do pré-escolar.
2. Metodologia Qualitativa e Instrumentos de Recolha de Dados
A metodologia empregada foi qualitativa, com uma abordagem exploratória, justificada pela falta de pesquisas sobre o tema. Foram utilizados diversos métodos de recolha de dados para garantir a triangulação e a validade dos resultados: observação participante, entrevistas, análise de documentos (como o Plano Anual de Atividades - PAA) e registos audiovisuais (áudio, vídeo e fotografias). A análise dos dados seguiu o modelo de Miles e Huberman (1994), dividido em três fases: redução de dados, apresentação dos dados e conclusões e verificação. A redução dos dados envolveu a seleção, foco, simplificação e organização das informações. A apresentação dos dados foi organizada por áreas de conhecimento empreendedor, com descrições detalhadas, transcrições e imagens. A fase final envolveu a elaboração das conclusões com base nos dados coletados e na revisão da literatura. A triangulação dos dados, combinando diferentes fontes de informação, foi crucial para aumentar o rigor e a credibilidade dos resultados, minimizando distorções inerentes à utilização de apenas uma fonte de dados. O investigador assumiu diferentes papéis: inquiridor, ouvinte, avaliador e observador, interagindo intensamente com os participantes no seu contexto natural, criando intersubjetividade.
3. Participantes e Contexto do Estudo
O estudo foi realizado no ano letivo 2014/2015, numa sala de Jardim de Infância da rede pública em Viana do Castelo, Portugal. O grupo de participantes era composto por 20 crianças (10 meninas e 10 meninos), com idades entre 3 e 4 anos. O contexto educacional apresentava condições adequadas para a aprendizagem, embora com algumas limitações, como o espaço pequeno e a acústica deficiente da sala de acolhimento e ginásio, afetando as sessões de motricidade infantil, muitas vezes realizadas no ginásio do 1º CEB. A localização da biblioteca também era problemática, por estar numa área aberta e de passagem. Apesar dessas limitações, a sala de atividades era bem organizada e equipada, com áreas de interesse bem delimitadas, estimulando diferentes tipos de atividades. A maioria dos pais das crianças eram trabalhadores do comércio e serviços, pertencentes à classe social média, com algumas situações de desemprego. A maioria tinha formação de nível superior.
II.O Projeto Empreendedor e as Áreas de Conhecimento
O projeto, baseado no manual CEAN (2009), explorou doze áreas de conhecimento empreendedor, adaptando a sequência para atender às necessidades e interesses das crianças. As áreas abordadas incluem o estímulo e a partilha de ideias, a definição de objetivos, a gestão de estados de espírito, a comunicação, o trabalho colaborativo, a identificação de necessidades e a construção de protótipos. O foco principal foi no desenvolvimento de competências empreendedoras como a escuta ativa, a cooperação, a autonomia e a responsabilidade. As atividades se concentraram na criação e execução de jogos, com o envolvimento de diferentes colaboradores (fornecedores, financiadores, etc.).
1. O Manual Ter Ideias para Mudar o Mundo e as Áreas de Conhecimento Empreendedor
O projeto empreendedor desenvolvido neste estudo teve como base principal o manual "Ter ideias para mudar o mundo. Manual para treinar o empreendedorismo em crianças dos 3 aos 12 anos" (CEAN, 2009). Este manual propõe doze áreas de conhecimento empreendedor direcionadas ao público infantil, explorando competências essenciais para o desenvolvimento de projetos. Essas áreas incluem: estímulo das ideias; partilha de ideias; definição do que se quer fazer; compreensão dos estados de espírito; aprender a escutar; comunicar o projeto; trabalhar com colaboradores; descobrir necessidades para fazer ofertas; criar protótipos; construir redes de colaboradores; gerir ciclos de trabalho; e a importância da liderança. O manual enfatiza a importância de projetos baseados nos sonhos e ideias das crianças, oferecendo metodologias e propostas práticas para a implementação de um espírito empreendedor na comunidade escolar ou familiar, preparando as crianças para os desafios globais do futuro. A abordagem do manual se mostra inovadora, integrando conceitos de empreendedorismo de forma adaptada à faixa etária.
2. Adaptação e Implementação das Áreas de Conhecimento no Projeto
A aplicação das doze áreas do manual CEAN (2009) no projeto empreendedor da pesquisa não seguiu uma ordem estritamente sequencial. Houve adaptações para atender às propostas e necessidades das crianças, bem como às características do contexto educativo. Algumas áreas foram trabalhadas em paralelo, e outras receberam maior ênfase devido à sua importância no desenvolvimento do projeto e à faixa etária das crianças. Áreas como “Estimulo de ideias”, “Partilha de ideias”, “Os nossos estados de espírito”, “Aprender a escutar as pessoas” e “Redes de Colaboradores” foram trabalhadas de forma mais evidente. Esta adaptação flexível permitiu criar uma sequência lógica, ajustada à dinâmica do grupo, garantindo que todas as áreas de conhecimento empreendedor fossem exploradas de forma clara e significativa, com exceção de uma área que não é especificada no texto. A adaptação da metodologia demonstrou ser facilitadora para as crianças, promovendo uma maior compreensão e envolvimento no processo de desenvolvimento do projeto.
3. O Papel dos Colaboradores no Projeto Empreendedor
A área "aprender a trabalhar com os colaboradores" foi crucial no projeto. O manual CEAN (2009) identifica cinco tipos de colaboradores: compradores (destinatários do produto); financiadores (apoio financeiro); concorrentes (potenciais parceiros); fornecedores (recursos necessários); e prescritores (influenciadores da compra). A interação com esses colaboradores envolveu comunicação clara, negociação e respeito pelas opiniões de todos. A construção de uma rede de colaboradores, através de um cartaz com as colunas "Como nos vai ajudar?", "O que oferecemos?", e "Foi cumprido?", permitiu o monitoramento dos ciclos de trabalho e a avaliação da contribuição de cada colaborador. A elaboração de cartas para solicitar materiais e agradecer o apoio também fez parte desse processo, sendo ditadas pelas crianças e escritas pela estagiária, para garantir o entendimento das etapas da comunicação escrita. Esta abordagem demonstra a importância da colaboração na concretização de um projeto e o desenvolvimento de habilidades de comunicação e negociação.
III.Resultados e Conclusões Desenvolvimento de Competências em Crianças do Pré Escolar
A pesquisa evidenciou o desenvolvimento de várias competências empreendedoras nas crianças, incluindo a escuta ativa, a cooperação e a autonomia, mesmo considerando a fase de egocentrismo próprio da idade. A construção dos jogos em grupo promoveu a colaboração e a partilha de ideias. Apesar de alguma timidez em algumas crianças mais novas, a participação foi geralmente entusiasmada e responsável. O estudo demonstra a viabilidade de integrar a educação para o empreendedorismo no currículo da educação de infância, fomentando o desenvolvimento integral das crianças e preparando-as para os desafios do futuro. Os resultados destacam a importância de metodologias que se adaptem à faixa etária, com foco em aprendizagem lúdica e ativa.
1. Desenvolvimento de Competências Empreendedoras
O projeto empreendedor implementado revelou o desenvolvimento de diversas competências empreendedoras nas crianças. A capacidade de escuta ativa, embora abordada posteriormente no projeto, foi observada ao longo de todo o processo, demonstrando que as crianças, mesmo na fase do egocentrismo, eram atentas e respeitosas com as opiniões dos colegas e adultos. A cooperação e colaboração foram fundamentais, especialmente na construção dos jogos, evidenciando a importância desses princípios na prática e promoção do empreendedorismo (ME, 2007). A autonomia e a responsabilidade, consideradas competências-chave por Acúrcio (2005), foram notórias, com as crianças executando tarefas de forma independente e responsável, embora algumas crianças mais novas tenham demonstrado timidez em algumas situações. A capacidade de partilha, comunicação e socialização também foram observadas. O desenvolvimento do projeto demonstra que, mesmo em idade pré-escolar, é possível trabalhar competências empreendedoras de forma integrada e significativa, contribuindo para o desenvolvimento integral da criança.
2. Consciência e Reflexão sobre o Processo Empreendedor
Ao longo do projeto, as crianças desenvolveram uma consciência gradual sobre os diversos aspetos envolvidos num processo empreendedor, baseando-se no manual "Ter ideias para mudar o mundo" (CEAN, 2009). Compreenderam que o projeto visava a realização dos seus sonhos, exigindo o desenvolvimento de capacidades empreendedoras. A importância dos estados de espírito positivos, a necessidade de escuta ativa, a elaboração de uma narrativa e protótipo para comunicação do projeto, e a importância das ofertas aos colaboradores, foram aspetos internalizados. Este processo de conscientização demonstra a capacidade das crianças em compreender e aplicar conceitos complexos, mostrando que a educação empreendedora no pré-escolar é viável e benéfica para o desenvolvimento infantil. A experiência demonstra a eficácia de metodologias que estimulam a reflexão e a autoconsciência no processo de criação e execução de projetos.
3. Conclusões e Implicações para a Educação de Infância
Os resultados deste estudo demonstram a viabilidade e o impacto positivo da implementação de projetos empreendedores na educação de infância. A pesquisa evidencia o desenvolvimento de soft skills importantes para o desenvolvimento integral da criança, como a escuta ativa, cooperação, autonomia e responsabilidade. A metodologia utilizada, baseada no manual CEAN (2009) e adaptada à realidade da sala de aula, se mostrou eficaz na promoção da aprendizagem através da experiência prática e da integração dos interesses individuais das crianças. O estudo sugere a inclusão da educação empreendedora no currículo do pré-escolar, fomentando a criação de ambientes de aprendizagem lúdicos e estimulantes que permitam o desenvolvimento das competências empreendedoras. Os resultados reforçam a importância de metodologias adaptadas à faixa etária e o papel do educador como mediador e facilitador desse processo, respeitando os ritmos de aprendizagem individuais de cada criança.
IV.Contexto Educacional e Limitações
A pesquisa ocorreu numa sala de Jardim de Infância da rede pública em Viana do Castelo, com infraestruturas adequadas, mas com algumas limitações. O espaço de acolhimento e ginásio, pequeno e com acústica deficiente, impactou as atividades de motricidade infantil, que foram muitas vezes realizadas no ginásio do 1º CEB. A localização da biblioteca, em área aberta e de passagem, também afetou a concentração das crianças. Apesar dessas limitações, a sala de atividades se mostrou bem organizada e equipada para estimular as capacidades das crianças, embora houvesse necessidade de mais recursos na área da casinha para fomentar o jogo simbólico.
1. Características da Sala de Atividades e Recursos Disponíveis
A sala de atividades do Jardim de Infância onde a pesquisa foi conduzida era relativamente grande em comparação com o número de crianças. Estava organizada para integrar o máximo de materiais e recursos, priorizando o espaço livre para brincar e aprender, num ambiente limpo e seguro. A disposição da sala visava estimular o gosto pelo conhecimento, atender aos interesses e necessidades individuais das crianças, e promover o desenvolvimento cognitivo, emocional, socioafetivo e motor. Segundo Filgueiras (2010), o espaço da sala deve ser estruturado para contribuir para o sucesso da aprendizagem das crianças, considerando a legislação em vigor. A sala continha um quadro de giz, área da casinha, quadro do tempo e das presenças, espelho, área de jogos simbólicos, área de jogos de construção, área de computador, área de biblioteca, área de jogos de mesa, área de expressão plástica, armários e lavatório. Os trabalhos das crianças eram afixados em placards, motivando-as e mostrando o trabalho realizado aos pais. Uma manta no centro da sala era usada para atividades em grande grupo, como leitura de histórias e canções.
2. Áreas Específicas da Sala e Materiais Disponíveis
A área de jogos de chão/construções possuía legos, carros, tratores, animais de plástico e jogos de encaixe, organizados em gavetas etiquetadas com fotografias. Este espaço estimulava o raciocínio lógico, a imaginação e a destreza manual, sendo o mais procurado pelos meninos. A área da expressão plástica continha mesas, um quadro e materiais como tintas, pincéis, esponjas, lápis, tesouras e plasticina, permitindo explorar diversas técnicas e estimulando competências como criatividade, autonomia e motricidade fina e global. A organização da sala, com áreas de interesse bem delimitadas, incentivava as crianças a participar em diferentes tipos de atividades. Apesar da variedade de materiais, a área da casinha, especialmente o armário de roupa, carecia de mais utensílios, roupas e acessórios para fomentar a imaginação, conforme sugere Zabalza (1998), que defende espaços amplos, bem diferenciados, de fácil acesso e especializados numa sala de atividades. A iluminação natural através das janelas e portas contribuía para um ambiente agradável.
3. Limitações do Contexto Educacional
Apesar das condições apelativas da instituição, algumas limitações foram identificadas. O espaço que funcionava simultaneamente como ginásio e sala de acolhimento era pequeno para o número de crianças, limitando as sessões de motricidade infantil e a movimentação livre. A acústica deficiente dificultava a interação entre adultos e crianças, levando à realização frequente das sessões de motricidade no ginásio do 1º CEB. A biblioteca, localizada em área aberta e de passagem, afetava o silêncio e a concentração durante as atividades. Estas limitações implicaram adaptações na realização das atividades, demonstrando a importância de um espaço adequado para o desenvolvimento pleno das atividades educativas. A pesquisa destaca a necessidade de um ambiente físico que atenda às necessidades das crianças e facilite a aprendizagem, conforme proposto por Arends (2008), que defende a importância de um ambiente estimulante e organizado.