Educação para o empreendedorismo : uma abordagem educativa no 1.º CEB

Educação Empreendedora no 1º CEB

Informações do documento

Autor

Daniela Patrícia da Silva Rodrigues

school/university Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico
subject/major Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico
Tipo de documento Relatório Final de Prática de Ensino Supervisionada
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.67 MB

Resumo

I.Contexto da Prática de Ensino Supervisionada II PES II em Viana do Castelo

Este relatório de Prática de Ensino Supervisionada II (PES II) descreve uma investigação qualitativa realizada em uma escola do 1º Ciclo do Ensino Básico (CEB) em Viana do Castelo, Portugal. A cidade, com aproximadamente 37.663 habitantes (INE 2011), possui rico patrimônio histórico e cultural, incluindo o Teatro Municipal Sá de Miranda e o Centro Cultural projetado por Eduardo Souto de Moura. A escola onde ocorreu a PES II conta com uma equipe diversificada, incluindo sete professores titulares de turma, professores de apoio e especialistas. A avaliação diagnóstica inicial focou Português, Matemática e Estudo do Meio, revelando que a turma dominava razoavelmente os conteúdos, mas com dificuldades em matemática, particularmente na resolução de problemas. O contexto sociocultural da turma é médio, com a escolaridade dos pais variando entre o 6º ano e a licenciatura.

1. Caracterização de Viana do Castelo e do Contexto Escolar

A Prática de Ensino Supervisionada II (PES II) ocorreu em uma escola localizada em uma freguesia do concelho de Viana do Castelo, no norte de Portugal. Viana do Castelo, segundo dados do INE de 2011, tinha aproximadamente 37.663 habitantes e uma área de cerca de 319 km². A cidade destaca-se por sua forte cultura, com instituições como o Teatro Municipal Sá de Miranda, museus de arte e arqueologia, museu do traje, núcleos museológicos, biblioteca e arquivo municipais, galerias, auditórios, a Citânia de Santa Luzia, o navio-hospital Gil Eanes, e o Centro Cultural projetado por Eduardo Souto de Moura. A escola, integrada nesse contexto cultural, estabelece protocolos com diversas instituições para proporcionar aos alunos experiências culturais. Viana do Castelo também possui um vasto patrimônio histórico e cultural, incluindo igrejas, conventos, palácios, casas senhoriais e edifícios públicos antigos, além de uma grande diversidade de trajes, gastronomia e artesanato, sendo conhecida como a capital do folclore português e sede da romaria da Senhora d'Agonia. A escola, em termos de recursos humanos, possuía uma educadora, um professor de educação musical (para o pré-escolar), sete professores titulares de turma, dois professores com dispensa de turma, quatro professores de apoio, um de ensino especial, o coordenador do estabelecimento (também titular de turma), três assistentes do ministério, uma assistente técnica, duas cozinheiras, uma assistente operacional, três tarefeiras e treze professores das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC), com oficinas de diversas áreas.

2. Avaliação Diagnóstica e Caracterização Sociocultural dos Alunos

Uma avaliação de diagnóstico incidiu sobre as áreas de Português, Matemática e Estudo do Meio, além das dimensões de Atitudes e Valores. A turma demonstrou domínio razoável dos conteúdos do ano anterior, com maior facilidade em Estudo do Meio e maiores dificuldades em Matemática, especialmente na resolução de problemas (cinco alunos com prestação negativa). Em Português, as maiores lacunas foram na textualização. A caracterização sociocultural, baseada em informações do Plano de Trabalho do Professor (PTT), revelou que a habilitação literária dos pais variava entre o 6º ano e a licenciatura (32,65% com 6º ano, 28,57% com 9º ano, 26,53% com 12º ano e 10,20% com licenciatura). As profissões dos pais eram diversas, com predominância de trabalhadores por conta de outrem, seguidos pelos setores terciário e secundário. Apesar da maioria estar empregada, havia três desempregados e cinco domésticos. O contexto social era considerado médio, embora quatro alunos recebessem apoio da ação social escolar. A carga horária influenciou a intervenção pedagógica, com maior foco em Matemática e Português, buscando-se a interligação dos conteúdos de todas as áreas, especialmente devido à dificuldade de abordar as expressões devido à falta de tempo.

II.Empreendedorismo na Educação Uma Abordagem Prática na PES II

O estudo investiga a educação para o empreendedorismo no 1º CEB, analisando diferentes abordagens ao conceito de empreendedorismo, incluindo definições de autores como Jean Baptiste Say e a Comissão Europeia, e explorando a sua integração no currículo. Foram implementadas atividades práticas, como a apresentação da história de Ryan Hreljac e a visita da atleta olímpica Manuela Machado, para estimular o desenvolvimento de competências transversais e a aquisição de significados relacionados com o empreendedorismo. A análise das respostas dos alunos demonstra uma evolução significativa no conhecimento e compreensão do conceito de empreendedorismo ao longo da intervenção pedagógica, destacando a importância da articulação entre as áreas curriculares e a inclusão de atividades criativas e motivacionais.

1. Conceito de Empreendedorismo Definições e Perspectivas

O estudo aborda o conceito de empreendedorismo, explorando diferentes definições e perspectivas. A Comissão Europeia define empreendedorismo como "uma capacidade individual para colocar as ideias em prática, requerendo criatividade, inovação e a assunção de riscos, bem como a capacidade para planear e gerir projetos". Outras perspectivas incluem a visão de Jean Baptiste Say, que via o empreendedor como alguém que inicia um projeto significativo e estimula o crescimento económico, consideradas visões redutoras em comparação com as atuais. O dicionário da Porto Editora (2003) define o empreendedor como alguém com iniciativa e vontade de iniciar novos projetos, uma visão positiva que contrasta com a opinião de parte da população. A OCDE (2011) relaciona empreendedorismo com ações humanas que geram valor, enquanto Hirsch (1998) o descreve como um processo de criar algo diferente com valor, assumindo riscos financeiros, psicológicos e sociais. A perspetiva social, por sua vez, considera o empreendedor como um membro do sistema social que se influencia mutuamente, incluindo a família como unidade básica. Exemplos como as expressões "tal pai, tal filho" e "off the farm" ilustram como o contexto familiar pode influenciar a trajetória empreendedora. A existência de empreendedores sociais, agentes de mudança que criam valor social (Dees, 2001), também é destacada. Antonello (2005) define capacidade empreendedora como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes para criar valor para a sociedade, aproximando-se do conceito de competência individual.

2. Empreendedorismo na Escola Mudanças Necessárias e Exemplos Internacionais

A pesquisa discute as mudanças necessárias no ambiente escolar para impulsionar o empreendedorismo e as competências transversais. O documento cita o Guia para Escolas dos Ensinos Básicos e Secundários, que destaca a importância da escola no desenvolvimento de competências e atitudes que promovam uma relação positiva com o risco, o planeamento, a identificação de oportunidades e ameaças e a inovação responsável. O estudo analisa exemplos de como alguns países alteraram sua educação para formar pessoas empreendedoras. Um exemplo mencionado é o manual do Centro Educativo Alice Nabeiro, "Ter ideias para mudar o mundo", que visa treinar o empreendedorismo em crianças dos 3 aos 12 anos (CEAN, 2012). Outros exemplos internacionais incluem o programa luxemburguês que usa banda desenhada para ensinar a criação de empresas, e programas na Finlândia, Reino Unido, Islândia e Noruega que promovem a criatividade em alunos dos 6 aos 16 anos através de um concurso "jovens inventores". Em Portugal, a inclusão explícita de objetivos específicos e orientação prática para o empreendedorismo nos programas escolares é recomendada, incluindo apoio prático e incentivos para professores e escolas, e a sensibilização dos alunos do ensino superior através de disciplinas e cursos, e cooperação com a comunidade local (Ministério da Educação, 2007).

3. Atividades Práticas e Avaliação da Aprendizagem sobre Empreendedorismo

A investigação detalha as atividades práticas implementadas para tornar o conceito de empreendedorismo mais concreto para os alunos. A história de Ryan Hreljac, sobre um menino que construiu poços de água limpa na África, foi usada como um exemplo inspirador de empreendedorismo social, estimulando a discussão e a compreensão do tema. A visita da atleta olímpica Manuela Machado, da região, também serviu como ferramenta pedagógica, permitindo aos alunos interagirem com uma figura empreendedora local e aprenderem sobre seus sonhos, objetivos e percurso. A análise das respostas dos alunos a questionários mostra uma evolução significativa na compreensão do empreendedorismo. Inicialmente, muitos alunos desconheciam o termo; no final, todos o reconheciam e associavam a características empreendedoras. As atividades incluíram tarefas que promoviam a articulação com outras áreas curriculares, como o Estudo do Meio, utilizando recursos diversos, como vídeos e atividades de escrita. O trabalho em grupo promoveu a colaboração e a responsabilidade. A avaliação dos alunos foi feita através de observação direta, fichas de consolidação e uma grelha de registo com indicadores específicos. A importância de adequar pedagogicamente a planificação, considerando os objetivos do estudo e o trabalho desenvolvido em todas as áreas curriculares, é realçada.

III.Metodologia e Análise de Dados na Pesquisa sobre Empreendedorismo

A metodologia da pesquisa utilizou observação participante e participada, combinada com notas de campo, registros fotográficos e videográficos para recolher dados. A análise de dados qualitativos ocorreu em três momentos: análise de questionários iniciais (diagnóstico), análise do comportamento dos alunos durante as atividades, e análise de questionários finais e reflexões. Os métodos qualitativos permitiram uma investigação profunda e pormenorizada das conceções dos alunos sobre o empreendedorismo, sua evolução e a compreensão dos conceitos trabalhados. A análise interpretativa dos desempenhos verbais dos alunos auxiliou na compreensão da construção de significado em torno do conceito de empreendedorismo.

1. Métodos de Recolha de Dados

A pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa, empregando a observação participante e participada como método principal (Dias, 2009; Estrela, 1994). A pesquisadora, também professora-estagiária, interviu em situações do quotidiano dos alunos, realizando observação direta, complementada por notas de campo, registros fotográficos e os trabalhos realizados pelos alunos. A escolha por métodos qualitativos, segundo Patton (1980), permite uma investigação mais profunda, aberta e pormenorizada, dando ênfase aos pensamentos dos alunos e como categorizam seu pensamento, mesmo em situações inesperadas. Os registros fotográficos e em vídeo (Máximo-Esteves, 2008) permitiram arquivar informações sobre a interação na sala de aula e as aprendizagens desenvolvidas, complementando as observações. A videogravação, em particular (Patton, 2002), possibilitou a análise de situações simultâneas e detalhes que poderiam passar despercebidos. As fotografias registraram explorações em sala de aula, mostrando o envolvimento dos alunos nas tarefas. A utilização destes recursos foi natural e não alterou o comportamento dos alunos, sendo integrada na intervenção educativa. A recolha e a análise de dados foram realizadas simultaneamente, com reflexões contínuas sobre o trabalho efetuado, orientando as ações futuras.

2. Análise dos Dados Questionários e Observações

A análise dos dados estruturou-se em três momentos. O primeiro envolveu a análise dos questionários iniciais, com um caráter diagnóstico, servindo de ponto de partida para a definição das atividades de intervenção pedagógica. O segundo momento focou-se na análise do comportamento dos alunos nas atividades implementadas, observando sua participação e interação. O terceiro momento consistiu na análise do questionário final e das reflexões subjacentes. A análise das respostas dos alunos sobre o conhecimento da palavra "empreendedor" revelou que, inicialmente, a maioria (87%) a desconhecia. Apesar disso, todos os alunos conseguiram identificar uma pessoa que consideravam empreendedora, com justificativas variadas, como aparência física (Violeta), bondade (Papa Francisco), fama (Cristiano Ronaldo) e trabalho árduo. A análise comparativa entre questionários inicial e final demonstrou uma evolução significativa na compreensão do conceito de empreendedorismo. Inicialmente apenas três alunas (13%) referiram conhecer o termo, enquanto no questionário final todos os alunos o reconheceram e associaram-no a pessoas e características empreendedoras. A análise interpretativa dos desempenhos verbais dos alunos ajudou a perceber como construíram a significação em torno do conceito, com a aquisição de significados sendo evidenciada pelo que os alunos disseram e fizeram.

IV.Resultados e Reflexões Finais da PES I e PES II

Os resultados demonstram uma evolução significativa na compreensão do conceito de empreendedorismo pelos alunos ao longo da PES II. Inicialmente, a maioria desconhecia o termo, mas após as atividades propostas, todos os alunos conseguiram identificar pessoas empreendedoras e associá-las às suas características. A integração do tema em diversas áreas curriculares, incluindo Estudo do Meio, Português e Educação para a Cidadania, e o uso de soft skills, foram fundamentais para o sucesso da intervenção. A PES I e II, realizadas no pré-escolar e 1º CEB, permitiram desenvolver competências profissionais e pessoais essenciais, destacando a importância da colaboração com as famílias no processo educativo. A pesquisa reforça a importância da educação para o empreendedorismo, mostrando como atividades práticas e a articulação curricular podem promover a aprendizagem significativa dos alunos. A experiência evidencia a necessidade de uma formação contínua para os professores, de modo a acompanharem as constantes evoluções no campo educacional.

1. Resultados da Intervenção Pedagógica sobre Empreendedorismo

A análise dos dados revela uma evolução significativa na compreensão do conceito de empreendedorismo pelos alunos. Inicialmente, a maioria não conhecia o termo. Através de atividades como a apresentação da história de Ryan Hreljac e a visita da atleta Manuela Machado, combinadas com questionários, houve uma transformação na percepção dos alunos sobre o tema. No questionário final, todos os alunos demonstravam conhecer o termo "empreendedorismo" e conseguiam identificar e justificar a escolha de pessoas empreendedoras, demonstrando apropriação do vocabulário relacionado ao tema. As justificativas para a escolha das figuras empreendedoras evoluíram, passando de associações superficiais (aparência física, fama) para características mais intrínsecas, como trabalho árduo, criatividade e ajuda aos outros. A análise das características que os alunos associam a pessoas empreendedoras também mostrou uma evolução. Inicialmente, a ideia de ter dinheiro e possuir um negócio eram preponderantes; posteriormente, características como ter ideias, lutar e não desistir, trabalhar em equipa, enfrentar desafios, escutar os outros, usar a imaginação e terminar tarefas foram mais frequentes, indicando uma maior compreensão das características essenciais de um empreendedor. A introdução de histórias e a interação com figuras empreendedoras revelaram-se estratégias eficazes para a aprendizagem significativa, demonstrando que as atividades práticas e a articulação curricular contribuíram para uma evolução substancial no conhecimento e compreensão do conceito.

2. Reflexão sobre a Prática de Ensino Supervisionada PES I e II

A Prática de Ensino Supervisionada (PES) I e II, realizada no pré-escolar e no 1º CEB, proporcionou um processo de aprendizagem e desenvolvimento de competências profissionais e pessoais fundamentais à ação docente. A experiência em contextos educativos diferentes (pré-escolar e 1º CEB) permitiu a construção de um saber de partilha social e a vivência de experiências diversas. A inclusão das famílias no processo educativo foi uma preocupação constante, com a colaboração das mesmas sendo fundamental em atividades como a construção de um jardim na Educação Infantil e pesquisas sobre o meio local no 1º CEB. Esse envolvimento familiar contribuiu para desenvolver "sentimentos de responsabilidade em relação ao património histórico e de pertença" (Pinto, 2011). A experiência reforça que a aprendizagem não ocorre somente em contexto de sala de aula. A articulação entre as diferentes áreas curriculares demonstrou-se essencial na aprendizagem dos alunos, apesar das dificuldades encontradas na planificação e execução desta articulação. A experiência da PES, em ambos os níveis de ensino, permitiu o desenvolvimento de um perfil profissional generalista, permitindo à estagiária ter uma formação completa e mais ampla.