Educação para o empreendedorismo : "O Castelo dos Brinquedos"

Educação Empreendedora no Pré-Escolar

Informações do documento

Autor

Cátia Soraia Da Silva Freitas

instructor Doutora Gabriela Barbosa
Escola

Mestrado em Educação Pré-escolar

Curso Educação Pré-Escolar
Tipo de documento Relatório Final de Prática de Ensino Supervisionada
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 5.16 MB

Resumo

I.Caracterização do Contexto e Metodologia da Pesquisa Qualitativa

Este estudo qualitativo investiga o desenvolvimento de competências empreendedoras em crianças da educação pré-escolar, focando-se nas soft skills. A pesquisa ocorreu em um jardim de infância em Viana do Castelo, Alto Minho, Portugal, analisando um grupo de crianças com idades variadas. A metodologia empregou observação participante e entrevistas semiestruturadas, buscando compreender a aprendizagem pela ação e o impacto de atividades voltadas para o empreendedorismo infantil no desenvolvimento de habilidades como trabalho em grupo, comunicação e liderança. O estudo utilizou como referencial teórico as OCEPE (Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar) e as Metas de Aprendizagem, analisando áreas como expressão motora, dramática e comunicação, além do desenvolvimento do pensamento lógico-matemático. A Louça de Viana do Castelo, uma fábrica de cerâmica local, foi mencionada no contexto socioeconômico da região.

1. Caracterização do Meio e do Jardim de Infância

A primeira parte do estudo descreve o contexto educativo, focando-se na caracterização do meio socioeconômico da freguesia onde se localiza o jardim de infância. São mencionadas as principais atividades econômicas da região, destacando a agricultura, pecuária, comércio e, principalmente, a indústria cerâmica, com a referência à Louça de Viana do Castelo como uma fábrica bem-sucedida de cerâmica tradicional. A estrutura física do jardim de infância é detalhada, incluindo a descrição de dois espaços exteriores: um pouco utilizado devido ao tamanho reduzido e à falta de auxiliares; e outro com equipamentos como baloiços, escorregas, caixa de areia e casinhas. A instituição contava com uma cozinha, uma sala polivalente usada para atividades de motricidade e recreio, uma biblioteca, vestiário para educadores e auxiliares, uma sala de reuniões e uma cantina. A relação entre o número de auxiliares (três para seis salas) e a dinâmica de apoio às educadoras é explicitada, bem como a rotina de acolhimento e acompanhamento das crianças.

2. Caracterização do Grupo de Crianças e suas Dinâmicas

O estudo caracteriza o grupo de crianças participantes, destacando sua motivação, curiosidade e dinamismo nas atividades. A pesquisa observa a existência de diferentes níveis de liderança entre as crianças, reconhecendo a influência da personalidade individual, como aponta Papalia (2001), na capacidade de expressão e participação. Uma caracterização geral do grupo é realizada com base nas Áreas de Conteúdos das OCEPE (Objetivos e Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar) de 1997 e 2016, considerando as áreas de Formação Pessoal e Social, Expressão e Comunicação e Conhecimento do Mundo. As áreas de conteúdo das OCEPE são descritas em detalhes, salientando seus domínios e subdomínios, e suas atualizações em 2016. As Metas de Aprendizagem de 2010 são usadas como referencial para avaliar as capacidades das crianças em cada área, analisando pontos fortes e fracos no desenvolvimento das crianças nas áreas de conteúdo, com enfoque na colaboração e autonomia versus a dificuldade em seguir regras e esperar a sua vez.

3. Metodologia de Pesquisa Qualitativa

A metodologia adotada é a pesquisa qualitativa, seguindo as características descritas por Bogdan e Biklen (1994): observação participante em ambiente natural, dados descritivos, foco no processo, análise indutiva e interpretação do significado atribuído pelos participantes às suas experiências. O estudo, portanto, não seguiu um plano rígido. A preparação do estudo, entre fevereiro e março de 2015, envolveu a definição dos objetivos, a recolha de documentos bibliográficos e uma formação sobre empreendedorismo. O processo de recolha de dados se deu por meio de observações e entrevistas semiestruturadas, com auxílio de questionários, buscando informações não diretamente observáveis, como indica Vale (2004). A escolha por entrevistas semiestruturadas permitiu flexibilidade na ordem e formulação das perguntas, garantindo maior naturalidade na interação.

II.Objetivos e Pertinência do Estudo sobre Empreendedorismo na Educação Infantil

O estudo justifica-se pela necessidade de desenvolver soft skills e competências empreendedoras em crianças desde a educação pré-escolar, preparando-as para o sucesso na aprendizagem ao longo da vida. O objetivo principal é avaliar o impacto de atividades pedagógicas baseadas em empreendedorismo infantil no desenvolvimento dessas habilidades, utilizando um manual específico do CEAN (Centro de Empreendedorismo e Animação da Região Norte). A pesquisa busca investigar como as atividades estruturadas podem estimular a criatividade, iniciativa, trabalho em equipe e resolução de problemas nas crianças, contribuindo para sua formação como cidadãos ativos e críticos.

1. Pertinência da Educação para o Empreendedorismo na Educação Pré Escolar

A educação pré-escolar é apresentada como a primeira etapa da educação básica, um período crucial para a construção de aprendizagens e o desenvolvimento da capacidade de aprender a aprender. A pedagogia precisa ser estruturada, intencional e sistemática, considerando a criança como sujeito ativo no processo educativo. A aprendizagem pela ação é enfatizada como fundamental para a construção do conhecimento e compreensão do mundo. A educação para o empreendedorismo surge como uma abordagem eficaz, pois visa desenvolver capacidades empreendedoras, transformando ideias em ações. Fonseca et al. (2014) reforçam a necessidade de estratégias de ensino mais efetivas para desenvolver, além dos conhecimentos de conteúdo, as chamadas soft skills, como trabalho em grupo, liderança e comunicação. O estudo se concentra justamente nestas soft skills, considerando a faixa etária das crianças envolvidas, que são consideradas essenciais para seu desenvolvimento pessoal e profissional futuro. A distinção entre hard skills (competências técnicas) e soft skills (competências pessoais) é apresentada, destacando a importância das soft skills no estudo, por estarem relacionadas com atitudes e aptidões pessoais como comunicação, trabalho em grupo e análise de erros.

2. Conceito de Empreendedorismo na Educação

O conceito de empreendedorismo é contextualizado como fundamental para a evolução das sociedades e o desenvolvimento contínuo em diferentes setores, incluindo o educacional. Inicialmente ligado ao setor empresarial, o empreendedorismo na educação surge como uma forma de evoluir os sistemas de ensino, buscando competências mais abrangentes para o sucesso na aprendizagem ao longo da vida (Ministério da Educação, 2007). A Direção-Geral da Educação (DGE) relaciona a educação para o empreendedorismo com a educação para a cidadania, destacando a transversalidade em diferentes áreas do conhecimento, estimulando a participação ativa das crianças para uma mudança em suas áreas de atuação como cidadãos. São mencionadas competências empreendedoras como responsabilidade, liderança, trabalho em grupo, visão de futuro, assunção de riscos, resiliência e curiosidade científica. O estudo destaca as soft skills como foco de análise, por serem as competências pessoais que contribuem para as interações sociais e resolução de conflitos. Fonseca et al. (2014) apresentam as soft skills como essenciais para a capacidade de comunicar, persuadir, resolver problemas criativamente, trabalhar em equipe, etc.

3. Perspectivas de Desenvolvimento Infantil e o Empreendedorismo

O estudo relaciona a perspectiva de desenvolvimento das competências empreendedoras com diferentes teorias do desenvolvimento infantil. Hohmann e Weikart (1997) são citados por defenderem a aprendizagem pela ação como metodologia principal na educação pré-escolar, promovendo experiências criativas com pessoas, materiais e ideias. Papalia et al. (2001) são referenciados, salientando a estruturação do pensamento simbólico na educação pré-escolar, com as ideias partindo de um plano concreto. Um manual, “Ter ideias para mudar o mundo”, do CEAN (2012), é apresentado como estruturador do projeto, propondo doze áreas de conhecimento empreendedor (estímulo de ideias, partilha de ideias, definição de objetivos, gestão de estados de espírito, escuta ativa, comunicação de projetos, trabalho colaborativo, identificação de necessidades, construção de protótipos, redes de colaboração, ciclos de trabalho e liderança). O professor/educador é considerado o pilar para a integração da educação para o empreendedorismo, necessitando de orientação para desenvolver estratégias e recursos inovadores. O Ministério da Educação (2007) identifica seis competências-chave para o empreendedorismo: iniciativa/avaliação/energia, resiliência, planeamento/organização, criatividade/inovação e relacionamento interpessoal/comunicação.

III.Implementação do Projeto e Análise dos Resultados

O projeto envolveu a implementação de atividades práticas, inspiradas em um manual para desenvolver o empreendedorismo em crianças, concentradas em doze áreas de conhecimento empreendedor. As crianças participaram de atividades que envolveram jogo simbólico, construção de um castelo (usando materiais reciclados, como pacotes de leite), dramatizações e atividades de expressão motora, artística e comunicação. A observação participante permitiu analisar o desenvolvimento de competências empreendedoras, como a comunicação, trabalho em grupo, e a superação de desafios. A análise dos dados, obtidos através de questionários e observações, apontou progressos no desenvolvimento de diversas soft skills, embora a escuta ativa tenha apresentado maior dificuldade. A construção do castelo serviu como um projeto integrador, onde as crianças aplicaram os conceitos de empreendedorismo infantil aprendidos e desenvolveram a colaboração e a criatividade, culminando com a inauguração do castelo para a comunidade escolar.

1. Implementação das Atividades Baseadas no Manual do CEAN

A implementação do projeto seguiu o manual “Ter ideias para mudar o mundo – Manual para treinar o empreendedorismo em crianças dos 3 aos 12 anos” (CEAN, 2012), com adaptações conforme necessário. O projeto focou-se em doze áreas de conhecimento empreendedor, exploradas através de atividades práticas e lúdicas. Um exemplo central foi a construção de um castelo, que envolveu desde a discussão sobre o design, passando pela escolha de materiais (pacotes de leite para simular as pedras) até à construção de uma maquete. Outras atividades incluíram jogos simbólicos, dramatizações, e exercícios para desenvolver a escuta ativa (uma atividade teve que ser refeita, pois a primeira não obteve resultados satisfatórios). A atividade de construção do castelo permitiu trabalhar diferentes áreas como a colaboração, a criatividade, e a resolução de problemas em grupo. Para a atividade da construção do castelo foram selecionadas quatro crianças para a elaboração da maquete com auxilio de fotos do Castelo de Guimarães. A escolha do castelo como projeto permitiu a junção da área da casinha com a cozinha, otimizando o espaço disponível.

2. Desenvolvimento das Áreas de Conhecimento Empreendedor

As atividades foram estruturadas para abordar as doze áreas de conhecimento empreendedor propostas pelo manual do CEAN. A etapa de “estímulo e partilha de ideias” foi realizada através da “árvore dos desejos”, onde as crianças registravam seus desejos em desenho. A área de “colaboradores” foi explorada ao se constatar a necessidade de pedir ajuda às outras salas para obter mais materiais para a construção do castelo, levando a uma atividade de comunicação e partilha do projeto com os colegas. A compreensão do conceito de “ciclos de trabalho” foi trabalhada por meio de exemplos do cotidiano e da releitura da história da locomotiva das pipocas, permitindo às crianças descrever as etapas do seu projeto. A área “Sem liderança não há projeto” foi abordada com a dramatização de uma história, levando à identificação da personagem principal como líder. A última etapa do projeto foi a inauguração do castelo, um momento de partilha com toda a comunidade escolar que se mostrou entusiasta com o projeto.

3. Análise das Perceções das Crianças e Dificuldades Encontradas

Questionários foram utilizados para avaliar as percepções das crianças sobre o projeto. A análise revelou dificuldades em identificar o colaborador principal do projeto e em recordar a razão da escolha do castelo como desejo, indicando que o projeto ainda não estava totalmente interiorizado por todas as crianças. Observa-se uma evolução significativa na compreensão do termo “empreendedor”, com as crianças mencionando características empreendedoras como trabalho em grupo, criatividade e comunicação, em um segundo questionário, após o desenvolvimento do projeto. A principal dificuldade encontrada foi a escuta ativa, devido ao tamanho e diversidade de idades do grupo, sendo necessárias duas atividades específicas para abordar este tema. Outras dificuldades incluíram o manuseio de conceitos novos e a dicção da palavra “empreendedorismo”, superadas com a prática e repetição. Apesar das dificuldades, houve evolução progressiva das crianças desde o início do projeto, com entusiasmo contínuo na realização das atividades, demonstrando motivação para aprender e desenvolver novas habilidades. A construção do castelo, o empacotamento dos materiais e a construção da maquete foram atividades que permitiram testar as habilidades das crianças em diferentes etapas do projeto.

IV.Reflexão Final sobre a PES Prática de Ensino Supervisionada

A experiência da PES I e II proporcionou aprendizagens significativas, permitindo a aplicação prática dos conhecimentos teóricos e o desenvolvimento de habilidades como educadora. O estudo contribuiu para uma compreensão mais aprofundada do desenvolvimento infantil e da importância da abordagem do empreendedorismo na educação pré-escolar. A observação das crianças e a implementação das atividades foram fundamentais para a análise das competências empreendedoras e soft skills desenvolvidas durante o projeto. A investigação destaca a relevância de programas mais longos para uma melhor assimilação dos conceitos de empreendedorismo infantil e a importância de estudos longitudinais para acompanhar a evolução das crianças ao longo do tempo.